Garotos de ouro

Acordo deitado de lado e Alana ninhada em meus braços. Olho para o relógio são seis e meia. Beijo a testa dela e levanto sem a acordar. Ela não deve ter que acordar tão cedo para trabalhar.

Eu é puro costume.

Adivinha quem também dormia como um anjinho ainda? Sim, dona Vanessa. Só fechei a porta do quarto dela para não a acordar.

Destranco a porta e saio rumo ao portão indo para rua. Sinto estranheza em não ter que ir trabalhar.

— Bom dia, príncipe encantado. — olho para o lado e vejo Arthur.

— Desde quando? — ironizo sorrindo.

— Dono perguntou se não aguenta carregar umas caixas de broca que vai chegar e dar uma limpada no armazém. Não tem necessidade de se deitar ou carregar pneu. Deixa isso para Nicolas e Mateus.

— Vou só avisar minha mãe. Já tomou café?

— Eu já. Quanto a você?

— Ainda não, ia esperar minha mãe e Alana acordar com as crianças.

— Que fofo. — ele debocha.

— Dá um tempo cara. — sorri sem graça.

— Desculpa não queria fazer você ficar com vergonha. — ele rir. — Eu espero você comer.

— Não, vamos logo antes que Alana acorde. Se não ela vai querer ir.

— O que ela iria querer numa borracharia a essa hora da manhã? Toma seu café na paz.

Eu fico só pensando que não deveria desafiar minha intuição. Mas como ele insistiu e sinal de que é coisa que pode levar o dia todo.

— Mãe. — beijo o rosto dela. — Vou para borracharia. — aviso e ela concorda virando para o lado voltando a dormir.

— Não esquece de comer. — resmunga sonolenta.

— Pensei que ia brigar.

— Eu desisto de tentar te prender em casa, Gustavo. Toma cuidado. — ela diz calma me fazendo sorrir.

Arthur estava animado, contando que avó dele disse que Flávia perguntou por ele uns dias atrás. Só que não teve mais oportunidades de a encontrar.

Eu escutei tranquilo. Deixei ele falar a vontade, Mateus e Nicolas não tem muito interesse em uma garota específica então eles não ficam tão frustrados, isso é o mínimo que posso fazer por ele.

— Bom dia. — Alana vem coçando o olho.

— Bom dia. — respondemos

— Por que não me esperou?

— Vou trabalhar. — pude ouvir um som de radar apitando na cabeça de Alana.

— Posso te acompanhar e ir trabalhar de lá?

— Não. Não vamos nos encontrar com ninguém além de homens, sem contar que a pedra no seu sapato está na escola. — digo levantando. Mas ainda assim não a convence. — Eu vou para borracharia e provavelmente só volto no fim do dia. O dono mandou Arthur me chamar. — explico para deixar ela menos eufórica com minha resposta negativa.

Ela assente abrindo a porta. Deve pegar a roupa e escova de dente.

— Por que é tão seco com ela?

— Porque você está aqui. — ele fica boquiaberto. — Pode perguntar para ela.

— Eu vou perguntar. — ele fica esperando Alana voltar.

Quando ela volta atendendo uma ligação ele murcha na hora me fazendo rir.

— Vamos.

— Não, eu vou esperar ela terminar. Só de raiva. — Alana olha para ele confusa. — Eu quero te fazer uma pergunta.

— Só um minuto. — ela fala com a outra pessoa na linha. — Sim?

— Por que aceita esse tratamento seco do Gustavo?

— Por que veio para cá? Se estivesse na sua casa ele me trataria igual uma princesa. — sorri para Arthur.

— Cara a qualquer momento ela vai receber o apelido de trouxa.

— Mas ela não é. — digo indo até Alane e dando um cheiro nela. — Satisfeito? — ele balança a cabeça incrédulo.

— Eu não. — Alana diz.

— Estou saindo. — dou um selinho nela e saio. — Anda Arthur. — ele vem resmungando.

— Cuidado. — ela diz e eu respondo positivamente.

Eu entendo o que ele quer dizer. Mulheres gostam de ser bem tratadas na frente dos outros, Alana também. Só que eu sou o problema. Eu não quero fazer ninguém se sentir desconfortável, e também não gosto de expor o íntimo nosso.

Ela entendeu isso quando uma amiga dela foi para casa dela, e eu estava lá. A amiga dela ficou animada querendo ver como era nosso relacionamento, mas foi assim, além de eu nem saber que estava namorando com Alana, para mim estávamos apenas enrolando, eu não gosto de ficar expondo.

Ela brigou comigo falando que eu desmenti. Eu fiquei com aquilo na cabeça, mas antes de ir embora ela ficou cansada e me explicou tudo. Eu pedi desculpas e disse que não gostava. Ela ficou embasbacada, mas ela acaba se adaptando.

Creio que é algo de família. A minha mãe também nunca gostou desse tipo de demonstrações.e Matias respeitava isso não fazendo na nossa frente ou dos outros. Pelo menos numa coisa ele respeitava ela em sã consciência.

— Por que não gosta de afeto público?

— É desconfortável. — afirmo. — Outra coisa é, eu mal me seguro. Tenho certos impulsos por conta da idade e uma namorada muito linda. — explico.

— Entendo. Eu senti muito esses impulsos nesse período. — Arthur já tem dezoito anos, se formou e resolveu fixar na borracharia. Não sei porque Flávia o rejeita tanto.

Então ele tem um emprego fixo e ajuda a avó em casa. Tem meses que Mateus conseguindo mais dinheiro, ele pode até dá uma saída. Ele estava passando um perrengue danado quando o dinheiro estava servindo de sustentar o vício do pai dele.

Trabalhando na borracharia de dia e fazendo um bico de garçom num bar do Leblon.

Agora deu uma folgada no orçamento. Tanto que Mateus vai poder voltar estudar no próximo ano.

— Meu querido, quanto tempo? Como está? — o dono da borracharia me cumprimenta.

O abraços de camaradagem dele nunca foram bruscos e emotivos, então foi tranquilo. Sem apertos desnecessários.

Nicolas e Mateus não tinham chegado ainda. Então o dono foi me mostrar o que eu tinha que fazer.

Recebi as instruções e já comecei a fazer. Os meninos que se danem, ninguém manda chegar atrasados. Vinte minutos depois eles aparecem e cada um ganha um cascudo de Arthur.

Rir muito da revolta do Mateus. Eles dois não negam ser irmãos, são muito esquentados. Nicolas é travesso, prova foi seu sorriso sorrateiro. Ele tem hora que faz umas coisas que você olha para o rosto dele e não crê que ele foi capaz.

— Yara, chorou muito ontem. — ele me conta.

— O que você quer que eu faça? Eu terei uma vida completamente diferente agora, Nicolas. Yara é como uma irmã para mim, sempre foi. — digo concentrado.

— Isso quer dizer que o campo está limpo? — sinto uma fisgada.

Eu não ouvi isso, ouvi?

Eu encaro Nicolas. Eu não acredito que esse cara gostou da Yara esse tempo todo e estava na zona amigos sem querer?

— Que foi? — ele pergunta.

— Você está de palhaçada né? Eu sempre falei que não tinha interesse na Yara.

— É mas, você não era comprometido. A esperança é a última que morre. A dela morreu ontem para minha sorte.

— Nossa, Nicolas, você é um imbecil! — digo pegando as caixas com raiva e mudando de lugar. — Que cara mais idiota, meu. Eu pensando que você não gostava de ninguém, aí você diz que eu era seu empecilho? Dá um tempo, mano.

— Calma, brother. Eu não disse isso. — ele abaixa pegando alguns pregos pequenos.

— Não sei, só me subiu uma raiva tão grande. Porque se tem uma coisa que eu odeio é que me culpem por falhas em relacionamentos com garotas. Porque eu nunca, nunca disse que gostei de nenhuma antes da tenente, além da minha mãe e irmãs, nunca.

— Eu sei, irmão. Se acalma. — ela gargalha da minha cara. —Foi o que disse, não tinha como eu bater de frente com a esperança dela. Entende? — assenti. — Agora, como seu melhor amigo, eu vou ferrar com a tua imagem e fazer a minha.

Encaro ele de novo.

— Só vou falar que você não tem interesse nela e que a ver cómo irmã. — ele desvia o olhar.

— Nicolas se você ferir os sentimentos da Yara mais ainda no meu nome, eu mesmo me encarrego de te matar. Alana já falou que não preciso excluir ela da minha vida, só respeitar o espaço pessoal dela.

— O espaço pessoal da Yara é pendurada em ti. — ele fala tão calmo.

— Estou falando da Alana.

— Se é assim, sim.

— A quanto tempo gosta dela para agir assim?

— Desde pequenos. — ele sorri. — Yara é minha cabeça já, Gustavo. Eu já nem me importo, porque dentro da minha mente ela já é minha a muito tempo.

— Que mente aberta. Eu com os mesmo pensamentos referentes a Alana, não sei se conseguiria me conter ao ver um qualquer se aproximando dela. — sorri.

Ele parecia feliz. Nicolas é misterioso, mais que eu. Ver ele assim traz paz. Porque ele é um cara que contagia. Ele é um tipo de pessoa que você vê e pensa que não tem nada com que se preocupar, só que é ridiculamente o contrário.

— E você?

— Eu o que? Sai fora. — Mateus diz.

Não aguento e começo a rir da cara dele. Parece ser coisa de outro mundo na cabeça dele.

— Aham, até se encontrar com Fernanda. — Arthur provoca.

Fernanda é a irmã mais velha da Flávia.

— Assim vai perder o posto de poder me julgar. — falo.

— Calem a boca. Ela tem namorado.

— Não tem, ela terminou. — Arthur anuncia.

Nicolas balança as sobrancelhas de maneira sugestiva para ele.

— Sossega, meu. — ele dispensa.

Mas eu pude ver um pequeno sorriso no canto dos lábios dele.

Continuamos com asuntos mais proveitosos como a situação do processo da minha mãe, a volta as aulas do Mateus, a semana de prova do Nicolas, Arthur ter saído do bar.

Discutimos mais sobre nós, deixando as garotas de lado. Afinal, nossa vida nunca girou em torno de ninguém além de nossas progenitoras e irmãs quando se trata do gênero feminino.

Gostar, é claro. Mas sabemos que tudo na medida correta é mais gostoso. Porque se você não consegue um equilíbrio na sua vida, você não pode somar ela com a de outra pessoa.

O horário de almoço chega, e adivinha? Marmita traga e garantida por dona Terezinha!

Ela soube que estávamos os quatro trabalhando hoje e fez o almoço para gente. Pediu para Tadeu trazer, ele é o mais velho dos pequenos, trouxe a comida e um suco de guaraná.

— Vai comer não? — Arthur pergunta ao irmão mais novo afagando a cabeça dele como agradecimento.

— Eu já almocei. Vou voltar, se não a vovó vai ficar preocupada e eu tenho que ir para escola. — a gente assente.

Enquanto nossos olhos podiam acompanhamos ele ir embora.

Sentamos e comemos. As tardes são bem mais agradáveis com eles. Eu vou sentir muita saudade de dias assim.

Pode ter certeza que estava uma delícia a comida.

— Quem esse? — o dono pergunta olhando para mim. Fiquei muito confuso. — Oxi, Gustavo migrou de corpo e só ficou com o rosto?

Tinha que ter esse comentário que me deixa com uma vergonha do car4lho. Nossa, todo mundo gosta de falar disso. Até a minha mãe comentou.

Tirei a camisa porque estava com muito calor. Como ia suar, tirei as faixas também para não ficarem pubando as feridas que estão fechadas já e ter risco de abrir.

— Também me assustei quando vi. — Nicolas diz. — Tá fortinho né?

— Para três semanas isso é muita mudança. Moleque agora tem até abdômen. Antes era só a tábua.

— Obrigado, se é que isso é um elogio. — agradeço.

— Muito bem garoto. Continue. — ele me dá um jóia. — Vocês tem trinta minutos viu. Quero fechar mais cedo.

A gente concorda.

— Esse é o efeito, Alana? — Mateus diz batendo na minha barriga me zoando.

— Efeito comer todo dia três vezes ao dia no mínimo. —respondo tirando a mão dele. — Minha salvação também. Quando falei para o doutor que era mais magro, ele disse que eu poderia ter quebrado a coluna se não tivesse músculo o suficiente no momento.

— Não aconteceu nada com sua coluna?

— Estava um pouco torta, nada grave. O problema foi que ela foi um amaciante de carne. — faço uma comparação extrovertida fazendo eles rirem.

— Está roxo para caramba. — Arthur fala.

— Alana disse que não está tão ruim.

— Tenho medo de descubrir o que é ruim para ela. — ele diz horrorizado.

— Para quem ver cérebro estourado de bala, isso não é nada. — falo tranquilo. Eles parecem refletir. — Que foi?

— Só vimos uma face da Alana que torna improvável ela presenciar tais coisas. Ela é tão... Fofa? Não sei que palavra melhor utilizar.

Deito nos meus joelhos pensando no que Nicolas disse.

— Cara, eu não-

— Se acalma. Eu não disse nada. Só estava pensando. Eu sei bem o quão preciosa Alana é. Conhecendo ela assim somente de rosto, você nem diz que ela é uma tenente, e que trabalha com patrulha de rua especial.

Eles concordam.

— Mas não se enganem. Ela só se faz de frágil atoa, sendo um completo oposto.

— Como assim?

— Minha mãe falou que pediu ajuda para ela. Ela supôs que Alana apenas fosse apoiar ela ir. Alana pegou ela e igual uma noiva e levou para o banho. — digo segurando o riso lembrando de como minha mãe estava com toda essa situação.

Ela pensou que estava perdendo peso, no dia seguinte, foi ao médico e pediu para se pesar e estava mais pesada cinco quilos.

O surto não só por Alana a ter carregado, mas também pela vaidade que minha mãe tem. Veio com uma ideia de fazer dieta e levou um baita esporro da médica que acompanha ela.

Pode falar o que for, mas eu ri muito.

— Qual a altura da tia? — Mateus é o único que consegue dizer algo.

— Minha mãe tem um metro e setenta. Ela é mais alta que Alana quando está em pé. — sorri. — Aí você imagina aquela mulher miúda carregando uma grande, que pesa mais de sessenta quilos.

— Eu sabia que tia era alta, mas nem tanto. — Arthur fala. — Eu vi ela andando, e nunca observei isso.

— Minha mãe é o tipo de mulher alta e esguia.— comento lembrando da mamãe mais nova. Por mais que ela não tenha mudado muito. — Não é meu tipo. — olho para eles.

— Eu prefiro mulheres com uma boa comissão traseira. — Arthur diz.

— Eu gosto do equilíbrio. — Mateus fala.

— Carinha de neném e quando vira de costas uma deusa. Alta é um bônus. — Nicolas comenta.

— Yara não é alta.

— Como eu disse é um bônus. Sem contar que ela só tem treze anos, ela só vai ter um corpo definitivo aos vinte e um.

— Aham, sei. — Arthur provoca.

— Vocês vão ver, ela será a mina mais gostosa da Baixa. Pode esperar. O detalhe mais importante, será minha.

— Sonhador ele em? — Mateus sussurra.

— Calem a boca. Por isso eu não quis contar. Vocês são muito chatos. — ele vira o rosto de bico.

Gargalhadas tomam o lugar. Sim, eu vou sentir muita falta disso.

São amigos de ouro.

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