Freya...
Eu não sei exatamente por quanto tempo eu apaguei, mas quando acordei, já estávamos ao pé da muralha que se entendia gigante, poderosa e monumental a minha frente. A muralha era de pedras escuras e os mais antigos diziam que foi levantada com magia quando o acordo foi feito após a guerra, ninguém nunca teve coragem de chegar perto o bastante e aqueles que já fizeram, nunca retornaram para casa. Mas ali estava eu, diante da muralha.
A besta que agora havia se tornado um macho novamente apenas agitou as mãos uma vez e o mesmo cheiro metálico como sangue se acendeu — talvez eu ainda estivesse sonhado — mas as pedras da muralha se moveram, como se fosse algum jogo de encaixe e então ele puxou o cavalo novamente atravessando. A muralha se fechou novamente atrás de nós, mas não era isso que eu estava olhando e sim para a imensa clareira verde e cheia de flores que se seguia a nossa frente.
— Bem-vinda a Salandria — O macho falou, não havia humor em sua voz, nem mesmo a dor que ele expressou quando o encontrei na floresta.
Olhei novamente para a clareira, a nossa frente e não pude conter a minha expressão de surpresa. Quando aceitei ser arrastada para esse lado da muralha, eu imaginei muitas coisas e nenhuma delas se parecia com o campo a minha frente. Lindo. De fato era um lugar lindo. Havia flores de várias cores e tamanhos por todo o campo, a grama verde e o céu limpo com um sol brilhando sobre nós em nada parecia com a tempestade de neve do qual saímos. Como era possível aqui ser primavera e lá inverno? Como era possível esse lado da muralha ser tão bonito e tão normal? Não encontrei palavras para definir aquele lugar, então apenas perguntei.
— Sou uma prisioneira? — O macho olhou para mim e então para o cavalo antes de falar.
— Não. Você é uma convidada em meu reino e pode ir onde quiser — Ele falou calmamente, bem diferente de algumas horas atrás, quando parecia disposto a me matar — Embora eu recomende que fique nos limites da mansão. A sua espécie não é bem-vinda aqui — Seu tom mudou levemente para algo mais ameaçador do que antes.
— Seu Reino? — Eu não me importava com quem ele era, na verdade, eu não me importava com nada disso, mas o meu nervosismo estava me fazendo fazer perguntas das quais eu não me importava com as respostas. Ainda assim ele respondeu.
— Sou o Rei do Reino da Primavera e você é uma convidada da minha corte, será tratada como tal. Embora não mereça a cortesia de um Reino sem um príncipe — O tom cortante e brutal haviam voltando, pelo visto minhas perguntas fizeram ele relembrar que fui eu a assassina do seu irmão.
— Se posso ir a qualquer lugar... — Ponderei minhas palavras considerando que eu havia despertado sua ira outra vez — Então eu quero ir para casa — Ele apenas riu, mesmo que não houvesse nada de humorado em seu tom.
— Aceite, Freya. Essa é sua nova casa — Eu iria perguntar a ele como sabe meu nome, mas quando ele apontou para a frente, as palavras sumiram e minha boca se abriu tanto que poderia chegar ao chão.
A alguns metros de distância, enormes muros de pedras claras dividiam um enorme campo com um lago e mais a atrás, muito mais atrás, uma mansão que mais se parecia com um castelo que se estendia até uma vasta floresta. Estávamos em um ponto alto, o que me dava uma visão perfeita da propriedade e da cidade logo abaixo de nós. Não havia palavras que pudessem explicar a beleza do lugar, a elegância e a normalidade daquilo.
Quando meu pai era mercador, levou minha mãe, minhas irmãs e eu ao continente durante uma das suas viagens de negócios e enquanto estávamos lá, ele não levou para conhecer o castelo da rainha e nem mesmo ele era capaz de superar a beleza daquela mansão a nossa frente.
— É lindo — As palavras me escaparam sem eu querer fala-las. Ele não respondeu a isso, mas apenas disse que iríamos por outro caminho para evitar a cidade.
Enquanto ele nos guiava até a mansão de pedras em diferentes tons de arenosos, eu aproveitei para observar cada detalhe daquele lugar. As árvores de ipê em diferentes cores como amarelo, rosa, laranja, branco. As flores desabrochadas que se estendiam infinitamente pelos campos verdes que levavam até uma estradaa que daria na mansão.
A minha vila era pobre, as construções eram feitas com pedras escuras ou madeiras gastas, não havia nada de exuberante ou bonito, nem mesmo no verão quando a fonte na praça era ligada e a cidade ganhava alguma cor, não podia se comparar a esse lugar.
...★...
Depois de algumas horas finalmente chegamos a mansão, guardas abriram os portões para entrarmos. Havia uma longa estrada de pedras pequenas que se seguia até a entrada da mansão, ladeadas por arbustos de rosas-vermelhas, rosas e brancas. De um lado um enorme campo com flores se estendia até a floresta, do outro um enorme lago redondo refletia a luz do sol e as árvores ali perto. Havia também um coreto, um lindo coreto próximo ao lago com cadeiras acolchoadas e o que pareciam ser pequenas luzes. Olhei para a frente e havia uma fêmea de idade, baixinha e gordinha na entrada da mansão, ao seu lado um macho vestido elegantemente com um terno azul e calças pretas nos observava e só quando chegamos perto o bastante eu me dei conta de que seus olhos eram verdes, tão verdes quanto os olhos do macho que matei, quanto a do que estava ao meu lado, o que contrastava com seus cabelos pretos como a noite.
— Então essa é a assassina de nosso irmão? — Ele questionou me olhando de cima a baixo com desdém e desgosto, me encolhi diante do seu olhar fumegante.
— Analice, arrume um quarto para a senhorita Freya, providencie roupas e a prepare para o jantar — Foi tudo que o macho disse, aquele mesmo cheiro metálico me atingiu e agora eu o reconhecia como cheiro da magia, e me ajudava a descer do cavalo.
A fêmea imediatamente veio até mim e pegou a bolsa de minha mão, pensei em contestar, mas preferi não provocar a ira dos machos ao meu lado, não queria transformar o meu tempo aqui em um inferno. A fêmea me guiou para dentro da mansão enquanto os machos conversavam do lado de fora. O lugar era tão lindo por dentro quanto por fora, a ampla sala de piso verde-escuro era rodeada por paredes também verdes, mas em um tom mais claro embora esmaecido, a nossa frente havia uma mesa redonda de madeira brilhante e topo de vidro que era enfeitada com um grande vaso de rosas-vermelhas e atrás dele, uma enorme escada de mármore preto que se separava em dois e se seguiam até um corredor no segundo andar.
Subi as escadas logo atrás da fêmea, observando os quadros nas paredes e os ornamentos por todo o caminho. Analice me levou até um longo corredor de portas de madeira escura até parar em uma e a abrir fazendo um gesto para eu entrar. Sem questionar eu apenas entro no local. O quarto era igualmente grande, embora tivesse apenas uma janela diante da enorme cama, do meu lado esquerdo havia um guarda-roupa de madeira branca e do lado direito uma penteadeira da mesma madeira com um grande espelho, e do outro lado da cama uma porta que imagino ser o banheiro.
— Esse será seu quarto — A fêmea falou com uma voz fina e aguda enquanto colocava minha bolsa sobre uma pequena poltrona ao lado da porta.
— Obrigada — Consegui sussurrar após me sentar na enorme cama e olhar mais uma vez para o quarto que parecia maior que meu chalé.
— Vou preparar seu banho e suas roupas, depois você descerá para o jantar — Ela me explicou e olhei para ela negando.
— Não posso comer aqui? — Eu não queria sair dali, queria apenas tomar um banho, deitar e chorar o resto da noite pelo que aconteceu e por tudo que estava acontecendo.
— Ordens de sua majestade — Ela deu de ombros e me olhou como se entendesse o meu lado, mas que não poderia fazer nada para me ajudar.
Deixei que algumas lágrimas rolassem pelo meu rosto enquanto envolvia minhas pernas com os braços. Analice me deixou sozinha e seguiu para o banheiro e eu apenas me permiti chorar novamente enquanto pensava em minhas irmãs, em meu pai e em como eles sobreviveriam sem mim, em como eu queria voltar para casa e em como eu faria o que fosse possível para conseguir. Eu voltaria para casa, custe o que custar.
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Atualizado até capítulo 39
Comments
Marcia Gomes muchny
que lindo história 🥰🥰🥰
2023-11-02
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