Freya...
Apollo e Andreas não mencionaram a maldição ou o baile no mes que de seguiu e fugiam do assunto sempre que eu perguntava sobre. Mas embora não falassem sobre, a tensão estava crescendo a medida que os dias iam passando e os dois quase não paravam em casa desde o convite para o maldito baile. Apollo não havia mudado de idéia sobre ir ele mesmo a esse evento, também não quis falar sobre isso quando o questionei deitada em seus braços a duas noites depois que fizemos amor, não insisti embora a minha vontade fosse de fazê-lo até que ele desistisse dessa ideia estúpida.
Apollo dormia em meu quarto todas as noites — ou quase dormia — considerando que passávamos a maior parte da noite nos tocando e nos beijando freneticamente. Achei que as sensações da primeira noite fosse algo primordial que eu só sentiria uma única vez, mas Apollo me mostrou que estava errada todas as vezes que me tocou na última semana, as sensações nunca enfraquecem, o calor, o desejo e a paixão nunca se apagam e eu sempre me sinto saciada e faminta por ele.
Aquela voz não me incomodou mais, embora eu olhasse pela janela na direção daquelas árvores todas as noites antes de Apollo aparecer na minha porta. Eu não sabia explicar — não havia uma forma de explicar — mas algo dentro de mim de agitava todas as noites, uma pequena e profunda parte que parecia incomodada com algo e eu não sabia o motivo, mas instintivamente me curvava sobre a janela e encarava aquele ponto escuro próximo a floresta, o espaço entre as duas grandes árvores que parecia esconder a escuridão do mundo, o lugar onde aquele homem — se é que ele existiu — me olhava na noite do Rito.
Acordei mais tarde do que o normal hoje e quando desci o café da manhã já havia sido recolhido e a mesa já estava sendo pronta para o almoço. Andreas apareceu na sala dizendo a Analice que não precisaria por a mesa, que iríamos sair, mas não me contou para onde íamos, apenas disse para estar pronta em dez minutos nos estábulos. Fiz como mandou e quando cheguei até lá, Apollo estava celando minha égua, seu cavalo preto estava a poucos metros de distância e uma enorme cesta estava amarrada a cela do animal que esperava pacientemente pelo seu dono. Arqueei a sobrancelha e olhei para os homens a minha frente.
— Onde vamos? — Apollo se inclinou para beijar meu ombro quando cheguei perto o bastante. Ele sorriu e voltou a se certificar de que a cela estava firme, minha égua se mexeu incomodada com todas aquelas mãos sobre ela.
— Um piquenique — Andreas deu de ombros montando seu cavalo. Olhei para Apollo segurando seu ombro quando ele me levantou com facilidade e me colocou na égua, mesmo eu já tendo insistido várias vezes que consigo montar de ajuda.
— Achei que estivessem ocupados demais essa semana — Foi o que Andreas disse para mim a duas noites quando o chamei para um jogo de tabuleiro para matar o tédio crescente que me atingia naquela noite em específico que Apollo havia ido até a fronteira ver como seus soldados estavam.
— Apollo acha que você pode estar deprimida sozinha naquela mansão enorme — Seu tom afiado transbordando desdém não me atingiu. Não agora que eu sei que apesar do tom ofensivo, ele não estava de fato me atacando. O homem de cabelos pretos soltou um riso viperino para o irmão que fervilhou com um olhar mortal.
— Talvez devesse guardar a língua na boca — Apollo falou em um tom tão afiado e desdenhoso quanto o que o irmão costumava usar.
— Não estou deprimida se é realmente por isso que estamos saindo — Dei de ombros me ajeitando de forma confortável sobre a égua que apenas de mexeu em baixo de mim reconhecendo quem a tocava agora.
— Andreas fala mais do que realmente deveria. Não vamos fazer isso porque acho que está deprimida — Ele subiu no próprio cavalo e olhou para o irmão que não demonstrou reação alguma — Só quero passar um tempo longe da tensão na mansão — Ele deu de ombros partindo na frente, Andreas me olhou e deu de ombros seguindo o irmão, fui logo em seguida alcançando os homens.
Cavalgamos por longos minutos até chegarmos ao cume de uma elevação que se estendia em um enorme campo até o mar. Estávamos na costa e eu sabia disso por causa das longas montanhas com picos inférteis que se seguiam tão longe que mal podia enchergar. Meu tempo na biblioteca tinha me rendido frutos, dentre os livros que li, havia um com um enorme mapa que mostrava toda a Salandria, cada Reino e suas repartições, e eu sabia agora que aquelas montanhas inférteis e distantes era o que dividia o Reino da Primavera do Reino de Outono. Tomei uma longa lufada de ar saboreando o cheiro da terra e do mar e das folhas e flores ao nosso redor.
Desci da égua antes que um dos dois viesse me tirar, provando a eles mais uma vez que sou muito capaz de montar minha égua sozinha. Enquanto eu a prendia em um árvore próxima deixando corda o bastante para que ela pudesse pastar sem restrições no campo gramado, Andreas estendia um lençol grande e dolorosamente branco na grama. Fui até eles depois de terminar meu trabalho com os nós e me sentei no lençol olhando para o céu e deixando o sol queimar minha pele. Andreas deitado logo atrás fazia o mesmo e Apollo havia ido até seu cavalo mais afastado do que o minha égua e o cavalo de Andreas e então voltará com uma cesta um pouco menor do que a que trouxeram com guloseimas nas mãos.
— Está tomando todo o espaço — Ele reclamou com o irmão e só agora percebi que Andreas estava deitado e aberta ocupando uma parte do lençol. Ele grunhiu antes de se sentar e abrir alguns botões da camisa fina expondo aquela cicatriz.
— É um dia para relaxar Apollo, não estrague tudo — Ele falou com os olhos fechados deixando que o sol fizesse sua pele brilhar levemente.
— O que é isso? — Olhei para a cesta que Apollo agora depositou ao meu lado enquanto se sentava ali e abria alguns botões da sua camisa também, expondo o peitoral escupido para o sol, afastei a tentação daquela visão e foquei em seu rosto.
— Tintas — Olhei para ele surpresa e então abri o cesto vendo uma variedade de frascos pequeno com uma diversidade de cores e mais ao fundo, uma variedade de pincéis, sorri maravilhada e ele continuo — Quando fomos a cidade você disse que se lembrou de quando sua irmã te deu tintas, imaginei que fosse querer pintar em algum momento. As telas só chegam amanhã, mas as tintas chegaram hoje. — Analisei as tintas mais uma vez notando cores e tons que eu nunca tinha visto na vida.
— São lindas — Segurei minha emoção diante daquilo e então o abracei deixando um beijo lento e carinhoso em seus lábios e só me afastei quando Andreas emitiu um som de nojo.
— Pela mãe, poderiam ir para baixo do cume? — Ele deitou a cabeça para trás fazendo uma representação dramática de seu incômodo e então abriu a cesta de piquenique tirando de dentro uma garrafa de licor — Achei que não fosse precisar tão cedo, mas como vocês parecem dispostos a fazer meu estômago revirar, que seja bêbado pelo menos — Ele riu erguendo o licor em oferecimento, mas neguei olhando novamente para as tintas maravilhada.
Fazia muito tempo desde a última vez que eu havia pintado. As tintas que Laila me deu em meu aniversário do ano passado haviam acabado quatro meses depois que eu as ganhei. Todo o tempo livro que me sobrava entre a caça e a feira e os afazeres eu pintava. Não havia telas ou folhas, mas haviam as paredes de nosso quarto que estavam cobertas com gavinhas enfeitadas por rosas e alamandas que de estendiam até a porta e então o chão. E haviam um campo de inverno, este pintado na parede acima da cabeceira de nossa cama, um enorme campo de inverno que se estendia até montanhas pálidas e um céu estrelado com uma enorme lua. Este era meu trabalho preferido.
— Acho que vou pintar você Andreas, provavelmente sendo esmagado por algum animal gigante — Ele fez uma careta o que me tirou um sorriso, mas ele não retrucou, apenas bebeu mais do licor e ignorou Apollo e eu sentados a poucos centimentros dele.
— Pode transformar um dos quartos da ala sul em um estúdio, todos eles tem enormes janelas que deixam a luz natural entrar a todo momento — Apollo falou afastando a cesta um pouco para trás e me puxando para seus braços, me aninhei neles respirando fundo e inalando seu cheiro que ainda me fazia estremcer.
— Vou pintar você primeiro — Olhei para ele que olhava com ternura, paixão e algo mais que eu não podia discernir — Os seus olhos exatamente como estavam na nossa primeira noite — Ele exibiu um sorriso de lado e seus olhos transbordaram um desejo que me dizia que ele estava de lembrando dessa noite em específico.
— Pinte Freya e quando terminar, pinte mais um pouco — Ele me aninhou mais aos seus braços e beijou o topo da minha cabeça — Tudo o que quero é que fique comigo, feliz, segura e pintando — Ele me apertou contra seus braços para enfatizar o que dizia e um arrepiou passou pelo meu corpo, um diferente dos que ele geralmente me causava.
Não respondi aquilo, apenas apressiei duas palavras, seja pedido e sua promessa oculta nela. Mesmo com a maldição, com esse baile e com tudo de ruim que poderia acontecer logo logo, tudo o que me importava era aquelas palavras, o pedido para que eu ficasse com ele, a promessa de estar comigo. Eu soube, nesse momento eu soube que tudo ficaria bem, que ele faria as coisas melhorarem. Tudo ia dar certo.
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Atualizado até capítulo 39
Comments
corrinha
na torcida pra que tudo dê certo 🙏🏻🙏🏻🙏🏻👍🏼👍🏼
2023-11-14
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