Capítulo 13

O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas do apartamento, pintando o ambiente com tons suaves de luz. Enquanto Lígia saboreava seu suco verde na cozinha, decidiu levar um pouco para seu marido, João, que estava trancado em seu escritório. Ao se aproximar da porta entreaberta do escritório, Lígia foi surpreendida pelo som de uma conversa que a fez congelar no lugar. A voz de João soava carregada de emoção, dizendo palavras que Lígia não esperava ouvir.

— Eu estou com muita saudade de você. Não vejo a hora de te ver. Te amo muito!

O coração de Lígia disparou enquanto ela processava o significado das palavras de João. Com um misto de raiva e confusão, ela abriu a porta do escritório com força, lançando o copo de suco na direção de João.

— Eu quero saber com quem você estava falando? —, exigiu Lígia, sua voz carregada de indignação.

João, surpreso e atingido pelo copo, olha para Lígia com os olhos arregalados. Ele tentou se levantar da poltrona, mas sua mão estava pressionando a cabeça latejante.

— Nossa. Você quer me matar, é? —, murmurou João, tentando acalmar a situação.

A respiração de Lígia estava acelerada enquanto ela confrontava João, segurando um pedaço de vidro do copo quebrado como uma ameaça silenciosa.

— Calma, Lígia, por favor, para com isso! —, implorou João, tentando se explicar.

Depois de um momento tenso, João finalmente revelou a verdade. Ele estava falando com sua mãe ao telefone. Um misto de alívio e vergonha atravessou o olhar de Lígia enquanto ela baixava o pedaço de vidro.

— Desculpa amor, você sabe muito bem que eu não suporto traição —, confessou Lígia, sentindo o peso de suas suspeitas infundadas.

O clima tenso foi substituído por um abraço reconciliador entre o casal. Lígia se ofereceu para cuidar do pequeno ferimento na cabeça de João, enquanto ele, por sua vez, apagou todas as evidências do incidente em seu celular.

— Esta foi por pouco —, murmurou João consigo mesmo, refletindo sobre o perigo das aparências e a fragilidade da confiança em um relacionamento.

A luz do dia mal conseguia penetrar nas sombras da estação de trem abandonada, criando uma atmosfera sufocante dentro do vagão onde os três amigos se reuniram após uma sessão de roubos. Gustavo, exausto pelo excesso de fumo, afundou em um sono profundo enquanto Cabeça e Garoto cochichavam em meio à penumbra. Foi então que Pneu irrompeu no espaço, sua presença marcada por uma mistura de tensão e determinação.

— Onde está o Gustavo? — sua voz ressoou, cortando o silêncio com urgência palpável.

Cabeça se ergueu abruptamente, a hostilidade em sua expressão revelando-se sem disfarces: — Quem você pensa que é para entrar assim, do nada?

Pneu não se intimidou com a reação agressiva de Cabeça e rapidamente expôs o motivo de sua visita: — A irmã do Gustavo está procurando por ele. Ela está preocupada.

As palavras de Garoto vieram carregadas de ressentimento enquanto ele confrontava Pneu com um olhar incisivo: — Você tem coragem de aparecer aqui depois de tudo que aconteceu?

Ele enfrentou o olhar desafiador de Garoto com uma mistura de cautela e desafio. Enquanto isso, sua mente trabalhava freneticamente, buscando uma maneira de escapar daquele encontro tenso.

Mas Cabeça, sempre pronto para antecipar o próximo movimento, decidiu levar a situação para um novo nível de tensão. Com um gesto calculado, ele retirou um alicate do bolso e o entregou a Garoto com um olhar significativo.

— Vou arrancar sua língua fora! — a ameaça de Garoto ecoou pelo vagão, enchendo o ar com uma energia pesada e palpável.

Pneu sentiu-se encurralado, suas opções se reduzindo rapidamente enquanto ele encarava o alicate nas mãos de Garoto. Em um instante crucial, sua mente ágil procurou desesperadamente uma saída daquela situação perigosa. O que ele faria para escapar ileso dessa encruzilhada sombria?.

Ao chegar na pousada, Eliza caminhou diretamente para o seu quarto, buscando um momento de tranquilidade após um dia agitado. Entretanto, ao abrir a porta, foi recebida por uma surpresa que a deixou sem palavras.

— Mãe? — Eliza exclamou, seu coração se enchendo de alegria diante da figura familiar de Débora.

Débora sorriu ao ver sua filha, irradiando calor maternal: — Eu precisava de você —, ela admitiu suavemente.

Eliza se aproximou, os olhos brilhando de emoção: — É tão bom ver a senhora.

Débora envolveu Eliza em um abraço reconfortante: — Eu posso abraçar você quantas vezes você quiser.

Eliza suspirou, sentindo-se aliviada pelo afeto de sua mãe: — Aí mãe, hoje o dia foi muito cheio!

— É por isso que eu estou aqui —, Débora respondeu com ternura. — Mas me fala, você conseguiu encontrar o seu irmão?

O semblante de Eliza se entristeceu ao mencionar o irmão: — Eu estou com medo —, ela confessou com voz embargada.

Débora apertou Eliza com força, transmitindo seu apoio inabalável: — Medo de quê?

Eliza fechou os olhos, as palavras saindo num sussurro carregado de angústia: — De nunca mais encontrar o meu irmão.

Débora segurou Eliza com ainda mais firmeza, prometendo com determinação: — Vamos encontrar ele sim.

A luz do sol filtrava pelas cortinas entreabertas, banhando o quarto de hospital com uma suave luminosidade. Olívia despertou lentamente, ainda atordoada pela anestesia e pelos acontecimentos recentes. Ela se ergueu na cama, sentindo-se frágil e vulnerável.

Foi quando a porta se abriu, e o médico entrou no quarto com um sorriso gentil no rosto: — Bom dia, Olívia. Como você está se sentindo?

Olívia piscou, tentando se situar. Confusa: — O que aconteceu?

— Eu já avisei aos seus parentes, então pode ficar tranquila! —, disse o médico com um sorriso tranquilizador.

Olívia não conseguia se acalmar: — Não tem como eu ficar tranquila! —, respondeu ela, com preocupação evidente em sua voz.

O médico tentou confortá-la: — Não se preocupe, seus pais já estão a caminho, e você logo estará com eles.

Mas Olívia tinha outra preocupação em mente: — Mas minha saúde está normal, né?.

O médico assentiu: — Sim, você está com uma saúde de ferro. Mas há algo que precisa saber.

A ansiedade de Olívia cresceu: — Tá tudo bem comigo?... Confesso que não estou gostando muito dessa conversa

O médico suspirou, decidindo ser direto: — Quando você chegou, aproveitei para fazer alguns exames adicionais.

Olívia arqueou uma sobrancelha: — E você já tem os resultados?

— Sim —, respondeu o médico com seriedade. — Senhorita Olívia, você está grávida.

Olívia ficou chocada: — Impossível —, murmurou ela, incapaz de processar a notícia que acabara de receber.

— Meus parabéns, você vai ser mãe —, anunciou o médico, irradiando sorrisos enquanto segurava os resultados dos exames.

Olívia, porém, sentiu um misto de surpresa e incredulidade: — Não pode ser. Você tem certeza? —, indagou, seus olhos buscando validação na expressão do médico.

— Sua gravidez foi confirmada em todos os exames —, respondeu o médico com segurança.

Olívia absorveu a notícia com um suspiro surpreso: — Eu estou... surpresa —, murmurou, tentando assimilar a revelação inesperada.

Percebendo a hesitação de Olívia, o médico questionou delicadamente: — Pela sua reação, parece que essa gravidez não foi planejada.

Olívia concordou com um aceno de cabeça: — Não. Mas um filho é uma bênção —, admitiu com um sorriso tímido, deixando transparecer seus sentimentos conflitantes.

O médico, compreendendo a complexidade da situação, ofereceu apoio: — É verdade —, concordou gentilmente, antes de se retirar do quarto, deixando Olívia sozinha com seus pensamentos turbilhonantes.

Enquanto aguardava pelo retorno do médico com seus exames, Olívia mergulhou em reflexões profundas. Como ela iria revelar essa notícia para Daniel? Como seria o futuro agora que uma nova vida estava a caminho? As perguntas ecoavam em sua mente, enquanto o silêncio do quarto hospitalar envolvia-a em uma aura de contemplação e incerteza.

O eco vazio da estação de trem abandonada amplificava os sussurros da tensão no ar. Dentro do velho vagão, Pneu se via encurralado entre os olhares ameaçadores de Cabeça e Garoto.

— Pronto para ficar mudo! — Garoto provocou, enquanto Cabeça exibia um sorriso sinistro.

— Eu já falei que não quero confusão —, suplicou Pneu, encolhendo-se diante da iminente violência.

— Mas eu adoro uma confusão —, retorquiu Cabeça, avançando para segurar Pneu, enquanto Garoto observava com malícia.

Desesperado, Pneu sacou uma carta de seu bolso, lançando-a ao chão antes de fugir do trem. Enquanto Cabeça e Garoto consideravam sua próxima jogada, Gustavo despertou de seu torpor.

— Cabeça, Garoto! Onde vocês estão? — clamou Gustavo, rompendo o silêncio opressivo do vagão abandonado.

Após um tempo chamando em vão, Gustavo encontrou uma carta no chão, revelando o endereço de sua mãe.

— Como isso veio parar aqui? — questionou-se, decidindo seguir imediatamente para o endereço indicado.

Longe dali, Cabeça e Garoto observavam Gustavo partir, debatendo sobre seus próximos passos.

— Para onde ele vai? — indagou Cabeça, incerto do destino de Gustavo.

— Não sei, mas é melhor seguirmos ele —, decidiu Garoto.

E assim, Gustavo se lançava rumo ao desconhecido em busca de respostas sobre seu passado, Cabeça e Garoto o seguiam, mergulhando em um caminho incerto repleto de segredos e perigos.

No tranquilo quarto de Eliza, Débora tentava acalmar a filha, cujos olhos refletiam preocupação e incerteza.

— Não se preocupe, a gente vai achar ele —, confortou Débora, enquanto Eliza exprimia a mudança drástica que sua vida havia sofrido desde a chegada de Gustavo a São Paulo.

— Eu sei, minha filha. Sinto muito mesmo —, murmurou Débora, compartilhando o peso da angústia de Eliza.

Poucos minutos se passaram antes que batidas na porta interrompessem a conversa. Stephanie adentrou o quarto, trazendo consigo uma aura de urgência.

— Desculpe interromper, mas há alguém que deseja falar contigo, Eliza —, anunciou Stephanie.

Quando Eliza indagou quem era, Pneu irrompeu no aposento com uma revelação impactante.

— Vamos agora, sei onde está teu irmão —, proferiu Pneu, carregando consigo a promessa de esperança.

Após compartilhar o endereço, Débora se aproximou do grupo, revelando um fato surpreendente.

— Ele está indo para minha casa —, declarou Débora, unindo-se à determinação de encontrar Gustavo.

Sem hesitar, Eliza, Débora e Pneu partiram em direção à mansão, onde esperavam finalmente reencontrar Gustavo e trazer um pouco de paz ao turbilhão de emoções que os envolvia.

Enquantoisso, Stephanie irrompeu em seu quarto na pousada, o coração palpitando freneticamente, inundado por uma enxurrada de emoções indescritíveis. O impacto da descoberta sobre a possível identidade de Pneu, seu filho desaparecido, a deixou tonta de alegria e incerteza. Seus passos vacilantes ecoaram no silêncio do aposento enquanto ela fechava a porta com um suspiro trêmulo de esperança.

— Meu querido Pneu —, sussurrou ela para si mesma, deixando o nome cair de seus lábios com a reverência de uma promessa de reencontro. A mera possibilidade de que aquele homem fosse seu filho perdido era o bastante para inflamar sua alma com a chama ardente da esperança há muito adormecida.

Com um gesto hesitante, Stephanie acendeu uma vela diante de uma pequena imagem da Virgem Maria, uma reverência silenciosa em direção à divindade que ela acreditava poder guiar seus passos neste momento crucial. As chamas douradas dançavam ao ritmo de seu coração acelerado, lançando sombras vacilantes nas paredes do quarto enquanto ela se ajoelhava em oração.

— Querida mãe, conceda-me a força para enfrentar o reencontro iminente com meu filho perdido —, murmurou ela, suas palavras carregadas de uma devoção sincera e um anseio profundo. Ela sentiu o calor reconfortante da fé abraçá-la enquanto buscava orientação divina para a jornada que a aguardava.

Levantando-se lentamente, Stephanie mergulhou em um mar de pensamentos tumultuados, cada onda de esperança colidindo com as rochas da incerteza.

— Como devo abordar esse encontro? —, questionou ela ao vazio do quarto, suas palavras ecoando com a urgência de uma mãe determinada a recuperar o que lhe fora tirado.

Enquanto a noite avançava, Stephanie permaneceu imersa em suas reflexões, cada momento uma eternidade de antecipação e ansiedade. Cada batida de seu coração era um lembrete constante de sua resolução inabalável de reunir sua família dilacerada. E assim, sob a suave luz da vela, Stephanie aguardou, o brilho da esperança refletindo em seus olhos cansados, enquanto sonhava com o momento em que finalmente estaria frente a frente com seu amado filho perdido.

{...}

Ao chegar em frente à enorme mansão na Vila Nova Conceição, Gustavo foi tomado por uma sensação de admiração e inquietação. A construção imponente se erguia diante dele, envolta em mistério e segredos.

— Será que a minha mãe mora aqui? — Gustavo sussurrou para si mesmo, seus olhos percorrendo as altas torres e janelas sombrias da mansão.

Antes que pudesse tocar a campainha, uma voz o fez estremecer: — Olha vai ser aqui mesmo! — Era Garoto, com seu olhar ardiloso e um sorriso malicioso nos lábios.

Gustavo se virou para encará-lo, surpreso: — O que vocês estão fazendo aqui?

Cabeça se aproximou lentamente, sua expressão sombria aumentando o suspense: — Você acha que vai entrar sozinho?

Garoto apontou para a mansão com um ar de fascínio: — Essa mansão é perfeita, é essa daqui.

Um arrepio percorreu a espinha de Gustavo ao perceber a verdade por trás das palavras de Garoto: — Essa daqui o quê?

Garoto lançou-lhe um olhar desafiador: — Você escolheu essa mansão. Então é esta que nós vamos assaltar.

Gustavo sentiu o coração bater mais forte, enquanto o suspense se intensificava: — O que aguardava dentro daquelas paredes imponentes? E qual era o segredo que a mansão guardava?

Um crepúsculo tingia o apartamento de Lígia e João com tons de âmbar enquanto Daniel adentrava seu quarto, cansado e ansiando pelo refúgio da cama. Entretanto, seus pensamentos foram imediatamente capturados pela figura de Eliza, uma sombra persistente que se agarrava às suas lembranças. Enquanto ele se debatia com suas próprias inquietações, um ruído sutil rompeu o silêncio, emanando do armário escuro. Daniel, com os sentidos aguçados pela paranoia crescente, aproximou-se do móvel com cautela, o coração batendo descompassado no peito. Com um movimento hesitante, ele abriu a porta, mas foi recebido apenas pelo vazio opressivo.

— Que barulho foi esse? —, sussurrou Daniel para si mesmo, uma nota de medo se insinuando em sua voz.

Antes que pudesse ponderar sobre a estranha dissonância, uma voz rouca e inquietante surgiu por trás dele, envolvendo-o em um abraço gelado de pavor. — É o som do desespero —, a voz sussurrou, como se viesse de outro mundo.

O coração de Daniel disparou em seu peito enquanto ele se virava lentamente, deparando-se com a figura sinistra de um mascarado de LED, cujos olhos brilhavam com uma malícia inominável.

— Quem... quem é você? —, gaguejou Daniel, seus lábios secos mal conseguindo formar as palavras diante da presença aterradora.

— Seu pior pesadelo —, respondeu o mascarado com um sorriso enigmático, os contornos de sua máscara dançando nas sombras do quarto. Antes que Daniel pudesse reagir, uma dor aguda e insuportável irrompeu em sua cabeça, e então tudo se tornou escuridão.

Quando a consciência retornou a ele, Daniel estava deitado em uma banheira gélida, o som da água corrente preenchendo o ar com uma cacofonia de medo e incerteza. Ele ergueu os olhos e encontrou o mascarado de pé ao seu lado, observando-o com uma calma perturbadora. Cada gota d'água que caía parecia ecoar como um grito silencioso, anunciando o terrível destino que o aguardava nas sombras daquela noite interminável.

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