Freya...
Apollo não estava na cama quando acordei, mas havia um bilhete sobre o criado mudo com uma letra elegante e desenhada "Fui caçar, volto antes do almoço". Analice não foi ao meu quarto como costumava fazer, mas quando levantei já havia um vestido esvoaçante, leve e confortável sobre a cadeira ao lado. Tomei um banho longo, aproveitando a sensação da água morna em minha pele que ainda tinha o cheiro dele. Eu ainda sentia todas as sensações que seus toques me proporcionava e minha mente constantemente se enchia com imagens de ontem a noite, o que fazia meu corpo esquentar e minha mente de perder. Demorei mais do que o normal me limpando, vesti o vestido e me olhei no espelho gostando do que via. Quando estava do outro lado da muralha, raramente usava vestidos, mas aqui havia me acostumado com isso e todos que Analice trazia eram tão lindos — ela nunca me contou de onde eles vieram — mas eu nunca repetia um vestido, então seja lá de onde vem, existe uma variedade enorme deles.
Desci as escadas vagarosamente até a sala de jantar, estava preguiçosa essa manhã, provavelmente pelo fato de Apollo mal ter me deixado fechar os olhos na noite anterior. Ele e Andreas não estavam nos seus lugares de sempre, mas havia uma variedade de pães, frutas, presuntos e outras guloseimas para o café da manhã esperando por mim. Estava faminta, precisava repor energias. Quando eu era pequena, meu pai sempre dizia que o café da manhã era a refeição mais essencial do dia para repor energias e dar forças. Estava bebericando um pouco do suco de alguma fruta que eu não sabia indentificar quando ouvi vozes na sala ao lado se aproximar. Andreas e Apollo pareciam nervosos ao se aproximar da sala.
— Isso está fora de cogitação — Apollo disparou invadindo a sala sem parecer notar minha presença ali. Andreas veio logo atrás e parou colocando as mãos na cintura.
— Sabe que é o melhor a se fazer, porque se recusa? — Seus olhos dançaram sobre o irmão, uma raiva contida que parecia lutar contra algum outro sentimento para se impor. Ele me olhou rapidamente e voltou a olhar para irmão.
— Não vou arriscar meus homens, eu mesmo irei — As palavras me deixaram alerta, seja qual for o assunto, estava se referindo a um risco que Apollo estava disposto a enfrentar e isso me deixou inquieta na cadeira.
— E se algo acontecer? Sabe que ela é muito poderosa...
— Eu sou o Rei — As palavras dançaram pela sala, ecoaram nas janelas e na mesa de madeira a minha frente antes que ele respirasse fundo.
— Tem razão. Sinto muito... majestade — Havia rancor nas palavras de Andreas e algum tipo de de tristeza, os olhos de Apollo se escureceram com algo parecido com culpa e seus lábios estremeceram como se fosse dizer algo, mas ele apenas fechou os punhos sobre a mesa e observou o irmão deixar a sala. Ele desabou na cadeira.
— O que aconteceu? — Ele não me olhou, seus olhos estavam perdidos, vagos olhando pela janela. Respirei fundo e me levantei indo até a cadeira a sua frente — Apollo, fala comigo — Toquei sua mão, o que fez ele por fim me olhar e aquelas sombras saíram dos seus olhos.
— Haverá um baile. A rainha que o está organizando é uma inimiga e solicitou a presença de um representante do meu Reino — Ele apertou levemente minha mão e algo que eu não pude reconhecer brilhou em seus olhos — Andreas quer mandar um soldado ou a se mesmo, eu não vou permitir — Engoli seco com a certeza que ele falo a última parte.
— O que pode acontecer nesse baile? — Eu não entendia sobre brigas entre Reinos, mas se havia uma chance dele se machucar ou pior, eu queria saber, queria ter a chance de impedi-lo assim como Andreas estava tentando fazer.
— Ele acha que é uma armadilha, eu acho que pode ser uma chance de paz — Engoli seco ao imaginar ele sendo atraído para uma armadilha em outro Reino, longe das cercas seguras desse lugar, longe dos olhos atentos das sentinelas.
— Não quero que se machuque — Minhas voz falhou e ele fixou o olhar em mim, analisou meu rosto e cada expressão nele antes de se aproximar e segurar minhas bochechas em sua mão em forma de concha.
— Nada vai me machucar — Não havia certeza em sua voz e ele sabia que eu havia percebido isso, seus lábios estremeceram e ele se aproximou mais.
Sua respiração quente tocou meu rosto antes que seus lábios tocassem os meus. Suspirei ao sentir todas a tensão no meu corpo se esvair como água entre seus dedos. Retribuí seu beijo calmo e tranquilo, nossas línguas dançando juntas em nossas bocas enquanto suas mãos ainda seguravam meu rosto. Ele encerrou o beijo mesmo com meu grunhido em protesto e me deu um selinho antes de me fazer olha-lo. Aqueles belos olhos verdes me encarando, uma pequena chama dançando neles, uma mistura de desejo e controle que me fizeram perder o ar.
— Nada pode me machucar além de você — Havia dor em suas palavras, mesmo que seus olhos ainda transmitisse aquele desejo.
— Eu nunca machucaria você — Algo como alívio passou pelo seu rosto antes dele sorri levemente para mim e descer suas mãos até a minha — Quando será o baile? — Ele engoliu seco e respirou fundo.
— Em três meses — Balancei a cabeça, mas não concordando com aquilo, apenas compreendendo o tempo que tínhamos para fazê-lo mudar de ideia sobre ir a esse baile.
— Tudo bem, acredito em você.
Eu não acreditava e daria um jeito dele não ir a esse maldito baile.
★
Andreas parecia mais calmo quando o encontrei nos estábulos acariciando um alazão marrom. Ele não olhou para mim conforme me aproximei, mas o simples fato de ter aberto um leve sorriso me fez perceber que ele notou minha presença. Parei ao lado da minha égua que eu havia batizado como Moon, ela balançou a cabeça conforme passei a mão por sua crina brilhante e bem trançada.
Olhei para Andreas que parecia concentrado em seu cavalo, não parecia disposto a falar, mas eu não podia conceder a ele o privilégio do silêncio, não quando ele assim como eu odiou a ideia de Apollo ir ao baile. Ele por fim me olhou, me analisou torcendo o nariz, como se visse algo em mim que eu não estava vendo. Ele por fim falou.
— Você ganhou peso desde que chegou aqui parecendo um esqueleto assustado — Ele comentou em um tom afiado, provocativo. Sorri e me aproximei do seu alazão passando a mão pelo seu pelo macio, o animal de mexeu levemente, mas não rejeitou a carícia.
— Você sabe como elogiar uma dama.
— Muitas concordariam que sim — Havia um pouco de divertimento em sua voz, mesmo que seus olhos não transmitissem diversão alguma.
— São loucas — Ele riu outra vez e eu também, então respeirei fundo e olhei para ele — Precisamos falar sobre o baile — Ele me olhou e se afastou arrumando o casaco.
— Aqui não. Até os animais obedecem ao meu irmão — Olhei para o cavalo e então para ele quando passou por mim. O segui enquanto íamos em direção ao rio, atrás da propriedade, quase chegando na floresta.
— Ele disse que você acredita que pode ser uma armadilha — Ele não respondeu, então eu continuei — Não quero que ele se machuque — Ele por fim me olhou e então parou sob a sombra de uma enorme árvore de ipê com folhas amarelas.
— Meu irmão tem a terrível mania de se colocar em risco para salvar os outros. Esse maldito baile pode ser uma armadilha e ele sabe disso, mas está disposto a arriscar para poupar a mim ou ao soldados — Seu tom era recheado de raiva e reprovação.
— Acha que ela é capaz de derrotar ele? Mesmo com todo o poder que ele possuí? — Já havia visto e sentido algumas demonstrações leves do poder de Apollo e sabia que nada poderia ser pário para àquilo.
— Ela é extremamente poderosa, mas também é inteligente, manipuladora e possui aliados muito fortes. Apollo é poderoso, mas a maldição já sugou a maior parte da sua magia e se for uma armadilha, não acho que ele possa se defender — Meu corpo estremeceu ao ouvir subre a maldição. Eu tentava não pensar sobre ela, mesmo sabendo que logo tudo o que conhecemos não existirá mais, estava tentando não deixar isso me afetar.
— Então o que faremos?
— Não existe nada que se possa fazer. Como ele mesmo fez questão de deixar claro lá dentro — Ele respirou fundo, como se tentasse conter o rancor que aquelas palavras o causaram — Ele é o Rei e a sua palavra é lei, se ele ordena todos devemos obedecer. É assim que funciona e eu não posso ir contra as leis — Sua voz saiu baixa, esmagada pela dor que acumulou em seus olhos.
— Pro inferno as leis...
— Infelizmente não posso fazer nada. A punição para isso é a morte, mesmo para mim, que sou irmão do Rei — Revirei os olhos e ele colocou uma mão em meu ombro — Sinto muito.
Ele saiu, seguiu para a casa me deixando ali, a sombra da árvore e próxima ao coreto. Respirei fundo aproveitando cada cheiro naquela brisa de primavera que fazia meu cabelo solto balançar e olhei para a casa, como se pudesse vê-lo através das paredes, me dando conta agora de algo que eu não havia percebido, ou que escolhi não dar importância quando toda essa história sobre maldição foi revelada, uma verdade que me fez mudar de ideia sobre voltar para o mundo humano, uma verdade que me fez temer por esse lugar, uma verdade que me fez estremecer essa manhã e que fazia meu coração bater forte no peito nesse momento. Eu não podia perde-lo.
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Atualizado até capítulo 39
Comments
corrinha
deve haver um solução para esses dois problemas
2023-11-14
1
corrinha
ele não pode recusar? um convite tem duas respostas sim e não eu recusava
2023-11-14
2