Capítulo 3

O sol espreitava pelas cortinas entreabertas, lançando raios dourados no apartamento silencioso de Lígia e João. Um silêncio perturbador envolvia o ambiente quando Lígia, com a firmeza de quem carrega segredos há muito tempo guardados, adentrou o quarto de Daniel.

— Bom dia, meu filho —, sua voz suave quebrou a quietude. — Eu quero falar com você.

Daniel ergueu o olhar para sua mãe, o coração batendo descompassado, como se já pressentisse o que estava por vir: — Bom dia, mãe. O que a senhora deseja?

A mão de Lígia tremia ligeiramente ao apresentar a evidência: — Daniel, a empregada encontrou essa camisa manchada de sangue e estava dentro da sua bolsa... o que significa isso?

Um congelamento se abateu sobre Daniel, ecoando o som da própria batida de seu coração. Os segundos se esticaram como se o tempo estivesse desacelerando, enquanto ele lutava para articular uma resposta, confrontado pela realidade implacável que agora o envolvia. Ele fitou o líquido avermelhado em suas mãos trêmulas, tentando convencer a si mesmo de que era apenas ketchup. Porém, a expressão preocupada de sua mãe, Lígia, o fez questionar sua própria certeza.

— Como assim, mãe? Isso é ketchup —, tentou ele, buscando uma explicação simples para a mancha em sua roupa.

Mas Lígia não se deixou enganar tão facilmente: — Não, eu sei muito bem o que é. Isso parece sangue!

Daniel engoliu em seco, sentindo um aperto no peito ao ver a preocupação estampada no rosto de sua mãe: — Eu só levei um pequeno arranhão. É só isso! — tentou minimizar a situação.

No entanto, as palavras não foram suficientes para acalmar a mãe preocupada: — E por que você estava querendo mentir para mim? — questionou ela, com uma mistura de frustração e angústia em sua voz.

Daniel baixou os olhos, sentindo o peso da culpa se acumular sobre seus ombros: — Eu não queria preocupar a senhora —, confessou ele, ciente de que suas mentiras não eram uma opção diante da firmeza de sua mãe.

Lígia suspirou, seus olhos fixos no filho: — Você e seu pai sabem muito bem que eu não gosto de mentiras —, lembrou ela, reforçando a importância da sinceridade em sua família.

Com um nó na garganta, Daniel engoliu seu orgulho e se desculpou: — Está certo, mãe. Me desculpe —, murmurou ele, sentindo um alívio momentâneo ao admitir a verdade.

Lígia assentiu, seu semblante suavizando: — Está bem, filho. Qualquer problema, só me falar —, ofereceu ela, deixando claro que sempre estaria ali para ele, não importasse a situação.

Daniel assentiu com a cabeça, agradecido pela compreensão de sua mãe: — Ok, mãe —, respondeu ele, observando-a sair do quarto com um misto de alívio e preocupação.

— Esta foi por pouco —, pensou consigo mesmo, sentindo o peso do segredo em suas costas. — O que eu vou fazer agora?.

Gustavo caminhava pela movimentada Avenida Paulista, seus passos cansados ecoavam entre os imponentes prédios que se erguiam ao seu redor. Em meio à agitação da cidade, ele se via perdido, buscando desesperadamente por pistas que o levassem de volta à sua mãe desaparecida. A fome apertava, e ele se viu obrigado a fazer uma pausa debaixo de uma árvore, onde retirou alguns biscoitos de sua bolsa para saciar a necessidade urgente. Enquanto saboreava os biscoitos, um garoto de aparência juvenil se aproximou. Seus olhos se encontraram, e Gustavo foi surpreendido por uma pergunta direta: — O que você está olhando?

O garoto se apresentou como Pneu, um menino de 14 anos. Uma conversa improvável se iniciou entre os dois. Pneu revelou ter visto Gustavo correndo de algo ou alguém, uma observação que deixou o jovem perplexo.

— O que você viu? — indagou ele, confuso.

— Eu me chamo Pneu, e você?

— Eu sou Gustavo, muito prazer.

— Eu vi você correndo dos cabeças. Eles acham que podem mandar em todos nós, os que vivem nas ruas.

A revelação de Pneu intrigou Gustavo. Traficantes controlavam os moradores de rua? Ele mal teve tempo para processar essa informação quando dois garotos se aproximaram, exigindo uma parte dos biscoitos que Gustavo havia tirado de sua bolsa.

— Olha o Menino da bolsa, divida esses biscoitos com a gente! — provocaram os garotos.

O encontro inesperado na Avenida Paulista estava apenas começando, e Gustavo mal podia imaginar os desafios e aventuras que estavam por vir. Avenida fervilhava com a agitação típica de uma tarde de sábado. Sob a sombra de uma imponente árvore, um grupo de garotos se encontrava envolto em uma discussão acalorada.

— O que é que vocês querem aqui? —, indagou Gustavo, com uma expressão desconfiada.

Pneu levantou as mãos em um gesto pacífico: — Olha, a gente não quer confusão. É melhor nos deixar em paz.

Mas os outros garotos não pareciam dispostos a recuar: — Mas a gente não quer confusão, a gente só quer um pouco desses biscoitos! —, insistiu um deles.

Cabeça, o líder do grupo adversário, encarou-os com um olhar desafiador: — Vocês vão negar o biscoito para a gente?

Gustavo permaneceu firme em sua posição: — Eu já falei e vou repetir, eu não vou dar nada para vocês.

Pneu tentou apaziguar a situação: — É melhor vocês desistirem, antes que façam algo que se arrependam.

Mas antes que pudessem chegar a um acordo, Cabeça e Garoto partiram para cima de Pneu e Gustavo. A violência irrompeu, com empurrões e golpes sendo trocados freneticamente. Desesperados, Pneu empurrou Cabeça, enquanto Gustavo, agarrando um pedaço de pau, desferiu um golpe na perna do outro garoto. O tumulto atraiu a atenção da polícia, que se aproximou da cena com cautela.

— Ei, que confusão é essa? O que está acontecendo aqui? —, questionou o policial, tentando entender a situação.

O sol do fim da tarde tingia o céu com tons dourados enquanto Eliza atravessava apressadamente a rua, seu coração batendo descompassado no peito. O nome de seu irmão ecoava em sua mente como um mantra, impulsionando-a adiante enquanto ela corria em direção à parada de ônibus.

— Gustavo cadê você? —, gritou ela, sua voz misturando-se ao barulho do tráfego e aos murmúrios dos pedestres. Mas seu irmão, como um espectro fugaz, desapareceu nas ruas movimentadas antes que ela pudesse alcançá-lo.

Ofegante, ela retornou à parada de ônibus, resignada por não ter encontrado pistas sobre o paradeiro de seu irmão. Enquanto o ônibus se aproximava, Eliza embarcou, seu rosto marcado pela determinação e pela incerteza do desconhecido. Desembarcando em uma pousada modesta, Eliza conseguiu um quarto com a ajuda da hospedeira simpática, que lhe entregou a chave com um olhar compassivo.

— Aqui está, querida. Espero que encontre o que está procurando — , disse a mulher, tocando levemente o ombro de Eliza antes de se afastar.

Sozinha em seu quarto, Eliza sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros.

— Agora, preciso encontrar um emprego —, murmurou para si mesma, determinada a construir uma base sólida antes de embarcar na busca incansável por seu irmão desaparecido.

Na tranquila sala de estar da mansão de Fernando, a tensão pairava no ar enquanto Gabi se preparava para revelar algo sobre Renner. Fernando, com uma expressão de curiosidade e preocupação, aguardava sua explicação.

— Posso ajudar em alguma coisa? —, perguntou Fernando, rompendo o silêncio tenso.

Gabi respirou fundo antes de responder: — Sim, eu quero falar sobre o Renner.

Antes que Gabi pudesse continuar, o telefone interrompeu a conversa. Fernando atendeu, mas em poucos minutos sua expressão mudou drasticamente, sua face se tornou pálida e lágrimas começaram a rolar por suas bochechas.

— Aí Meu Deus, aconteceu alguma coisa? —, perguntou Gabi, alarmada com a mudança repentina de Fernando.

Com a voz trêmula, Fernando respondeu: — Sim, encontraram meu filho morto.

O choque se espalhou pela sala enquanto Gabi tentava processar as palavras de Fernando: — Você tem certeza? —, perguntou ela, incapaz de acreditar no que estava ouvindo.

Fernando confirmou com tristeza: — Sim, confirmaram o nome dele, o sobrenome. Meu filho está morto.

Gabi expressou suas condolências enquanto Fernando se preparava para lidar com a difícil tarefa de informar sua esposa sobre a terrível notícia. Com a mente girando e o coração partido, Fernando saiu apressadamente da sala, determinado a ligar para sua esposa, que estava longe, organizando um desfile em Paris. Enquanto Fernando enfrentava a dolorosa tarefa de comunicar a tragédia para Débora, a sua esposa, Gabi agiu rapidamente, enviando uma mensagem para todos os amigos, convocando-os a se reunirem na casa de Daniel para apoiar Fernando neste momento de profunda dor e angústia.

O sol estava se pondo quando Gabi chegou ao apartamento de Lígia e João. Ela adentrou o local com uma expressão séria, seu coração pesado com o fardo da notícia que carregava. Sem hesitar, dirigiu-se ao quarto de Daniel, onde o jovem estava mergulhado em pensamentos, perdido em seus próprios devaneios.

— Daniel —, disse ela, sua voz carregada de preocupação. — Você mandou uma mensagem querendo falar com a gente.

— Sim —, respondeu ele, olhando para Gabi com uma mistura de expectativa e apreensão. — Mas onde estão os outros?

— Eles ainda não chegaram —, explicou Daniel rapidamente. — Mas estão a caminho.

Gabi respirou fundo antes de pronunciar as palavras que mudariam tudo: — Eu tenho uma péssima notícia para dar.

As palavras pairaram no ar, carregadas de um peso indescritível. Daniel engoliu em seco, sua mente girando com o que poderia ser tão terrível.

— Que notícia é essa? — perguntou ele, sua voz vacilando ligeiramente.

— Já encontraram o Renner — respondeu Gabi com gravidade.

Um silêncio pesado caiu sobre o quarto, interrompido apenas pelo som da batida do coração de Daniel. Seu peito apertou-se com uma mistura de choque e temor. Não podia ser verdade. Não o Renner... não agora. Congelado no lugar, ele sentiu o mundo girar ao seu redor, enquanto as sombras da incerteza o envolviam. O que isso significava para eles? E o que aconteceria a seguir? O destino deles estava agora nas mãos do destino, e o futuro parecia mais incerto do que nunca.

— Gabi, você tem certeza mesmo? —, Daniel perguntou em um sussurro tenso.

— Sim, eu estava lá quando ligaram para Fernando —, respondeu Gabi, sua voz carregada de ansiedade.

Um arrepio percorreu a espinha de Daniel: — Agora nosso pesadelo vai começar —, murmurou ele, seus olhos refletindo o medo que todos sentiam.

Poucos minutos depois, Olívia, Thiago e Pedro entraram no apartamento, suas expressões uma mistura de confusão e preocupação.

— O que está acontecendo? —, perguntou Olívia, olhando ao redor do quarto em busca de respostas.

— Encontraram Renner —, Daniel anunciou sombriamente.

— Tem certeza disso? —, Pedro questionou, incrédulo.

— Sim, sim, sim —, Gabi confirmou, sua voz trêmula.

— Estamos em apuros agora —, murmurou Thiago, sua mente trabalhando freneticamente em busca de uma solução.

— Daniel, você tem algum plano? —, Pedro perguntou, esperançoso por uma orientação em meio ao caos.

— Eu não sei o que fazer agora —, admitiu Daniel, sua voz vacilante.

Olívia, sempre astuta, interveio: — Eu tenho uma ideia —, anunciou ela, capturando a atenção de todos.

— O que é? —, perguntou Pedro, ansioso por uma faísca de esperança.

— Vamos todos para a casa de Fernando —, propôs Olívia, sua voz firme com determinação.

— Mas por quê? —, Daniel questionou, confuso.

— Eu sei exatamente o que devemos fazer —, respondeu Olívia, um brilho misterioso em seus olhos, sugerindo que ela tinha um plano meticulosamente elaborado.

O sol brilhava forte sobre a pequena cidade litorânea onde Eliza se encontrava. Sentada na cama de seu modesto quarto na pousada, ela se viu imersa em pensamentos sobre como poderia ganhar dinheiro extra. Foi então que uma ideia brilhante atravessou sua mente.

— Vou vender empadas na praia! —, ela exclamou para si mesma, sentindo a empolgação percorrer seu corpo.

Sem hesitar, Eliza se levantou e se dirigiu ao supermercado mais próximo, determinada a colocar seu plano em ação. Lá, ela escolheu cuidadosamente os ingredientes necessários para suas empadas, imaginando o sabor delicioso que iriam proporcionar aos clientes. Com a sacola cheia de ingredientes em mãos, Eliza retornou à pousada com um sorriso no rosto. Ela abordou a dona da pousada e explicou seu plano, pedindo permissão para utilizar a cozinha.

Com um aceno de aprovação da dona da pousada, Eliza se sentiu ainda mais determinada. Rapidamente, ela se dirigiu à cozinha, começando a preparar suas empadas com habilidade e entusiasmo. O aroma tentador começou a preencher o ar, deixando Eliza ainda mais confiante em seu empreendimento. Enquanto o sol se punha no horizonte, Eliza trabalhava incansavelmente na cozinha, sabendo que sua nova jornada empreendedora estava apenas começando.

...{...}...

A manhã despertou com os primeiros raios de sol filtrando pelas cortinas da pequena pousada onde Eliza se estabelecera. Na acolhedora cozinha, o aroma tentador de massa recém-preparada pairava no ar, misturando-se com o cheiro suave de temperos frescos. Eliza, com seu avental de linho manchado de farinha, movia-se com destreza entre os utensílios, preparando suas empadas com cuidado meticuloso. Frango desfiado, camarão suculento, queijo derretido - cada recheio ganhava vida sob suas mãos habilidosas. Enquanto moldava as empadas, sua mente fervilhava com a promessa do dia seguinte.

— Amanhã bem cedo —, ela murmurou para si mesma, um sorriso de determinação brilhando em seus olhos cansados. — Vou começar a vender minhas empadas.

A ideia de compartilhar seu talento culinário com os outros enchia Eliza de alegria e nervosismo. Seria o começo de uma nova jornada, uma chance de mostrar ao mundo o sabor único de suas criações. Com um último toque de perfeição, ela finalizou as últimas empadas e olhou em volta para a cozinha silenciosa. O sol agora iluminava completamente o ambiente, e Eliza sentiu um arrepio de empolgação percorrer sua espinha. Com o coração cheio de esperança, ela cobriu as empadas com cuidado e preparou-se para a noite que viria. Amanhã seria o dia em que sua paixão se transformaria em realidade, um novo capítulo começaria em sua vida, e ela estava pronta para enfrentar o desafio com todo o vigor que tinha.

Na imponente sala de estar da mansão de Fernando, as sombras dançavam nas paredes enquanto Olívia, Pedro, Thiago, Daniel e Gabi aguardavam sua chegada. O ar pesado de suspense envolvia o ambiente, criando uma aura de mistério e tensão. Quando Fernando finalmente adentrou a sala, sua presença dominou o espaço. Seus olhos buscaram os rostos dos presentes, capturando cada expressão com uma intensidade silenciosa.

— Sr. Fernando —, começou Olívia, sua voz firme cortando o silêncio, precisamos falar sobre o que aconteceu com o seu filho

O magnata fitou-os com uma mistura de curiosidade e apreensão: — O que aconteceu com meu filho é uma tragédia —, murmurou ele, sua voz carregada de dor e descrença.

— É sobre essa tragédia que aconteceu com seu filho que viemos falar —, retomou Olívia, determinação marcando cada palavra.

Fernando franziu a testa, seus pensamentos correndo em todas as direções: — E vocês sabem alguma coisa? — ele perguntou, uma ponta de esperança brilhando em seus olhos cansados.

Olívia assentiu solenemente: — Sim, sabemos quem matou seu filho... foi o seu piloto de helicóptero.

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