Dia seguinte na casa de Otilo, durante o café da manhã, Otto expõe
sua frustração.
- Pai, não pode estar falando sério sobre fazer negócios com o Artur, sabemos muito
bem que ele não tem nada a nos oferecer.
- Na verdade ele tem algo do meu interesse sim, ainda não sei se vou investir, mas quero
analisar de perto.
- Não to acreditando que está se referindo aquela tal de Dan, só pode estar
enlouquecendo.
- Tenha mais respeito, Otto.
- Desculpe pai, mas o senhor não está raciocinando direito, viu a cara dela? Talvez até
seja menor de idade.
- Claro que não é.
- Como pode estar tão seguro disso?
- Não a viu dirigindo?
- Nossa pai! Olha o buraco aonde estamos, aqui qualquer um pode dirigir, não existem
regras de trânsito.
Otilo preferiu não discutir, mas estava certo que ela não era menor. Toda aquela
firmeza em seus olhos e em sua voz, não poderiam ser de uma
adolescente.
No fim do dia, como de costume, Dan foi até João para apartar as vacas com ele.
- Boa tarde seu João.
- Boa tarde Dan.
Fizeram todo o trabalho em silêncio, João não é muito de conversar, preferia
ouvir, Dan em geral falava muito com ele, seu único amigo com quem
poderia falar sem se sentir constrangida.
- Está muito calada hoje, Dan.
Ela sempre fica assim quando está com dores, ainda tinha hematomas da surra recente.
- Acho que estou fadigada velhote.
- Da festa de ontem?
- Rum, ontem foi um dos dias mais fáceis da minha vida. Estou cansada é de hoje,
trabalhei na grade o dia inteiro.
- Almoçou?
- Sim.
Mentiu. Seu pai, com bastante frequência a deixava sem almoço, por isso era tão magra.
- Não está com cara de quem comeu direito. Vamos entrar, tem comida.
- Não posso, se eu demorar, meu pai vai ficar chateado.
- Espere um instante.
João entrou rapidamente em sua cozinha e voltou com dois misto-quentes
embrulhados para ela.
- Obrigada velhote.
- Dan…
João não é muito bom com as palavras, especialmente quando quer falar sério.
- Senhor?
- Você sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa, não é mesmo?
- Sim, senhor e sou muito agradecida.
Sorriu grata.
- Eu sei que seu pai não a trata como você merece, mas sei também da sua dependência
emocional, por isso não interfiro, mas se quiser por um fim a isso, basta me dizer.
Dan sorriu novamente, mas seu coração estava apertado e doía bastante. Seus olhos ficaram inundados. Não é a primeira vez que João lhe oferece ajuda, mas como nas demais vezes, ela apenas se vira e segue seu caminho de volta para casa.
João gostaria de
ter falado sobre Otilo também, mas com o semblante triste de Dan ele
perdeu as forças. Ele estava bastante intrigado com o que viu
durante todo aquele dia, como Otilo estava sempre de olho em Dan e
puxando conversa com ela. Artur, sendo o pai que é, não a
protegeria de nada que pudesse fazê-la mal.
Dona Carmem, a
falecida esposa de João era o porto seguro de Dan, tudo que ela sabe
sobre o universo feminino, aprendeu com ela, mas dona Carmem os
deixou há mais de três anos.
A semana passa,
intensa como sempre e logo chega a sexta-feira.
- Estou indo em
Palmeiras buscar a Ávila.
Artur avisa logo
pela manhã quando Dan se organizava para ir trabalhar.
- Quer que eu faça
o almoço, pai?
- Como se tu
soubesse cozinhar alguma coisa. Deixa que eu almoço por lá mesmo
com ela.
De fato, Dan não
sabe cozinhar nada. Ela sempre trabalhou duro lado a lado com seu pai
nas tarefas da fazenda, o máximo que ela faz em casa é limpar e
lavar.
Assim que seu pai
sai, Dan corre em seu quarto e pega seu diário. Quando a irmã está
em casa ela o esconde no celeiro, por medo de ter seus pensamentos
revelados, mas antes de guardar, escreve algumas palavras.
Diário
A minha irmã está
vindo passar o final de semana com a gente, eu nem sabia, mas tudo
bem. Amanhã seria o dia de visitar a fazenda daqueles homens com
quem meu pai conversou durante a vaquejada e eu, sinceramente não
estou com vontade de ir. Agora que Ávila está chegando, meu pai
deve desfazer os planos.
Até breve, diário.
Na hora do almoço,
Dan cozinhou meia dúzia de ovos e comeu, dessa forma conseguiria
trabalhar melhor o resto da tarde, tinha dois rodízios de gado para
fazer e sozinha ficava mais difícil.
Ávila é um pouco
mais alta que Dan, e assim como seu pai, tem pele clara, seus cabelos
são negros e alisados quimicamente. Seus olhos são castanhos, como
seu pai. Ela usa roupas muito justas e está sempre maquiada e
perfumada.
Chegou em casa,
espalhafatosa como sempre. Entrou em sua suíte estilo princesa e já
foi olhando por toda volta para ter certeza de que sua irmã não
violou seu espaço.
- Fiquei muito feliz
que conseguiu vir esse fim de semana filha.
- Ah pai, eu não
perderia a chance de visitar um fazendeiro rico, né? Já estou ansiosa para conhecer a propriedade, ouvi dizer que lá tem até
piscina, já trouxe biquíni e tudo o mais.
- Deve ser bonito mesmo por lá. Quer comer alguma coisa?
- Não pai, me deixa quieta no meu quarto, to morta de cansada.
Ávila empurra seu pai para fora e fecha a porta. Se esparrama em sua cama fazendo mil
planos em sua cabeça para esse fim de semana.
Quando Dan retornou
da casa de João e soltou seu cavalo na pastagem já estava perto de
escurecer.
- Cheguei pai.
Anunciou-se logo que
colocou os pés no batente da porta da cozinha. Tirou suas botinas
pesadas e escorou na parede lateral antes de entrar. Seu pai estava cozinhando o jantar.
- Demorou demais hoje.
Artur reclamou sem direcionar os olhos para ela.
- Perdão, eu demorei demais no rodízio.
- E aí Dan!
- Ávila.
Dan adentrou a
cozinha e lançou seu olhar de desprezo a sua irmã, porém com um
sorriso debochado.
- Continua dando pro velho João? Quando ele vai cansar de você?
Dan sentiu seu rosto arder de vergonha, como Ávila podia se tornar cada dia mais baixa ao
ponto de falar isso na frente do seu pai?
- Precisa de alguma coisa, pai?
- Eu preciso que você lave o meu banheiro.
Ávila tomou a frente.
- Mas eu lavei dois dias atrás.
Retrucou Dan.
- Por isso que está cheio de poeira.
As mãos de Dan estavam doendo após ter sido necessário usar o laço em alguns
novilhos teimosos durante o rodízio de pasto, mas sabia que
contender com Ávila deixaria tudo pior.
- Está bem.
Ávila ainda teve o
prazer de empurrá-la quando as duas cruzaram.
- Pai, a que horas
sairemos amanhã?
- Seria bem cedo,
mas você não acorda filha!
- Nada disso, pra ir
nessa visita eu faço qualquer coisa.
- Até mesmo acordar
as 5 e meia?
- Até mesmo isso
paizinho.
Após terminar sua tarefa e tomar banho, Dan não sabia se era seguro sair do quarto, mas estava faminta e precisava arriscar encontrar um pouco de comida nas panelas.
Chegou na cozinha, seu pai e sua irmã estavam se servindo, parou por 2 segundos e então
resolveu pegar um prato e se juntar a eles.
Ávila sinalizou para o seu pai, porém Artur sabia muito bem que Dan, por mais difícil que fosse crer nisso, era a razão dessa visita acontecer,
não seria inteligente deixá-la dormir com fome e chegar lá no dia seguinte dando vexame.
- Sairemos as 6
horas, esteja pronta Dan.
Artur a avisou antes
de sair da cozinha com Ávila e deixar Dan com a louça para lavar.
- Sim senhor pai,
tenha uma boa noite.
Dan foi a primeira a chegar a caminhonete na manhã seguinte. Ainda faltavam 10 minutos para as 6 horas, pouco depois Ávila e seu pai chegaram, cada um trazia um mochila consigo.
- É pra levar roupas, pai?
Ele não respondeu e rapidamente pegaram a estrada.
Não passava de 30km de uma fazenda a outra e logo estavam na frente do casarão de Otilo.
Ele havia enviado uma equipe de construtores para edificar um casarão antes de vir com seu filho.
Uma casa comprida com dois telhados no estilo antigo, cercado por varandas cobertas. Em uma lateral havia uma área de lazer com piscina e churrasqueira. Essa parte da casa é murada para maior privacidade.
- Bom dia meus convidados, sejam muito bem-vindos!
Otilo se adiantou em cumprimentar os recém chegados.
Artur foi o primeiro a apertar sua mão, seguido por Ávila, a qual o pai fez questão de apresentar.
- Está é minha filha Ávila, ela mora na capital e faz faculdade de contabilidade.
- Ciências contábeis, pai.
Ávila o corrige sem pensar duas vezes.
Dan se aproxima com sua expressão neutra, causadora de tanta curiosidade Otilo.
- Como vai Dan?
Estende a mão para ela. Dan retribuí, mas se arrepende ao sentir seu aperto. Sua mão está mesmo machucada. A luva que usou ontem estava com o furo e por isso a corda escorregou mais fácil e acabou machucando a ponto de criar uma bolha como fosse queimadura.
- Algum problema com sua mão?
Otilo consegue ver sua expressão de dor, além de sentir a aspereza em sua mão. instintivamente leva a outra mão a dela e a abre com certo esforço, ela não quer mostrar.
- O que foi, filha?
Artur se aproxima demonstrando interesse.
- É só uma bolha, nada demais.
Além da bolha, podia se notar o vermelho cruzando sua mão.
- Qual a programação para hoje?
Perguntou Ávila.
- Também quero saber!
Dan fingiu interesse ao notar ali uma oportunidade de desviar a atenção de si mesma.
- Vamos tomar café da manhã e depois vamos conhecer a fazenda.
Responde Otilo.
A mesa foi apresentada na varanda. Uma merda redonda enorme e cheia dos mais variados bolos, pães, frutas, sucos, leite, café. Enfim, um café da manhã de novela.
Ávila de mostra deslumbrada com tudo, assim como sei pai. Dan também está impressionada, mas não expõe nenhum sentimento em seu semblante.
- Está tudo muito lindo, sei Otilo. Não precisava de esforçar tanto para nós receber.
Diz Ávila.
- Não é esforço algum, sentem-se.
Ela o observa sentar e senta ao seu lado. Artur faz o mesmo e senta do outro lado.
Dan se vê sem jeito. Sabe que precisa tirar seu chapéu para se sentar a mesa, mas seu cabelo está todo despenteado e ressecado.
- O que foi Dan? Por quê não se senta?
Otilo perguntou gentilmente.
Dan se apressou, tirou o chapéu e colocou ao pé da cadeira que escolheu para sentar-se ao lado de Ávila.
- Que cabelo horrível!
Sua irmã sussurrou para ela.
Dan não tem o hábito de comer pela manhã e mesmo com tantas coisas gostosas à frente, precisou se esforçar muito para comer um pedaço de bolo de milho.
Artur e Ávila falavam o tempo todo com Otilo, este procurava manter a paciência, embora irritado por não poder prestar atenção apenas em Dan.
No instante em que conseguiu ficar nela novamente, notou seu rosto vermelho e os olhos marejando.
- Dan, o que está havendo?!
Otilo se pós de pé depressa.
Dan levou as duas mãos à boca e se afastou da mesa. Seu pai a mataria se deixasse seu vômito cair, por isso tentava engolir de volta.
Otilo não sabia que ela já tinha vomitado e a levou rapidamente para o banheiro mais próximo.
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Atualizado até capítulo 95
Comments
Silvia Aparecida Ferreira Ferreira
boa noite
minhas amigas
a autora está mostrando o que acontece em algumas família, alguns pais fazem isso com os filhos e filhas, tem sempre uma melhor q a outra, isso as vezes acontecem em algumas famílias viu.
desculpe_ me foi q eu vi desde o começo.
2025-02-20
0
Elis Regina
Aiii gente será que é só eu leio essas partes triste chorando, pior que vou ter que retocar a maquiagem, tô pronta pra ir em um aniversário, enquanto minha irmã não vem tô lendo e chorando 😭😭
2025-01-13
3
Vaninha Almeida
esse tem final ? pq tô cansada de começar a ler livros aqui só pela metade
2025-02-11
0