Reino De Rosas Em Chamas
Freya...
A fina camada de gelo que começará a se formar, na noite passada etc.. na noite passada havia se tornado uma grossa camada de gelo quando acordei pela manhã. Era o primeiro dia de inverno depois de um longo e refrescante outono. E enquanto olhava pela pequena janela da nossa pequena cozinha acoplada a sala de nosso pequeno chalé, eu me vi pensando como faria para conseguir caça com toda aquela camada de gelo.
O inverno era a pior estação do ano para mim, pouca caça e pouco comércio, era difícil conseguir comida ou dinheiro. Tentei sem sucesso pensar positivamente, pelo menos ainda tínhamos as economias do outono, o que é uma benção considerando que minha irmã está louca por um vestido de seda bordado que ela viu na semana passada.
Eu me odiava por ser a pessoa que nega a elas tais luxos, me odiava por fazer tal coisa, mas não havia outra maneira de guardar economias o bastante para não morrermos de fome durante o inverno. O sol ainda não havia nascido e todos na casa ainda dormiam. Minhas irmãs aconchegadas juntas em uma cama que se tornara pequena demais para elas e meu pai no fim do corredor. Não que ele saísse daquela cama para algo nos últimos quatro anos.
Eu não culpava meu pai por ter que sair antes do galo cantar para caçar, ou por ter que pechinchar na pequena feira tumultuada no meio da cidade para conseguir algumas sementes, pães e roupas novas para minhas irmãs. Não o culpava por fazer isso desde os meus quatorze anos, mas eu o culpava por fazer minhas irmãs passar por isso, vê-lo deitado naquela cama, vê-lo desistir da vida depois que mamãe morreu — vê-lo desistir de nós.
Soltei um longo e pesado suspiro quando vesti minha capa e peguei a pequena bolsa de couro com uma maçã e um cantil, tentei não ficar melancólica com o frio que parecia disposto a me rasgar em dois assim que eu passasse pela soleira da porta e tomei um rompante de coragem saindo sem pensar muito sobre a neve e o vento frio que bateu em meu rosto como dedos finos e gelados.
Caminhei para dentro da floresta traçando a trilha que sumira sob a neve, trilha essa que eu já havia decorado como se fizesse parte de nosso chalé. Continuei indo mais e mais fundo na floresta tentando ignorar os meus sapatos surrados que já estavam encharcados e congelados. Após andar o suficiente para que as árvores atrás de mim tivessem se tornado um emaranhado sombrio eu finalmente parei.
Tinha certeza de que não conseguiria nada além de um coelho, com sorte. Mas aquela região com a grama que ainda não havia sido coberta pela neve poderia atrair alguma corsa em busca de um suprimento a mais de comida antes de se aninhar em alguma caverna quente.
Estava agachada entre o tronco de uma velha árvore e um arbusto de folhas escuras, com uma flecha pronta em meu arco enquanto esperava qualquer sinal de uma presa para o jantar — caso contrário — teríamos que nos contentar com caldo de ervilhas e migalhas de pão na esperança de que amanhã eu tenha mais sorte.
Um som chamou minha atenção do lado esquerdo, passos lentos e cuidadosos, preparei meu arco em posição quando a figura masculina alta, usando uma capa preta com um capuz que lhe cobria o rosto apareceu em meu campo de visão. Me agachei ainda mais entre a árvore e o arbusto, mesmo que o estranho não tenha dado sinais de que me notará parada a poucos metros de distância.
Tentei controlar minha respiração que se acelerava conforme o homem se aproximava mais e mais, até que outro som chamou tanto a minha atenção quando a do desconhecido. Do outro lado do pequeno gramado ainda não coberto pela neve, um veado mediano surgiu, alheio a figura alta e escura a sua frente, como se não pudesse vê-lo.
O homem então se agachou lentamente e retirou o capuz revelando cabelos compridos até a altura dos ombros presos apenas pela metade de cima, tentei me manter o mais parada possível enquanto observava aquele homem se posicionar como um animal selvagem prestes a atacar sua presa. Ele então retirou sua capa revelando roupas finas, como se ele pertencesse à realeza, o casaco verde-musgo contrastava com a calça em um tom pastel, o homem seguiu com cautela retirando uma adaga de sua cintura e a largando de lado, como se não fosse precisar dela para o que estava prestes a fazer.
Observei os movimentos suaves do homem e quando ele estava prestes a atacar, outra coisa pareceu ter chamado sua atenção, ele ergueu a cabeça e olhou para além do veado, como se algo espreitasse nas árvores mais distantes, tentei encontrar o que ele estava agora encarando imóvel, mas não vi e nem mesmo ouvi nada.
Continuei observando atenta aquele estranho homem até que uma neblina surgiu ao seu redor, algo que me fez entender o que de fato era aquele homem, entender porque ele não precisaria da adaga para o que quer quê ele estivesse prestes a fazer com o animal a sua frente e quando finalmente entendi, minha respiração falhou.
A mais de um milênio uma muralha foi construída para dividir o nosso território do território deles. Não sabíamos como os chamar, não sabíamos exatamente como eram e o que podia fazer, apenas sabíamos possuir algum tipo de magia repugnante que eles usavam para nos caçar e atormentar antes da grande guerra. A criatura que agora se contorcia silenciosamente em meio aquela neblina era uma daquelas coisas, um Salandriano. Minha garganta secou e o ar automaticamente se tornou difícil de respirar quando o macho havia tomado a forma de um grande — enorme para se sincera — e assustador lobo preto.
Engoli seco a náusea que rodopiou pelo meu estômago tentando não fazer nenhum barulho que atraísse a atenção daquela coisa em minha direção. O grande lobo preto estava agora na mesma posição de ataque enquanto olhava adiante, além do veado que ainda comia calmamente da grama como se não tivesse uma máquina de matar espreitando bem diante dos seus olhos.
Encolhi o corpo antecipando o que quer quê aquela criatura faria, mas quando ele saltou entre o veado e um puma que surgiu do meio dos arbustos mais afastado, não pude deixar de soltar um pequeno grito que logo abafei com a mão. A criatura não pareceu notar já que ainda prendia sua presa entre seus grandes e letais dentes. O veado correrá o mais rápido que ele pôde — e eu, se fosse esperta o bastante — faria o mesmo. Mas eu não era.
Olhei para a criatura novamente que agora avaliava sua caça, mirei meu arco em sua direção, disposta a atirar aquela flecha. As criaturas que viviam do outro lado daquele muro não eram humanos e não se importavam em nos matar aos montes, alguns mais antigos dizem que as criaturas ainda espreitam a muralha, entre o lado deles e o lado mortal, buscando por presas perdidas ou por religiosos fanáticos que acreditam que eles são deuses.
Afastei os pensamentos da minha cabeça limpando minha mente e me concentrando na coisa a minha frente, mas, tão rápido quanto fora a alguns momentos atrás ele agora se tornará o macho que eu vi e diante daquela visão, acabei deixando escapar um pequeno grunhido de medo. A criatura se virou na minha direção, procurando por entre as árvores e os arbustos de onde tinha vindo o som, tentei não fazer nenhum movimento quando aqueles olhos verdes brilhantes como vaga-lumes pareceram de ficar em mim e ele falou falou.
— Quem quer quê esteja se esgueirando, apareça — Sua voz grossa ecoou por toda a floresta e eu podia jurar que senti a árvore atrás de mim estremecer — Eu sinto seu cheiro e ouço seu coração. Apareça e lhe pouparei a vida.
O macho — ou a criatura por baixo da pele de um macho — falou tão alto que pássaros adormecidos voaram no alto das árvores. Ponderei por alguns segundos o quão ferrada eu estava agora e cheguei a conclusão de que não poderia piorar. Aquela coisa já sabia que eu estava aqui e me esconder agora era apenas uma tentativa patética.
Respirei após chegar a conclusão de que eu não tinha outra opção além de tentar enfrentar aquela coisa cara a cara. Reuni toda a pouca coragem que me restava e a força vacilante que eu ainda tinha para não tropeçar e cair ou até mesmo derrubar o arco de meus dedos. Caminhei para fora do arbusto em fim com aquele arco apontando diretamente para o coração da criatura.
— Ora Ora Ora! Que criatura adorável — Ele sorriu mostrando uma fileira de dentes brancos, como se ele não tivesse acabado de rasgar a garganta do pobre animal que agora estava morto jogado sobre a neve e a grama.
Engoli em seco tentando não pensar que eu serei a próxima a estar jogada naquele chão úmido e frio — Qual o seu nome criança?
— Não importa — Minha voz falhou miseravelmente saindo mais baixa do que eu queria que de fato fosse, o macho ou a criatura me examinou da cabeça aos pés antes de soltar uma gargalhada alta que ecoou por toda a floresta.
— Não será muito... mas, acho que servirá, afinal.
Ele falou enquanto caminhava lentamente em minha direção, com um olhar predatória e um sorriso selvagem. Puxei o arco um pouco mais para trás afastando o medo e me concentrando no ponto que eu queria atingir e quando a criatura estava a pouco mais que dois metros de distante a flecha disparou, rápida e implacável encontrando seu alvo exatamente onde eu queria, no coração.
Aquela coisa me encarou com surpresa enquanto segurava a flecha, não estava esperando que eu tivesse de fato coragem para fazê-lo. Eu sabia que aquilo não o mataria, afinal de contas, essas criaturas são imortais, mas me daria tempo para correr, porém, antes que eu desse o meu primeiro passo na direção oposta a criatura gritou, um grito tão alto que fez todo o meu corpo paralisar e por fim desabou sobre o próprio peso, morto. Ele estava de fato morto.
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Atualizado até capítulo 39
Comments
corrinha
gostando muito da história só não gostei que ela matou o homem lobo
2023-11-11
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é coisa minha, mas acho estranho se referir a um homem como "o macho", kkkkk me lembra conversas de meus avós. apesar de saber o que é, eu acho que ficaria mais agradável ler como "homem".
fora isso, que não atrapalha em nada o que você deseja transmitir. Sua escrita é muito boa e a história é interessante.
2023-09-25
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