Morro Do Éden (cancelado)

Morro Do Éden (cancelado)

Capítulo 1

Dias atuais...

Era mais um dia comum e Maria Victória servia café na empresa em que trabalhava,

estava cansada do assédio do patrão, mas temia pedir demissão e ficar sem ter

como sem manter. Ela foi mandada para morar com os tios no Rio de Janeiro – RJ,

mas tem um irmão problemático e que sempre se mete em confusões por onde passa.

Sua família já teve muito dinheiro, mas com a morte do pai as coisas deixaram

de ser como antes e eles perderam tudo o que tinham ao serem despejados de sua

casa.

Maria chegou em casa e seu irmão não estava lá, apenas ela trabalha para

mantê-los e eles moram em um pequeno apartamento alugado. O irmão vive de fazer

trabalhos informais (bicos) e quase nunca pode ajudar com as contas da casa.

– Luíz?

Ela chamou, mas não conseguiu encontra-lo. Maria se desesperou ao ver os

dias passarem e não conseguir encontrar vestígio do irmão, ela decidiu pedir

ajuda da polícia levando as fotos dele.

– Fica calma tchuchuca, seu irmão deve ter ido dar um rolê com alguma mina.

Ninguém se importou com o pedido de Maria, ela resolveu pressionar os amigos

de vida “errada” que ele tinha. Foi até a casa de um deles, o cheiro de erva

estava espalhado pelo ar.

– Eu quero me diga, onde Luíz está?

– Como eu vou saber potranca? O “leke” é teu irmão e não meu!

Ela o agarrou pela camisa sem se intimidar.

– Me dê ao menos uma pista de onde ele pode ter ido, vamos fale logo!

O homem deu mais um trago na droga e respondeu.

– Ele gostava da quebrada do Morro do Éden, erva da boa e barata.

– Morro do Éden. – Ela agora tinha uma pista de onde poderia procurar por

ele.

Maria Victória

Peguei um ônibus para chegar até lá, nunca ouvi falar nesse tal morro. Deve

ser um lugar barra pesada e cheio de bandidos, meu irmão caiu de vez na vida

errada e boa parte disso é culpa de termos ficados sozinhos desde tão cedo.

Como foi difícil para nós dois termos que viver com nossos tios, apesar de

terem cuidado bem e nos dado educação, a falta de ter pai e mãe nos acompanha

onde formos.

Me disseram para descer na rodoviária e pegar um coletivo para lá, eu teria

que descer quatro pontos depois. Eu estava tão cansada, mas fiz de tudo para

não cochilar e perder o destino, cheguei de desci do ônibus. Para subir o morro

eu peguei um moto táxi, percorrendo aquelas vias estreitas, eu pude ver que

aquela comunidade para ser amistosa. Muitas pessoas vendendo seus produtos nas

ruas, crianças empinando pipa e parecia bem tranquilo.

Desci da moto e antes de pagar eu resolvi conversar com o rapaz da moto.

– Eu estou aqui procurando um rapaz, posso te mostrar uma foto?

Ela assentiu com a cabeça e subiu mais o capacete, para liberar melhor seu

campo de visão. Ele olhou atenciosamente para o meu celular e balançou a cabeça

negando.

– Não gata, não vi teu chegado...dou meus “corre” e levo muitos para cima do

morro, mas esse eu não me lembro de ter visto.

– Obrigada moço, estou muito preocupada com ele. E disseram que pode estar

por aqui e ne mesmo a policia quis me ajudar a procurar por ele.

– Vou te mandar um papo reto, aqui não é terra ninguém. Se quer achar teu

camarada vai ter que pedir para o Chacal!

– Chacal? E quem é esse?

– O chefe aqui das quebradas, para achar alguém aqui basta mandar o B.O para

ele e já é.

– Está bem, agradeço pela dica.

Caminhei pelas ruas mostrando a foto dele, mas a impressão que me deu é que

ninguém ali queria me ajudar de verdade.

– Olá, o senhor conhece esse rapaz?

Ele balançou a cabeça negando sem sequer olhar a foto, parei e sentei-me em

um banco. Uma senhora passava e me viu massageando o próprio pé.

– Parece cansada moça, precisa de ajuda?

– Eu vim aqui procurar uma pessoa, mas não estou conseguindo.

– Se quis descansar um pouquinho no meu barraco acho que será melhor do que

aqui nesse banco, lá você pode falar com a minha filha.

– Certo então.

Fui até a casa dessa gentil senhora, ela tem uma filha e conversamos muito

sobre o meu irmão. Ela disse que o havia visto no baile do Paraíso, uma casa de

eventos onde quase todos os dias tem funk e festas.

– Cê vai ter mesmo que pedir ajuda para o Chacal, ele pode pedir aos

camaradas dele para procurar seu irmão. Estou indo para o baile hoje, vem

comigo e aproveita!

– Eu não vim preparada para isso, mas preciso mesmo achar o paradeiro

dele...meu irmão é tudo o que me restou da nossa família.

– Então deixa de caô e vamos, te empresto um vestido.

– Certo!

Eu não queria ir para festa nenhuma, tenho medo desses bailes malucos e de

tudo o que falam que aconteceu dentro deles. Apesar de ter vindo bem novinha

para o Rio, eu não sou de sair e muito menos pelas comunidades mais afastadas.

Ela me deu um vestido super curto e justo de cor preta, tomei um banho e me arrumei

para ir com ela, um carro cheio de caras esquisitos veio os buscar. Eles foram

educados, mas tentaram flertar comigo...a garota que estava comigo logo avisou

a eles que eu não estava ali para curtir e sim, em uma missão de busca.

Uma esquina antes já podíamos ouvir o som alto da música que tocava lá, a

fumaça dos cigarros tornavam tudo ainda mais obscuro, saí do carro descendo o

vestido e ouvindo os assovios de um bando de tarados que nos olhavam.

– Fica fria, meus parças vão cuidar da gente.

Ela me puxou pela não, naquela noite mulher não pagava entrada. Aquela

música alta estava me deixando surda, as luzes fortes, mulheres seminuas

descendo até o chão e mostrando quase tudo em trajes mínimos como o meu.

Música – Adultério (Mr Catra)

Na 4 por 4 o tempo voa

Whisky e Redbull, quanta mulher boa

O p*u ficando duro

O bagulho tá sério

Vai rolar um adultério...

Panram, panraparam panparam,

Paparam panraparam...

– Me leva até o Chacal, por favor! – Eu insisti com ela, n]ao tenho mais

interesse em ficar esse lugar caótico.

Ela pegou uma bebida e avisou aos caras que estavam com ela.

– Vem, vou te levar até o dono da bagaça!

Saímos no meio da galera, um imbecil pegou em uma mecha do meu cabelo, mas

eu saí rapidamente. Alguns bêbados nos falavam obscenidades, mas felizmente não

nos tocaram...passamos para trás do lugar, havia uma porta com um cara mal

encarado na frente.

– Precisamos trocar uma ideia com o Chacal. – Ela disse e ele nos olhou dos

pés à cabeça.

– O “chefia” já tem companhia para essa noite, acho que as gostosas chegaram

tarde demais.

Ela insistiu.

– Não é isso que está pensando, vai dorme sujo...me quebra essa. A mina está

desesperada procurando o camarada dela.

“Dorme sujo” misericórdia, ele pensou um pouco e olhou para os lados.

– Ele está no camarote, pega essas pulseiras...cê sabe como ele é. Então

chega na humildade!

– Faremos isso. – Ele nos deu duas pulseiras de acesso e nos deixou passar,

o camarote tinha algumas pessoas, mas nada muito diferente do que havia lá

embaixo.

Andamos mais um pouco, o cheiro de maconha ali era forte e do cigarro

eletrônico. As mulheres que estavam ali em cima nos olhavam com despeito.

– Ali, o Chacal é aquele.

Ela me apontou onde ele estava, era um homem bonito...estava com os botões

da camisa preta, todos abertos e com um copo de marca famosa na mão. Sobre a

mesa garrafas de bebidas caras e a ostentação parecia ser o sobrenome dele, uma

mulher loira sentada em seu colo e dando um pouco da bebida do copo dela na

boquinha dele. Além de outra morena que estava de pé atrás dele fazendo

massagem em seus ombros.

Que ridícula forma de mostrar poder, tentei chegar perto dele, mas um dos

caras me impediu.

– Onde você vai delícia, deixa seu nome e na fila de espera...aposto que o

Chacal vai adorar tua companhia no próximo rolê.

– Não quero ser uma das cachorras de estimação dele, preciso falar com ele e

o assunto é sério.

– Ih marrentinha, ele não está de serviço. Então é melhor levar seu belo

traseiro daqui.

– Eu vou falar com ele e ninguém vai me impedir!

Eu tentei passar por ele, mas fui carregada para longe.

– Por favor moço, me entenda é um caso de vida ou morte.

Ele me colocou no chão, antes que ele me respondesse alguém nos interrompeu

e era o cara que nos deixou entrar.

– Ou se comporta ou te tiro daqui!

Não me deixaram chegar perto dele e eu comecei a chorar desesperadamente, já

que eu não podia fazer mais nada, passei o tempo todo de longe olhando para

aquele imbecil e as duas que estavam com ele. A garota que estava comigo finalmente

decidiu ir embora e nós fomos para a casa dela, retirei o vestido e vesti minha

roupa. Ter vindo aqui foi um grande erro, chamei um Uber e voltei para casa.

Ainda no baile.

Chacal ouviu dois de seus camaradas comentando sobre a bela jovem que estava

procurando pelo chefe, que certamente ela não era do morro.

– Precisava ver a mina era uma máquina de tão gostosa!

– Ela queria trocar uma ideia comigo? – Chacal perguntou e os dois se

olharam assustados.

– Sacomé chefe, não a deixamos chegar perto e estragar sua festa.

Depois de descobrir mais sobre a tal garota ele estava ainda mais empolgado

em conhecê-la

– Tragam ela para mim e nunca mais tomem qualquer decisão pelas minhas

costas, entendeu?

– Ih chefinho agora tu me apertou, a mina foi embora daqui chorando e P da

vida por que não conseguiu.

– Vire-se, mas eu a quero aqui!

Chacal ficou intrigado com essa moça, por quê estava procurando por ele de

maneira tão insistente, sendo que ele também...

Resolveu saber mais sobre ela...pediu aos moleques do morro para levantarem

informações para ele nos dias seguintes.

– O nome dela é Maria, trabalha na Barra da Tijuca.

– Tragam ela para mim, hoje mesmo e não restam dúvidas de que ela é também

quem eu procuro!

– “Falô chefia” já é!

Maria Victória

Passei o dia com a cabeça totalmente transtornada, pensei em voltar aquele

lugar, mas aquele animal não iria me ouvir de novo. É um bandido sem coração,

entregue a vida errada e fútil que leva...uma pena, por que apesar de tudo ele

é muito bonito. Peguei minha bolsa, saí pelo pátio da empresa em direção ao

ponto ônibus, sempre caminho por vinte minutos até chegar lá. De repente, um

carro parou ao meu lado e de dentro dele um cara tirou os óculos escuros que

usava, logo o reconheci e era o capanga do Chacal que me barrou no dia do

baile.

– Entra no carro! – Ele disse e alguém que estava no banco de trás abriu a

porta para mim.

– Não vou fazer isso, sequer te conheço.

– Você se lembra de mim da quebrada, vamos...eu não tenho o dia todo. – Ele

parecia estar armado, esse tipo de marginal sempre anda preparado para tudo.

Olhei para os lados, mas respirei fundo e entrei no carro. Havia um homem no

banco de trás, uma mulher no banco da frente e era a morena da noite anterior,

nos olhávamos pelo espelho retrovisor e eu estava me sentindo sequestrada. Fui

levada novamente para o Morro do Éden, mas dessa vez para uma casa diferente de

todos os barracos que conheci, era bonita e se destacava entre todas.

– Para o teu bem se esqueça de tudo o que viu aqui no morro! – Ela me deu

aquele conselho e vou acatar, paramos e eu saí do carro.

Eu ainda estava usando meu uniforme do trabalho, entramos naquela casa tão

bonita. Havia um quadro na sala de estar e era de um homem...

– Fique aqui, vou ver se o chefe já está com humor para trocar uma ideia

contigo.

Aquele homem ia sair e eu avisei sem medo.

– Diga a ele que tenho pressa, já vai anoitecer.

Ele sorriu, certamente por ver que eu não sou mais uma boba com as quais

eles estão acostumados a lidar e eu tenho que ser firme se quiser achar aquele

maluco do Luíz.

Fiquei sentada na sala por um bom tempo, ele realmente esperou anoitecer de

propósito.

– Vem marrentinha, o Chacal está te esperando no escritório dele.

Caminhamos mais um pouco pela casa, apesar de ele ser um marginal, a casa

tinha itens de bom gosto. Aquele homem indicou a sala e eu bati na porta...

– Entre!

Ouvi uma voz grave a me pedir, entrei lentamente e ele estava sentando na

cadeira de pernas cruzadas como se fosse o rei da cocada preta!

– Posso? – Perguntei olhando para a cadeira na minha frente, nossos olhares

não se desviavam.

– Então tu é a exaltadinha da festa, joga na roda...o que quer comigo, posso

saber?

– Sim senhor...

– Sem essa de senhor, me chame de Chacal!

– Certo Chacal. – Ironizei. – Estou aqui procurando um homem chamado Luíz,

ele tinha negócios aqui no morro e a dias não aparece em casa.

– Sinto muito gata, mas acho que teu marido deve estar com alguma novinha da

quebrada. Mas relaxa, tendo uma mulher como você logo ele volta para casa!

Os olhos dele foram de encontro a minha boca e subiram aos meus olhos.

– Por favor, eu preciso de ajuda. A polícia não quer me ajudar e ele é meu único

irmão....

Ele sorriu, levantou-se da cadeira e foi até a janela dando uma olhada

rápida para o lado de fora.

– Vai me ajudar? – Perguntei cheia de esperança.

– Posso pensar no seu caso.

Me enfureci, por jogar tão sujo com a dor que estou sentindo? Levantei-me da

cadeira, ou procurar outra forma de encontra-lo e nem que eu tenha que me

ajoelhar aos pés da polícia. Fui em direção a porta, mas ele me segurou pelo

punho e nos olhamos.

– Sabe que pode conseguir minha ajuda, se realmente quiser.

Chacal aproximou seus lábios dos meus, me afastei e fiquei pressionada pelo

corpo dele contra a porta.

– E eu teria que me tornar uma das vadias, que usam uma coleira com seu

nome?

Ele sorriu.

– Tú é muito mais afrontosa do que me disseram, mas sabe de uma coisa? Isso

me excita ainda mais!

Ele me roubou um beijo ardente, eu não queria corresponder, mas meu corpo

não me obedecia e nos comemos aos beijos naquela sala. O empurrei com força

para longe mim e abri a porta, ele voltou e pegou o telefone da mesa.

– Tranquem toda a casa!

Meu coração ficou apertado, eu estava em uma armadilha.

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