Minha mulher

Quando volto para casa, Matias tenta tocar o meu ombro, mas eu tiro a sua mão com rispidez o encarando.

— Eu ainda discordo dos seus métodos. Já havia sido resolvido. — digo olhando nos olhos dele com uma fúria estridente em meu corpo. — Eu espero que você saiba controlar esses ideias, Matias. Porque se arrumar qualquer seja a justificativa nessa mente e pense em encostar em um de nós aqui, eu não vou deixar passar igual hoje. Porque eu só não fiz o mesmo que você com Henrique porque eu não quis.

Ele recua erguendo os braços em rendição.

— Gustavo. — minha mãe diz e eu travo maxilar. Quando penso em responder: — Não ouse me responder. — ela ordena e eu cerro o punho assentindo.

Olho para Rayla que estava assustada olhando para Alana. Direciono o olhar para minha namorada e entendo.

— Que foi? — Alana pergunta tirando a munição da arma dela.

— Por que ela tem isso?? — minha irmã pergunta em desespero.

— Ela é policial, Rayla. Tenente do exército. — ia entrar para dentro mas lembro de Arthur. — O que veio fazer aqui, brother?

— Vim ver se vocês tinham chegado bem. — ele sorri e se aproxima afagando meu cabelo. — Moleque tá crescendo. — sorri com isso.

— Vou ser mais alto que você. — debocho.

Com a mesma mão que ele fazia carinho, ele puxa o meu cabelo.

Arthur não gosta de quando falam da altura dele. Porque uma vez Flávia disse que, para namorar com ela teria que ter mais de um metro e oitenta.

Ele só é cinco centímetros mais alto que eu.

— Não abuse. Sabe que eu não falei nessa intenção.

— Claro, claro.

Nós dois começamos a rir.

Sinto mãozinhas me escalando. Só dou apoio com um braço e lá estava ela com as pernas sobre meus ombros, sentadinha.

— O que faz aqui, Rafa? Não estava brincando? — digo recebendo um beijo no rosto.

— Alana mandou eu vim.

— Aí e depois você vai contar para ela tudo que estamos conversando?

— Como você sabe!? — ela fica realmente surpresa me tirando risos.

— Meio que vindo de ambas é fácil de saber. — me lembro. — O que é senil? — pergunto para Arthur.

— É uma forma de dizer sobre alguém que já não está mais em si, perdeu a razão, demente, velho.

— Entendi... Nunca havia ouvido essa palavra.

— Tem boçal também, acho que a gente nunca falou perto de você. Se encontra muito dessas palavras em livros, ou em conversas mais formais. Para gente é: Retardado, velhote, demente, idiota, imbecil. — ele sorri. — Ah! Boçal é rude, tosco e ignorante. Tem várias outras formas que a palavra se aplica, mas no sentindo que estamos falando é esse. — assenti.

Ele me olha de cima a baixo me deixando confuso.

— Que é?

— A Alana ia achar muito fofo você perguntando isso. — ele diz contendo o riso, ele está imaginando.

— Deixa de ser idiota, Arthur. — seguro Rafaela e entro.

— Espera! — ele vem rindo.

— Sobre o que estavam falando?

— Palavras. — respondo sem pestanejar, mas ela me encara. Fico confuso.

— Isso é usado comumente para quando não quer que a pessoa saiba do assunto, Gustavo. É considerado um "tirar de tempo." — Rayla explica.

— Mas estávamos falando de palavras. Eu perguntei o significado de senil e ele estava me explicando. — Alana olha para mim.

— Por que não me perguntou?

— Por nada.

— Você estava tão concentrado. Fofo... — é sério? Isso só me lembra da minha baixa escolaridade, não gosto desse tipo de situação.

— Eu disse. — Arthur sorri atravessado.

Virei chacota, só pode.

— Como você sabia o significado? Você quase nem pega num livro. — Rayla afirma para Arthur.

— Posso garantir que já li e usei dicionário o suficiente para tal, Rayla. Não sou estúpido, eu me formei sem nunca ter reprovado e possuía ótimas notas.

— Desculpe essa jovem sem escrúpulos.

Rayla repetiu um ano, então ela se formou com dezoito. Arthur no ano passado por te tido um histórico escolar limpo.

— Onde está a mamãe? — desço Rafaela.

— Conversando com o papai. Poderia perdoar ele como a mamãe, Gustavo.

— Seu pai não tem nenhum sentimento meu além da indiferença, Rayla. Eu não me importo com o que ele faz ou deixa de fazer, contanto que não prejudique a mamãe e nossos irmãos.

— Nosso pai ficou muito feliz quando teve a paternidade comprovada. — ela resmunga.

Quase mordi a língua quando bati os dentes ao ouvir a asneira da Rayla.

Nunca vou me acostumar com isso. Não pude evitar encarar a minha irmã, que desvio o olhar colocando as mãos para trás fingindo não ter dito nada.

— As vezes você parece ser o mais velho. — Alana me abraça.

— Sim, um rabugento.

— Rayla eu acho melhor você calar a boca. — digo sem paciência.

— Oh, consegui uma proeza. — ela senta no sofá.

— Para de ser mal com ela. — Alana me dá um soquinho fraco nas costas.

Quase chorei.

— Poxa, amor!

Ela trava olhando para mim pedindo desculpas.

— Esqueci, perdão.

Arthur rir da minha cara porque ele é um imbecil.

— O que você tem nas costas? — Rayla se aproxima.

— A maluca da esposa do seu pai. Mamãe tinha acabado de voltar para casa depois da cirurgia, ela foi na nossa antiga casa em busca de confusão. — ela levanta a minha camisa, mas Alana toma a atitude de abaixar.

— Aquela mulher é louca!?

— Ainda pergunta? — falo com sarcasmo.

Minha mãe volta com o buquê que Matias havia trago no seu colo. Ele vinha logo atrás dela.

— O que houve? Por que seus olhos estão marejados? — me abaixo para que ela seque os resquícios.

— Alana. — denuncio.

— Eu já pedi desculpas. — ela se defende.

— Alana coloque num vaso. — ela entrega o ramo de flores para a morena. — Você me dê apoio, quero sentar no sofá. — ela coloca os dois pés no chão e se apoia no meu ombro se levantando.

Minh mãe conversou com Rayla e com Alana por horas. Aproveitei que as três estavam entretidas, só dei um beijo na testa de cada uma e sai.

— E o almoço? — minha mãe pergunta.

Olho para Arthur.

— Você me deve essa. Eu não aguento mais ficar em casa ouvindo essas três falarem de unha. — digo baixo entre dentes para meu amigo.

— Não se preocupa tia, tá comigo, tá com Deus.

— Você é o que eu menos confio. — na lata.

— Com razão. — ele sorri e nós saímos

Seguimos caminhando até eu sentir que não estávamos sozinhos. Olho para trás, mas a rua estava deserta.

— Que foi?

— Nada... Vamobora. — digo roçando o ombro dele seguindo caminho com um aperto no peito.

Tem alguma coisa errada.

Quando chegamos na entrada da Baixa, olho em direção o açougue e estava aberto.

— Quando eu passei estava fechado. Vai lá.

Assenti.

Entro no açougue, falando com seu Severino. Ele queria saber se eu se estou livre amanhã, mas é o dia da audiência.

— Você está bem inacessível ultimamente. — ele sorri.

— Amanhã minha mãe tem uma audiência, irei acompanhar ela. Mas seria só amanhã? Eu posso vim só para ajudar, depois de amanhã estou livre.

— Aceito garoto.

— Combinado.

Sai do açougue e já vi de longe a mão do meu tio me convocando. Espero que não seja para brigar comigo igual ontem.

— Senhor. — digo já de bico.

— Cara de boc*ta, Gustavo. Dormiu não?

— Dormi eu dormi, mas logo as nove recebo a visita do Henrique. — ele já fez uma careta de nojo. — Ele tentou empurrar a mamãe da escada. — um silêncio momentâneo instala.

— Repete. — ele me puxa pela gola da blusa.

Um martelo de perna é dado sobre a bancada de Sebastião. Ele se assustou me soltando, eu também recuei.

Olho para ver quem era o responsável, e lá estava o meu pressentimento ruim. Alana estava me seguindo... Merda!

— Que porr4 você tá fazendo aqui mulher?!

— Ainda bem que eu estou aqui. Quem é esse idiota? — ela puxa meu tio pelo colarinho.

— Solta! Tá querendo morrer?! — tiro ela de perto de Sebastião.

— Eu tô pouco me lixando! Ele não pode fazer isso com você.

— Mas eu me importo, caramba! — forço ela olhar nos meus olhos.

Meu coração está batendo como nunca bateu antes. Pensar que só esse período que estamos conversando pode acontecer alguma coisa.

— Car*lho, Alana! — digo passando a mão no rosto contendo o choro. — Vamos para casa. Agora! Você tá louca, maluca. É sério, faz isso de novo e eu juro que termino com você. Quer me matar? Você quer me matar?! — ela não consegue responder. — Depois eu passo aqui. — pego a mão de Alana saindo rápido, mas sem correr para evitar mais suspeitas.

— Que mina forte... — foi a única coisa que Tião conseguiu dizer.

— Não entendo esse reação. — ela diz se sentindo injustiçada.

— Não, a bonita dá uma entrevista para rede da cidade de TODO O RIO DE JANEIRO! Acha que tem peito de aço e entra numa favela, a dita cuja que deu um prejuízo para o tráfico localizado nela, de um caminhão de drogas confiscado!!!

— Estou a paisana, raramente me reconhecem.

— Alana, quando eu vi você naquela televisão eu te reconheci, Mateus reconheceu, minha mãe quando lhe viu reconheceu. Sebastião, quando viu seu rosto a primeira vez te reconheceu. Não é porque você está de cabelo solto e roupa curta que você está disfarçada.

Ela para de anda se sentindo magoada. Mas não dou mole, pego ela no colo e ando o mais rápido possível para casa.

Já amo demais essa mulher para a perder.

Chego em casa, minha mãe ainda conversando com Rayla despreocupada.

— A senhora viu essa humana saindo atrás de mim? — pergunto a minha mãe interrompendo a conversa.

Minha trava e olha para meu rosto completamente assustada. Eu assinto concordando com o que ela obviamente está pensando.

— Você ficou doida minha filha? Não faça isso de novo, Alana. — diz trêmula. — O que você queria atrás de Gustavo, Alana? — minha mãe pergunta com a voz embargada.

— Eu só queria sair com ele. Ele não para quieto em casa. Não pensa por um segundo que eu quero ter mais tempo com ele, quero ser prioridade ao menos um pouco.

— Mas você é minha prioridade, Alana! Não use o fato de eu sair, ou para resolver alguma coisa ou trabalhar com justificativa. Eu ia na casa de Arthur, confiei deixar você conversando com minha mãe e Rayla! Eu ia voltar em menos de meia hora. Ocorreu do açougue estar aberto, e Sebastião me chamou para falar comigo. Arthur já tinha subido para casa, então assim que eu terminasse no bar, eu viria para casa. Eu não tenho motivos, ou possibilidades de te enganar. Porque se seu medo é Yara, acho que ontem fui bastante claro. Tanto eu, quanto o Nicolas.

— Os dois estão errados.

— Eu não disse que eu estou certo, mãe. Eu sei o que eu faço e deixo de fazer. Mas o que ela fez foi burrice, porque se algo acontecesse com Alana... Eu prefiro nem pensar. Ela tá achando que é brincadeira. Não é porque o crime organizado é sigiloso, que ele não é perigoso. Pelo contrário, você tem que temer é justamente o que você não tem noção de como funciona.

— Você está exagerando! Você me ameaçou de terminar, Gustavo.

— Sim, por que você acha que dinheiro é minha prioridade? Minha prioridade é isso aqui. — aponto ao meu redor. — Minha família. Meu anjo, eu posso ganhar pouco e trabalhar muito, e tudo ter melhorado após você na minha vida em todas a zonas, mas mesmo que você fosse a falência eu continuaria com você, Alana. Parece que a as coisas que as pessoas dizem, te sobem a cabeça. Quero deixar claro que dinheiro não me amarra a ninguém. Se estamos juntos é porque eu gosto de você!

Ela para um pouco refletindo sobre o que eu disse.

Ela me deu uma nova oportunidade de vida, mas ficar com Alana não significa ser por financeiro. Não posso diminuir essa mulher em apenas minha patrocinadora, juntar o agradável ao justo não justifica interesse e sim estratégia.

Mas como eu disse, se ela virar para mim amanhã dizendo que não vai mais pagar nada, eu vou entender completamente. Vou voltar para minha rotina, e não terminaria com ela por isso, nunca.

— Sua família? E eu? — olho para ela confuso.

— Se tu não faz parte da minha família, faz parte da de quem!? — me revolto.

— Se acalma, bonitão. — ela se arrepende. Típico da Alana. — Me perdoa? — ela me abraça.

Estava de braços cruzados, assim permaneci, olhando para ela.

— Para de ser frio, Gustavo. — minha mãe a defende.

Suspiro, por fim acariciando o cabelo dela. Ela sorri de maneira espontânea e vívida, Alana consegue sair de qualquer situação. Basta ela agir desta forma, é impossível eu aguentar muito tempo bravo com ela.

— Agora beijo. — pede.

Beijo a testa dela.

— Não é esse!

— Até parece. — dou um riso sarcástico.

— Você já não perdoou!?

— Alana eu não vou fazer isso na frente da minha mãe e irmã! — saio da sala indo para cozinha. Ela vem atrás.

— E vai fazer na cozinha? — Rayla pergunta.

— Gustavo não, mas Alana ainda é mais velha e bem decidida. — minha rainha diz calma.

— Não! Sai! — começo a rir do ataque da minha namorada. — Não, Amor. Para, Ala- — ela me rouba o anseado beijo.

— Lindo! — diz limpando o canto da boca.

Derrota total para mim. Escondo meu rosto de vergonha vendo ela sentada sobre mim, e o Matias sentado no banco que viu toda a cena.

Essa mulher...

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Comments

Izabel Muniz

Izabel Muniz

acho essa Alana muito infantil e inconsequente para a idade do posto que exerce

2024-04-11

2

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