Qual a relação?

Com o tumulto Rafaela levanta e vem diretamente em mim.

— Está toda descabelada, princesa. — sorri para ela a pegando no colo.

— Gu, quero tomar banho. — ela fala.

— Agora não. Você acabou de acordar. — sento no sofá e arrumo sua Maria Chiquinha.

A tenente me doava um olhar curioso, penetrante. Eu apenas a ignorei até que não aguentei mais.

— Diga de uma vez! — o olhar dela brilha em expectativa.

Escuto minha mãe me reclamar de novo. Mas não é de propósito, ela é muito avoada, não entendo como alguém se sente tão confortável comigo, uma pessoa que conhece faz três dias.

— Você é sempre assim carinhoso?

— Não.

— Mentira dele. Irmão Gustavo é sempre carinhoso. — essa pequena... Faz-me lembrar de uma senhora.

Ela me olha ainda mais esperançosa.

— O que quer dizer, tenente? — pergunto cansado.

— Quando podemos ir?

— Não seria você a determinar?

— Não. Eu já consegui uma missão, então só dar entrada na papelada quando você estiver pronto. Eu tinha o prazo de duas semanas para conseguir alguém.

— Quanto tempo resta desse prazo?

— Dois dias. — ela sorri estonteante.

Ela sabe esconder bem o que sente, ela me conheceu ela só tinha cinco dias de prazo, e me contou com apenas três dias. Ainda disse para eu pensar o tempo que eu precisasse.

— Você é doida. — sou sincero.

— Eu sei. — ela rir.

— Quem é ela? — Dafne também vem sonolenta. Ela encara a tenente. — Ela é bonita. É sua namorada, Gustavo? — a tenente processa por alguns instantes gargalhando em seguida.

Namorada é? Creio ser difícil, Dafne.

Antes que eu possa responder, ela sinaliza para que eu pare agachando. Ficando da altura de Dafne ela sorri.

— Digamos que eu vou levar seu irmão embora comigo. — a pequena enche os olhos de lágrimas. — Muita calma! É só por um tempo, ele volta.

— Hoje, mano Gu? — Rafa puxa minha camisa ansiosa.

— Gustavo já se casou então? — Dafne solta mais uma pérola, fazendo a mulher mais velha ficar vermelha de tanto rir.

— As duas, se acalmem. — as nenéns me olham chorosas. — Eu de fato irei embora por um tempo, mas eu não me casei e não vou hoje.

— Pode ser considerado isso, Gustavo.

— Não, não pode, Alana.

Ela trava, parece ter ficado tímida ao me escutar dizendo o nome dela.

Eu sei que suas considerações são inocentes, eu vou estar morando com ela, vou passar a maior parte do tempo com ela. A única coisa que nós difere de casados é óbvia, é um relacionamento laboral.

— Voltando a sua pergunta. Vamos depois que o processo der cabô. Vou prestar esse auxílio a minha mãe.

— Adora me usar como desculpa, em.

— Não acho que seja desculpa. Ele é apenas obcecado demais com a perfeição das coisas. — tenente tenta ajudar, mas nem tanto.

— Isso é uma crítica ou um elogio?

— Depende de como você deseja interpretar.

— Também consegui um bico de três dias no açougue. Vou trazer carne.

— Que boa hora. Quando soube? — minha mãe coloca apenas a cabeça na porta, para poder olhar para mim da cozinha.

— Mateus me falou quando fui buscar as crianças. Rafa, desce. Vai cair. — digo a tirando das minhas costas.

— Você encanta, Gustavo. — meu coração palpita. Quando foi que ela chegou tão perto?

Essa mulher vai me deixar maluco.

— Eu estou ouvindo sua risada, mãe. — isso só serve para que ela aumente o volume. — Você precisa urgentemente de um vocabulário para tratar homens. — ela me olha confusa. — Esquece. Eu desisto, você venceu.

Eu peço para ela aguardar um pouco e levanto para dar banho nas pequenas.

Dafne e Rafaela começam a brincar durante o banho, perguntei a minha mãe se podia deixar. Ela olhou para mim, tipo dizendo que eu que deveria decidir.

— Não sou eu quem decido isso.

— É você quem paga a conta Gustavo. Quem decide então? — abanei a mão e saio do banheiro deixando as duas lá.

Minha mãe não é do tipo que priva e eu muito menos. Se as crianças querem passar mais tempo debaixo da água não me importo muito.

— Quem vê assim, você trabalha em um serviço fichado. — ela me repreende.

— Era só ter dito não, senhora Vanessa. — falo entre dentes.

— Senhora tá no céu, para você é mamãe. Contrária para ver se essa colher de madeira não te acha. — ela ameaça e eu só me aproximo enchendo ela de beijos. — A panela quente menino!

Saio rindo da cara dela, ela tinha um sorriso de satisfação no rosto, ela gostou da brincadeira.

Pego a tenente me encarando mais uma vez.

— Que foi? — pergunto sorrindo.

— Finalmente sorriu para mim! — ela comenta e eu dou um sorriso discreto mordendo o lábio. — Vi você todo amores mas toda vez que falava comigo se tornava cético. — ela coloca a mão no queixo me encarando com um sorriso travesso.

— Tenho medo de passar a raia com você. Elas são as mulheres da minha vida, então eu sei que o que eu fizer não será mal interpretado.

— Entendi. — ela reflete. — Eu vou chegar nesse nível um dia? — ela pergunta.

— Tem interesse? — resolvo entrar no jogo.

— Se não tivesse não perguntaria.

— Quem sabe. — sorri de canto.

Ela é muito leiga de afeto mais que familiar da parte de homens. Será que ela ao menos já saiu com um?

Que pergunta... É óbvio, ela é bonita, rica, e já é um pouco velha para não ter tido nenhum contato com homens na classe romance.

Minha mãe começa uma tosse forçada.

— Está bem, mamãe? — pergunto por garantia. Mas sei que é falsa.

— Só um grão de arroz. — desculpa meia boca.

— Mais cuidado ao experimentar a comida. — ela agradece a preocupação. — Hora de sair do banho, meninas. — vou buscar as toalhas das duas.

Ricardo estava apagado. Deixar para acordar ele só na hora de comer.

— Vem, anda, anda. — elas resmungam. — Já chega, tá de noite. Querem ficar doentes? — elas dizem que não. — Então venham.

Enrolo Dafne na toalha primeiro depois Rafa, e vou para o quarto com as duas.

Dafne se entregar a roupa do jeito certo ela dá conta de se vestir, mas Rafaela ainda não consegue. Veste ao contrário, mesmo se entregar do lado certo para ela.

— Gustavo, a calcinha... — Dafne fica confusa.

— Lado menor para frente.

— Qual o lado menor? É tudo igual! É de criança.

— Já viu de adulto foi? — entrego para ela.

— Já. Da mamãe. Tudo pequena, menor que as minhas. — rir de seu comentário.

— Dafne! — minha mãe reclama da cozinha. Parece que ela não gostou muito.

— Que ouvido, em. — digo abismado.

— Tem uma que eu não sei se dá para vestir o lado menor para frente, é só uma tira. Aliás, nem deve dá para vestir, se não cabe na frente, não cabe atrás. — engasgo com as palavras de Dafne.

— DAFNE!

— Que foi? Só tô falando da calcinha, falei nada demais.

— Meu anjo, para de falar! — beijo a testa dela e a ajudo terminar de se vestir. — Quando você crescer você vai entender. Por enquanto, lado menor para frente. — ela assente.

Saio com as duas. Dou uma balançada no Ricardo, para ele despertar com calma depois.

Depois que ele levanta nós jantamos todos juntos. Minha mãe convidou a tenente mas ela depois ficou apreensiva de ela não gostar da comida.

— Eu já comi coisas piores, senhora Vanessa. — ela tenta tranquilizar minha mãe mas a deixa ainda mais preocupada. — Eu sou prioridade em muitas coisas, mas já bebi água de cantil, barra de carne seca é horrível fora da validade. — ela conta com um sorriso. — Sua comida é a melhor coisa que eu poderia comer hoje, já que saí, mas ainda assim estou de plantão.

Engasgo.

— Não deixa de me surpreender com seu jeito leviano. — resmungo.

— Já tive preocupação de verdade, Gustavo. Isso aqui, não é nada. As pessoas olham, "Tenente do exército, deve ter muita prepotência, pipi popo..." Mas nunca se perguntam sobre o treinamento infernal que passamos para chegar até aqui, ou sobre termos um alvo nas costas. Essa é a sua futura vida.

Ela parecia ter dito: "Fuja enquanto dá tempo. Depois eu não vou te deixar ir."

— Não se preocupe. Há diversas maneiras que você pode me recompensar. — minha mãe belisca minha mão. — Recompensa mãe, recompensa. Para de pensar besteira. — ela me olha de relance eu confirmo o que disse.

Depois disso terminamos de comer em silêncio.

Na hora da tenente ir embora eu pego uma blusa de frio minha de capuz e saio com ela.

— Gustavo.

Puta que pariu. Ninguém nessa merda desse beco fala comigo, por que justo hoje?

Olho para trás era Tião descendo com o carrinho e um botijão de gás, provável que veio trazer.

— Você tem o bar mais versátil da comunidade. Tem literalmente da água ao pó. — falo escondendo a tenente.

Ela é mais baixa que eu, não sou difícil de fazer isso.

— Piada não é seu estilo. O que está escondendo? — ele olha atrás de mim. — Por isso que ficou com raiva hoje cedo. — ele diz enquanto um sorriso engrandece em sua face. — Era verdade. Você só fica com raiva quando as provocações são verdadeiras.

— Sério, Gustavo? — a tenente pergunta. — Então hoje-

— Quieta, Alana. — sussurro. Ela se cala. — Suponhamos, ainda assim não é da sua conta. — ele faz um biquinho. — Se me dar licença, eu tenho que guiar ela para o carro.

— É filha de patrão!? Você é louco moleque! — ele se diverte.

— Ela é a patroa. — sorri travesso o deixando abismado.

— Isso é crime. — gargalho.

— Nisso vocês estão quites. — abro a porta do carro para tenente e a coloco para dentro o mais rápido possível.

— Espera eu ainda quero conversar com você. — ela ia tirar o capuz.

— Agora não, Alana. — puxo o capuz de volta. — Você está literalmente ao lado de um dos maiores vendedores de droga da Baixa do sapateiro. Dá a volta com o carro. Eu vou te acompanhar atrás. Me espere fora da favela pelo menos há duzentos metros de distancia da entrada. — ela assente e eu vou andando na frente.

— Você está estranho. — Tião me alcança.

Eu fico calado até o carro da tenente parar ao meu lado.

Sinalizo para ela ir logo.

— Mas, você pode ir no carro co-

— Vai agora! Fora. Deixa de ser cabeça dura e sai da Baixa primeiro. Sobe esse vidro também. — ela pondera. — Anda! — ela sobe o vidro e acelera.

— Quem é a mulher, Gustavo? — ele pressiona. Acelero o passo, mas ele me alcança e me prende contra a parede do bar. — Sério? Marmita de traficante? Tá se arriscando demais moleque.

Fico confuso. Então me lembro do que falei. Já deu tempo da tenente sair da comunidade, acho que Tião não fará nada.

— Você confundiu tudo. — suspiro. — É o contrário. Agora deixa eu ir, é perigoso para ela aqui. — ele me solta, vejo que ele ficou com cara de tacho por alguns minutos até chegar a conclusão correta.

Chegando até o carro da tenente, quando chego na janela ela estava encolhida.

— Você foi mal comigo de novo. — reclama.

Reviro os olhos. Parece uma menina mimada.

— Foi o que eu te falei, quer receber um balaço mostra essa carinha bonita. — falo ríspido. Ela me encara. — Que foi? Só tô dizendo a verdade. Eu falei com você que o cara que estava conversando comigo não era um bom tipo. Aí você ainda queria tirar o capuz. Presta atenção! Ali pode ser tranquilo mais ainda assim não deve baixar a guarda.

— Eu vim porque os chefes do morro estão fora. — ela diz.

— É, Sebastião não é um chefe de facção mas é tão forte quanto uma. Esqueceu dele, bonitinha. Deu sorte que estava comigo e ele meio que tem uma dívida com a minha mãe.

— Eu não queria que viesse para brigar. Queria saber quando poderia te ver.

— Tenente, para de agir como uma garota rejeitada. — ela me olha confusa. — Isso está me enlouquecendo. Você é muito descuidada com as palavras, da impressão de que temos algo mais que apenas um contrato de trabalho, uma missão. Eu, ainda que seja novo, sou um homem e sinto atração por mulheres. Estou com uma muito gata agindo como se fosse minha namorada, então estou chegando ao limite. Para.

— Então era por isso as piadas da sua mãe. — ela parece ter descobrido um continente. — Você é muito fofo, Gustavo. — aperto seu rosto.

— É disso que eu estou falando, mulher! Eu estou pouco me lixando para sua idade! Então para! — ela sorri com o rosto um pouco achatado, muito linda.

— Gustavo, eu nunca disse que nossa relação era apenas de trabalho. Eu disse que você era minha missão. Ou seja, não existem regras. Vale tudo, contanto que se torne um soldado com dezoito. Sendo sincera, um garoto como você é tentador também. Como eu disse, você me encanta.

Me afasto. Ao ver que aqueles sentimentos de anseio um pelo outro não era unilateral.

— Quando eu te vi a primeira vez, eu pensei: "Que garoto bonitinho."

Saio correndo de volta para casa. Essa com toda certeza não era uma declaração que eu esperava receber.

— Espera! Você não disse quando voltaremos nos ver! Vou encarar seu silêncio com dois dias. Espero você na delegacia! — ela grita do carro.

— Coloca a cabeça para dentro mulher! Chegue em casa segura. — grito ainda correndo e podia ouvir seu riso.

Só paro de correr quando chego em frente ao bar de Tião.

— Que foi moleque? Viu um fantasma?

— Muito lindo, por sinal...

— Quê?

— Água. — ele sai e volta com um copo com o líquido transparente. Bebo um gole e cuspo de imediato ouvindo sua gargalhada. — Água de verdade, por favor. Se eu chegar em casa assim, minha mãe vai me interrogar até a última gota.

— Beleza, mas vai responder as minhas perguntas.

— Eu resolvo com dona Vanessa. — digo saindo.

— Espera! Vou buscar.

Ele traz a água, dessa vez gelada. Bebo sem nem pensar duas vezes. Não existe nada além de refri e água, com a tonalidade transparente que se coloca para gelar.

— Corajoso ao ter trago uma oficial para aqui para dentro. — ele diz tragando um cigarro.

— Ela chegou do nada agora a noite. Ela não pretende nada aqui, Tião. Deixa passar.

— Ela só veio te ver?

— Veio trazer a autorização da cirurgia da minha mãe. — não vou falar da proposta.

— Repete. — ele parece feliz com a notícia. Mais que só apenas um envolvido. Algo mais aí. — Repente, Gustavo!!! Finalmente, Nessa conseguiu a cirurgia!? — ele se anima muito.

Eu por outro lado, não entendi seu entusiasmo.

— Sebastião, qual sua relação com a minha mãe?

Ele trava.

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