Revelações mais ocultas

— Vai cortar meu barato mesmo com essa pergunta? — ele debruça sobre o balcão. — Só tem que saber que conheço a sua mãe bem antes de ela se casar com Matias. Eu deveria ser a última pessoa no mundo a ser considerada naquele rumor se ela não fosse tão teimosa.

— As últimas pessoas do mundo a serem consideradas são a família, Sebastião... Qual sua relação com a minha mãe!?

— Isso não cabe a mim dizer moleque! Se ela não quis te contar, eu não tenho o direito. Eu também fiz por merecer. Sabe o que sua mãe mais odeia em mim?

Nego.

— Meu trabalho, ela foi contra e eu a disse que ela não era nada para aquilo. Dona Tereza sabe o que eu sou da sua mãe, a mãe do Nicolas, toda essa galera que a conheceu antes dos dez anos. Antes de ela ser abandonada.

— Quem abandonou a mamãe?

— Nossa mãe- — ele deixa escapar. — Esse pentelho! Eu disse que eu não podia contar! Agora Vanessa vai querer arrancar meu coro. — ele me dá um cascudo.

— Aí!

Minha mãe é irmã do Sebastião...

— Vocês não parecem nada. — falo.

— Porque eu estou de barba, moleque. Eu sou a cara dela. Quando começaram a desconfiar, eu resolvi mudar para ela manter o seu segredo. Ela tentou me tirar dessa vida, me levar para casa dela, mas eu não queria. Eu ainda me sentia culpado por conta da mamãe ter me escolhido e abandonado ela. Foi um fatídico dia em que ela fez um "adoleta o escolhido foi você", e por puro azar o escolhido foi a Vanessa.

— Por que nunca a salvou? — pergunto com amargor. Mas ele não se abalou.

— No dia que Matias quebrou a bacia da sua mãe, eu estava em um momento íntimo na mesma hora. Fui interrompido, e sai correndo. — ele solta fumaça. — Minha esposa naquele dia, foi em busca do rumor no mesmo momento que eu fui prestar o auxílio egoísta, para não levantar suspeitas. Ela se sentiu muito culpada e foi falar com sua a mãe, porque ela percebeu que era ela o tempo inteiro a mulher do boato.— ele faz uma pausa. — Depois disso, eu prometi nunca mais ter casos escondidos se nós dois não tivéssemos dado certo. Mas, minha morena é fechamento. — eu sabia que ele amava a esposa, mas ver ele falando assim é invejável. Quero poder falar assim de alguém um dia. — Eu sempre dava um jeito de interferir, Gustavo. Saiba, Matias só não está morto porque sua mãe não permitiu. Não a culpe. Afinal, se tratava do homem que a ajudou muito quando ela não tinha ninguém e do irmão mais novo dela. Aquele asco, é pura preocupação.

A última frase dele me surpreende.

— Sua mãe não tem raiva de mim. Pelo contrário. — ele rir. — Vanessa é muito atenciosa e amorosa. Sempre foi, desde menina. — seria impossível não levantar rumores quando você fala assim... — Ela não guarda rancor, ela trata a pessoa com indiferença ao invés de odiar. Sua mãe me ama ao ponto de olhar para minha cara com asco. Posso entender o que ela pensa. Eu também a amo. Pelo menos aqui em casa, Vanessa é minha querida irmã e minha filha a chama de tia sempre que a vê. — ele afaga meu cabelo. — Eu prefiro assim, são menos pessoas para proteger. Talvez, seja por isso que ela elegeu esconder nosso parentesco. — assenti.

Ele fala da mamãe, da filha, da esposa com muito amor. Por que alguém como ele lembra tanto a minha mãe quando fala da gente? Mesmo que sejam irmãos não deveriam ser tão parecidos.

Até a paciência ele tem idêntica.

— Isso é farsa. ,— ele corta meu raciocínio.— Essa é minha faceta "família".

— Como soube o que eu estava pensando?

— Você murmura, é uma mania sua. — ele aponta algo que eu nunca percebi. Mas sempre vejo que as pessoas respondem meus pensamentos. — Eu tenho ótima audição. — lembro da mamãe mais cedo com Dafne. — Eu não sou assim para as pessoas do bar, ou algo do tipo. Eu sou alguém extremamente conservador e impaciente. Só que eu já vi um exemplo e não quero seguir com meus entes queridos. Minha família não merece esse tipo de tratamento. — ele pensa um pouco e parece lembrar de algo. — Só para deixar claro, Arthur tem que parar de ser língua afiada. Aproveita e passa o recado. — ele traga o cigarro e solta a fumaça. — Eu estou no limite com ele. Qualquer hora eu o pego pelo pescoço igual eu fiz com você a pouco. Sou novo, mas ainda sou mais velho que vocês. Já tenho uma família formada, sou um homem, não moleque, exijo respeito.

Vejo a postura mudar. Seu sorriso rotineiro trocado por um semblante sério e sem resquícios de culpa pelo o que disse.

— Obrigado por me contar, tio. Vou para casa, está ficando tarde. — vou saindo.

Ele fica congelado, mas logo sorri. Só não gosto dessa postura comigo. Ele nunca me tratou com frieza mesmo quando me repreende ou aconselha.

— Esse moleque tem um dom. Ainda acha ruim quando chamo ele de garanhão.

— Eu não sou um cavalo, velho imbecil! — praguejo e ele rir.

— Boa noite, Gustavo. Dá um abraço nos seus irmãos por mim. Ah! Realmente está saindo com a ofic- — o encaro. — Moça que acaba de sair? — conserta.

— Ainda não está pronto para saber.

— Como assim, pentelho? — sua sobrancelha treme.

— Boa noite, Sebastião.

— Como pode parecer tanto aquela cabeça oca!?

— Eu vou contar para ela. — ameaço sorrindo.

Ele se dar por vencido e se cala.

Chegando em casa, encontrei minha mãe dormindo na cadeira e os pequenos amontoados no sofá.

— Demorei tanto assim? — falo com mamãe agachando para ela subir.

— Demorou. O que tinha tanto para falar com Alana?

— Digamos que um pouco de tudo. Também parei no bar do Tião. Ele estava entregando um gás na hora. Joguei uma piada para ver se Alana entendia, mas ela é muito tapada.

Minha mãe rir.

— Se foi Sebastião quem a viu, pode ficar tranquilo. — coloco ela na cama, assim que ela deita ajeito as pernas dela.

Penso um pouco depois de acomodar ela, e resolvo matar minha curiosidade.

— Mãe, por que não contou para gente do tio?

Ela já estava quase dormindo de novo mas não se afobou com minha revelação.

— Você descobriu? Bem você, Gustavo. Não deixa passar nada. — ela diz sonolenta. — Porque ele mexe com drogas, alguém poderia querer se aproveitar da influência dele. Lembrando que tínhamos mais três pessoas nessa casa, além de nós. Também foi para nós proteger. Ele tem que se preocupar apenas com esposa e com a filha. — ela sorri. — Ele nunca muda. Não pedi para Joabe aquele dia. Ele simplesmente veio trazer. Só cobra porque você não sabia.

— Vai continuar cobrando, porque eu não tenho a menor intenção de tirar o dinheiro que ele usa para comer. — falo de imediato e ela rir.

— Sebastião é um bom garoto, só escolheu o caminho errado. Ele ainda conseguiu se sobressair bastante. Por isso, quero que seja o inverso. — ela toca as minhas costas. — Quero um abraço, filho.

Deito ao lado dela. A abraço fazendo carinho em sua cabeça.

— Outra coisa. — ela responde sonolenta. — Alana disse que sente atração por mim. — minha mãe sorri.

— Agarre essa mulher então, Gustavo. Ela é uma ótima pessoa, você nunca encontrará outra melhor ou igual na vida. Não cometa o mesmo erro que mamãe. Eu posso não sentir nada por Matias, mas ele é um ótimo homem. Também era facilmente manipulado, por ser uma pessoa de bom coração. Ele só estava amargurado. Ele chorava como criança quando acordava e via as marcas no meu corpo. Eu já não sentia nada por ele, nunca senti pena. Só colocava na minha cabeça que um dia isso ia acabar da forma que Deus quisesse.

— Por que acha que ele é um ótimo homem?

— Gustavo, Matias é apaixonado. Ele se encantou por uma garotinha, e quando soube da gravidez dela. Ele se ajoelhou diante da mulher que cuidava dela pedindo perdão e prometeu que cuidaria com a própria vida. Ele era capaz de morrer por mim.

Como dizem, sempre há dois lados da história. Eu só sabia o que eu presenciei, mas nunca a história da mamãe e muito menos de Matias.

— E meu pai?

— Me surpreende essa pergunta. Você nunca se interessou. Só não chamava Matias de pai, por causa de Henrique que dizia que seus pais eram diferentes. — sim, aquele idiota. — Bem seu pai se chama, ou chamava, Lucas. Ele era um colega de sala meu. Como eu repeti dois anos, terminei a escola com dezenove, me adiantaram por estar grávida de ti, ou iria repetir mais um ano. — ela respira. — Seu pai me acolhia quando eu reclamava do meu casamento. Isso apenas por interesse carnal. Quando surgiu você, eu esperei a mesma atitude de Matias, mas Lucas mudou de cidade assim que eu contei. Estúpida, certo?

Mamãe é uma preta linda, de olhos castanhos e cachos black. Fico me perguntando que homem perderia a oportunidade de tomar ela para si, e só desejar para sex0. Inteligente foi Matias, ao mesmo tempo nem tanto.

Eu como filho já tenho ciúme, o que dirá um cônjuge.

— Matias te considerava um filho. Só não demonstrava por você ser sempre tímido. Porque você é minha cara, ele nunca repudiou você por isso. Ainda bem. Eu te escondia quando ele vinha me bater por isso também, tinha medo de ele fazer o mesmo com você. Mas ele tinha um ideal muito forte. “Eu não bato em crianças, Vanessa. Nem em mulheres, só tenho coragem de encostar em você por causa da droga e do ressentimento. Mas nem uso por isso, eu só queria fugir um pouco da realidade, esquecer o chifre que eu tenho. Por que eu não tenho a mesma coragem que você? É frustrante.” Por isso eu chamava muito o nome dele, uma tentativa de trazer o Matias de verdade de volta.

— Então Matias usava drogas...

— Acho que ele só era fraco para entorpecentes mesmo. Porque ele não teve dificuldade em abandonar. Não era um vício. Você percebe que ele ficava o meu período gestacional e de resguardo inteiro bem.

— Por que ele fazia isso se sabia que iria te machucar?

— Isso ele nunca me contou. Mas ele afirmou que nunca fez para conseguir coragem. Suponho que tenha alguém mais por trás de tudo.

— Mas por que prosseguiu mesmo depois da senhora ter ficado paraplégica?

— Quem contou isso para você? Isso é mentira. Eu não sinto nada da barriga para baixo. Matias nunca mais fez nada.

— Henrique e Raila haviam dito algo assim. Mas na rua persistiram que Matias ainda abusava da senhora.

— Não. Não tinha como. Se isso tivesse acontecido, eu também iria poder comprovar a ele que eu não saia com nenhum outro homem, que o único foi Lucas. O corpo da gente conta essas coisas Gustavo. Um homem que é de várias é mais água que pasta. Uma mulher que é de muitos é mais relaxada.

— Muita informação mãe.

— Não é algo íntimo meu. É a verdade, assim como o lado menor da calcinha, serve para observação de todos.

— Isso só vale para crianças.

— Olha que menino para frente! — ela me dá um beliscão, me fazendo rir. — Matias nunca observou isso por sempre estar fora de si. Mas eu não digo que o que ele fez está certo Gustavo. As pessoas devem entender que existe o bem e o mal independente das razões internas. — que frase forte. — Agora, deixa a mamãe dormir. Ela está cansada. — beijo sua testa e acaricio sua cabeça até ela pegar no sono.

Levanto e a cubro saindo do quarto.

— Ricardo, para cama. — tento acordar ele, mas estava completamente apagado.

Pego ele primeiro e levo para cama. Depois volto e pego as outras duas.

Coloco Dafne junto com Ricardo por ela ser maior, e durmo com Rafaela que ocupa menos espaço na cama me deixando mais confortável.

Que dia.

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