Capítulo 5

O sol já começava a despontar no horizonte quando Fernando desabou no chão da Igreja de Santo Antônio, desencadeando uma sequência de eventos que mudariam para sempre as vidas daqueles que ali estavam reunidos para dar o último adeus a um ente querido. Daniel, seu rosto contorcido pela preocupação, observava impotente enquanto João, um homem de feições marcadas pelo tempo e pela sabedoria, corria para socorrer o amigo caído.

— Por favor, afastem-se todos —, clamou João, sua voz carregada de urgência. — Ele está tendo um infarto.

O desespero ecoava pelas paredes da igreja, enquanto Débora, esposa de Fernando, lutava para manter a compostura diante da tragédia iminente.

— Por favor, pai, salve-o —, suplicou Daniel, com lágrimas nos olhos.

Mas João sabia que o tempo era precioso e não podia se dar ao luxo de hesitar. Determinado, ele começou a realizar massagem cardíaca em Fernando, cada compressão uma tentativa desesperada de trazer de volta a vida que se esvaía. No entanto, apesar de todos os esforços, o destino já estava traçado. Com um suspiro resignado, João se afastou do corpo inerte de Fernando.

— Sinto muito, Débora —, murmurou ele, as palavras carregadas de pesar. — Seu marido... ele se foi.

As palavras ecoaram no silêncio da igreja, cortando como lâminas afiadas. Para Débora, era como se o chão se abrisse sob seus pés, engolindo-a em um abismo de dor e desespero. Daniel se aproximou dela, suas próprias lágrimas misturando-se às dela em um lamento silencioso.

— Eu sinto muito —, disse ele, com a voz embargada pela emoção.

Débora olhou para ele, seus olhos vazios de qualquer consolo: — Eu nem sei o que farei da minha vida —, confessou ela, sua voz um sussurro frágil no meio da tempestade emocional que a consumia.

E assim, naquela manhã fatídica na Igreja de Santo Antônio, começava uma jornada de dor e sofrimento para aqueles que ficaram para trás, enquanto o mundo continuava a girar implacavelmente ao seu redor.

O sol mal havia despontado no horizonte quando Eliza começou a arrumar suas empadas na pequena pousada à beira-mar. Enquanto organizava suas mercadorias, uma batida suave na porta anunciou a chegada de Stephanie, sua amiga de longa data.

— Você vai vender as empadas agora? — Stephanie perguntou com um sorriso amigável.

— Sim, quero começar cedo —, respondeu Eliza, ajustando seu avental com determinação.

— Não se apresse. Venda suas empadas com calma. Eu estarei aqui esperando por você —, Stephanie tranquilizou, encorajando Eliza a relaxar.

— Está bem. Espero que todas sejam vendidas. Ou pelo menos metade delas —, Eliza disse com um toque de ansiedade em sua voz.

— Está tudo bem. Boa sorte! — Stephanie desejou sinceramente, transmitindo confiança.

— Obrigada —, respondeu Eliza com gratidão, despedindo-se de Stephanie antes de partir em direção à parada de ônibus.

Enquanto esperava pelo transporte, Eliza sentia a emoção e a incerteza se misturarem dentro dela. Seria aquele o dia em que suas empadas finalmente conquistariam o paladar dos moradores locais e dos turistas? Com um suspiro de determinação, ela embarcou no ônibus rumo à praia, pronta para enfrentar os desafios que o dia reservava e cumprir a promessa das suas deliciosas empadas.

A luz do sol dançava entre as sombras dos carros amontoados, lançando um brilho fantasmagórico sobre o ferro velho de Araújo Sucatas. Cabeça e Garoto, dois jovens enredados no tecido intricado da vida urbana, encontraram-se ali, em um cenário de destroços e segredos ocultos. As vozes deles se misturaram ao ranger metálico dos veículos empilhados enquanto debatiam, o calor da discussão pairando no ar abafado.

— Caramba, o que tu fez com o policial não era para ter feito —, rosnou Cabeça, seu rosto tenso com preocupação.

— Foi preciso. Se a polícia descobrir que a gente já somos de maior, a gente poderia ser preso —, defendeu-se Garoto, sua determinação mascarando qualquer traço de remorso.

A incerteza pairava entre eles, como uma sombra inquietante: — Mas será que ele morreu? —, questionou Cabeça, uma pontada de medo açoitando sua consciência.

— Eu não tô nem aí se ele morreu sim ou não —, respondeu Garoto, sua voz áspera carregada de desafio.

Cabeça suspirou, resignado: — Tá bom. O que você está pensando agora?

Uma chama maligna brilhou nos olhos de Garoto: — Vamos achar aquele Gustavo!

Cabeça franziu o cenho, perplexo: — Mas por quê?

A resposta veio sem hesitação: — Muito simples, aquele Gustavo... ele tem dinheiro. Com certeza ele nos levará à riqueza

Entre os destroços e segredos do ferro velho, os destinos de Cabeça, Garoto, Pneu e Gustavo estavam prestes a se entrelaçar de uma maneira que nenhum deles poderia prever.

Na pacata Igreja Santo Antônio, o ar estava carregado de angústia naquele dia. Daniel, um jovem atormentado por seus próprios demônios, sentiu-se tomado por um terrível ataque de pânico no interior da igreja. Sem hesitar, ele buscou o ar fresco do lado de fora, seguido de perto por Olívia, sua fiel companheira.

— Meu amor, você está bem? —, perguntou Olívia, preocupada.

Daniel soltou um suspiro pesado antes de confessar: — Não. Nós somos culpados de tudo!

Olívia tentou acalmar os ânimos: — Não, nós não somos. O que aconteceu foi um acidente.

Mas as palavras de consolo de Olívia não foram suficientes para acalmar a tormenta interna de Daniel.

— Fernando morreu e a culpa é nossa —, exclamou ele, com os olhos cheios de lágrimas.

Olívia tentou argumentar: — Ele morreu, era a hora dele... ele tinha 78 anos

Mas Daniel recusou-se a aceitar essa realidade: — Não, não, não! —, repetiu ele, em desespero.

Com um misto de agonia e determinação, Daniel partiu em seu carro, deixando Olívia para trás, correndo desesperadamente na tentativa de alcançá-lo, mas em vão. Desanimada, ela voltou para dentro da igreja, onde foi abordada por Lígia.

— Olívia, minha querida. Cadê Daniel? —, questionou Lígia, percebendo a aflição nos olhos de Olívia.

— Ele foi embora, partiu sozinho... para Daniel, este dia está sendo muito louco —, respondeu Olívia, com um peso no coração.

Lígia, compreendendo a gravidade da situação, ofereceu seu apoio: — Você tem razão. Este dia está repleto de acontecimentos perturbadores. Vou cuidar de Débora e, João irá se encarregar do enterro de Fernando.

— Tudo bem... vá, pode ir, eu avisarei para Daniel —, prometeu Olívia, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros enquanto as sombras da culpa pairavam sobre eles.

Na luxuosa sala de estar da mansão de Fernando, o ar estava pesado com a dor e o lamento. Ao adentrar o espaço, Débora não conseguiu conter as lágrimas, deixando suas emoções transbordarem.

— Calma, minha amiga —, consolou Lígia, estendendo-lhe um copo de água com açúcar.

Mas Débora recusou, afirmando: — Eu não quero. Isso que tá acontecendo comigo é castigo!

Lígia tentou acalmar os ânimos, argumentando: — Não, não é. Acidentes acontecem, minha amiga.

Entre soluços, Débora desabafou: — Aí, minha amiga. Se você soubesse que isso é um verdadeiro castigo para mim.

Confusa, Lígia perguntou: — Mas por que você está falando isso?

Débora balbuciou: — Não é nada demais... eu estou delirando.

Decidida a apoiar a amiga, Lígia ofereceu sua presença: — Está bem. Eu vou fazer companhia para você, até João resolver as coisas do enterro do seu marido.

Enquanto ela tentava confortar Débora, Lígia, observando a cena, não pôde deixar de se questionar sobre as palavras enigmáticas da amiga. No entanto, optou por não dar atenção ao assunto naquele momento, guardando as dúvidas para si mesma.

O sol mergulhava lentamente por trás das árvores do Parque Ibirapuera, pintando o céu com tons de laranja e rosa enquanto Gustavo e seu novo amigo, apelidado de Pneu, compartilhavam confidências sob a sombra tranquila de uma antiga árvore.

— Por que te chamam de Pneu? — Gustavo indagou, curioso.

Pneu deixou escapar um suspiro resignado: — O que você acha? Porque sou um pouco gordinho e redondo, imagino.

Com uma expressão compreensiva, Gustavo ponderou: — Mas qual é o seu verdadeiro nome?

— Eu não sei —, Pneu admitiu com um olhar melancólico. — Fui abandonado por meus pais quando ainda era um bebê.

Gustavo sentiu um aperto no coração: — Sinto muito —, murmurou sinceramente.

— Não precisa —, Pneu respondeu com um sorriso forçado. — Mas de onde você veio?

— Sou de Natal, vim para cá em busca da minha mãe.

Pneu acenou com a cabeça, uma ideia brilhando em seus olhos: — Posso te ajudar a encontrá-la. Conheço São Paulo como a palma da minha mão!

— Seria incrível, obrigado! — Gustavo exclamou, um brilho de esperança em seus olhos.

— De nada —, Pneu respondeu humildemente. — Mas você precisa me prometer que vai se manter longe do cabeça e garoto.

Gustavo assentiu prontamente: — Está bem, como quiser.

Ali, sob as copas das árvores antigas, uma improvável amizade florescia. Gustavo encontrara em Pneu um aliado improvável em sua jornada, e juntos, eles estavam prontos para enfrentar o desconhecido.

A brisa marinha acariciava suavemente a costa enquanto o sol se punha lentamente, pintando o céu com tons dourados e rosados. Eliza, com uma boa parte de suas empadas vendidas, decidiu tirar um momento para si mesma na praia, perto das imponentes rochas que se erguiam majestosamente contra o horizonte. Com uma garrafa de vidro em mãos e um pedaço de papel, Eliza começou a escrever. Absorta em seus pensamentos, ela não percebeu a figura de Daniel se aproximando sorrateiramente por baixo da pedra gigante em que ela estava. Um movimento brusco fez com que Eliza perdesse o equilíbrio, e a garrafa que ela segurava acabou atingindo a cabeça de Daniel, que passava inadvertidamente por ali.

— Ouch, o que foi isso? — exclamou Daniel, levando a mão à cabeça.

Eliza, com um misto de preocupação e desculpas, desceu da pedra apressadamente para ajudar Daniel.

— Me desculpe! Eu não te vi ali. — Disse ela, com uma expressão de pesar.

Quando os olhares de Eliza e Daniel se encontraram, algo mágico aconteceu. Em meio ao pôr do sol e ao som das ondas quebrando suavemente na praia, os dois se viram envoltos por uma sensação inexplicável de conexão mútua. Os segundos pareceram se esticar enquanto eles se fitavam intensamente, como se o tempo tivesse decidido pausar aquele momento único. E assim, naquele instante inesperado, o destino começou a tecer os fios de uma história de amor que estava apenas começando a se desenrolar.

— Desculpe-me, não a vi! —, diz Eliza, com uma expressão preocupada ao se deparar com Daniel, que esfregava a cabeça após o choque.

— Você é... é linda demais! —, balbuciou Daniel, tentando recuperar a compostura e falhando miseravelmente.

Um sorriso gentil surgiu no rosto de Eliza, enquanto Daniel tentava se desculpar pela sua trapalhada.

— Desculpa, eu não queria dizer isso... mas... está tudo bem. Estou bem! — disse Daniel, notando o pequeno corte em sua cabeça.

— Você está sangrando, talvez seja melhor irmos ao hospital —, sugeriu Eliza, preocupada.

— Não. Sério, você não precisa se preocupar, já me sinto melhor. — Diz Daniel

— Tem certeza? —, indagou Eliza, demonstrando sua preocupação.

— Tenho sim, está tudo bem —, respondeu Daniel com um sorriso tranquilizador.

Conversa vai, conversa vem, a curiosidade de Daniel foi despertada pela cesta de empadas nas mãos de Eliza.

— Vejo que está com uma vasilha nas mãos, você vende alguma coisa? —, perguntou ele, curioso.

— Sim, estou vendendo empadas. Comecei hoje aqui na praia —, respondeu Eliza, com orgulho em sua voz.

— Incrível! Posso compartilhar um segredo com você? —, propôs Daniel, incentivando a confiança mútua.

— Claro, prometo guardar seu segredo —, respondeu Eliza, intrigada.

— Nunca provei uma empada em minha vida. — Daniel confessou totalmente tímido.

Assim, entre confidências e risadas, nasceu uma amizade ou até um amor improvável, embalada pelo som das ondas e pela brisa do mar, marcando o início de uma jornada repleta de surpresas e descobertas à beira-mar.

A mansão de Débora parecia envolta em um silêncio solene quando João adentrou a sala de estar, onde sua esposa, Lígia, e Débora aguardavam.

— Então amor. já resolveu tudo? —, perguntou Lígia, ansiosa por notícias.

— Sim, o pai e o filho foram enterrados juntos —, respondeu João, com uma calma aparente que mal ocultava a dor.

Débora expressou sua gratidão com um simples: — Muito obrigada —, suas palavras carregadas de uma angústia profunda.

— De nada, se precisar de qualquer coisa é só me falar —, ofereceu João, um gesto de apoio em meio ao turbilhão de emoções.

— Tá certo! —, murmurou Débora, sua voz vacilante refletindo a fragilidade de sua alma.

— Se você precisar, estamos aqui para ajudar —, afirmou Lígia, solidária com a amiga em luto.

— Obrigada mesmo, respondeu Débora, sua voz ecoando pelo espaço vazio da mansão agora sem vida.

Após as despedidas, João e Lígia partiram, deixando Débora entregue aos seus pensamentos sombrios. Sozinha na vasta mansão, ela se viu diante do abismo da solidão. Com um gesto resignado, ela se dirigiu à sua garrafa de Whisky Johnnie Walker, buscando refúgio em um néctar que mal poderia aliviar sua dor. Um copo na mão, ela vagou pela sala, seus passos ecoando no silêncio opressivo que a cercava.

— Perdi o meu filho... agora o meu marido. Estou sozinha agora... o que será de mim? —, sussurrou Débora para o vazio, suas palavras perdidas no eco de sua própria solidão.

O sol brilhava forte sobre a pracinha onde Gustavo e amigo, apelidado de Pneu, se encontravam para uma conversa descontraída. Sentados em um banco de madeira, eles compartilhavam lanches enquanto trocavam histórias. Num momento de curiosidade, Pneu pediu para ver a carta que a mãe de Gustavo havia enviado. Ao examiná-la, uma expressão surpresa se estampou no rosto de Pneu.

— Puxa vida! —, ele exclamou. — Eu conheço esse bairro. Já estive lá para conseguir comida.

Gustavo, intrigado, perguntou: — É sério?

— Sim, é um dos bairros mais ricos de São Paulo —, respondeu Pneu com convicção.

— Rico? Como assim? —, indagou Gustavo, confuso.

— Pessoas com muito dinheiro vivem lá. Sua mãe deve ser uma mulher muito rica! —, explicou Pneu, conectando os pontos.

A ideia parecia absurda para Gustavo. Sua mãe, rica? Parecia impossível. Mas diante das palavras de Pneu, um congelamento tomou conta dele, o som distante de seu coração pulsando em seus ouvidos. Segredos ocultos começavam a emergir, prometendo desvendar mistérios há muito tempo guardados.

A tarde caía sobre a imponente Igreja Santo Antônio, enquanto Olívia, Gabi, Thiago e Pedro se reuniam em frente à fachada centenária. O murmúrio da conversa era interrompido abruptamente pelo aviso de mensagem em seus celulares. Uma única notificação os uniu instantaneamente em um grupo desconhecido no WhatsApp:

"A Hora da Verdade". A tensão pairava no ar quando abriram a mensagem inaugural, revelando um convite sinistro:

"Olá, gostam de mentiras? Mentira tem perna curta. Chegou a Hora da Verdade. Vamos brincar?.

Gabi, a voz da razão, expressou sua inquietação: — Mas o que é isso?

Thiago, o pragmático, respondeu com desconfiança: — Não estou gostando nada disso..

Olívia, sempre tentando manter a calma, tentou minimizar a situação: — Calma minha gente, isso é só uma brincadeira de mau gosto.

Pedro, o cético, discordou: — Ah, pois nem parece. Mas que grupo é este?.

Enquanto consideravam sair do grupo, uma reviravolta aterradora os fez hesitar. Um vídeo macabro foi enviado, revelando a cabeça decepada do piloto do helicóptero.

— Meu Deus. O que é isso? —, exclamou Pedro, horrorizado.

Gabi conectou os pontos com uma revelação chocante: — Este homem é o piloto do helicóptero do Fernando!

Thiago olhou para Olívia com suspeita: — Olívia, foi o homem que você falou para Fernando.

Olívia, perplexa, se defendeu: — Eu não entendo... a culpa não é minha.

A situação se tornou ainda mais sombria quando uma nova mensagem surgiu no grupo, trazendo uma ameaça direta:

"Se pensarem em chamar a polícia ou sair do grupo, as pessoas que amam não vão sobreviver.

A partir de hoje, farão o que eu mandar! Vamos brincar um pouco de Remandinha Mandou"...

Em um instante, o medo tomou conta do grupo, deixando-os sem palavras e sem saber o que fazer a seguir.

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