Freya...
O tempo passava mais rápido do que eu podia notar. Em um piscar de olhos já havia se passado um mês. Eu já estava acostumada com o lugar, ou pelo menos com grande parte dele. Apollo me apresentou o resto da propriedade, embora tenha me proibido de entrar na floresta sem estar acompanhada dele ou de Andreas. Por falar em Andreas, ele estava menos insuportável do que normalmente e embora passasse pouco tempo em casa, quando estava não fazia tantas piadas quanto antes, às vezes até me elogiava sem o costumeiro tom de ironia ou deboche.
Depois de muita insistência, Analice deixou que eu ajudasse ela e as outras empregadas a preparar as refeições, isso me ajudava a passar o tempo e evitava que eu ficasse pensando nas minhas irmãs. Apollo disse que elas estavam bem e por algum motivo, eu acreditava nele, tanto que na maioria do tempo nem mesmo pensava em como elas poderiam estar. Encontrei um novo lugar preferido aqui, o coreto próximo ao rio. Meus dias se resumiam a ajudar Analice na cozinha ou sentar ali e ler enquanto ouvia os pássaros e o som do rio ali perto.
Eu estava começando a me dar bem com Apollo. Ele passava bastante tempo fora, mas quando estava em casa, ficava comigo no coreto lendo, mesmo eu sabendo que ele já leu todos os livros daquela biblioteca. Ele era um homem gentil, divertido e às vezes até engraçado, embora esteja sério na maioria das vezes. Eu estava começando a ter algum tipo de afeição por ele.
Era cedo quando Analice invadiu meu quarto com algumas roupas que ela deixou sobre a poltrona antes de ir até às janelas e abrir as cortinas deixando a luz do sol invadir o quarto e ir de encontro direto com meu rosto. Resmunguei e cobri minha cabeça enquanto ela falava sobre como o dia estava lindo e como era hora de levantar. Resmunguei mais uma vez afastando o lençol do rosto e olhei para ela me sentando na cama.
— Como consegui iniciar o dia tão, animada? — Perguntei olhando para o relógio que marcava sete da manhã, fiz uma careta olhando para o sol que parecia rir da minha cara no céu.
— Eu levanto junto com os animais menina, quando você acorda, eu já fiz de tudo um pouco — Ela respondeu enquanto ia para o banheiro e ligava a água da banheira. Me levantei e caminhei até a penteadeira me sentando e esperando que ela viesse desfazer a trança em meu cabelo. Já havia acostumado com aquilo também.
— A quanto tempo trabalhar aqui? — Ela me olhou pelo reflexo do espelho desfazendo a trança em meu cabelo e sorriu.
— Vivo aqui desde que nasci. Minha avó serviu ao rei e minha mãe depois dela e então eu. — Ergui uma sobrancelha e me virei para ela.
— Nunca se casou? — Ela me virou na cadeira novamente e voltou a mexer em meu cabelo.
— Quem disse que não? Eu tenho um marido e filhos — Minha boca se escancarou com a informação. Analice está sempre aqui, não podia imaginar que fosse casada, muito menos que tivesse filhos. Ela riu com a minha surpresa e continuo — Tenho uma casa na cidade, meu marido trabalha nessa casa como jardineiro e vivemos bem graças a bondade do Rei — Um traço de tristeza cruzou seus olhos quando disse isso.
— Como assim?
— Meu marido não é desse Reino. Ele veio do Reino de Outono após ser jurado de morte e o Rei lhe deu abrigo. Quando eu disse a minha mãe que me casaria com ele, ela o entregou ao Rei do Outono que veio aqui para mata-lo, mas o Rei não deixou e comprou sua vida — Ela deu uma pausa e respirou fundo segurando meus ombros — Ele garantiu que minha mãe não nos causasse problemas e comprou uma casa na cidade para vivermos longe de seu julgamento. Quando minha mãe morreu eu pedi a ele que me deixasse tomar seu lugar na casa e ele permitiu e desde então eu estou aqui — Ela sorriu, o que me fez sorrir também. Eu sabia que Apollo era um homem bom, constatei isso quando escolheu me dar abrigo ao invés de me tratar como prisioneira e quando garantiu que minhas irmãs não passassem necessidades, mas ouvir isso só me dava ainda mais certeza de sua bondade.
— Ele é um bom homem...
— Ele é — Ela sorriu mais uma vez e então deu dois tapinhas em meus ombros — Vamos se arrumar que suas majestades esperam por você para o café — Concordei e me levantei indo para o banheiro.
...★...
Como sempre, Apollo e Andreas já haviam tomado seus lugares para o café da manhã farto. Ambos pareciam tensos e estavam sérios demais, coisa que eu não via a alguns dias, desde o ataque na floresta. Caminhei com cautela e tomei meu lugar de sempre a mesa enquanto analisava os dois homens a minha frente que agora me olhavam sérios e tensos. Respirei fundo notando possuir alguns papéis diante de Apollo e que Andreas segurava algo que parecia ser uma carta em suas mãos. Apollo pareceu ter notado meu olhar curioso já que todas as cartas, incluindo a que Andreas segurava apenas sumiu do nada, como se nunca tivessem estado ali.
— Está tudo bem? — questionei enquanto me servia com pães e frutas e enchia uma taça com suco para mim. Apollo olhou para Andreas com cautela e então seu irmão me olhou tenso.
— Daqui a dois dias teremos o Rito da Magia, uma comemoração onde o Rei cederá poder e prosperidade a todo o Reino. Todos os Salandrianos do Reino da Primavera estarão aqui para o Rito — Ele começou a explicar enquanto eu os olhava atentamente tentando entender o que queriam dizer com tudo aquilo — Você não poderá participar, nem mesmo poderá sair desta casa enquanto o Rito estiver acontecendo — Arqueei uma sobrancelha e olhei para Apollo que apenas concordou com o irmão.
— Quer que eu fique presa nessa casa enquanto todos estão numa festa?
— É mais seguro se for assim — Apollo finalmente falou, olhei para ele analisando sua expressão que parecia tensa demais para um pedido tão simples. Mas decido não questionar, não queria acabar com o meu bom humor tão cedo.
— Posso tentar fazer isso — Eles se olharam e então para mim novamente, respirei fundo e revirei os olhos — Tudo bem, eu fico trancada aqui como a irmã feia — Andreas riu, e o som dissipou a tensão que se acumulava ao nosso redor, ou melhor, ao redor deles.
— Eu diria como o cão bagunceiro, mas irmã feia funciona — Fiz um gesto obsceno para Andreas que riu ainda mais me fazendo fechar a cara.
Não respondi a sua piada e embora o clima agora seja de divertimento, eu ainda podia ver aquela tensão nos olhos de Apollo, havia algo que ele não contou, algo que parecia deixar ele nervoso. Esse Rito de Magia — seja o que for que acontecerá nessa festa — é o bastante para que Apollo pareça preocupado e até ansioso. Eu não perguntaria para ele o que era porque sabia que não ia me responder, mas havia alguém que poderia falar se abordado da maneira certa. Olhei para Andreas bebendo um pouco do meu suco e sorri.
O café da manhã foi silencioso e tenso. Apollo se despediu dizendo ter assuntos importantes do Rito para tratar e Andreas correu para o escritório dizendo ter documentos importantes para revisar e no fim fiquei sozinha naquela enorme mesa. Após tomar café, segui em direção ao escritório de Andreas e dei duas batidinhas na porta de madeira antes de entrar.
— Estou ocupado demais para você agora — Ele falou sem desviar os olhos dos papéis que lia.
Não respondi, apenas analisei a sala que era tão diferente do restante da mansão. Eu nunca entrei em nenhum dos escritórios, apesar de a essa altura saber onde cada coisa nessa casa fica, eu nunca me aventurei além da biblioteca ou da cozinha.
O escritório de Andreas era grande e espaçoso, havia uma mesa de mogno escuro no centro e atrás uma grande janela dava uma vista ampla para o lago e a floresta, as paredes dos dois lados era tomada por prateleiras cheias de livros bem organizados, do lado esquerdo havia duas poltronas e uma mesinha no meio, do lado esquerdo uma outra mesinha com algumas garrafas de uísque e copos. Caminhei até a prateleira de livros a esquerda lendo os títulos, alguns conhecidos e outros não.
— Diga o que quer — Ele falou novamente ainda sem olhar na minha direção, dei de ombros e voltei para os títulos.
— O que acontece no Rito da Magia? — Olhei para ele que finalmente desviou os olhos do papel e me olhou com divertimento.
— Porque acha que vou contar a você? — Caminhei em direção a ele e me sentei na cadeira a frente da sua mesa.
— Porque você não se importa em alimentar minha curiosidade a ponto de me colocar em risco — Ele sorriu em confirmação.
— Tem razão, não me importo. Mas meu irmão parece se importa, então, não terá nada de mim — Ele voltou a ler — Dê o fora daqui— Respirei fundo ainda olhando para ele e cruzei os braços. Ele me olhou por cima da folha e então a largou suspirando.
— Não vou sair daqui até você me falar — Dei de ombros abrindo um sorrisinho, ele me analisou por um tempo e ponderou se poderia ou não me falar, por fim ele falou.
— Quer mesmo saber? — Balancei a cabeça que sim e inclinei meu corpo mais para a frente deixando a curiosidade me dominar, ele fez o mesmo com um olhar misterioso — O Rei vai copular com uma sacerdotisa e assim passar seu poder ao Reino através da união — Meu sorriso se desfez e a curiosidade também, meus olhos se arregalaram e minhas bochechas esquentaram quando pisquei duas vezes e me afastei dele.
— O quê?
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Atualizado até capítulo 39
Comments
corrinha
gostaria que o Andreas ficasse com a irmã dela a caçula daria um ótimo par e deixava a azeda com o pai
2023-11-13
3
Eita. Quer ver ela ser essa "sacerdotiza" kkkkkk. Poura kkkkkk
2023-11-04
1