Capítulo 13

Freya...

Apollo me acompanhou até o quarto na noite passada e me deu mais um beijo antes de se despedir e seguir para o seu quarto e quando eu finalmente entrei no meu e fechei a porta atrás de mim, me permitir ceder aos tremores em minhas pernas e deslizar até o chão enquanto ainda sentia a sensação dos seus lábios nos meus. Eu estava definitivamente sentindo algo por ele, embora tivesse medo de admitir isso em voz alta, embora soubesse que isso é uma completa loucura.

Sonhei com ele nessa mesma noite e quando acordei hoje pela manhã, o dia parecia mais claro, as cores mais vivas, os cheiros mais intensos e até os sons pareciam mais agradáveis. Pulei da cama no mesmo momento que Analice entrou no quarto e respirei fundo a brisa leve que balançava as cortinas bege finas da minha janela. Analice me analisou como se visse algo diferente em mim, mas não comentou nada sobre, somente quando estava penteando meus cabelos que ela comentou.

— Soube que você deve uma noite agradável — Minhas bochechas esquentaram e eu senti o sangue se acumular nelas antes mesmo de notar o olhar de Analice pelo espelho — Não precisa ter vergonha, menina — Ela falou após notar meu rosto ficando vermelho a medida que eu me lembrava de ontem a noite.

— Realmente, agradável — Dei um leve sorriso que ela retribuiu com certa malícia.

— Se quer saber, ele acordou com um humor especialmente agradável hoje, nem mesmo o príncipe está suportando — Ela riu baixo como se estivesse me contando algo que eu não deveria saber. Retribui seu olhar de mistério e ri baixinho junto com ela.

Analice me deixou com minhas lembranças das sensações de ontem a noite. De como tudo ao meu redor começou a fazer sentido no momento em que seus lábios tocou os meus e quando finalmente cheguei a sala de jantar, minhas pernas falharam ao vê-lo. Dizer que ele estava lindo é um eufemismo considerando que todos eles são sobrenaturalmente lindos, mas está manhã — depois de ontem — ele estava especialmente radiante, com uma camisa de linho fino em um tom de marfim e os cabelos completamente soltos, os olhos verdes brilhando para mim. Um sorriso largo tomou seu rosto quando me viu e não exitei em retribuir antes de olhar para Andreas que apenas revirou os olhos com cara de tédio.

— Parece radiante essa manhã, Freya — Andreas falou o que me fez olhar para ele de esguelha com uma cara feia. Um sorriso viperino se acendeu em seu rosto ao notar isso.

— Você não imagina o quanto — Não desviei meus olhos de Apollo ao dizer e isso e pela forma como seus lábios se ergueram levemente antes de olhar para o irmão de maneira nada discreta, eu soube que ele entendeu a mensagem escondida no que eu disse.

— Bom, tenho assuntos importantes para resolver, fiquem aí com toda essa alegria reluzente — Seu tom debochado não me afetou, mas seu olhar para Apollo me chamou a atenção. Não havia tédio, divertimento ou provocação como geralmente, mas sim algo sombrio, como se houvesse uma mensagem oculta que apenas o irmão entendia. A mesma sombra cobriu os olhos de Apollo.

— Está tudo bem? — Questionei antes de Andreas deixar a sala, seu olhar passou de mim para o irmão e então para mim novamente.

— Você não imagina o quanto — Ele sorriu, mas o divertimento não chegou aos seus olhos, por fim ele saiu sem mais uma palavra. Olhei para Apollo que sorriu levemente, como se tentasse esconder algo.

A troca de olhares e a tensão que surgiu do nada me fez voltar a algumas semanas atrás, quando sem querer ouvi uma conversa entre Apollo e Andreas em seu escritório. O que pretende fazer? O prazo está acabando e quando a maldição finalmente chegar ao fim, nós também... Andreas parecia nervoso enquanto falava isso, o que me fez parar antes de bater na porta e me esconder nas sombras. Não há nada que eu possa fazer Andreas, se esse dia chegar então teremos de enfrentar, mas não posso forçar algo que não está no meu controle. Apollo o interrompeu em um tom autoritário que eu só o ouvi usar na noite em que me trouxe para esse lugar. Eu não sabia sobre o que eles falavam, mas sabia que não deveria estar ali ouvido, ainda assim não pude conter a curiosidade, principalmente quando a palavra "maldição" foi mencionada. O que está fazendo aí? A voz de Analice me assustou e os homens na sala notaram minha presença e apesar da vergonha, consegui dizer estar indo entregar a Andreas o livro que me emprestou na noite anterior.

Talvez o que quer quê Andreas tenha para fazer de importante, tenha a ver com essa tal maldição. Me perguntei porque essa informação tinha fugido da minha mente — porque não havia pensado sobre isso — era tudo tão estranho e vago que sentia que poderia ter sido um sonho. Mas algo me diz que não.

— Está acontecendo alguma coisa?

— Não — Foi tudo o que ele respondeu rápido demais para ser casual. Estreitei os olhos quando ele não olhou para mim ao responder, como se escondesse algo explícito em seu rosto.

— Não sou tola Apollo e nem sou frágil, eu sei que existe algo acontecendo. Andreas não para em casa e os dois constantemente se trancam naquele escritório, vejo a tensão dos dois durante os jantares e embora eu não mencione nada, eu observo — Ele finalmente me olhou com uma expressão surpresa — Ouvi sobre uma maldição, o que é? — Aquelas sombras rodearam novamente seus olhos.

— Não tem que se preocupar com isso, tudo vai ficar bem — Não havia firmeza em duas palavras, nem ele parecia acreditar nelas, mas estava óbvio que ele não falaria comigo sobre aquilo e eu não insistiria, arrumaria outra maneira de descobrir.

Terminamos o café em silêncio, a tensão permaneceu pairando ao nosso redor e quando me levantei para sair, podia jurar ter visto ele se inclinar para frente e abrir a boca para dizer algo antes de desisti e voltar sua atenção para o prato já vazio na sua frente. Não fui para o quarto ou para a biblioteca como costumava fazer, ao invés disso, fui direto para a cozinha.

...★...

Quando morávamos em uma mansão cheia de empregados, minhas irmãs e eu sempre ficávamos sabendo das fofocas da cidade através das empregadas — não que elas nos contasse — mas sempre pegávamos duas ou três comentando entre si nos corredores. Se algo estava acontecendo nessa casa, nesse Reino e ele não me contaria, talvez Analice e as outras pudessem me contar. Como eu já esperava, Analice estava sentada cortando alguns legumes que eu acredito ser para o almoço enquanto as outras se ocupavam com panelas no fogo e massas sobre a mesa. Eram quatro contando com Analice, eu não sabia o nome das outras, elas não falavam comigo embora eu tenha passado muito tempo com elas nessa cozinha, às vezes até via algumas me olhando de cara feia, mas não me importava com isso. Analice me explicou que o príncipe Philip era especialmente querido pelos criados e que eles me odiava por tê-lo matado, não os culpava e não os odiava pelos rabos de olho ou o silêncio. Sorri para Analice quando entrei e as outras apenas me olharam e voltaram suas atenções para o que faziam.

— O que faz aqui menina? — Analice questionou enquanto eu caminhava até uma mesa a sua frente e me sentava na cadeira de madeira que havia ali.

— Vocês não usam magia para fazer isso? — Apontei para os legumes me lembrando de já ter visto uma faca fazendo o trabalho de Analice através de magia. Ela sorriu.

— Só quando estamos atrasadas, hoje nós temos tempo — Concordei olhando para as outras que apesar de não nos olhar, ainda estavam atentas ao que falávamos — Porque essa cara? Estava tão contente pela manhã — Olhei para ela e respirei fundo olhando as mulheres mais uma vez, Analice seguiu meu olhar e então disse — Nos deixem a sós um minuto — Elas não questionaram e nem sequer nos olharam quando saíram da cozinha.

— Desculpe, não quero atrapalhar.

— Não atrapalha, me fala o que te aflige — Analice me olhava atentamente, como se tentasse descobrir algo através do meu rosto.

— Outra noite eu ouvi Andreas e Apollo falar sobre uma maldição e quando questionei a ele hoje... — ponderei uma forma de descrever sua resposta — Ele ficou na defensiva, como se estivesse escondendo algo — Analice negou e olhou para trás, como se em busca das mulheres que estavam na cozinha a pouco tempo e então me olhou.

— Não temos permissões para falar sobre isso menina e se o Rei não quer falar, um motivo há — Ela parecia tensa, a mesma tensão que Andreas e Apollo ficaram no café. Respirei fundo.

— Por favor Analice. Eu agora moro aqui e se existe algo ameaçando esse lugar, ou pior, se existe algo que possa ameaçar o outro lado da muralha, eu preciso saber — Ela me olhou por um tempo e então se inclinou na mesa me chamando para mais perto.

— Vou contar a você, mas tem que me prometer que não fará nenhuma tolice e nem falará ao Rei — Concordei com tudo e ela então respirou fundo começando a contar baixinho — A um tempo estás terras foram amaldiçoadas por uma bruxa cruel e em breve tudo o que conhecemos acabará. O senhor Apollo e o senhor Andreas tem buscado formas de evitar, de tentar salvar, mas até agora nada tem funcionado — Ela engoliu seco e medo refletiu em seus olhos — Se eles não encontrarem uma forma de nos salvar da maldição, tudo será destruído, incluindo o outro lado da muralha — Pisquei algumas vezes antes da minha ficha cair.

— As minhas irmãs, elas não sabem sobre isso.

— E nem saberão! Ninguém sabe sobre isso e nem deve saber — Sua voz se tornou urgente e seus olhos uma súplica silenciosa — Me prometa que não falará disso com ninguém. Me prometa — Concordei embora não soubesse se iria ou não cumprir com essa promessa.

Se essa maldição era real, se essas terras, as terras humanas e tudo que conhecíamos estava por um fio, então em breve todos estaríamos mortos e eu não queria morrer sem ver minhas irmãs outra vez. Segurei o choro que já se formava na minha garganta enquanto voltava para o quarto, mas parei no caminho sentindo meu estômago embrulhar. Tomei algumas lufadas de ar antes de me voltar para o quarto de Andreas que ficava de frente ao meu quarto e entrei sem ao menos bater na porta.

— Quase me matou de susto — Ele falou levando a mão ao peito nu, sobre uma enorme cicatriz que ia do seu pescoço até próximo ao quadril. Desviei o olhar para seu rosto quando notei as calças desabotoadas e ele a fechou rapidamente e me olhou com olhos questionadores. Cruzei os braços me encostando na porta já fechada atrás de mim.

— Me fala sobre a maldição.

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Comments

corrinha

corrinha

será que eles não podem ficar juntos de alguma forma

2023-11-14

2

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