Capítulo 19

Freya...

A noite passada foi agitada, Apollo teve pesadelos a noite inteira e estava tão agitado que não consegui dormi com medo que ele tivesse algum ataque de pânico ou algo parecido. Quando o sol raiou e a claridade invadiu o quarto pela janela aberta e refletiu em sua pele nua, me permiti apreciar a vista, o quão bonito ele era. Apollo ainda tirava meu fôlego sempre que o via completamente nu, mesmo que já tenha explorado cada parte do seu corpo a essa altura, ainda assim, sua beleza me deixava tonta.

Estava deitada ao seu lado, passeando meus dedos levemente pelos gominhos da sua barriga musculosa enquanto descansava minha cabeça confortavelmente em seu braço quando sua respiração mudou indicando que ele estava acordado e a sua mão descendo pelo meu braço e me aninhando mais ao seu peito foi a prova disso. Aproveitei aquele momento enquanto estávamos deitados e tão próximos, tão íntimos. Aquilo era mais íntimo do que o sexo, nossas respirações em uníssono, nossos corpos próximos um do outro transferido nosso calor até mesmo nossos corações pareciam refletir os batimentos um do outro. Me sentia tão segura estando em seus braços, como se o mundo não estivesse prestes a nos engolir em pouco tempo, como se não tivesse um inimigo esperando por ele a poucos meses, naqueles minutos que de seguiram, que ficamos em silêncio deitados juntos, aninhados um no outro, todas as preocupações se foram e tudo o que eu queria era poder ficar ali para sempre. Eu poderia ficar ali para sempre.

Duas batidas na porta ecoaram por todo o quarto, batidas tímidas e fracas, como se estivesse com medo de atrapalhar aquele momento. Apollo grunhiu mas se levantou devagar, recolheu o lençol fino da cama e envolveu na cintura indo até a porta e só agora me dei conta de que as únicas roupas dele aqui eram aqueles sujas com o sangue de Andreas ainda jogadas no canto do quarto. Respirei fundo puxando o lençol mais grosso e cobrindo meu corpo o segurando na altura dos seios enquanto me sentava para olhar quem estava na porta.

Apollo abriu a porta e um sentinela olhou ele de cima a baixo, depois percorreu os olhos sobre mim e voltou sua atenção rapidamente para o seu Rei quando ele pigarreou me fazendo segurar um sorriso. A sentinela entregou a Apollo um envelope dizendo que um menino havia entregue e pedido para dar exclusivamente a ele. Apollo não se preocupou em perguntar quem era o menino e nem mesmo agradecer quando fechou a porta na cara do homem do outro lado e revirou o envelope pequeno e retangular em suas mãos. Seus olhos se semicerraram e uma fúria os preencheu quando ele leu o remetente escrito na parte traseira do envelope.

— O que é isso? — Questionei me levantando e abandonando o lençol sobre a cama, sem me importa com minha nudez. Ele rapidamente virou o envelope em suas mãos e me encarou.

— Nada com o que se preocupar — Ele se aproximou e beijou minha têmpora e então minha testa — Durma um pouco, eu vou precisar ir a cidade — Ele não esperou uma resposta e apenas saiu do quarto me deixando parada lá com cara de confusão.

Olhei para a porta na minha frente por um tempo me perguntando o que estava escrito naquela carta que preencheu seus olhos de fúria e o deixou tão na defensiva. Por fim decidi não voltar a dormir, não conseguiria mesmo de eu quisesse. Coloquei um dos vestidos do guarda roupa, exigência minha a poucas semanas, Analice não reclamou quando pedi que trouxesse os vestidos para o quarto.

Penteei os cabelos e os prendi na parte superior, olhei meu reflexo no espelho. Eu havia finalmente atingi todo o peso que os anos de fome do outro lado da muralha nunca me permitiram ter, meu rosto estava mais arredondado e ângulos, meus quadris maiores e com as curvas mais acentuadas e embora minha barriga ainda estivesse chapada, não era mais possível contar minhas costelas. Meu rosto havia tomado um tom rosado de pura saúde, meus cabelos pareciam maiores e o tom de marron-escuro estava mais vivo do que nunca, até meus olhos estavam mais brilhantes e mais azuis e eu sabia que essa última parte era por causa de Apollo.

Desci encontrando um Andreas emburrado no seu lugar de sempre, Apollo não estava lá e eu imaginei que a cara dele fosse por causa disso, provavelmente o irmão não o deixou ir, não depois do que aconteceu ontem. Andreas usava uma camisa de linho fino, branca e aberta, as ataduras e faixas que cobriam todo o seu corpo pareciam ter sido trocadas e ele estava com o cabelo completamente preso, e percebi que é a primeira vez que o vejo com o cabelo completamente preso desde que o conheci. Ele me olhou assim que entrei na sala, mas não esboçou nenhuma sorriso para mim. Me sentei em meu lugar habitual.

— Noite difícil? — Disparei um olhar de irônia para ele e embora seus lábios tenham se curvado levemente, ele ainda mantinha a cara emburrada, respirei fundo e perguntei — Ele te deixou de castigo?

— Ele acha que sou uma criança para ficar em casa esperando enquanto ele resolve os problemas — Ele não estava olhando para mim, acho que nem mesmo estava falando para mim especificamente. Ele manteve os olhos na janela, como se o seu olhar pudesse alcançar o irmão seja lá onde tenha ido — Eu sou um guerreiro. Lutei em centenas de guerras, lutei na grande guerra e ele acha que pode me deixar sentado aqui? Isso é ridículo — Ele por fim em olhou, como se esperasse uma aprovação ao que dizia.

— Você está ferido Andreas, precisa descansar antes de fazer esforços — Mordi um pedaço de pão vendo ele revirar os olhos e ri com escárnio.

— Besteira

— Ele ficou desesperado, nós ficamos. Seja lá o que o Oniskru for, ele quase te cortou em dois — Falei olhando para ele que agora parecia reviver as memórias do que aconteceu ontem — Não o culpo por querer proteger você enquanto ainda está ferido.

— Eu sei me proteger. Ontem foi uma excessão, eu me distrai tentando ajudar ele e a criatura me pegou de guarda baixa — Meu coração acelerou ao saber disso, ele não contou que estava correndo risco quando tudo aconteceu.

— O que é um Oniskru?

— É uma das criaturas do Reino de Inverno, ele não deveria estar nessa região considerando que é um animal da neve. Ele é como um urso muito grande, com garras que chegam ao tamanho do meu antebraço e uma força considerável. Apesar de grande e musculoso, ele é extremamente rápido e pode matar um Salandriano com um único ataque certeiro — Ele apontou para os cortes em seu peito — Isso aqui não foi causado pela garras quando ele me levantou como se eu fosse um pedaço de madeira, senti minha pele rasgar e então apaguei — Seus olhos estavam sombrios, provavelmente com as lembranças do que aconteceu ontem a noite.

— E o que ele estava fazendo aqui no Reino? Quantos dele tinha? — Ele balançou a cabeça para afastar as memórias e virou um copo de suco na boca antes de falar.

— Só haviam dois. — Ele se remexeu na cadeira — E é isso que precisamos saber, essas coisas não costumam vim para esse lado e com certeza não vieram sozinhos. Não teria como vim pelas montanhas e com certeza não passaria pelos reinos de Outono e Verão sem serem vistos, alguém o atravessou até aqui. — Peguei um copo com água na esperança de umidificar minha garganta que agora estava seca ao imaginar o animal que ele descreveu.

— Como assim atravessar?

— Alguns de nós tem a habilidade de atravessa de um lugar a outro. Mas é limitado, não da para ir muito longe e somente para lugares que conhecemos ou já estivemos — Ele pegou duas maçãs e colocou em pontos opostos da mesa a uma certa distância — Imagine que esse sou  e esse é o Reino de verão — Ele apontou as maçãs — Eu poderia facilmente sumir daqui e aparecer sentado em uma taverna muito conhecida no Reino do Verão que eu costumo ir quando visito o Reino — Balancei a cabeça em concordância enquanto ele explicava.

— Então acha que alguém atravessou essas criaturas até aqui? Quem faria isso e porque? — Ele deu de ombros.

— Tenho uma ideia de quem tenha sido, mas do porque eu não sei.

— Quem? — Ele me olhou por um tempinho, analisando minha expressão de curiosidade e então se levantou com cuidado.

— Loki.

Olhei para ele conforme saia da sala e o nome que disse ecoava pela minha cabeça. Eu nunca ouvi falar nesse nome e ele não aparecia em nenhum livro que eu li na biblioteca da casa, mas havia algo nele que me parecia familiar. Um tremor correu minha espinha e um ar frio passou pelas minhas pernas, como se alguém o tivesse soprado ali, meu coração acelerou um pouco enquanto aquele nome ainda ecoava pela minha mente. Quem é Loki?

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