Capítulo 9

Minha mãe, meu pai e minha irmã estavam na sala, esperando que eu dissesse algo. Na verdade, eu não sabia o que dizer. Estava completamente perdido. Não queria admitir que era uma mentira, mas também não queria insinuar que estava realmente noivo de alguém que mal conhecia. Sentia-me preso entre a verdade e a preocupação de decepcioná-los. Enquanto lutava para encontrar as palavras certas, o olhar preocupado da minha mãe parecia penetrar minha alma. Eu sabia que ela queria o melhor para mim, e a ideia de decepcioná-la era angustiante. No entanto, também sabia que manter essa farsa não era justo para ninguém envolvido. Mas, por enquanto, permaneci em silêncio, sem encontrar uma saída clara para essa situação complicada.

- Então você está namorando? - perguntou meu pai. - Está noivo, e não ia contar para a sua família.

- Eu sabia que você não iria ficar solteiro a vida toda. - disse minha mãe.

- E quem ela é, meu filho? - meu pai parecia curioso.

- Isso importa, pai? - minha irmã interveio. - Eu a vi e ela é uma moça muito educada. Além do mais, ela não respondeu à filha do Garcia, a garota insuportável.

- A filha do Garcia?

- Sim, pai. Ela sempre quer humilhar os outros, mas meu irmãozinho aqui agiu com classe e a tirou da reta.

- Meu filho, isso é ruim para os nossos negócios.

- Você só pensa em negócios, Augusto. - disse minha mãe, irritada.

- Eu tenho um jantar amanhã com o senhor Garcia. - eu disse, e meu pai ficou espantado.

- Um jantar? - meu pai estava claramente surpreso. - Mas íamos ver se dava para encontrar com ele.

- Sim, meu pai, mas ele me viu no shopping e me chamou. - eu não queria contar ao meu pai o que aconteceu.

Minha família continuava fazendo perguntas, e eu tentava esquivar-me delas da melhor maneira possível. No fundo, eu sabia que a situação estava escapando ao meu controle e que mais cedo ou mais tarde a verdade viria à tona. Porém, naquele momento, eu só queria afastar-me da pressão daquele jantar com o senhor Garcia.

- Acredito que foi tudo graças aquela moça . - minha irmã disse, surpreendendo-me. Como ela sabia que a situação estava relacionada a Fernanda?

- E quando vamos conhecê-la? - minha mãe perguntou curiosa.

Aquela pergunta era uma fonte de preocupação para mim. Fernanda tinha sido clara em sua vontade de não me ver novamente, então como poderia apresentá-la à minha família?

- Em breve. - murmurei, levantando-me. - Vou deitar, tenho que resolver alguns negócios amanhã.

Com um aceno de cabeça, despedi-me e dirigi-me rapidamente para o meu quarto. A inquietação era minha companheira naquela noite, enquanto eu me deitava e tentava encontrar uma solução para o emaranhado de mentiras que eu mesmo havia criado.

Pela primeira vez em muito tempo, pude aproveitar uma manhã de domingo sem pressa. O sol brilhava intensamente através das cortinas do meu quarto, indicando que o dia prometia ser radiante. Estiquei-me na cama, saboreando a sensação de não ter que me levantar às pressas para cumprir algum compromisso. No entanto, logo a responsabilidade do jantar na casa do senhor Garcia inundou meus pensamentos, e a ansiedade começou a se fazer presente. Levantei-me com determinação, sabendo que havia muito a fazer antes do evento. Um olhar no espelho confirmou minha necessidade urgente de um corte de cabelo e um barbear cuidadoso. Depois de uma rápida chuveirada, vesti uma camisa impecável e uma calça social, tentando transmitir a impressão de um homem confiante e bem-sucedido. Por dentro, porém, as dúvidas e inseguranças persistiam, especialmente em relação à forma como lidaria com a situação envolvendo Fernanda. Apesar disso, eu estava determinado a enfrentar o desafio com toda a minha compostura e elegância. Afinal, essa era uma oportunidade única para estabelecer contatos importantes e fortalecer os laços comerciais para o futuro da minha empresa.

As horas haviam passado voando e já eram 5:30 da tarde. Eu já estava vestido, usando um terno preto, uma camisa branca e uma gravata preta, pronto para o grande evento. Fernanda tinha me enviado o endereço de sua casa, e como era um pouco distante, decidi sair mais cedo. Antes de sair de casa, meu pai me surpreendeu com um colar caríssimo, insistindo para que eu o levasse como um presente para Fernanda, dizendo que era importante para o senhor Garcia ver como nossa família cuidava de suas esposas. Eu relutei em aceitar, mas meu pai insistiu tanto que acabei cedendo. Demorei um pouco para chegar à casa de Fernanda. Assim que cheguei, mandei uma mensagem para ela avisando que já estava lá. Ela morava em um condomínio, não muito luxuoso, mas bastante respeitável. Enquanto esperava por ela, me arrumava no retrovisor do espelho do carro, nervoso com o que estava por vir. Foi quando a vi surgir no portão do condomínio. Ela estava absolutamente deslumbrante, usando o vestido de cetim que a mulher na loja havia mencionado que ela não poderia comprar. O tecido ficava impecável nela, realçando sua elegância. Seus cabelos estavam soltos, emoldurando seu rosto de maneira encantadora.

Enquanto eu a observava se aproximar, não pude deixar de notar como cada passo dela transmitia confiança e graciosidade. Ela parecia estar em seu próprio mundo, alheia à agitação ao seu redor. Seus olhos brilhavam sob a luz do fim de tarde, refletindo uma mistura de determinação e leveza. Assim que Fernanda chegou ao carro, seu sorriso caloroso dissipou qualquer ansiedade que eu ainda pudesse sentir. Ela cumprimentou-me com um aceno, e eu abri a porta para ela entrar, sentindo-me um pouco desajeitado diante de sua presença tão elegante.

- Boa tarde, Eric. - Ela saudou-me com sua voz suave, revelando um traço de nervosismo que eu não havia percebido antes.

- Boa tarde, Fernanda. Você está deslumbrante. - Respondi, genuinamente impressionado com sua aparência.

- Obrigado. - Ela respondeu com um sorriso que me deixou completamente nervoso.

- E o vestido? - Perguntei, confuso e curioso.

- Ah, eu dividi ele várias vezes no cartão. Acredito que vou ficar pagando por ele por uns 10 anos. - Ela respondeu de forma descontraída.

- Isso tudo por mim? - Perguntei, já dando partida no carro.

- Claro que não. Eu queria mesmo era calar a boca daquela mulher. - Ela disse, sorrindo, e eu retribuí o sorriso.

Ficamos em silêncio durante o trajeto, e não pude deixar de reparar, de vez em quando, o quão linda ela estava. Seu vestido destacava sua elegância e charme, e seus cabelos soltos dançavam suavemente com a brisa. A casa do Senhor Garcia era uma verdadeira mansão, com um portão de entrada imponente que parecia abrir caminho para um mundo de luxo e opulência. À medida que nos aproximávamos, o movimento de carros e pessoas ao redor da residência indicava que o evento seria grandioso. Encontrei uma vaga um pouco distante, e após estacionar, desci do carro e abri a porta para ela, oferecendo-lhe o braço. Percebi que ela ficou um pouco constrangida com o gesto, mas era o mínimo que poderia fazer para acompanhá-la até o portão. Enquanto caminhávamos lentamente em direção à entrada, pude notar o olhar curioso de alguns dos presentes, incluindo um dos seguranças que parecia não tirar os olhos de Fernanda.

Lembrei do colar que estava no meu bolso, sentindo seu peso familiar em minhas mãos. Com cuidado, peguei a caixa e abri lentamente, revelando o brilho suave da joia dentro dela. Ao me aproximar de Fernanda, senti meu coração bater um pouco mais rápido.

- O que é isso? - perguntou, enquanto me aproximava dela.

- Meu pai me deu isso para que você pudesse usar esta noite. - Expliquei, colocando o colar em seu pescoço com cuidado, sentindo-o repousar delicadamente sobre sua pele.

Dei o braço para ela novamente e entramos na casa, que estava lotada de empresários de sucesso. O ambiente era luxuoso, com lustres reluzentes e móveis elegantes. À medida que caminhávamos, podíamos sentir os olhares curiosos e admirados sobre nós. Fernanda mantinha-se serena, mas eu podia notar uma leve tensão em seus gestos, indicando que ela não estava completamente à vontade naquele ambiente glamoroso. Era evidente que todos os olhares estavam voltados para Fernanda, e vários homens pareciam paralisados ao vê-la passar. Eu me sentia um pouco inflado pelo orgulho de tê-la ao meu lado, mas também, estranhamente, senti um toque de ciúmes ao perceber que tantos homens a admiravam. Garcia notou nossa chegada e logo veio em nossa direção, com sua presença imponente e sorriso caloroso. Ele nos recebeu com entusiasmo, pegando duas taças do garçom que passava por ali.

- Meus convidados de honra chegaram. - Ele anunciou com alegria. - Fernanda, você está deslumbrante. Eric, é um homem de sorte.

- Obrigado, Garcia. - Disse ela sorrindo.

- Para você é só Garcia. - Ele insistiu com um sorriso. - Aproveite a festa. - Garcia se afastou quando um dos seus convidados o chamou.

- Vejo que ele gosta muito de você. - Cochichei em seu ouvido, pois o som estava muito alto.

- Espero que isso te ajude. - Ela fez o mesmo gesto.

Caminhamos pelo meio da multidão até chegarmos ao jardim, onde estava um pouco mais calmo. Sentamos em uma mesa e ficamos ali, observando as pessoas ao redor. O jardim estava lindamente iluminado, e o ar fresco da noite trazia uma sensação agradável depois do calor do salão. Fernanda parecia mais relaxada ali, e isso me tranquilizou um pouco também.

- Quando quiser ir embora, me avise. - Digo, dando um gole na minha taça.

- Ok. - Ela respondeu fazendo o mesmo gesto.

- Obrigado por vir.

- Não precisa agradecer, aliás, vai ser a última vez.

- É, eu sei. - Digo, puxando minha cadeira para mais perto da dela e colocando minha mão sobre suas costas. - Estamos tão distantes um do outro, as pessoas não vão acreditar que somos namorados.

- Você não deveria se importar com o que os outros pensam. - Ela respondeu suavemente, olhando para o movimento da festa.

- Eu sei, mas é estranho estar aqui com você, fingindo ser algo que não somos. - Admiti, sentindo-me desconfortável com a situação.

- Eu entendo. - Ela suspirou. - Mas, de certa forma, isso tudo é parte do jogo, não é?

Um jogo que eu não estou sabendo jogar.

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