Mais que amigos, irmãos

— E aí? Qual é o progresso de vocês?

— Falta apenas as prateleiras de cima para limpar e já tiramos mais da metade do material enferrujado para venda. — explico colocando mais uma caixa cheia de ferro com ferrugem no monte.

O dono bate nas caixas e eu recuo quando o pó sobe.

— Desculpa. — ele tosse. — Não sei o que se passou pela minha cabeça.

Eu muito menos.

— Voltem amanhã. Eu tenho que resolver umas coisas e só vou poder voltar aqui amanhã a tarde. Vou aproveitar e dar um descanso para meus funcionários.

Por isso que o Arthur foi buscar a gente. Quem ia fazer a limpeza ia ser os próprios da borracharia.

— Por que eles precisam descansar? — Mateus sempre tem suas dúvidas saciadas por sua curiosidade inocente.

Eu e Nicolas estávamos querendo apenas saber, mas não sabíamos como perguntar sem parecer dois ingratos.

— Boa pergunta, Mateus. — o dono sorri. — Virá dez carretas em dois dias para manutenção geral. Será bastante corrido já que sempre recebemos serviços sem marcação prévia. Vou precisar do armazém arrumado, com peças novas e tudo em se devido lugar porque vai ser correria. Vou ter que dar um puxão de orelha em Euzébio, ele que faz essa bagunça toda.

Eu queria que o dono me desse essa informação com antecedência. Eu e Mateus teríamos esfregado a cara do Euzébio em cada mancha de óleo que a gente tira e elas sempre voltam.

Ou as caixas de ferramentas que arrumamos por ordem numeral e quando eramos chamados para limpar o armazém, as chaves estavam esparramadas pelas prateleiras, sem conjunto, jogadas e sujas. Ia fazer ele engolir chave por chave.

— O estoque interno também tem que ser limpo. — eu e Mateus erguemos as sobrancelhas. — Eu sei garotos, limparam não tem nem um mês. Pensem pelo lado bom, serviço é sinônimo de dinheiro.

— Estamos tão acostumados de trabalhar aqui, é revoltante. — afirmo. — A questão já não é nem mais dinheiro é o esforço. — o dono concorda assim como Mateus.

— Podemos usar o Euzébio como pano? — Mateus pergunta.

— Quem bagunça o estoque interno é o Valter. — ele balança a cabeça rindo.

— Revigorante, farei isso sem culpa. Tenho a permissão do senhor? — pergunto.

— Não garoto, preciso dos meus funcionários. — o dono rir.

Palhaçada. Não é fácil limpar a bagunça não, tem que separar, limpar e guardar tudo. Dá outra vez foi dois dias também para fazer com duas pessoas, desta vez com três vai levar dois dias.

— Acho que não vou poder- — eu e Mateus encaramos Nicolas antes que ele termine a fala. — Estarei aqui a hora que desejar amanhã. — ele sorri conveniente.

— Bom garoto. Sabe sobreviver. — dou tapinhas no ombro dele.

— Você é um demônio, Gustavo. — ele diz entre dentes.

— Eu sou um ótimo rapaz, mas não tenho carta branca de acabar coma raça daqueles dois então minha raiva está armazenando. Não queira que eu mude o alvo.

Duas risadas diabólicas baixas podiam ser ouvidas.

— Epa, já chega. — Mateus interrompe.

Nós dois olhamos para ele confusos. A gente brigar é impossível. Primeiro que é só Nicolas me cutucar ad costas que ele vence. Só estávamos desabafando.

— Eu sei, Gustavo. Só estava com medo. — ele se faz de frágil me fazendo arqueia a sobrancelha. — O dono não está mais aqui para me defender.

— Isso é um cúmulo, pobre Mateus. — Nicolas ironiza saindo.

Me dou conta de duas coisas, minha mania de murmurar meus pensamentos e que o dono já tinha saído. Nesse pouco período de mais ou menos dez segundo de conversa.

— Vamos. — Nicolas chama e nós saímos logo atrás dele.

Chegando na porta encontramos Arthur.

— Ei gurizada, querem dar uma volta? — ele pergunta balançando um envelope com o pagamento dele.

Filho da mãe...

— Eu topo. — falamos em uníssono.

— Avisem as mamães então. Porque eu só devolvo vocês amanhã. — ele sorri.

Quando eu estava saindo, eu lembro.

— Para onde vamos? Não é nada muito... — faço gestos tentando descrever.

— Não sei.

— Não ferra mano. — digo.

— Fica frio. Tá comigo, tá com Deus.

— O senhor vai me salvar de um anjinho de um metro e sessenta? — ele para e começa a refletir.

— Não. Porque não será necessário. — afirma com afinco.

— Arthur... — desconfio.

— Fica de boa mano. Só avisa elas.

— Eu juro, que eu coloco você de frente Alana para resolver se ela problematizar.

— Beleza. — aí sim eu senti que poderia ir. Se der errado ele fica com toda culpa.

Lidar com o ciúme da Alana não é fácil.

Chegando em casa, minha mãe me olha surpresa. Ela não esperava que eu chegasse naquele momento. Sentado no sofá com as crianças do lado, Matias.

— Está vendo um fantasma, dona Vanessa? — ela parece voltar a si. — Sou a última pessoa qual deve temer contar esse tipo de coisa. — digo entrando e recebendo um abraço dos meus irmãos.

Beijo a testa da minha mãe.

— Enquanto seu irmão virou um estúpido arrogante, você se tornou um grande homem Gustavo. — Matias diz.

Não me surpreende isso vindo de Henrique.

— Eu vou sair, se Alana vier aqui a senhora avisa ela que estou com os meninos. Pode ser? — quase imploro.

Matias desvia a atenção para os pequenos, pude ver eles brincarem tranquilamente com ele. Sinal de que apenas Neusa os machucava mesmo.

Minha mãe me olha de relance.

— Fico feliz que vai para um lugar e que não seja para trabalhar, e sim se divertir. Mas... Eu preciso mesmo dizer?

— A senhora lida com ela. Não sei para onde vamos, mas Arthur me garantiu que era tranquilo.

— De todos, o menos o confiável.

— Vamos esquecer esse fatídico fato. Foi ele quem fez o convite. — digo pegando a toalha para tomar banho.

— Não arruma para cabeça, Gustavo.

— Não é para eu ir? — pergunto sincero.

— Não estou dizendo isso. Estou falando para vigiar, sua namorada não é uma qualquer, ela merece o máximo de informação. Quando volta?

— Amanhã.

— Gustavo quem é comprometido não dá essas saídas não, ainda mais com esse mínimo de informação. Você vai, mas antes de ir para onde quer que seja, vai vir aqui e me avisar mais coisas. Se não, eu apoio a Alana a uma patrulha para te encontrar.

Franzi o cenho. Não havia parado para pensar, mas seria algo que Alana faria.

— Eu sei que é com seus amigos, e que eles não iriam, jamais, te sujeitar a uma situação para prejudicar. Mas, fale pelo menos o local onde estará. Também acredito que ela apoiaria você ir com essas condições.

Concordo entrando no banheiro.

Enquanto tomava banho percebi uma agitação anormal na casa. Só que como todos estavam rindo, eu não me preocupei e continuei tomando banho. Fazia apenas dois minutos que eu havia entrado no banheiro.

Sacudi o cabelo tirando o excesso de água. Sai do banheiro como costumo sempre.

— Ficou tão feio assim? — Matias me recorda de sua presença.

— Alana diz que está de boa. Acredito nela. — entro no quarto para me vestir.

— Já que acredita em mim, darei um voto de confiança contanto que me diga onde vai. — e lá estava ela.

Sentada na minha cama de pernas cruzadas como uma deusa grega, usando um vestido de alcinha de comprimento acima dos joelhos, menor ainda pela forma qual ela estava sentada. Expondo as suas coxas, e deixando-me louco.

— Uma palavra sua e eu cancelo tudo. — me abaixo para estar mais próximo de seu rosto.

Quero beija-la.

— Aonde vão? — ela aumenta a distância entre nós.

Perdi toda a satisfação da nossa situação e me levanto frustrado.

— Não sei. — minha voz ressoa fria devido eu ser um tipo que não consegue conter o que sente.

— Por que do nada começou agir assim? — ela me olha incrédula.

— Foi você que me evitou primeiro. — falo pegando uma roupa. Tem várias que nunca havia visto ou vestido antes. Mas ainda assim pego as que eu costumava usar para sair.

— Eu só não quis ceder e você me gambelar saindo sem me dizer onde vai. — ela suspira se levantando. — Veste essa roupa aqui. — me entrega uma muda de roupa. Aceito.

— Se eu quisesse te enganar eu nem te avisaria que estou saindo, Alana. — saio do quarto.

— Gustavo!

— Agora espera eu vestir roupa. Estou com raiva e não quero falar o que não devo. — entro no quarto das crianças e tranco a porta para eu me vestir.

Ouço a voz da minha mãe, ela deve estar conversando com a Alana.

Termino de vestir roupa e abro a porta.

— Eu só não queria me distrair e acabei fazendo ele mal entender. Está tudo bem sogra. — ela sorri. — Seu filho é lindo, e mexeu um pouco comigo, só que eu não quis desconcentrar.

— Crianças. — minha mãe diz virando a cadeira para outro lado saindo.

Observo se havia alguém na sala depois que minha mãe saiu. Estava vazia.

Aproximo de Alana pelas costas e quando aproximo meu rosto de seu pescoço a sinto arrepiar. Solto uma pequena risada rouca em seu ouvido, essa mulher me deixa louco ao ponto de ser ridículo.

Ela olha para mim com o rosto vermelho, parecia estar ofegante.

— Isso é trapaça. — ela choraminga me fazendo rir. — Aonde vai?

— Eu não sei amor, não tenho motivo para mentir para você. Quantas vezes vou ter que repetir?

— Então não vai. Porque isso é o mínimo, Gustavo. Se acontecer algo eu tenho que saber onde você está.

Ela pondera mesmo que aquelas palavras tenham o máximo de firmeza que ela anseia.

— Eu vou voltar aqui e falar para onde vamos. Não vou levar você comigo, porque é provável ser um ambiente onde tenha mais homens e eu não aguento nem um tapa no momento. Também por ter sido convidado.

— Você não aguenta nem um tapa, mas eu aguento muita porrada. — olho para Alana, é a mesma súplica que eu fiz para minha mãe.

Balanço a mão indicando para ela ir se trocar.alana beija meu rosto e diz que não vai demorar.

Passa meia hora e Alana ainda não estava pronta.

— Poxa, Lana!

— Calma aí! Agora só falta maquiagem.

Minha mãe começa a rir da minha cara. Os pequenos vem até a porta do quarto. Eu estava escorado no portal esperando a donzela tentando fazer ela agilizar o processo e terminar de se arrumar.

— Gustavo! — ouço me chamarem no portão, e vou até lá abrir.

— Vamos ter carona. — abro o portão e para minha surpresa nenhum dos três estavam sozinhos.

— Mudança de planos? — Arthur dar de ombros.

— Um cacete! Ainda bem que eu falei para Alana se arrumar seu irresponsável.

— Gustavo tem namorada!? — Flávia pergunta eufórica.

— Quase esposa. — Alana se aproxima e deita sobre meu ombro.

— Ah, Alana! Não exagera, vocês estão juntos há três semanas. — Yara ressalta.

Alana olha para mim de canto. Tem hora que Yara também pede.

— Yara para de ser invejosa. — Fernanda diz. — Ela é linda, Gustavo. Você tem muita sorte.

Concordo com ela.

— Então como só tem um carro. Você vai com elas na frente. — eu digo a Alana.

— Por que não vamos todos a pé? — Flávia pergunta.

— Porque ela não pode ficar perambulando pelo Rio de Janeiro despreocupada. Sinônimo de pedir chumbo na cabeça. Aí aproveita e leva vocês para não cansarem. — sou bem realista e Alana me belisca. — É a verdade, para. — ela suspira. — Assim vocês se conhecem melhor também, acaba que vão fazer companhia umas para outras.

Elas concordam. Alana diz que está bem entrando para pegar a bolsa e a chave.

— Onde esta nossa opinião? — Mateus resmunga.

— No interno de vocês, guardem ela para si. Porque eu ainda não engoli o fato de ser o único verdadeiramente comprometido que iria sem a minha namorada pensando ser apenas nós quatro.

— Calma cara, demoramos mais porque esperamos as meninas se arrumarem. Íamos esperar a Alana. — Arthur fala.

— Os últimos trinta minutos foram apenas para Alana se arrumar, e vocês já estão aqui com as meninas prontas. — eles ficam boquiabertos. — Ia atrasar bastante.

— Estou pronta. — Alana vem.

— Finalmente. — beijo a testa dela.

— E sério que ela terminou agora!? — Nicolas se surpreende.

— Você tome cuidado ao dirigir, a Flávia sabe onde é ela vai na frente com você. — Lana concorda. — Yara. — ela treme ao me ouvir. — Comporte-se. Acho que Nicolas já te falou, se não, ele vai falar e você vai me entender depois. Dê o respeito a si mesma e para Alana, ela é mais velha que você e quem tem realmente o posto de minha namorada. — ela assente e eu podia ver Alana pulando de alegria em seu interno. — Vamos.— empurro os três para fora que faziam caras de cachorros abandonados.

No caminho, boa parte dele foi de lamento.

— Não precisava ter falado daquele jeito. — Arthur afirma. Eu sei que é verdade, mas também sei que não estou de todo errado.

— Vocês ficam muito com pé atrás. Por isso possuem dificuldade em conseguir namorar mesmo tendo a pessoa diante de vocês. Eu não entendia o porquê de Flávia te rejeitar, mas você é indeciso e não sabe se posicionar.

— Gustavo, já é quarta real dolorosa que você manda. Calmô! — Mateus fala bastante impressionado.

— Também-

— Quanto a Yara, eu apenas a rejeitei demostrando respeito. — interrompi Nicolas.

— Qual foi robô? Eu chamei foi meu amigo para sair! — Arthur brinca.

— Eu estou eufórico, e tudo isso que eu falo estava me incomodando. Sinto muito se feriu vocês.

Eles balançam a cabeça.

— Esse sempre foi nosso Gustavinho.

Que apelido idiota meu. Encaro eles, os fazendo gargalhar.

Três imbecis.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!