Capítulo 20

Freya...

Andreas não apareceu para me explicar quem era Loki e porque ele traria as tais criaturas para a fronteira do Reino da Primavera, e quando questionei a Analice ela ficou pálida como se estivesse vendo a morte na sua frente e disse que certas coisas não deveriam ser invocadas.

Passei o dia tentando me distrair do fato de Apollo ter saído de manhã com uma carta estranha e ainda não ter voltada, mas nada foi capaz de tirar a preocupação que crescia dentro de mim a cada minuto que se passava. As horas demoraram a passar, mas quando a noite caiu e não tivemos notícia alguma sobre ele, Andreas pegou o cavalo e foi atrás, pediu e praticamente implorou para que eu esperasse por eles em casa, ele saiu com espadas e afasgas, o suficiente para me fazer ficar apavorada com o que ele esperava enfrentar.

Analice levou chá para mim quando horas haviam se passado e eu ainda estava na janela do meu quarto olhando na direção da floresta por onde Andreas partiu em busca de Apollo, torcendo desesperada para que eles aparecesse entre as árvores — para que ele aparecesse — mas não havia sinal de nenhum dos dois. Mas algumas horas se passaram e minha mente já havia criado diversos cenários onde ambos estavam feridos, onde Apollo estava tão ferido que não conseguia voltar para casa e apenas isso já foi o bastante para me colocar em movimento.

Não havia empregados ou sentinelas quando desci as escadas com uma capa e uma adaga que Andreas me deu de aniversário, dois dias depois para ser exata, ele disse que era um presente atrasado, mas que era de coração e uma demonstração de confiança. Prendi a adaga no cinto que usava e vesti a capa abrindo a porta do escritório de Apollo onde as armas dele ficavam guardadas. Abri um dos armários e encontrei uma variedade de espadas e dois arcos e uma aljava com algumas flechas, peguei ambas e me dirigi a porta da sala torcendo para ninguém ter me visto sair. Me esgueirei pela escuridão até o estábulo. Os cavalos de agitaram quando notaram a minha presença e torci mentalmente para isso não chamar a atenção de nenhum dos empregados da casa ou das sentinelas que vigiavam os portões a metros de mim.

Abri a portinhola da minha égua e a chamei com cuidado, ela apenas se aproximou e então coloquei a cela nela com as mãos trêmulas, ainda torcendo para que ninguém me visse enquanto eu fugia na calada da madrugada. Montei a égua que não reclamou diante do peso e então galopei em direção a floresta. A noite estava fria, mais fria do que o normal e a lua crescente oferecia pouca luz dentro daquela floresta. As árvores passavam por mim rapidamente e algunas galhos machucavam os meus braços quando esbarrava, mas eu não me importei com isso enquanto ia em direção as fronteiras onde Andreas foi atacado ontem e onde por algum motivo eu sabia que Apollo estaria.

Era como se tivesse passado horas, mas só estava galopando a poucos minutos, forçando a égua a correr mais e mais rápido, desesperada para chegar a fronteira o mais rápido possível. Enquanto cavalgava as memórias dos avisos de Andreas e Apollo sobre a floresta ser perigosa a noite me atingiram como uma de minhas flechas e por um segundo o medo e o pânico me atingiram, mas eu não daria meia volta. Não enquanto Apollo estivesse longe, não enquanto existisse a possibilidade dele estar ferido. A aljava nas minhas costas e a adaga em meu cinto pareceram um peso desnecessário quando me dei conta de que seja lá quais forem as feras que andam por essas florestas e bosques a noite, em nada se comparam com os animais que eu estava acostumada a encontrar no bosque do outro lado da muralha. A imagem da criatura que atacou a mim e a Apollo a semanas atrás — que depois Apollo me explicou que era um Ender — veio a minha mente e um tremor atingiu minha coluna fazendo meu coração acelerar com o pavor.

Uma claridade surgiu mais adiante entre as árvores e eu sabia que era uma clareira, se bem me lembrava do mapa, aquela era a clareira antes da fronteira, a clareira onde estivemos e onde aquela criatura nos atacou. Engoli o medo que apertou minha garganta e forcei a égua a ir mais rápido ainda. O uivo de um lobo cortou a noite no mesmo instante que a égua chegou a ponta da clareira, meus ossos estremeceram e meu corpo se arrepiou com o som esganiçado e mais alto do que eu estava acostumada a ouvir. Outro ruivo e então mais um se fez mais alto, tentei forçar égua a avançar, mas ela apenas ergueu as patas da frente me fazendo perder o equilíbrio e cair na grana fofa da clareira.

— Merda...

Olhei para a égua que corria de volta pelo mesmo lugar que viemos e olhei para a frente de novo tentando sacar o arco em minhas costas, mas quando fui pegar uma flecha, um enorme lobo branco surgiu sobre uma enorme rocha do meu lado esquerdo. O animal, do tamanho de um cavalo grande me encarou mostrando os dentes e rosnando, me afastei pegando uma flecha e apontei para a fera que me olhava como se eu fosse uma presa, mas então, outros seis lobos surgiram de pontos diferentes da clareira rosnando para mim enquanto se aproximavam como se estivessem encurralando uma presa.

Era impossível conseguir lutar conta todos eles, e mesmo que eu conseguisse fugir de um, os outros seis me fariam em pedaços, eu não tinha chances. Ainda assim, apontei a flecha de um lobo para o outro, e aquele em cima da pedra rosnou mais alto mostrando que era o alfa daquele bando, e então um veio na minha direção, atirei a flecha que atingiu sua barriga e o animal caiu com um grito esganiçada se debatendo, os outros lobos afastaram um passo, mas o alfa deu mais um comando e eles voltaram a suas posições se aproximando e grunhido.

— SAI!

Os animais pareceram rir de mim guando ignoraram meu grito. Não daria tempo sacar outra flecha, eles me atacariam se eu fizesse qualquer movimento brusco. Devagar eu estiquei a mão até meu cinto tirando a adaga dali e soltando o arco que caiu no chão chamando a atenção dos lobos. Eu estava pronta, se eu iria morrer e virar comida, então pelo menos lutaria até não poder mais. Assumi uma posição de luta que eu sabia que era inútil, mas ainda assim eu o fiz e encarei os animais que se aproximaram mais um pouco. Rosnei para eles exibindo os dentes e então os lobos fugiram.

Todos eles saíram correndo para dentro da floresta sem olhar para trás. Levantei da minha posição sem entender o que havia acontecido até sentir uma lufada de ar quente nas minhas costas.

Meu coração parou, minha mente dançou me causando dor de cabeça, cada osso do meu corpo protestou e meu estômago se revirou com o cheiro podre que correu por mim, eu paralisei. Novamente aquela lufadas de ar balançou meu cabelo e só então eu consegui me virar dando de cara do uma criatura alta e esguia com um manto preto que cobria suas cabeças e seus pés. Dei alguns passos para trás e tropecei no lobo caindo logo em seguida, meus ossos protestaram com o impacto e a adaga caiu longe do meu alcance. Olhei para a criatura a minha frente outra vez em completo choque e pânico. Ele ergueu a cabeça revelando um rosto esquelético, os olhos eram duas esferas que brilhavam um vermelho sangue e a boca se escancarou em um sorriso animalesco revelando dentes compridos e pontudos. Engasguei com o grito e meus olhos se encheram de lágrimas quando a criatura falou com uma voz animalesca, gutural, uma voz que não era velha e nem nova, mas uma mistura de ambos, algo perturbador de se ouvir, ainda mais quando ele falou meu nome.

— Olá menina Freya...

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Comments

corrinha

corrinha

essa freya só faz merda em vez de ajudar ficando em casa só atrapalha se aventurando nós perigos da noite . gente será que essa criatura é o tal Lucky? e o que fará com essa desavisada

2023-11-14

2

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