Freya...
Estava escuro e eu caminhava em direção as escadas quando uma sombra negra em meio a escuridão no fim do corredor chamou minha atenção. Parei de andar tentando identificar quem estava nas sombras, mas tudo que eu podia ver era os olhos brilhando em um verde intenso. A sombra deu um passo a frente, em direção a luz fraca de uma vela e só então pude visualizar quem era. Apollo estava usando apenas uma calça de um tecido fino branco, seu colo nu e exposto estava marcado com arranhões que iam dos seus ombros até abaixo do seu umbigo, até... Desviei meus olhos para seu rosto manchado com uma tinta branca que formava duas linhas de cada lado indo da testa ao queixo, ele estava suado e parecia cansado, ainda assim ele sorriu e caminhou devagar, como um predador indo em direção a sua presa. Instintivamente dei um passo para trás, mas uma parede que não estava ali antes me fez parar me deixando encurralada. Seu cheiro, uma mistura de suor e lavanda invadiu meu nariz e fez meu corpo estremecer.
— Senti você lá — Ele falou baixo, a voz mais grossa que o normal, os olhos com um brilho animalesco, as pupilas dilatando e cobrindo toda a íris verde, engoli seco quando se aproximou mais a ponto de poder sentir seu hálito em meu rosto, ele se abaixou até a altura do meu pescoço e suspirou — Senti seu cheiro — Meu coração pulou, minhas mãos começaram a suar e minha garganta secou.
— Não sei do que está falando — Minha voz falhou pateticamente enquanto tentava, e falhava, não olhar para seu peitoral nu a poucos centímetros de mim.
— Você me deixou louco, sabia? — Sua respiração pesada fez cócegas em meu pescoço e senti meu estômago leve, meus dedos dos pés contraíram no chão frio e engoli seco, olhei para ele, me hipnotizando com seus olhos — Quase não pude me conter — Seus lábios tocaram levemente os meus quando falou e virei meu rosto para o lado.
— Me deixe em paz — Ele sorriu quando tentei me desvencilhar dele, então segurou meus braços e os ergueu sobre a cabeça o segurando com uma das mãos, seu corpo me pressionou contra a parede e eu pude sentir ele, todo ele em minha pele semi exposta pela fina camisola. Tentei lutar contra, mas ele era muito mais forte. Com a outra mão ele tocou meu rosto e desceu pelo meu pescoço em direção a curva no decote da camisola que usava.
— O Rito aconteceu tão rápido, tão selvagem — Seu rosto se contorceu em algum tipo de agonia — Mas com você seria diferente, eu teria me demorado... Muito — Meu corpo ficou leve e minha respiração falhou, minhas bochechas coraram e senti meu interior esquentar até entre minhas coxas.
— Saia — Minha voz falhou outra vez e ele sorriu se aproximando mais e mais até seus lábios tocar o meu e quando finalmente senti seu calor sobre mim.
— Freya!
Acordei sobressaltada com suor por todo o meu corpo. O alvorecer começava a despontar adiante da floresta e a luz esmaecida do amanhecer invadia meu quarto pela janela aberta. Respirei fundo tentando controlar o crescente calor dentro de mim e afastei os lençóis só agora percebendo que estavam molhados. Fechei os olhos afastando as imagens do sonho que tive da minha cabeça e aquela voz, como a da noite anterior que me puxou para a realidade.
Levantei da cama passando a mão pelos cabelos que grudavam por todo o meu rosto e me arrastei até a janela vendo que a festa havia acabado, alguns empregados arrumavam a bagunça e mais distante na floresta, a claridade das fogueiras deram lugar a uma fumaça escura e espeça indo em direção ao céu. Pulei outra vez quando Analice entrou no quarto sem ao menos bater, seus olhos estavam vermelhos como se tivesse passado a noite toda em claro e ela segurava um vestido rosa tão fino que imaginei o quanto do meu corpo ficaria exposto com aquele tecido. Ela finalmente me olhou e me analisou de cima a baixo parando em meu colo ainda molhado de suor.
— Esteve correndo uma maratona? — Ela questionou deixando as roupas sobre o criado e puxando os lençóis úmidos da cama.
— Um sonho... Estranho — Não encontrei uma forma melhor de descreve-lo, mas ela apenas me olhou e sorriu antes de largar os lençóis na poltrona e ir ao banheiro ligando a banheira.
Como de costume Analice me ajudou com o banho, a me vestir e com o cabelo. Como imaginei, o vestido era muito transparente, não o suficiente para revelar meu corpo, mas o suficiente para mostrar minhas curvas e delimitar meus seios. Respirei fundo olhando meu reflexo no espelho e só então percebi o quão melhor eu parecia. Quando cheguei aqui eu estava esquelética, os anos de fome me fizeram perder não só o peso como também o brilho, meus cabelos estavam opacos assim como minha pele e meus olhos, os ossos do meu quadril despontavam sobre o tecido das roupas, meus ombros e braços ossudos pareciam cadavéricos. Mas neste mês que passei aqui, eu ganhei algum peso, meu quadril estava mais arredondado e meus seios mais fartos, minhas bochechas mais cheias e rosadas, até meu cabelo parecia ter crescido e ressaltado a cor castanha escura. Estava diferente da menina que chegou a este lugar, mais ainda assim, era a mesma pessoa.
Após estar pronta Analice e eu descermos para a sala de jantar onde o café da manhã já estava à mesa, Apollo estava sentado no lugar habitual, mas seus olhos estavam fechados enquanto ele passageava as têmporas, analisei ele por completo parando nas linhas vermelhas em seu peitoral que apareciam na parte superior da camisa azul aberta alguns botões. Parei de respirar ao me lembrar do sonho e pigarreei fazendo ele me olhar. Seus olhos correram todo o meu corpo e pararam nos seios antes de correr para meus olhos.
— Teve uma noite longa — Comentei tentando afastar o pensamento que me invadiu quando seu olhar percorreu meu corpo. Caminhei até a mesa e tomei meu lugar de sempre.
— Não quero falar sobre o Rito — Sua voz estava áspera e rouca, seus olhos vermelhos e sua expressão demonstrava desgosto. Não questionei o porquê, apenas enchi meu prato e desviei o olhar dos seus. Andreas invadiu a sala chamando nossa atenção.
— Maldição. Porque todas essas cortinas estão abertas? — Ele parecia pior que Apollo, seus olhos estavam ainda mais vermelhos, suas roupas amarrotadas e ainda estava cambaleante. Ele parou diante da mesa e encheu uma taça com água a bebendo de uma vez — Porque está com essa cara de quem matou um coelho e não quer quê saibam? — Ele perguntou me olhando, fechei a cara para ele e olhei para a Apollo, seus olhos seguiram os meus e ele apenas pigarreou se sentando com dificuldade.
— Você não está nada bem, irmão — Apollo por fim falou remexendo os ovos em seu prato.
— Achou que só você ia aproveitar a noite? O vinho daqui é bom, mas não se compara ao das Terras Sagradas — Ele falou sorrindo como uma raposa faceira. Estreitei os olhos.
— Terras Sagradas?
— É de onde as Sacerdotisas vêm. Elas trazem vinhos e licor das Terras Sagradas para os Ritos e Solstício. Deveria experimentar — Ele falou enchendo um prato com ovos e bacon — Aliás, como passou a noite? — Seus olhos me percorreram com divertimento o que me fez fechar a cara e fazer um gesto vulgar — Nada bom pelo visto — Revirei os olhos e olhei para Apollo.
— Um de vocês poderiam por favor ir comigo a cidade? — Perguntei enchendo novamente meu copo com suco. Eu estava proibida de sair da mansão ou de ir à floresta sem um deles comigo. Eu nunca havia ido à cidade, mas precisava de algumas coisas e queria conhecer o lugar.
— Porque precisa ir à cidade? — Apollo questionou virando uma taça com água.
— Preciso comprar umas coisas e também, estou cansada de ir da mansão até o jardim, queria conhecer o resto do Reino — Dei de ombros e ambos se olharam, Andreas respirou fundo como se estivesse se preparando para algo e Apollo me encarou.
— Faça uma lista do que precisa, mandarei alguém ir buscar — Seu tom era ríspido, bem diferente do tom monótono de alguns momentos atrás.
— Disse que eu poderia ir a qualquer lugar desde que estivesse acompanhada de um de vocês, não vejo porque não podem me levar até a cidade para eu mesma comprar o que preciso — Retruquei e ele apenas me encarou, seus olhos já tomando uma cor diferente, mais escura, a cor que eu vi neles quando estava com raiva.
— Porque a cidade não está segura no momento. Muitos forasteiros vieram pelo Rito e muitos deles ainda estão na cidade — Balancei a cabeça rindo com desdém.
— Eles não pareceram notar ou se importar com a minha presença quando estive na fogueira ontem — Andreas me olhou com uma expressão suplicante, pelo visto ele não contou ao irmão sobre mim. Apollo olhou para o irmão furioso e então para mim antes de bater na mesa.
— Então era você que estava lá? Sabe como isso foi perigoso? — Ele estava realmente furioso, dava para ver em seus olhos, seu rosto e principalmente em sua voz. Engoli seco e o encarei de volta.
— Não me importo. Ninguém notou minha presença.
— EU NOTEI! — Ele gritou fazendo a mesa e a louça sobre ela estremecer em resposta. Meu coração deu um salto e Andreas pareceu se encolher na cadeira evitando olhar para nós dois. Desviei minha atenção para a janela quando senti as lágrimas em meus olhos.
— Vou para o meu quarto — Falei enquanto me levantava e saia da sala de jantar. Não olhei para trás, mas ouvi quando ele jogou algo contra a parede e gritou com Andreas. Parte de mim, queria voltar e defender seu irmão, mas a outra parte dizia para ficar o mais longe possível.
Ele diz que não sou uma prisioneira, mas é exatamente assim que ele me trata. Se ele não vai comigo até a cidade, então eu vou dar um jeito de ir eu mesma.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 39
Comments
corrinha
mulher não apela não ver que os dois estão de ressaca? não iria ser uma boa companhia 😜😃 fica a dica freya sem noção
2023-11-13
3
corrinha
só quem não aproveitou a noite foi a freya até a Analice estava com ressaca😂😂😂😂
2023-11-13
1
corrinha
será que foi sonho ou realidade freya está tão na secura que até sonhou kkkkkkkk 🤣🤣
2023-11-13
1