Capítulo 7

Freya...

Alguns dias se passaram e eu não estava bem. Só saia do quarto para fazer as refeições, já que o Rei — que eu descobri se chamar Apollo — exigia minha presença todos os dias, chorava todas as noites antes de dormi e todas as manhãs antes que Analice invadisse meu quarto para encher a banheira, preparar um vestido e pentear meus cabelos. Eu não conseguia parar de pensar nas minhas irmãs, em como estava sendo para elas durante esses dias que se passaram, como elas estavam lidando com o trauma daquela noite, como Ingrid estava lidando. Eu esperava que elas estivessem melhor que eu nesse quesito, porque eu não parava de sonhar com o que aconteceu e acordava constantemente sobressaltada durante a madrugada. E mesmo Apollo sendo gentil comigo, eu não conseguia retribuir a gentileza. Não conseguia ter ânimo para aceitar nenhum dos passeios que ele me oferecia todas as manhãs e passava o dia todo em meu quarto, bom, isso até Andreas me apresentar a biblioteca. Agora os meus dias se resumem a ficar na biblioteca o dia todo lendo ou apenas chorando em silêncio e longe de olhos curiosos.

A noite passada foi mais uma em que tive pesadelos onde aquele homem rasgava minhas irmãs na minha frente, acordei assustada e corri para o banheiro vomitando todo o jantar. Não consegui dormir depois disso e quando Analice chegou ao meu quarto, eu já estava de pé, diante da janela olhando o jardim lá embaixo enquanto tentava tirar da minha mente as imagens terríveis do meu pesadelo.

— Bom dia menina, pulou da cama cedo — Analice falou enquanto colocava sobre a cama algumas peças de roupa. Me virei para ela e então olhei para as roupas, bem diferente dos vestidos que ela sempre trazia.

— O que é isso? — Perguntei caminhando até a cama e olhando as roupas, leggings em um tom arenoso e uma blusa azul-céu acompanhado de um sobretudo azul mais escuro e botas de cavalgar. Olhei para Analice que terminava de arrumar as roupas sobre a cama.

— Sua majestade convocou a senhorita para cavalgar com ele está manhã. Ele também exigiu sua presença a mesa para o café — Ela explicou enquanto tirava do criado mudo uma escova e alguns elásticos de cabelo.

— Diga a sua majestade que não estou afim — Falei voltando para a janela, para a vista do jardim. Analice terminou de arrumar as coisas sobre o criado e me olhou novamente, eu podia ver seu reflexo no vidro da janela quando ela falou:

— Não foi um convite, foi uma ordem e ele não está com um bom humor hoje, então evite irrita-lo, está bem? — Apesar do tom calmo e gentil, havia uma ponta de ameaça em seu aviso, olhei para ela mais uma vez e para as roupas sobre a cama.

— Porque ele quer que eu vá?

— Porque você está aqui a uma semana e só sai dessa quarto para a biblioteca, talvez ele queira mostrar a você a propriedade — Ela deu de ombros e seguiu para o banheiro — De qualquer forma, eu não recomendo contrariar ele hoje — Ela gritou lá de dentro e ouvi a água cair sobre a banheira. Soltei um longo suspiro e comecei a retirar a camisola e desfazer a trança em meu cabelo.

 Como sempre, Analice me lavou, me vestiu e penteou meus cabelos enquanto cantarolava alguma canção que eu nunca havia ouvido, mas que parecia muito bonita. Quando finalmente terminou, me olhei no espelho, para a minha imagem refletida e pensei em como eu parecia sem vida. Eu sempre fui muito magra pela falta de comida, mas agora parecia ainda mais, meus dedos finos tocaram as manchas escuras debaixo dos meus olhos, resultado das noites mal dormidas, as maçãs do meu rosto despontavam sob a pele pálida e opaca, mordi os lábios desviando a atenção daquela imagem tão cadavérica e me levantei seguindo Analice para fora do quarto.

 Os dois homens já estavam em seus lugares, os mesmos da primeira vez que estive aqui. Andreas, como sempre usava um casaco em um tom de verde-escuro e calças bege, seus cabelos estavam presos em um coque o que me dava uma visão melhor de seu rosto absurdamente bonito. Andreas era um homem de traços fortes e bem marcados, o queixo perfeitamente quadrado e masculino davam a ele um ar sério, embora seus olhos verdes sempre dançassem com algum tipo de humor viperino, seus lábios carnudos e sensuais emoldurava uma fileira de dentes perfeitamente brancos e seu corpo embora sempre coberto por seus casacos e sobretudo parecia grande e musculoso. Analice me deixou na sala com os dois homens que agora me analisavam.

— Bom dia — Olhei para o homem de cabelos loiros, Apollo que me olhava da cima a baixo. Ele sorriu para mim, um sorriso cauteloso enquanto me analisava, como se esperasse uma reação ruim da minha parte.

— Bom dia — Foi tudo o que disse antes de me sentar a mesa e começar a me servir com alguns pães e frutas.

 Assim como Andreas, Apollo também possuía uma beleza ridiculamente única. Seus cabelos loiros na altura dos ombros estavam soltos e uma trança do lado esquerdo era o único detalhe entre os fios que pareciam captar o brilho do sol, a barba rala emoldurava um queixo quadrado e marcado, e lábios carnudos e sensuais completavam o belo, jovem e perfeito rosto dele. Ele usava uma camisa branca aberta o bastante para mostrar seu peitoral forte e musculoso, seus braços delimitados pelo fino tecido da camisa dobrada até a altura dos cotovelos atraíram meu olhar por alguns segundos. Mas foi seus olhos, aqueles olhos verdes que pareciam refletir toda a floresta ao nosso redor que me chamou a atenção. Desviei o olhar quando me dei conta que o estava encarando enquanto ele falava com Andreas.

— Soube que vamos cavalgar — Falei chamando a atenção de ambos para mim. Apollo se arrumou na cadeira e olhou para o amigo que pigarreou e se levantou rapidamente.

— Bom, eu tenho assuntos importantes a tratar. Boa cavalgada — Seus olhos me analisaram de cima a baixo e então ele saiu me deixando sozinha naquela sala enorme com Apollo a minha frente me encarando. Olhei para ele quando Andreas finalmente atravessou as grandes portas de madeira.

— Eu gostaria de levá-la a um lugar — Ele por fim falou pegando uma taça com suco e bebendo.

— Se não se importa, gostaria de permanecer aqui — Eu não queria sair, não queria fazer nada com ele, eu só queria permanecer aqui e definhar se possível.

— Não pode ficar trancada naquele quarto ou na biblioteca para sempre — Ele respondeu largando o copo — Está um lindo dia, saia e conheça a propriedade. Posso apresentá-la ao lugar — Ele ofereceu me fazendo rir com escárnio.

— Quer que eu saia para aproveitar o sol enquanto minhas irmãs passam fome no inverno? — Meu tom era mais afiado do que pretendia, mas era a verdade, não conseguia sair para aproveitar a vista, descer e me empanturrar de comida enquanto minhas irmãs enfrentam o inverno e provavelmente a fome sem eu estar lá para ajudar.

— Suas irmãs estão bem.

— Como sabe? Já se passou uma semana, todo o estoque acabou e agora o que restou são as migalhas — Segurei o choro enquanto falava — Como pode me garantir que elas estão bem? — Questionei largando o guardanapo sobre a mesa e me levantando.

— As suas irmãs estão bem, não se preocupe com elas — Foi tudo o que ele disse, mas não me passou confiança. Não tinha como ele saber, não após me arrastar da minha própria casa e me tirar delas. Neguei e dei as costas saindo da sala de jantar, senti ele vindo atrás de mim e não parei até ouvir sua voz me chamando.

— O que quer de mim? Estou aqui como manda o acordo, mas isso não quer dizer que eu tenha que falar ou estar com qualquer um de vocês — Falei me virando, o que fez ele parar próximo ao degrau que eu estava, ele abaixou a cabeça passando os dedos pelas têmporas.

— Me diga o que precisa para sair daquela biblioteca?

— Preciso que me liberte desse acordo e me mande para casa — As lágrimas já desciam pelo meu rosto antes que eu pudesse controlar.

— Não posso fazer isso. O acordo é claro e se eu não o cumprir, então sofrerei as consequências disso — Engoli seco olhando para o homem a minha frente que parecia ser sincero em tudo o que dizia.

— Então eu não preciso de nada mais — Falei me virando e ele segurou meu braço, tão rápido que mal notei o movimento até que ele me virou para si.

— Cavalgue comigo e eu prometo tentar encontrar uma forma — Minha boca secou quando olhei para seus olhos e não consegui responder a nada. Ele estava próximo, muito próximo e seu cheiro estava por todo o meu redor. Ele era uma mistura de lavanda, folhas e flores que eu não sabia identificar, apenas sabia ser inebriante. Desviei meus olhos dos seus para sua mão em meu braço e ele o soltou devagar. Soltei um longo suspiro antes de falar.

— Tá! Eu vou.

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Comments

corrinha

corrinha

acredito que ele está ajudando a família dela

2023-11-12

2

corrinha

corrinha

já está ficando chata com a mesma história

2023-11-12

1

Marcia Gomes muchny

Marcia Gomes muchny

colocar umas fotos 📷 autora por favor 😘

2023-11-02

2

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