Capítulo 3

O impacto foi como um soco no estômago, um turbilhão de adrenalina misturado com puro terror. Quando finalmente recobrei um pouco de consciência do que havia acontecido, desci do carro num instinto automático, minhas pernas tremendo com cada passo. A mulher estava lá, estendida no chão, imóvel. Meu coração batia tão forte que parecia prestes a explodir do meu peito. Corri até ela, um misto de pânico e desespero me consumindo. Com mãos trêmulas, ajoelhei-me ao lado dela, observando-a de perto. Ela não se movia, não emitia som algum. Um arrepio percorreu minha espinha quando percebi a gravidade da situação.

Sem pensar, ergui-a cuidadosamente em meus braços, sentindo o peso de sua inconsciência. Aproximei-a de mim, como se pudesse, de alguma forma, transmitir-lhe minha própria vida. "Por favor, acorde", sussurrei, mas não houve resposta. Ela permanecia imóvel, frágil em meus braços.

Foi então que peguei meu celular, minhas mãos tremendo tanto que mal conseguia discar o número de emergência.

- Alô, por favor, mandem uma ambulância imediatamente. Há um acidente, uma mulher foi atingida por um carro...- consegui pronunciar com dificuldade, a voz embargada pelo medo.

Não demorou muito para que as sirenes soassem ao longe, anunciando a chegada dos paramédicos. Eles se aproximaram rapidamente, profissionais em ação, enquanto eu permanecia ali, congelado pelo choque do que havia feito. O mundo ao meu redor parecia em câmera lenta, e eu me sentia afogado em culpa e desespero.

Eis que um dos enfermeiros chama um dos policiais, apontando em minha direção com expressão grave, enquanto murmurava algo em seu ouvido. Percebi que a conversa era sobre mim, e meu estômago se revirou com a expectativa do que viria a seguir. O policial se aproximou com passos firmes, sua postura autoritária indicava que não estava ali para amenizar a situação. Seus olhos escrutinadores fixaram-se em mim, como se procurassem por respostas em minha expressão assombrada. Engoli em seco, pronto para enfrentar as consequências do meu descuido.

- Você pode nos explicar o que aconteceu aqui? - perguntou ele, sua voz séria ecoando no ar tenso ao nosso redor. Eu me esforcei para manter a compostura, reunindo minhas palavras em meio ao caos que se desenrolava diante de mim.

Engoli em seco, sentindo-me como se estivesse em julgamento diante do olhar inquisitivo do policial. Limpei a garganta, tentando reunir minhas ideias em meio ao turbilhão de pensamentos que assaltavam minha mente.

- Eu... Eu estava dirigindo e... Eu não vi o sinal fechar... Engoli em seco, sentindo-me como se estivesse em julgamento diante do olhar inquisitivo do policial. Limpei a garganta, tentando reunir minhas ideias em meio ao turbilhão de pensamentos que assaltavam minha mente.

O policial observou-me atentamente, sem demonstrar qualquer sinal de compaixão.

- Você estava distraído? - perguntou ele, sua voz dura como aço.

Balancei a cabeça em concordância, sentindo o peso do arrependimento pesar sobre meus ombros.

- Sim, eu estava... Eu sinto muito... - murmurei, as palavras escapando de meus lábios em um sussurro angustiado.

O policial assentiu, parecendo avaliar minhas palavras com cautela.

- Precisaremos de seu depoimento formal na delegacia. Por favor, acompanhe-me. - ordenou ele, indicando com um gesto firme em direção à viatura policial estacionada nas proximidades.

- Pelo menos eu posso ir com ela para ver se ela está bem? - perguntei, tentando manter minha voz firme, apesar da crescente ansiedade.

O policial me encarou por um momento, parecendo avaliar minhas palavras com uma expressão de desconfiança. Seu sorriso malicioso sugeriu que ele estava se divertindo com minha aflição.

- Está com medo de ela lhe denunciar, rapaz? - ele respondeu, sua voz carregada de sarcasmo.

Respirei fundo, controlando minha frustração diante da insinuação.

- Não se trata disso! - respondi rapidamente, querendo dissipar qualquer dúvida sobre minhas intenções. - Só quero garantir que ela esteja bem.

O policial não disse mais nada, mas seu olhar perscrutador parecia penetrar até minha alma. Ele se virou para seu parceiro, com quem trocou algumas palavras em um murmúrio confidencial, antes de voltar sua atenção para mim. Sua decisão era clara.

Enquanto nos dirigíamos para o hospital, uma sensação de culpa e preocupação pesava em meu peito. Eu precisava ter certeza de que ela estava bem, de que não havia sofrido ferimentos graves por minha causa. No entanto, uma pergunta persistia em minha mente, uma sombra de dúvida sobre o que viria a seguir.

Chegando ao hospital, fui abordado por um funcionário que me perguntou sobre minha relação com a mulher acidentada. A preocupação imediata de evitar problemas legais me levou a tomar uma decisão rápida.

- Eu sou o noivo dela... - menti para a enfermeira, sabendo que era uma mentira deslavada, mas naquele momento eu estava disposto a fazer qualquer coisa para evitar complicações com a polícia.

A enfermeira, sem levantar suspeitas, acenou com a cabeça e me levou até a sala onde ela estava sendo atendida. Com mãos trêmulas, assinei os documentos apresentados, tentando imitar a caligrafia de um noivo preocupado.

Logo depois, fui conduzido até ela. Estava deitada na maca, sua expressão evidenciando o desconforto e a confusão após o acidente. Enquanto me aproximava, uma onda de culpa e preocupação me atingiu com força. Mesmo que minhas intenções fossem inicialmente egoístas, ver o estado em que ela se encontrava despertou em mim um desejo genuíno de garantir que estivesse bem.

Quando o médico mencionou que seu "noivo" havia chegado, ela retrucou imediatamente, negando a existência de qualquer relacionamento. Seu olhar confuso e suas palavras cortantes deixaram claro que ela não reconhecia a mim como seu noivo. Num impulso, eu tive que dizer algo para remediar a situação e evitar suspeitas ainda maiores. Com um sorriso forçado nos lábios e um tom de confiança fingida, me dirigi a ela:

- Oi meu amor!! - falei, tentando manter a farsa. - Pode deixar doutor que eu irei cuidar dela...

O médico, aparentemente satisfeito com minha presença, concordou e se retirou da sala, deixando-nos sozinhos.

A tensão no ar era quase palpável enquanto ela me encarava com uma mistura de raiva e desconfiança. As palavras que ela soltou eram um golpe direto, me lembrando da gravidade do que aconteceu.

- Sou Eric Coldweel, o cara que te atropelou..- eu respondi, tentando manter a calma diante de sua fúria.

- A seu cretino!! Filho da mãe!! - ela berrava, sua voz ecoando pelas paredes da sala de emergência. - Você podia ter me matado sabia?!

- Desculpe, eu estava distraído... - minhas palavras saíram como um sussurro, quase engolidas por sua explosão de raiva.

- Sua sorte é que estou com muita dor para sair desta cama, senão iria voar na sua cara!! - ela continuava, sua voz carregada de fúria e dor.

Tentei manter a compostura diante de suas acusações, focando na preocupação genuína que começava a surgir em mim.

- Onde está sentindo dor? - perguntei, me aproximando lentamente, tentando não parecer uma ameaça.

- Em lugar nenhum! - ela retrucou, sua resposta áspera e cheia de desconfiança.

- T...tem certeza? - minha voz saiu um pouco trêmula, refletindo minha própria incerteza sobre como lidar com essa situação delicada.

Meu corpo congelou quando ela gemeu sob o toque das minhas mãos, indicando a sensibilidade em suas pernas. Uma onda de pânico me atingiu enquanto eu imaginava o pior cenário se desdobrando diante de mim. Minhas mãos começaram a tremer, gotas de suor se formaram em minha testa, e senti como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Desmoronei, me afastando dela e me sentando com uma mistura de choque e culpa.

- Ei? - ela chamou, sua voz quebrando o silêncio tenso entre nós. Eu olhei para ela, sem saber o que esperar. - Não precisa ficar com medo, eu sinto as minhas pernas.. - seu tom era calmo e reconfortante, e um pequeno sorriso se formou em seus lábios.

- Me... desculpe, sério... eu não queria... e por que... - tentei articular, mas minhas palavras foram cortadas quando o médico entrou na sala e se aproximou de mim. Ele olhou para mim com uma expressão séria, esperando uma explicação.

- Devemos fazer mais alguns exames. - disse ele, olhando para sua prancheta. - Você deve passar a noite aqui.

- Eu tenho que ir embora. - ela disse, tentando se levantar.

A paciente tentou se erguer, mas imediatamente gemeu de dor e recuou para o travesseiro, uma expressão de desconforto estampada em seu rosto.

- Eu tenho que ir embora. - Ela insistiu, apesar da óbvia dificuldade em se mover.

O médico a olhou com compreensão, mas também com firmeza.

- Eu entendo, mas no seu estado, é melhor você ficar sob observação esta noite. Precisamos ter certeza de que não há lesões internas ou complicações.

Ela suspirou, claramente frustrada, mas finalmente assentiu resignada.

- Tudo bem, eu fico.

O médico assentiu satisfeito e saiu da sala, deixando-nos a sós. Um silêncio pesado pairou entre nós enquanto eu lutava para encontrar as palavras certas para dizer.

- Eu sinto muito.- Murmurei finalmente, minha voz soando fraca no ambiente silencioso.

Ela virou o rosto para mim, seus olhos refletindo uma mistura de emoções. - Você devia.- Foi tudo o que ela disse antes de desviar o olhar.

Queria dizer mais, pedir perdão ou explicar, mas as palavras pareciam presas na minha garganta. Em vez disso, apenas me sentei ao lado dela em silêncio, consumido pela culpa e pelo remorso.

A noite foi longa e silenciosa. Apesar dos seus esforços para me retirar e dar-lhe espaço, ela continuava a insistir para que eu fosse embora. Seus olhos, entretanto, denotavam uma mistura de desconfiança e vulnerabilidade, como se estivesse lutando contra uma enxurrada de emoções contraditórias. A enfermeira, uma figura gentil e prestativa, fez sua ronda noturna, verificando os sinais vitais dela e trocando as medicações. Enquanto isso, eu permanecia ali, sentado em um canto do quarto, observando a respiração dela, às vezes tranquila, às vezes irregular.

No entanto, pela manhã, fui despertado pela chegada da enfermeira, que estava realizando uma avaliação matinal. Ela me lançou um olhar simpático, reconhecendo a presença constante de um rosto conhecido naquele quarto.

- Desculpe acordá-lo.- Ela murmurou gentilmente, movendo-se suavemente pelo espaço.

Levantei-me com um aceno, permitindo-lhe realizar seu trabalho sem interrupções. Enquanto ela examinava a paciente, meu olhar se fixou nela, observando atentamente cada movimento, desejando ardentemente que ela se recuperasse completamente.

- Bem senhora, acredito que daqui alguns dias você vai ser liberada. - disse a enfermeira.

- Daqui alguns dias? - disse ela, com uma expressão preocupada.

- Sim, até essas cicatrizes se curarem.

- Eu preciso ir, não posso ficar. - disse ela, tentando se levantar da cama. Vestia a roupa do hospital, que mal cobria seu corpo. Sua presença era cativante e involuntariamente me vi encarando-a. Ela percebeu meu olhar e rapidamente se cobriu, corando levemente.

- Senhora, por favor, você precisa se deitar de novo. - insistiu a enfermeira, preocupada com seu bem-estar.

- Eu estou bem, preciso ir embora. Se algo acontecer, vou procurar o hospital. - afirmou, enquanto amarrava o cabelo loiro em um rabo de cavalo com uma liguinha.

Assinei os papéis enquanto ela foi trocar de roupa para irmos embora. Quando saímos do hospital, ela estava procurando um táxi para ir embora e eu me ofereci para levá-la.

- Eu te levo! - sugeri.

- Pra ter outra oportunidade de me matar, não obrigada... - ela respondeu com sarcasmo.

- Não, senhorita...- comecei a dizer.

- Para de me chamar de senhorita, eu tenho nome, sabia?

- Sei, é que eu não sei seu nome...- admiti.

- Você se passou pelo meu noivo e não sabe meu nome? - ela disse, com uma mistura de surpresa e ironia.

- Eu estava tão nervoso que acabei não lendo... - expliquei, observando um táxi parar para ela. - Pode me dizer seu nome pelo menos?

- Fernanda Gar. - ela respondeu, entrando no táxi. - Até mais, senhor Coldwell. Espero não te ver nunca mais.

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Ameles

Ameles

não se mexe em pessoa acidentada a não ser em último caso, como evitar que ela exploda no carro

2024-05-24

2

Minha Opnião

Minha Opnião

as ideias meche em alguém que sofreu acidente

2024-03-30

1

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