Eleições fáceis

Abro a porta do quarto e Mateus se assusta dando um pulo da cama.

— Está devendo e eu não estou sabendo? — pergunto indo até a cama.

— Arthur chegou? — ele se senta recuperando o fôlego.

— Sim. — falo me acomodando com o braço embaixo da cabeça como travesseiro. — Ele já jantou. Guardei a comida na geladeira e vim deitar. Ele falou que ia dormir no sofá para ser o primeiro a ver o pai de vocês caso ele voltar.

— Só conversaram sobre isso?

— Não. Falamos sobre mim também. Nada muito mirabolante.

— Mano Gu. — sinto a mão de Tadeu. Viro-me para ele. — Quando o Ricardo vira brincar com gente de novo? — meu peito aperta com aquilo.

— Eu não sei, pequeno. — percebo lágrimas em meus olhos. Mas está escuro então não foram percebidas por ninguém além de mim.

Ricardo e Tadeu brincavam muito juntos.

Por ele ser o único menino das crianças lá em casa, ele sempre vinha brincar com Tadeu e Guilherme. Assim como Linda ia brincar com Dafne e Rafaela.

— Sente falta deles?

— Nem tanto. Só estou cansado hoje. Mas fico feliz por eles. Vamos dormir. — pego ele no colo e coloco ao meu lado na cama com o travesseiro pequeno que a avó fez para ele.

Mateus ainda queria perguntar algo mas resolvo fingir que não sabia de tal, já que ele também não protestou. Eu realmente só quero dormir agora. Vou ter que acordar em menos de três hora e voltar ao semáforo.

Receber ignoradas, e persistir sorrindo. Porque eu tenho uma mulher que depende de mim, uma que eu nunca vou poder trocar ou substituir. Mãe é única, seja biológica ou de criação. Mulher que se torna mãe de verdade, você nunca pode trocar ela por outra.

O feixe de luz no meu rosto me desperta. Abro os olhos com calma me adaptando.

Hora de levantar, Gustavo. Passarinho que não deve a ninguém já está acordado a muito tempo. Penso.

Quem eu devo? O governo. Afinal, se eu não pagar ele eu perco o mínimo da dignidade de vida que tenho.

— Acordou, Gustavo. — dona Terezinha anuncia. Mateus ainda dormia e Arthur estava tomando café da manhã. Ele deve descer para borracharia agora também.

— Bom dia. — digo indo até minha mãe que pestanhava na cadeira. — Com sono ainda, mãe? — sorri para ela.

Ela me dirije o olhar e abre um grande sorriso.

— Já comeu? — ela assente.

— Aqui o seu, filho. — dono Tereza me entrega um prato com cuscuz.

— Obrigado. — sento no sofá ao lado da minha mãe.

— Está na hora de cortar o cabelo. — a minha mãe diz passando a mão na minha cabeça.

— Se eu conseguir o dinheiro eu corto, se não, sem problemas. — ela o puxa como repressão. — Aí! — engulo o cuscuz rasgando a garganta. Encaro minha que vira o rosto emburrada. — Tá bom, eu vou cortar. — dou-me por vencido e ela sorri.

— Seria ótimo se fosse um pouquinho mais ambicioso, querido.

— A cobiça leva à morte muitos, não quero ser parte desse grupo.

— Eu entendo, mas ainda assim...

— Vai deixar sua mãe em casa e descer para avenida? — Arthur muda de assunto e agradeço internamente por isso.

— Vou. Me ajuda a descer a cadeira dela? — ele concorda e nós terminamos de comer em silêncio.

Eu não julgo ninguém, eu não perturbo o mundo de ninguém. Então quero que o meu seja no mínimo respeitado, assim como todos eu tenho as minhas razões e não falto com a educação independente de quem seja.

Eu aceito ser tudo se for necessário para sobreviver.

Portanto, dentro de mim, é algo que nunca vou fazer com ninguém é julgar. Essa capacidade e função não é minha.

Levo o meu prato para pia e sou impedido de lavar. Não insisto, ou seria expulso à tapas de lá. Quando me preparava para sair junto de Arthur, Mateus acordou.

— O dono falou que quer vocês na borracharia as 14. — Mateus assente.

— Te encontro na avenida. — fala comigo. Concordo e abaixo para minha mãe subir nas minhas costas.

Arthur desceu as escadas com a cadeira antes de mim. Nem coloquei minha mãe na cadeira de novo, ia ter que subir mais uma remessa até em casa.

— Vanessa, você sabe que Gustavo tem se alimentado de fé? — Arthur solta e reviro os olhos.

Minha mãe deita no meu ombro, comentar isso com ela só a faz sentir culpa.

— Dias de luta e dias de glória, Arthur. O mais importante é o conforto da minha rainha. Ela já sofreu muito. Das minhas mãos ela terá tudo do bom e do melhor. — sorri. E sinto o abraço da minha coroa.

— Cabeção. — sussurra inconformado.

Pode mandar mais comentários que me tentem ao arrependimento vida. Eu vou respondê-los com a maior satisfação.

Mas, sei que ele queria apenas que ela brigasse comigo, para ver se eu parava com isso. A prova foi o pequeno xingamento inofensivo que disse.

Eu amo comer, mas eu sei que muitas vezes minha mãe foi privada de comer como tortura. Ao ponto de ter alucinações, eu já a vi desse modo. Com isso em mente, se der para apenas uma pessoa, quem é prioridade é ela. Sem qualquer dúvida, irmão.

Deixo minha mãe na cama na dela. Ela não queria estar acordada e estava cochilando quando estava a trazendo.

— Devo chegar às 18. — beijo seu rosto e a cubro.

— Eu te amo tanto meu filho. Perdoa a mãe por fazer você passar por isso. — ela diz com a palma no meu rosto.

— O meu maior prazer é ver-te sorrir.

— Mas meu menino não tem culpa de nada. Não deveria passar por isso.

— Mãe. — fixo em seu olhar. — Eu estou bem. Agora, eu tenho que ir trabalhar. Quer linha para passar o tempo e vendermos umas bolsas? — pergunto arrancando um sorriso dela, que assente.

— Corte o cabelo. Se não, não farei bolsa nenhuma. — balanço a cabeça concordando.

— Te amo. — beijo seu rosto de novo. — Se cuida. Volto de tardezinha. — dou-lhe outro beijo e saio.

Chego na sala e pego o pote com as balas do Mateus e a minha caixa com as que sobrou ontem. Quando saio, tranco a porta e jogo a chave em cima da mesa pela janela para minha mãe pegar quando acordar.Arthur estava me esperando escorado na parede com um cigarro entre os dedos.

— Sua avó ver isso ela vai te matar.

— Eu só fumo de vez em quando. Não se preocupe, Gustavo. Tomei nojo de maconh4 por causa daquele bunda mole que engravidou minha mãe causando minha existência.

— Pai é mais fácil de dizer. — brinco descendo as escadas.

— É asqueroso também quando se refere a Urias.

Nós rimos.

Me dou bem com Arthur assim como com Mateus. Eu sou um tipo de pessoa que gosta de entrar e sair, e ter a bem-vinda para voltar novamente.

Graças a Deus eu não causo má impressão em ninguém e me dou bem com todos.

Passo palas ruas da Baixa, sou conhecido por causa da minha mãe, e não sou perturbado. Sempre bem educado, independente da idade. Isso foi uma coisa que Matias e minha mãe não admitia para nenhum de nós, a falta de educação com os outros.

Nem mesmo na rua por causa do meu tom de pele ou minhas roupas eu não vejo desconhecidos esconder pertences ou algo do gênero.

Talvez seja pela minha cara mansa, como diz Nicolas.

O importante é que não tenho que temer pela minha vida, igual muito nego da minha idade já se esconde ao ver uma moto passando com medo de morrer.

— Chega aí, Gustavo. — ouço o tio. São sete da manhã e o boteco dele já está cheio.

Todos o conhece. É vendedor de droga desde quando se entende por gente. Assim que me ver tenta me puxar para o negócio, toda vez.

 Mesmo sabendo o que é, eu vou. Arthur me acompanha de cara amarrada.

— O que você quer com ele, Tião? Malandro véi como você, coisa boa não é. — Arthur com sua delicadeza, não me surpreende. Em nem ao senhor Tião, que só sorri para ele e dirije a atenção a mim.

— Bom dia, garotos. Devem estar indo trabalhar. Quer fazer uma entrega para mim na avenida não? É só colocar debaixo das balas. — ignora Arthur, que rosna com o convite.

Ele com toda certeza odeia drogas. Por que ele estava fumando? Não o entendo.

— Tio, procura outro. Vem outros molecotes aí belê? Eu não posso me arrsicar. Sou o homem da casa e minha mãe é deficiente, posso mexer com essas paradas não.

— Tenho orgulho de você garoto. Seria duzentos reais. — ele diz como última esperança.

Não me sinto tentando e me nego de imediato.

Ele se dá por vencido. Me deseja um bom dia, boas vendas e me libera.

— Dá a impressão de que um dia você vai fazer uma merda dessa falando daquele jeito.

— Nunca diga nunca, ou o carma pode fazer você pagar sua língua. Eu prefiro dizer que: "Enquanto eu puder trabalhar de verdade, eu não considero o suicídio."

— Esse é o meu garoto. — ele passa o braço no meu pescoço e bagunça o meu cabelo.

Chegamos na saída da Baixa e estavam Nicola e Mateus me esperando.

Cumprimento Nicolas e entrego o pote para o Mateus.

— Coloca pra mim, mano. — abro o pote e coloco.

— Que balas são essas? — o irmão dele pergunta.

— Ontem ele não vendeu nada. Mas teve uma operação na avenida, e a moça, chefe da operação comprou as minhas balas. Eu dividi o dinheiro com eles dois. Esse é o resumo.

— Quero detalhes, Gustavo.

Faço uma cara de preguiça mas ele não cede. Começo a explicar tudo do início de novo, tim-tim por tim-tim.

No final de toda a história ele me pergunta:

— Ela era gata? — franzi o cenho.

— Para que você quer saber disso? Se fecha maluco. — ele gargalha.

— Vou usar o celular do Wesley. Vou procurar essa Tenente Alana que deixou nosso Gustavinho com o coração balançado.

— Deixa de ser idiota, Arthur.

Mateus e Nicolas se juntam a zombaria.

Poxa, isso tudo só porque eu falei que fiquei abobado na presença dela? Deve ser completamente compreensível, uma mulher como aquela, toda perfeita. Eu nunca cheguei perto de nenhuma mulher além das minha irmã e minha mãe, algumas tias e vovós também.

Agora, uma princesa foi a primeira vez que vi daquela idade. Toda delicada, igual Linda, Dafne e Rafaela.

Depois de Arthur segue para borracharia nós três fomos para o sinal principal da avenida. Ele é um pouco mais longe da baixada onde estávamos ontem.

Quando era por volta de meio-dia, eu havia feito trinta e sete reais. A marmita é 15 e o corte de cabelo 20... Mas tenho que comprar a linha da mamãe.

Desisto da marmita. Tem comida em casa, eu como quando chegar. Eu tomei café hoje, não tenho que me preocupar tanto.

Um carro preto blindado para no semáforo, nós três nós entre olhamos, quem será o sortudo? Nicolas corre até lá, s ele é o vencedor dessa corrida.

É mãe, por hoje é isso que eu vou conseguir apenas. Como eu disse cedo, dias de luta e dias de glória.

— Gustavo! — escuto uma mulher me chamar.

Quando me viro, era a tenente, desta vez no banco do carona do carro que Nicolas chegou primeiro.

— Muito obrigada pela ajuda ontem. — ela debruçou-se sobre a janela me dando um sorriso grande e branco como se fossem de papel seus dentes.

— Eu que agradeço. — me curvo um pouco. E constato Nicolas correndo até mim todo sorridente. O sinal abre.

— Nós veremos de novo. — ela pisca e o carro segue o destino.

— Mano, vamos almoçar. Nós três! — diz passando o braço pelo pescoço meu e de Mateus.

— Suas balas? — Mateus pergunta.

— Vendi todas. Minha mãe tinha trago mais um pacote ontem, eu tinha duzentos reais em balas na caixa essa manhã. Podemos comer de self-service no restaurante da tia Jô! — sorri com aquilo.

Mais uma vez, a bondade da moça faz estes moribundos sorrirem e festejarem.

Mais populares

Comments

DESATIVADA

DESATIVADA

essa tenente é um anjo👼

2024-03-17

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!