Vida tortuosa

— Gustavo! — Alana pega a minha mão, para ver se tinha machucado.

— Alana, se afasta. — digo afastando ela.

Estou com tanta raiva, eu sabia que o dia que eu encontrasse o Henrique de novo eu não suportaria a hipocrisia dele.

Eu dei glória quando ele foi embora, se eu fosse só um pouco mais velho eu poderia ter acabado com raça dele enquanto a mamãe sofria e ele continha o riso.

— Eu não faço a menor ideia do que você está falando, Gustavo.

Encaro Henrique.

— Cara, você tá me testando. — eu aponto para ele caminhando em sua direção. Alana entra na frente e eu paro para não machucar ela.

— Eu me recuso a acreditar que você seja realmente quem diz ser. — minha mãe diz. — E você se controla! — ela exalta voz para mim pela primeira vez na minha vida toda.

— É sério que a senhora vai fazer isso pela primeira vez, por causa desse cara? — pergunto com amargura.

— Gustavo, para. — Alana me afasta.

— Ricardo! — chamo e ele aparece. — Traz o controle do portão para mim.

Ricardo obedece e volta rapidamente. Agradeço abrindo o portão.

— Eu vou falar só uma vez, dá o fora.

— Tá doido, Gustavo!?

— Quê!? Por que eu tenho que deixar ele mais tempo aqui?

Vejo minha mãe confusa olhando para minha namorada. Só que então eu percebo o que havia dito para minha mãe momentos atrás, talvez ela se confundiu.

— Alana, eu não seria capaz de dizer isso para minha mãe. Nunca! — ela parece se recompor. Passo a mão no rosto. — Henrique, vaza.

— Pensei que fosse dizer só uma vez.

Cruzo os braços e olho para ele incrédulo.

— Acho melhor você ir por bem. — digo.

— Quer ajuda? — olho para trás vendo Arthur.

— Quero. Eu não posso desobedecer minha mãe. — minha mãe me olha com cara de sarcasmo. — Eu sou obediente. E Arthur não tem vontade de matar ele.

— Eu não daria tanta conf- — dou uma cotovelada no estômago dele. — Tranquilaço, só quero ajudar.

— Não está de ressaca? — Alana muda o foco.

Encaro Alana e ela desvia o olhar.

— Alana, esse não é o momento. — Arthur diz por mim.

— Henrique vai embora. — minha mãe manda.

— Mãe, sério que vai dar ouvidos a ele e não a mim? Gustavo era só uma criança isso é coisa da cabeça dele.

— O Gustavo não mente, Henrique. — minha mãe afirma, aproximando a cadeira dele. — Porque eu o fiz assim, eu sempre quis um filho para moldar a minha imagem, e ver ele se tornar uma versão perfeita minha. — que tóxico senhora Vanessa — Eu consegui, por isso, eu sei Henrique, seu irmão não mentiria. Principalmente para mim. Porque eu o criei a assim, ensinei ele viver já que o mundo não é gentil. Não queria que ele sofresse e sempre culpasse seu nascimento, como ele possivelmente iria fazer.

Isso foi algo que eu nunca fiz, nunca se passou pela minha cabeça culpar meu nascimento. Sou alguém tão afortunado, existem pessoas com situações piores. Sem contar que no momento, eu estou no auge da sorte e comodidade de vida.

— Henrique eu tenho coisas para fazer. Vá. — digo pela última vez.

— O açougue está fechado. — Arthur alerta.

Arthur levantou meu ânimo com essa frase de zero a cem.

— Tenho uma mulher de quase trinta para mimar, se retire.

— Precisa resaltar a minha idade? — Alana puxa minha orelha.

— Perdão, amor. — digo com expressão impassível assim como ela.

Já estou acostumado com puxões de orelha, somente os de dona Vanessa dói, porque ela crava a unha atrás da minha orelha, é uma estratégia para que faça efeito.

Ela solta minha orelha e meu irmão mais velho ainda estava ali, olhando para minha cara. Esse cara deve ser viado para gostar de olhar tanto para cara de macho.

— Eu sei que sou bonito, Henrique. Mas não precisa me olhar tanto, sem contar que somos irmãos. — minha mãe me repreende e eu viro o rosto com carinha sapeca.

Alana e Arthur não se aguentaram de tanto rir.

— Você disse que a sua namorada tem quase trinta! Mãe por que deixa Gustavo tão livre para fazer o quer?

— Henrique, Gustavo sustenta uma casa desde os onze anos de idade! Ele tem mais postura de homem que você! — minha mãe aponta para o peito dele. — Quem seria eu para julgar Gustavo!? Enquanto você, meu segundo filho, eu tive com a idade dele, já tinha uma filha de dois anos e seu pai já era maior de idade! Acorda! Aliás, nem sei se é de fato minha criança. — ela está muito magoada. — Só vai embora, Henrique.

Ela diz virando a cadeira e indo para dentro de casa. Só que ela cometeu o erro fatal. Nunca der as costas para seu inimigo.

— AHH! — Henrique grita.

Minha reação e a de Arthur foi apenas de tentar correr para alcançar e não permitir que Henrique empurrasse a cadeira da mamãe por escada abaixo da garagem. Ela poderia bater a cabeça.

Quando nos demos conta, minha mãe já estava longe de Henrique e com Alana o imobilizando.

Alana puxa a arma do short jeans que ela havia vestido pouco antes do café, não vi o momento que ela a colocou na cintura porque eu estava arrumando a mesa. Eu corro em direção aos dois para segurar ela.

— Esse merda! ME SOLTA! Eu estava me contendo, mas miserável que não sabe respeitar nem a própria mãe, então deve viver com porcos! — ela se debate.

— Alana! — chamo a atenção dela, ela treme. — A arma está engatilhada, para. — puxo a arma da mão dela e jogo para longe com cuidado a pegando no colo.

Ela deita no meu ombro e começa a chorar. Grudou em mim igual um coala.

— Ele ia machucar a sogra. — ela diz entre soluços.

— Eu sei. — acaricio o cabelo dela. Minha mãe está em choque. Ela quis vir até nós, eu impedi indo até ela. — Para dentro, as duas. — digo e Alana aperta seu corpo contra o meu. — Pelo menos a senhora. Pode ser? — beijo o rosto da minha mãe e ela assente entrando.

Henrique, quando me dei conta, estava correndo já estava longe, virando a esquina.

— Eu acho que você alcança ele, magrela. Me dá a grudenta. — ele puxa Alana que reclama, mas cede ficando de pé.

— Gustavo não é magrela. — ela resmunga e eu sorri para ela.

Bem, comparado os garotos da minha idade, eu só tenho altura. Porém vou dar um crédito por já ter sido mais raquítico.

— Tenho mesmo que ir? — me alongo.

— Está dando vantagem para ele? — Arthur pergunta com asco na voz.

Sorri, esse cara me conhece bem.

— Claro. Porque posso ter o réu primário se eu pegar esse cara.

Alcanço Henrique quando ele estava chegando no carro dele na avenida.

— Por que você nunca muda? — seguro sua camisa pela gola.

— Como me alcançou? — pergunta ofegante.

— Não faz nem duas semanas que eu fugi de uma vaca louca, pegar você é fácil, irmão. — passo o braço em volta do pescoço dele fingindo ser amigável. — Ia mesmo derrubar a a mamãe? — aperto um pouco.

— Ela já nem pode andar, que diferença faria? — aperto seu pescoço impedindo o ar.

— Você ficou maluco, só pode! — sorri. — A próxima vez que pisar aqui, eu juro que eu mato você

— O que estão fazendo?

Matias ia vindo com um buquê em mãos, ao lado dele, Rayla... Hoje é o dia de reunião de família e eu não sabia?

Solto Henrique um pouco surpreso.

— Socorro, pai! O Gustavo quer me matar! — ele me traz para realidade, e eu dou-lhe um cascudo de mão fechada no topo da cabeça. — Aí!

— Pfft! — minha irmã mais velha contém o riso. — Desde quando são tão amigos?

— Nunca. Vim atrás porque esse imbecil queria derrubar a mamãe pela escada da garagem. — sou franco colocando as mãos nos bolsos e seguindo de volta para casa.

Henrique parece ter se sentido encurralado, mas eu não vi os olhares de Matias ou de Rayla.

— É mentira dele! Ele está enci- AHHH! PARA PAI!

— Gustavo não mente! — Rayla afirma como se nos fossemos um símbolo de irmandade.

Uau! Parabéns Gustavo, você pode mentir que todo mundo vai dizer que é verdade. Você tá com moral.

Patético.

— Deixa esse idiota ir embora. Ele já quase foi morto. — falo a mais de dez passos de distância.

— Quem quase o matou? — Rayla me alcança depois de correr.

— Minha mulher.

— QUÊ!????

— Não grita, garota! — olho para ela com raiva.

— Como assim, mulher!? Você é só um bebê!

Rayla vem comigo, mas Matias ficou para trás, eu não sei o que ele está fazendo com Henrique e também não me importo.

Me importo mais com essa barulhenta. Quem ela puxou esse temperamento!?

— Cala a boca um segundo Rayla!!! — exclamo sem paciência.

Ela trava e para de andar, ficando a dois passos de distância de mim quando seguro uma senhorita raivosa. Que vinha correndo com o objetivo de esganar minha irmã.

— Oi, minha princesa. — encaro Alana com um sorriso torcido. — O que pensa em fazer, senhorita ciumenta? — pergunto a Alana que bufava de raiva olhando para Rayla.

— Quem é essa mulher, Gustavo!? — ela me puxa a camisa e eu vejo Arthur rolar no chão de tanto rir e minha senhora na porta, contendo a risada.

— É a minha irmã. — com tranquilidade solto uma risada.

— Um ca- — ela trava e eu abro um sorriso para ela. — Reunião familiar?

— Também não fazia ideia.

Rayla fica com medo e vem para atrás de mim em busca de proteção. Segurei o riso. Alana está com raiva justamente porque ela estava muito perto e animada ao meu lado.

— Prazer, sou Rayla. A irmã mais velha do Gustavo. — ela diz com medo. Até eu fiquei um pouco compadecido.

Mas Rayla sempre foi uma Rafaela mais velha, então não me surpreende sua atitude. Ela é sincera, temerosa e gentil. Mesmo com todas as falhas. Porém, irritante.

Alana relaxa soltando minha camisa.

— Sou Alana, namorada do Gustavo.

— Então não era mentira!?

— Não era você que estava dizendo que eu não mentia? — arqueio a sobrancelha.

— Isso é diferente! Você está na idade de querer ser o melhor do mundo. Ainda mais como disse: "Minha mulher." — ela representa com prepotência e minha garota sorri. — Ela sorriu! Ficou ainda mais linda. — Alana se esconde em meio seus fios negros envergonhada. — Que fofa!

— Já chega! — afasto Rayla. — Vai falar com a mamãe e pa-

Quando vejo Matias virando a esquina com um cinto ensanguentado, minha ficha cai.

— Arthur, Alana, os dois comigo. Rayla entra para dentro com a mamãe. — as duas entram conversando. Fomos até a esquina o mais rápido que podemos. — Que merda você fez!? — sacudi Matias. — Ele só cumpriu o seu exemplo! — Matias parece ter levando um tapa na cara com minhas palavras.

— Gustavo, não importa o exemplo. Com mãe, a gente nem cogita encostar um dedo. — Matias diz convicto. — Eu tinha que beber e me drogar para ter coragem de encostar na sua mãe, mas nem dopado de cocaína eu teria coragem de bater na mulher que me colocou no mundo! Sou um lixo de pai! Vocês podem me espancar, juntarem para me matar. Mas se eu souber que qualquer um de vocês ousaram, pensaram ou planejaram bater em Vanessa eu mesmo me encargo de matar vocês. Porque isso não é filho, é o próprio demônio. Mãe é mãe! E você sabe o que eu tô dizendo! — ele aponta meu peito com força. — Eu vi você tomar postura e dizer que ia sustentar uma casa com onze anos de idade pela sua mãe! E tudo que ela tem até hoje foi graças a você, que a amou como um filho de verdade. Então não precisa ter pena de Henrique, ele recebeu um corretivo que é bem melhor do que se ele fosse para cadeia. — Alana assente.

Passo por Matias voltando para onde o carro de Henrique estava. Eu o queria morto, mas ao mesmo tempo não. Era só para ele nunca mais voltar, não era necessário sangue ser tirado dele.

O carro não estava mais lá, não havia vestígios de qualquer luta, além do cinto do ex-responsável para o meu inferno diário.

— Gustavo. — Alana corre até mim me abraçando. — O pior já passou amor.

Que vida cheia de enigmas, será que não podemos apenas ter paz?

Que merda!

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