Freya...
Andreas me contou exatamente a mesma coisa que Analice depois de muita insistência. E mesmo que seus olhos dissessem haver muito mais coisas a serem ditas, ele se recusou a entrar em muitos detalhes, apenas repetiu diversas vezes que Apollo iria encontrar uma maneira de evitar tudo aquilo. Quando eu disse que minhas irmãs tinham o direito de saber, ele se irritou e disse que ninguém tinha que saber sobre isso, que a maldição não chegaria às terras humanas e estava óbvio para qualquer um que estava mentindo, mas eu não queria discutir, minha cabeça estava rodando com tanta informação, com tantas coisas que Apollo escondeu todo esse tempo, coisas que eu tinha o direito de saber. Embora eu não seja Salandriana e esse lugar não seja exatamente a minha terra, se tornou meu lar, fui arrastada para cá e aprendi a gostar daqui, de algumas pessoas — dele — eu tinha o direito de saber que tudo isso estava ameaçado e que pode acabar antes mesmo de começar.
Sai do quarto de Andreas direto para a biblioteca, havia muitos livros e alguns que falavam sobre a história de Salandria e a magia desse lugar, talvez um deles tivesse a resposta para essa maldição ridícula que essa tal bruxa lançou.
Ninguém me incomodou nas horas que se seguiram, nem mesmo Analice quando entrou com uma bandeja com o almoço que nem sequer toquei. Peguei uma pilha de livros e as coloquei sobre a mesa de madeira branca no meio da biblioteca, me sentei em uma das cadeiras confortáveis e acolchoadas que haviam ali e comecei novamente a lê cada um dos livros em busca de qualquer resposta, qualquer menção a essa maldição que pudesse nos ajudar, nos salvar.
Talvez fosse burrice, provavelmente eles já reviraram toda essa biblioteca em busca de respostas, mas eu tinha que tentar, se não por mim, pelas minhas irmãs e a grande chance dessa maldição chegar até elas. Nossa aldeia é a mais próxima da muralha e se essa maldição de fato chegar às terras humanas como Analice disse que chegaria, então elas seriam as primeiras a serem atingidas e seja lá o que aconteceria, eu não queria pagar para vê. Notei alguém entrando na biblioteca, mas não tirei minha atenção do livro que lia, apenas quando ouvi sua voz que olhei em sua direção.
— Não vai achar a resposta em nenhum desses livros ou de qualquer biblioteca de Salandria — Ele falou puxando uma cadeira do outro lado da mesa e se sentando de frente para mim. Olhei para a pilha de livros que eu já havia vasculhado e para ele novamente.
— Porque não me contou?
— Porque não era necessário, porque não ajudaria em nada e não mudaria o que vai acontecer — Ele estava calmo, uma calma que eu nunca tinha visto, como se tivesse aceitado o que aconteceria se não encontrasse uma maneira de acabar com aquilo.
— Não importa, eu tinha o direito de saber, assim como minhas irmãs têm esse direito — Falei mostrando os dentes e ele respirou fundo se ajeitando na cadeira.
— A maldição não chegará as terras humanas.
— Como sabe? Nem mesmo sabe como acabar com isso — Ele inspirou e então soltou o ar lentamente desviando o olhar para o livro que eu estava nas mãos.
— A página 584 fala sobre maldições e formas de quebra-las. Vasculhamos cada parágrafo, cada palavra em busca de uma mensagem subliminar e não há nada em nenhum livro de nenhum lugar — Ele apontou para todos os livros ao nosso redor. Mordi o lábio inferior fechando o livro.
— Então está dizendo que não existe uma maneira de parar isso? — Ele apenas negou, os olhos vagos e distantes, uma pontada de dor em sua expressão — Eu vi crianças na cidade, se a maldição acabar com tudo, então... — Ele abaixou o olhar quando dor refletiu em seus olhos.
— Eu sou o Rei e amo o meu povo. Sei o que acontecerá com eles e me amaldiçoou por não poder usar todo o maldito poder que carrego para ajudá-los — Seu tom sério e carregado de dor fez meu coração apertar — Se quiser, posso manda-la para casa e assumir as consequências do acordo — Olhei para ele arregalando os olhos.
— Quais consequências?
— Um acordo deve ser cumprido em Salandria, ele é selado por magia e quando salandrianos e humanos firmaram o acordo após a guerra a mil anos, magia a selou e a magia cobrará o preço daqueles que não a cumprem — Ele respirou pesadamente — A magia diz que eu devo cobrar o sangue derramado de meu irmão daquele que o derramou ou eu serei punido, não sei como a magia pretende fazer, mas posso suportar se você quiser ir embora — Ele me olhou e havia tanta dor em seus olhos que minha garganta se fechou.
— Disse que não podia fazer isso, que não podia ir contra o acordo — Minhas palavras saíram arrastadas pelo choro que eu agora tentava evitar e a raiva que crescia dentro de mim — O que mudou? — Seus olhos me analisaram bem, seus lábios tremeram antes dele falar.
— Eu não estava apaixonado por você antes.
Meu coração errou duas batidas quando as palavras se assentaram na minha mente e fizeram sentido para mim. Minhas mãos começaram a suar e eu me amaldiçoei silenciosamente pelas palavras que me falharam. O peso daquela frase me atingiu em cheio me fazendo perder o ar novamente, assim como na noite passada, o mundo ao meu redor parou e tudo sumiu, só existia ele e as suas palavras que me rodeavam. E o fato dele estar falando que está apaixonado por mim me fez lembrar do fato de que uma maldição estar prestes a acabar com tudo isso antes que sequer comece.
Eu nunca me importei em encontrar um amor, em me casar, diferente das minhas irmãs que sonhavam com um casamento bom com algum lorde rico — ou no caso de Ingrid, um homem que a amasse de todo o coração —, essas ambições nunca foram minhas ambições, mas aqui estava ele, um homem que eu estava obviamente apaixonada, dizendo que está apaixonado por mim e a droga de uma maldição pode acabar com tudo isso em breve. Existia uma escolha a se fazer aqui. Ficar com ele e acreditar que a maldição não atingirá as terras humanas, ou voltar para casa e deixá-lo sofrer as consequências do acordo e torcer para a maldição não atingir as terras humanas. Amor ou família. Não era uma escolha justa. Eu amo minhas irmãs, mas não amo as terras humanas e esse lugar, eu aprendi a amar esse lugar e eu me sinto mais em casa aqui do que nunca me senti nas terras humanas, esse era o meu lugar e eu não queria estar longe quando tudo fosse destruído, não queria estar longe dele.
Eu sempre me senti deslocada, perdida dentro da minha própria casa. Minhas irmãs sempre foram muito próximas, Laila era como um cão raivoso quando se travava de defender Ingrid e tão delicada e sensível ao falar com nossa irmã, mas ela nunca estendeu tal cortesia para mim e por muito tempo eu pensei que minha irmã mas velha me odiasse, talvez ainda pense, talvez seja verdade.
Nossa mãe amava Laila e nosso pai sempre deixou sua preferência por Ingrid muito evidente, mas eu nunca me senti de fato escolhida ou amada por nenhum dos dois, isso né assombrou por anos e mesmo depois da morte de nossa mãe, da queda de nosso pai para a depressão, eu ainda não havia superado o tremor que tomava conta do meu corpo sempre que Ingrid levava a comida de nosso pai e um brilho quase inexistente tomava conta de seus olhos. Eu nunca fui parte daquele lado, mas eu me sentia casa aqui, sentia que de fato tinha um lar, mesmo que tenha sido arrastada para cá contra a minha vontade e no início tenha me ressentido. As semanas que se passaram, as pessoas daqui — ele —, tudo isso havia me feito gostar desse lugar e se eu pudesse ter a certeza de que minhas irmãs não seriam afetadas pela maldição, então não havia nada para mim do outro lado da muralha.
— Prometa para mim. Prometa que as terras humanas não serão atingidas — Pedi sem olhar para ele, mas senti quando me olhou por um tempo antes de responder.
— Eu prometo. Mas...
— Sem mais — Finalmente olhei para ele, seus olhos queimavam com a surpresa e a curiosidade — Porque eu também estou apaixonada por você, e eu não quero deixá-lo aqui, mas eu preciso ter a certeza de que minhas irmãs não vão morrer para a maldição — Ele piscou algumas vezes, mas seus olhos não desviaram dos meus quando ele falou outra vez.
— Eu prometo.
Não respondi, apenas me levantei e fui até ele me sentando em seu colo e juntando nossos lábios. Suas mãos seguraram meu quadril e subiram até meu cabelo e então pararam em meu rosto, ele parou e se afastou o bastante para me olhar por alguns segundos, seus olhos eram um misto de surpresa e desejo, vontade e medo, e por um segundo eu senti que meu coração parou no peito antes que ele me beijasse com mais intensidade, mais urgência, mais desejo. E quando ele se levantou comigo ainda em seu colo, envolvi minhas pernas em sua cintura ainda o beijando, ainda apreciando seu gosto que me entorpecia, seu cheiro que me cercava com o leve aroma de lavanda e lírio, e a sensação dos seus lábios nos meus que fazia meu corpo esquentar e arrepiar, que fazia meus sentidos se perderem. Não olhei para onde ele nos levava, nem mesmo me importei para aonde íamos. Eu só queria sentir um pouco mais dele.
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Atualizado até capítulo 39
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