Freya...
Dois dias se passaram. Eu não vi Andreas ou Apollo nesses dois dias e agradeci mentalmente por isso. Depois que Andreas me contou em detalhes — contra a minha vontade — sobre o que acontecia no Rito da Magia, não consigo parar de pensar nisso e seria constrangedor olhar para Apollo após saber o que fará. A casa estava uma confusão. Mais empregados chegaram na noite que soube do Rito para dar início aos preparativos. Tomei café no meu quarto nessa manhã, Analice me informou que o Rei não me quer lá embaixo durante os preparativos também, então eu estou limitada ao meu quarto e a biblioteca que fica no mesmo andar.
Eu estava inquieta, a todo momento a voz de Andreas soava na minha cabeça enquanto ele explicava sobre como Apollo tomaria um tônico que faria ele atender a seus instintos masculinos, em como a sacerdotisa esperaria por ele na tenda, em como ele teria que copular com ela a noite inteira para que sua magia fluísse entre eles para à terra. Meu estômago se revirou só de lembrar das palavras. Estava difícil mantê-las longe da mente, ainda mais estando confinada nesse quarto sem nada para fazer. Olhei pela janela vendo todas aquelas pessoas — ou melhor dizendo, todos aqueles Salandrianos — arrumando o jardim que já estava todo enfeitado com serpentinas, flores e algumas luzes. Andreas disse que o Rito acontece depois da floresta ao norte, depois do cume, muito longe daqui e que depois a festa viria para cá, o que era um alívio, não queria assistir aquilo da minha janela. Duas batidas na porta me fizeram dar um pequeno salto antes de autorizar que entrasse, levei a mão ao peito quando Apollo apareceu na porta, seus olhos me analisaram de cima a baixo.
— Vim saber como está — Ele parecia nervoso, provavelmente ansioso pelo que aconteceria a noite, tentei afastar o pensamento que fazia meu estômago revirar e minhas bochechas queimarem.
— Não melhor que você, imagino — Antes que eu pudesse controlar as palavras já haviam saltado da minha boca. Ele inclinou a cabeça me olhando confuso. Respirei fundo — O Rito de hoje a noite — Ele engoliu seco e deu um passo parando logo em seguida.
— Quem contou a você?
— Seu irmão, mas não o culpe, eu ficaria sabendo de um jeito ou de outro — Era a verdade. Se Andreas não tivesse me contado eu faria um dos empregados contar, ou eu mesma iria até o Rito ver com meus próprios olhos, ainda bem que não chegou a esse ponto — É por isso que não me quer lá? — Ele havia dito que é para minha segurança, mas se estivesse mentindo? Talvez por isso estava tão tenso.
— Não exatamente. — Ele parecia constrangido, mas ainda assim me olhou quando falou — Não quero você lá porque não vou ser eu mesmo, o tônico vai acordar um outro lado, um que não posso controlar e se eu sentir sua presença, seu cheiro... — Engoli seco e ele abaixou a cabeça e foi até a porta, parando quando eu falei.
— Não vou estar lá.
Ele não respondeu, apenas bateu a porta ao sair me fazendo soltar o ar que só agora percebi prender. Olhei pela janela para um grupo de empregados que levava lençóis brancos e fofos, travesseiros e luzes para o que eu imagino ser a tenda. Enguli seco a vontade de vomitar e fui até à cama me jogando na mesma enquanto tentava parar de pensar sobre o que acontecerá a noite, tentando parar de imaginar ele com a sacerdotisa. Ele com outra mulher.
...★...
O dia se arrastou e quando a noite chegou a casa estava silenciosa. Ao longe eu podia ouvir a música e ver as luzes crepitantes das fogueiras. Estava tentando me concentrar em um livro embora minha mente estivesse além da floresta, além do cume onde o Rito aconteceria em poucas horas segundo o que Andreas contou. Eu fiz o meu melhor na tentativa de não pensar sobre isso e na tentativa de permanecer no quarto, mas ainda assim me aventurei até próximo às escadas observando os vários empregados de um lado a outro com luzes, pratos de comida e enfeites diversos.
A música que ecoava de longe era animada e convidativa. E embora eu estivesse disposta a permanecer no quarto e obedecer à ordem de Apollo, algo no meu corpo dizia para ir até lá.
Afastei esse pensamento e me concentrei no livro quando uma brisa suave entrou pela janela bagunçando as folhas no meu livro seguido de um sussurro em minha mente. Freya. Eu não conhecia a voz, não fazia ideia de quem poderia ser, mas ainda assim me levantei e fui até a janela. O jardim estava iluminado com a decoração da festa que aconteceria após o Rito, mas foi a floresta depois do rio que chamou minha atenção. Havia uma figura, um homem parado entre as árvores olhando diretamente para a minha janela, eu nunca havia visto ele, mas algo me dizia que a voz era dele e assim como as árvores nas sombras da floresta ele apenas sumiu na escuridão.
— Droga — Sibilei arrancando a camisola e vestindo minhas calças e casaco que usei mais cedo.
Abri a porta com cuidado me certificando de que não havia ninguém, nem mesmo os guardas de sempre e desci as escadas indo até o escritório de Andreas, abri a porta com cuidado e fui direto até sua mesa e abrindo as gavetas até achar uma com uma coleção de lâminas, ele falou delas para mim uma vez em forma de ameaça, mas agora me serviriam como proteção, aproveitei para pegar sua capa preta pendurada atrás da porta antes de sair.
Corri até os estábulos pelas sombras da mansão e peguei minha égua sem nem mesmo pôr a cela, apenas montei o animal e comecei a galopar para a floresta, em direção ao cume. Eu sabia que não devia estar ali, que eu havia dito a ele que não estaria, mas havia algo que puxava até lá, uma força invisível que me fazia ir cada vez mais perto. Talvez seja curiosidade sobre o Rito, sobre o homem que estava me observando ou eu apenas estou sendo idiota e me colocando em risco, mas algo me fazia vim até aqui, algo estava me puxando até aquele lugar. Parei a égua nas sombras das árvores e a amarrei em um galho, coloquei o capuz rezando para que ninguém notasse minha presença, meu cheiro humano.
Segui entre várias pessoas que não se importaram com a minha presença, nenhuma delas me olhou mais de uma vez quando passei e ninguém parecia se importa comigo. A música estava cada vez mais alta e era impossível ouvir as pessoas ao meu redor. Parei quando cheguei ao fim da fileira de pessoas que agora se abria em um círculo, e no centro estava uma enorme fogueira e a tenda onde o Rito aconteceria. Meus olhos arderam e minha garganta se fechou enquanto meu estômago se revirava. Freya. Novamente aquela voz ecoou na minha cabeça e automaticamente olhei ao redor vendo uma sombra negra sumi entre as folhas. Empurrei as pessoas na minha frente e os atravessei até chegar no local onde a sombra deveria estar, mas não havia nada, só árvores e folhas para todo lado.
— O que está fazendo aqui? — Saltei ao ouvir a voz de Andreas atrás de mim e me virei tão rápido que não me dei conta que ele estava logo atrás de mim até esbarrar em seu peitoral forte. Ele me agarrou pelos braços e me sacudiu — O que diabos está fazendo aqui? — Ele perguntou novamente, a expressão séria e os olhos apavorados, ele olhou para trás quando sons de tambores começaram.
— Eu só...
— Não importa, tenho que levar você para longe — Ele falou me arrastando para longe da fogueira e da tenda.
Seus movimentos foram tão rápido que não me dei conta do que estava acontecendo até notar que estava montada em suas costas enquanto ele corria. Era tão rápido que as árvores passavam por nós como sombras escuras e em menos de um minuto já estávamos em meu quarto. Ele abriu a porta e me jogou para dentro. Cai no chão e me levantei avançando nele.
— O que acha que está fazendo? — Questiono furiosa parando a sua frente.
— Salvando sua maldita vida — Ele esbraveja e pela primeira vez vejo medo em seus olhos — Se ele te visse, se sentisse seu cheiro... — Ele balançou a cabeça como se tentasse afastar algum pensamento. Passei a mão pelo rosto e me afastei.
— Havia um homem me observando — Falei indo até à cama, sentando e cruzando os braços.
— E achou que era uma boa ideia entrar na floresta para ir atrás dele durante o Rito? Você é louca ou suicida? — Ele estava realmente bravo e em partes eu entendia, mas ainda assim era demais.
— Porque diabos você e ele querem tanto me manter longe do Rito? Acha o quê? Que ele viria atrás de mim? — Ri com escárnio, mas ele permaneceu em silêncio.
— Seria exatamente isso. Se ele sentisse seu cheiro iria atrás de você e não haveria nada que eu ou qualquer um pudesse impedir — Ele respirou profundamente e coçou a cabeça — Aquele lá fora não é ele. É a besta que vive dentro dele, sem controle, agindo por instinto e nada pode controlar. Não seria agradável para você — Ele está mais calmo, mas sua voz ainda estava trêmula.
— A sacerdotisa, ela é...
— Não. Ela aceitou isso, tem se preparado para essa noite desde o último solstício de inverno. Quando chegar a hora, será instintivo para os dois — Engoli seco novamente a vontade de vomitar e concordei.
— Desculpe...
— Tá! Eu tenho que voltar, vou procurar pelo tal homem — Ele caminhou até a porta e se voltou para mim — Não saia daqui até o dia amanhecer, está me ouvindo? — Apenas concordei e ele por fim saiu do quarto.
Fui até a janela vendo ele sair e então desaparecer rapidamente para dentro da floresta. Respirei fundo passando a mão pelo rosto e tirei a roupa que usava e vesti a camisola novamente me aninhando na cama. Fechei os olhos já imaginando as imagens que viria a minha cabeça, mas o que veio foi diferente.
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Atualizado até capítulo 39
Comments
corrinha
isso não vai dar certo ? mulher tu não vai vai mesmo obedecer um estranho pode ser inimigo sozinha a noite ? eu não iria Apollo não vai gostar
2023-11-13
1
minha gente isso não parece uma boa ideia não. onde já se viu eu correr na direção de um homem que eu nunca vi na vida, no meio de uma mata escura e ainda chamando por meu nome. eu em. tô fora. rum kkkkkkkkk
2023-11-04
3