Capítulo 9

O sol poente lançava sombras longas sobre as lápides silenciosas do Cemitério Morada da Paz, enquanto Eliza corria desesperadamente entre os túmulos. Um grito cortante ecoou pelo ar, chamando a atenção de Débora e Lígia, que se viraram perplexas para encarar a figura agitada de Eliza.

— Eliza? — exclamou Débora, com incredulidade pintada em seus olhos.

— O que está acontecendo aqui? — questionou Lígia, sua voz carregada de confusão.

Eliza se aproximou delas, respirando pesadamente: — Mãe —, disse ela, sua voz trêmula com emoção.

Lígia lança um olhar incerto para Débora: — Desculpe, moça, acho que você está confundindo minha amiga com outra pessoa.

Mas Eliza não recuou. Seus olhos fixaram-se intensamente nos de Débora: — Não, eu sei quem é minha mãe —, insistiu ela com determinação.

Lígia olha para Débora, perplexa: — O que está acontecendo aqui? — perguntou novamente, buscando respostas.

Débora suspirou, enfrentando o olhar confuso de Lígia: — Esta é minha filha, Eliza —, admitiu ela finalmente.

Um silêncio tenso pairou sobre elas enquanto a verdade afundava: — Você tem uma filha? — perguntou Lígia, surpresa e magoada pela revelação tardia.

Débora assentiu, seus olhos marejados com lembranças dolorosas: — Sim, dois —, murmurou ela, desviando o olhar para evitar o peso das memórias. — Mas é uma parte da minha vida que preferi manter enterrada.

O vento sussurrava entre os túmulos, carregando consigo segredos há muito guardados e revelações que mudariam tudo. E assim, no silêncio solene do cemitério, uma história há muito esquecida começava a se desenrolar. Débora e Eliza enfrentavam o peso do passado.

— Os filhos a gente nunca esquece —, murmurou Lígia, ecoando suas palavras no ar carregado de saudade.

Débora sentiu o peso do arrependimento pesar em suas palavras: — Eu sei que foi um erro da minha vida. Agora tenho que ficar a sós com minha filha —, confessou com um nó na garganta.

Lígia partiu, deixando mãe e filha diante do desafio de se reconectar depois de tantos anos de distância.

— Eu sei que você tem milhões de perguntas para me fazer —, começou Débora, preparada para enfrentar a tempestade de emoções que viria.

— Claro que tenho! Você nos abandonou, eu e meu irmão —, acusou Eliza, sua voz carregada de dor e mágoa.

Débora se apressou em corrigir o mal-entendido: — Não, eu não abandonei. Todo mês mandava dinheiro para vocês —, explicou, lutando para ser compreendida.

— Você acha que dinheiro preenche a falta de uma mãe? —, questionou Eliza, desafiadora.

— Claro que não, minha filha. Eu amo você e seu irmão, quero o melhor para vocês —, respondeu Débora, tentando conter as lágrimas.

— Mãe que ama os filhos nunca abandona —, afirmou Eliza, com a voz trêmula de emoção.

Débora respirou fundo, buscando as palavras certas para explicar suas escolhas: — Eu não abandonei. Muitas coisas aconteceram na minha vida que me fizeram sair de Natal —, confessou, revelando apenas a ponta do iceberg de suas angústias.

— Que motivos são esses para você ter fugido de Natal? —, perguntou Eliza, curiosa e desconfiada.

— Motivos que você nunca vai entender —, respondeu Débora, guardando consigo o peso de suas memórias.

— Esses motivos são os mesmos que fizeram o Gustavo fugir de Natal e vir parar aqui? —, indagou Eliza, conectando os pontos de um mistério familiar que parecia crescer a cada revelação.

O coração de Débora batia em descompasso, enquanto a busca por Gustavo, seu filho, a levava à beira do desespero. Suas palavras tremiam quando ela dirigiu sua aflição a Eliza, sua filha mais velha, em busca de respostas.

— Eliza, meu Deus, Gustavo fugiu? Onde ele está? Você já o encontrou? — Débora implorou, sua voz carregada de angústia ecoando pelos corredores da casa.

Eliza, com olhos tranquilos, tentou acalmá-la: — Agora está tudo bem, mãe.

Mas a preocupação de Débora era palpável. Ela não conseguia aceitar a ideia de perder Gustavo: — Se você não conseguir encontrá-lo, eu posso contratar um bom detetive para encontrá-lo —, sugeriu ela, desesperada.

Eliza, no entanto, recusou a oferta com uma determinação incomum: — Não precisa, eu já falei, está tudo bem —, ela insistiu, sua voz soando quase implacável.

A incerteza continuava a assombrar Débora: — Você tem certeza? — Ela perguntou mais uma vez, buscando uma confirmação que pudesse acalmar sua alma aflita.

— Sim, nós não precisamos mais do seu dinheiro —, respondeu Eliza, firme e decidida.

Débora, sentindo-se impotente diante da recusa de sua filha, tentou desesperadamente manter a conversa viva: — Mas, minha filha...

— Eu preciso ir, tenho que trabalhar agora —, interrompeu Eliza, desviando abruptamente o assunto e encerrando a discussão antes que pudesse se aprofundar.

Débora tentou argumentar, mas Eliza concordou apenas em discutir tudo mais tarde, junto com seu irmão.

— Eu vou contar tudo para você e seu irmão —, prometeu Débora, sua voz um sussurro carregado de tristeza e mistério.

Antes de partir, Eliza pediu um abraço, e Débora, emocionada, o concedeu. As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Débora enquanto ela apertava sua filha nos braços, sentindo uma profunda conexão, mas também uma aura de mistério e segredo pairando sobre elas. Eliza deu seu endereço para sua mãe, e se despediu e foi embora, deixando Débora sozinha, com o coração cheio de esperança e medo do desconhecido que ainda estava por vir.

Débora murmurou para si mesma, enquanto observava a figura de sua filha desaparecer na distância: — Espero que meus filhos me perdoem... e que um dia, os mistérios que nos cercam sejam finalmente desvendados.

Um quarto do hospital estava mergulhado em uma penumbra suave, quebrada apenas pela luz fraca emitida pelos monitores e equipamentos médicos. Os sons monótonos e regulares dos equipamentos preenchiam o espaço, criando uma sinfonia mecânica que ecoava pelas paredes brancas. Na cama central, um paciente deitado, envolto em lençóis esterilizados, respirava com dificuldade, seus olhos pesados lutando contra a exaustão.

Ao lado da cama, um monitor cardíaco pulsava em um ritmo constante, suas luzes verdes piscando em sincronia com os batimentos do coração do Gustavo. Ele acorda com a sensação de urgência pulsando em suas veias. Após a cirurgia, seu corpo ainda se recuperava, mas sua mente estava alerta, buscando desesperadamente pela única coisa que importava: a carta com o endereço da mãe. Suas mãos tremiam enquanto revirava os lençóis em busca do papel perdido.

— Onde está? —, murmurou para si mesmo, sua voz ecoando no quarto silencioso do Hospital

Determinado a encontrar a carta, Gustavo se levantou da cama com determinação, ignorando a dor que ainda o acompanhava. Ele sabia que não podia esperar, que precisava sair dali o mais rápido possível. Empurrando a porta do quarto com cautela, Gustavo se viu livre, pelo menos temporariamente. O corredor vazio o acolheu enquanto ele avançava com passos rápidos e silenciosos. Seus olhos escanearam cada canto em busca de enfermeiras ou médicos, mas estava tudo quieto demais.

Com o coração batendo forte em seu peito, ele cruzou a rua movimentada em frente ao hospital, sem se importar com os carros que buzinavam ao redor. Sua mente estava focada apenas em escapar, em encontrar a salvação que a carta representava. Então, uma voz o chamou de volta à realidade. Girando rapidamente, Gustavo se viu confrontado por dois rapazes conhecidos: Cabeça e Garoto. O instinto de defesa o fez recuar, desconfiado e pronto para lutar se necessário.

— Por que tanta pressa? —, questionou Garoto, com uma expressão curiosa e gentil.

Mas Gustavo não queria se envolver com estranhos. Sua desconfiança o mantinha alerta, suas palavras afiadas prontas para se defender.

— Não é da sua conta —, retrucou, seus olhos brilhando com determinação.

Cabeça tenta acalmar os ânimos, oferecendo uma trégua em meio ao caos: — Relaxa, somos só amigos —, disse ele, com um sorriso tranquilizador.

A resistência de Gustavo começou a ceder diante da insistência dos dois rapazes. Talvez fosse melhor ouvi-los, pelo menos por enquanto.

— Por que eu iria com vocês? —, questionou, sua voz carregada de desconfiança.

Cabeça e Garoto trocaram olhares significativos, compartilhando um entendimento silencioso: — Porque você não conhece nada daqui —, explicou Cabeça, com uma nota de compaixão em sua voz. — É melhor você ver.

— Relaxa, a gente não vai fazer nada de mal para você —, acrescentou Garoto, com um sorriso amigável.

Gustavo hesitou por um momento, ponderando suas opções. Finalmente, ele assentiu, cedendo à curiosidade e à necessidade de proteção em um mundo desconhecido.

— Beleza —, murmurou, resignado, enquanto seguia os dois rapazes em direção ao desconhecido.

...{...}...

A noite caía pesadamente sobre uma estação de trem abandonada, onde o silêncio era interrompido apenas pelo eco dos passos de Cabeça, Garoto e Gustavo. O trio se dirigia para um destino incerto, mas unidos por uma amizade improvável. Eles conduziram Gustavo até um vagão abandonado e lhe ofereceram roupas para se agasalhar na noite fria.

Confuso com a generosidade dos dois, Gustavo questionou: — Eu não entendo porque vocês querem tanto me ajudar?

— Para isso que os amigos servem —, respondeu Cabeça com um sorriso solidário.

— Que tal você agora dar uma boa viagem? —, sugeriu Garoto com um toque de irreverência.

Perplexo, Gustavo indagou: — Como assim?

— Relaxa, é só um baseado —, explicou Garoto, enquanto Cabeça concordava, assegurando: — Não se preocupe, você vai gostar.

Gustavo hesitou por um momento, mas acabou cedendo à pressão dos amigos. Com uma única tragada, o aroma pungente da erva invadiu seus pulmões, despertando sensações desconhecidas.

— Então, o que achou? —, perguntou Garoto ansioso.

— Bem... —, começou Gustavo, antes de ser interrompido por Cabeça, que preocupado questionou. — Tá feio demais?

Gustavo confirma com um aceno, e Garoto prontamente se ofereceu para preparar mais um baseado. O ambiente se encheu rapidamente com a fumaça espessa, enquanto Gustavo se via mergulhando em uma experiência completamente nova, em meio à escuridão da noite e à nova amizade "sincera" de seus companheiros.

A pousada para Pneu parecia um oásis, após horas de caminhada exaustiva. Sentado na calçada, os pensamentos de Pneu giravam em torno de uma única questão: onde diabos encontrar Gustavo? Foi quando uma jovem desceu do ônibus e se aproximou do portão da pousada. Pneu se levantou, seus olhos fixos nela. Ela era Eliza, a irmã de Gustavo.

— Você é a irmã do Gustavo? — perguntou ele, esperançoso.

— Sim, sou eu —, respondeu Eliza, curiosa.

Pneu explicou sua situação e entregou a carta da mãe de Gustavo, mas Eliza hesitou.

— Acho que ele não precisa mais dessa carta —, disse ela.

Pneu insistiu em entregar pessoalmente, mas admitiu não saber onde Gustavo estava.

— Daqui a pouco estarei indo para o hospital novamente. Você pode vir comigo e entregar a carta lá —, sugeriu Eliza.

— Posso mesmo? — Pneu perguntou, surpreso.

— Claro que sim, vou levá-lo —, confirmou Eliza.

Decidiram ir juntos, mas antes Eliza percebeu a fome de Pneu.

— Você já comeu hoje? — ela perguntou.

— Não —, respondeu Pneu.

— Vamos então. Eu te ofereço algo para comer enquanto esperamos —, convidou Eliza, com gentileza.

Pneu aceita o convite, grato pela ajuda inesperada de Eliza. Juntos, partem rumo ao hospital, com uma nova amizade começando a florescer entre eles.

O corredor de um hospital se estende como uma serpente sinuosa, suas paredes desbotadas e marcadas pelo tempo testemunham décadas de angústia e desespero. A luz pálida e trêmula dos velhos luminosos mal ilumina o caminho, criando sombras grotescas que dançam nas paredes como espectros famintos. O ar é denso e carregado, impregnado com o eco de passos solitários que ressoam como sussurros sepulcrais.

O silêncio é opressivo, quebrado apenas pelo ocasional zumbido de uma máquina ou pelo eco distante de vozes murmurantes. As portas dos quartos estão fechadas, cada uma escondendo segredos sombrios e histórias de sofrimento. O cheiro de antisséptico misturado com o odor metálico do sangue impregna o ar, criando uma atmosfera sufocante de desesperança. No silêncio angustiante do quarto de Gabi, todos se encontravam perplexos, sem saber como reagir diante da ameaça iminente.

— Estamos sendo ameaçados —, exclamou Gabi, sua voz tremendo de medo.

— Você realmente achava que era outra coisa? —, retrucou Olívia, com um tom de resignação.

— O que essa pessoa é capaz de fazer conosco? —, questionou Thiago, sua mente fervilhando com possibilidades sombrias.

— Então, o que faremos agora? —, indagou Pedro, buscando uma solução para a terrível situação em que se encontravam.

— É simples. Vamos à polícia e denunciamos —, declarou Daniel, com determinação em sua voz.

— Você tem certeza disso? —, Gabi perguntou, sua voz trêmula de incerteza.

— Absoluta. Vamos agora prestar queixa —, respondeu Daniel, já tomando a iniciativa para agir.

Com o coração acelerado e a mente repleta de incertezas, Daniel, Olívia, Pedro e Thiago adentraram a imponente delegacia, buscando respostas em meio à escuridão que envolvia suas vidas. As paredes frias pareciam ecoar seus passos ansiosos enquanto se aproximavam do balcão de atendimento, onde um policial os aguardava com olhos perspicazes e uma expressão séria. Diante do oficial, suas palavras se entrelaçaram em um emaranhado de urgência e desespero, clamando por justiça em meio ao caos que havia se instalado em suas vidas. Entre suspiros nervosos e olhares tensos, a jornada em busca de respostas estava apenas começando, prometendo desvendar segredos sombrios.

A noite pairava como um véu sombrio sobre o hospital, enchendo os corredores com uma atmosfera pesada de mistério. Gabi repousava em seu quarto, envolta na quietude perturbadora que só os hospitais vazios conseguem proporcionar. Então, o rangido da porta anunciou a chegada do Mascarado de LED. Seu coração disparou ao vislumbrar a figura sinistra, seu rosto oculto sob uma máscara brilhante. Um arrepio percorreu sua espinha quando percebeu que algo terrível estava prestes a acontecer.

Com mãos habilidosas, o Mascarado amarrou Gabi, cada nó apertando seu peito com o peso do desespero iminente. Ela se viu presa em uma cadeira de rodas, impotente diante da ameaça desconhecida que a aguardava. O terror apertava sua garganta enquanto ela gritava por socorro, mas suas palavras eram abafadas pelo silêncio sepulcral do hospital. A cada passo, a cada empurrão cruel da cadeira de rodas, Gabi sentia-se afundando mais fundo em um abismo de agonia e incerteza.

Arrastada para fora do quarto, a escuridão da escada a envolveu, seus dedos agarrando-se desesperadamente à corrimão frio e metálico. Mas foi em vão. O Mascarado não mostrou piedade, e Gabi foi lançada no vazio, seus gritos ecoando nas paredes cavernosas do edifício. Seus pedidos de ajuda se dissiparam no ar, diluindo-se na escuridão que engolia tudo ao seu redor. O hospital tornou-se um palco de agonia e mistério, onde o medo sussurrava em cada sombra, aguardando sua próxima vítima.

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