Flashback
Sergipe, ano de 2010.
Carlos era um jovem de 18 anos, sua família é bem tradicional na cidade. Seu
pai trabalha duro para manter a família, a mãe é dona de casa e a irmã tem 14
anos e estuda. Ele estava estudando para prestar o vestibular, sonhava em ser
médico e lutava para conseguir uma bolsa de estudos, pois o curso na rede
particular era muito caro.
Era uma segunda-feira qualquer, mas nem tanto assim, seu pai chegou em casa
muito triste e calado.
– O que aconteceu papai? – Ele perguntou aproximando-se dele.
– Problemas no trabalho.
– Porque não pede para sair? Vejo o quanto o senhor se dedica para
aquela fábrica.
– Não posso, você vai estudar e sua irmã em breve também. Não posso
ficar sem trabalho ou vamos passar necessidade.
Ele vê os sacrifícios do pai para manter o sonho da família de ter um futuro
melhor. Alguns dias passaram e a tristeza só aumentava, a mãe de Carlos entrou
em desespero ao descobrir que o marido seria preso por contrair uma dívida com
o banco. Ela relatou em prantos ao filho o que estava acontecendo e por isso o
pai estava tão triste nos últimos dias.
– Isso não pode ser, meu pai não pegaria tanto dinheiro assim e nem
tem motivos para isso!
– Eu só sei que temos pouco tempo para levantar todo esse valor ou seu pai
vai para a cadeia filho.
Esperaram que o pai chegasse do trabalho e o confrontou.
– Por que o senhor pegou tanto dinheiro papai? São quase meio milhão
de reais!
Ele ficou constrangido e tentou encontrar uma resposta plausível.
– Eu não fiz isso filho, pegaram meus documentos e me fizeram assinar. Mas
eu juro que não sabia o que era.
Acreditando que o pai havia caído em um golpe, Carlos tentou pensar no que
fazer.
– Vamos conseguir um advogado para o senhor.
Ele não queria que o pai pagasse por algo que não fez, depois do que
aconteceu o pai dele nunca mais voltou a empresa por sua própria segurança. Mas
isso não adiantou...em uma noite, homens mascarados invadiram a casa e deram
seis tiros no patriarca.
Depois desse crime hediondo, Carlos começou a procurar pelos culpados dia
após dia, sabia que aquele crime tinha acontecido a mando do dono da empresa em
que seu pai trabalhava. Pelo sobrenome descobriu que a família tinha ido para o
Rio de Janeiro, a casa de seus pais foi colocada à venda e ele agora era o
homem da família.
– Vamos nos mudar para o Rio de Janeiro.
Eles partiram para lá, não podiam usar todo o dinheiro que conseguiram com a
venda da casa. Decidiram se unir a algumas pessoas que iriam invadir um
terreno, na noite em que chegaram tomaram um pedaço de terra naquele morro para
chamar de seu. A polícia entrou para tentar coloca-los para fora, sua irmã
acabou baleada e morta, seu corpo foi enterrado nas proximidades. Aquilo
despertou nele ainda mais o desejo de fazer justiça e de transformar aquele
lugar, passou a liderar os moradores e pouco a pouco foram mostrando para a
sociedade sua organização e que não poderiam expulsá-los de lá. Dois anos
depois a batalha na justiça foi vencida pelos invasores do terreno e puderam
oficialmente dar um nome para a comunidade, Carlos à essa altura já era o líder
deles e passou a ser chamado de Chacal.
– O nosso morro é o nosso Paraíso, o Morro do Éden!
A violência era quase nula naquela favela, os moradores se conheciam e
cuidavam uns dos outros. Porém as atividades ilícitas sempre estavam presentes,
Carlos queria ser muito rico para conseguir encontrar aquele homem e passou a
comercializar armas e drogas...apesar de não fazer uso delas. Sua mãe morreu
alguns anos depois de causas naturais, a casa dele era uma verdadeira mansão
construída no centro do morro.
Sua influência entre a comunidade era enorme, sempre um novo morador
chegava, precisava pedir permissão a ele. As brigas entre facções eram mediadas
por ele, traduzindo em meias palavras...ele é o dono da porra toda!
Alguns anos mais tarde, era dia de baile no Morro do Éden. Chacal tinha que
estar presente em todos eles para ditar as regras, naquela noite, havia
escolhido duas companhias femininas...ele sempre achou que ter uma só mulher
poderia dar a falsa impressão de que ele estava sob o comando do sexo oposto.
Entrou no baile ovacionado como um rei e em meio a aplausos, todas as mulheres
gostariam de ser acompanhantes dele por uma noite e estar no camarote comendo e
bebendo do bom e do melhor.
Chegou ao camarote, só depois dele a música podia começar a tocar. Ele
sentou-se em sua cadeira especial para provar de suas caras bebidas, umas horas
depois notou uma pequena confusão entre um de seus parças, mas não quis saber o
que acontecia, pois eles manteriam o controle da situação. Voltou para casa,
uma das garotas lhe fez sexo oral e ele mandou que fosse embora, telefonou para
seus subordinados.
– Como estão as coisas por aí?
– Ele está dominado chefia e do jeito que queríamos.
– Conseguiu que ele fale o paradeiro do pai? – Chacal perguntou a ele.
– Ainda não Chacal, já quebrei a cara desse filho da puta e ele insiste que
o pai morreu.
– Continue e tente tirar desse miserável se ainda resta alguém da família.
– Sim chefia, já é!
Ele dormiu e no dia seguinte, soube da confusão com a garota que procurava
por ele, sempre foi amante das belas mulheres e saber que uma jovem de fora
insistia tanto em buscar por ele o excitou. Pediu aos moleques informações
sobre ela e logo chegaram para ele poucos dias depois, juntando as informações
com as que ele já tinha sobre Luíz, ele soube que Maria era irmã dele.
– Ela veio para mim, isso é muito melhor do que eu pensava!
Pediu que os seus subordinados a procurassem no trabalho e trouxessem para
ele, agora poderia ter os dois filhos de seu maior inimigo em suas mãos.
Flashback off
Maria Victória
Ele mandou que fechassem toda a casa, fiquei desesperada e ninguém sabia
onde eu estava. Voltei para dentro da sala e o vi ajeitar o telefone de volta
no gancho.
– Por que mandou que fechassem a casa? – Perguntei dando passos para trás,
mas ele vinha em meinha direção.
– Não precisa ficar bolada, se for boazinha as coisas poderão ser menos
complicadas entre nós.
– Não existe “nós” e se você se aproximar eu quebro a sua cara!
Ele sorriu e me abraçou forte contendo meus braços com força, eu não
conseguia me mover. Fui levada por ele até a parte debaixo da casa, fiz tanta
força que ao me soltar eu acabei caindo com tudo no chão. Olhei para o meu lado
e vi uma cadeira, meu irmão estava nela...todo ferido e amarrado.
– Seu animal maldito, por que fez isso com ele?
– Seu irmão não é tão bom rapaz quanto você pensa gatinha, ele me deve uma
nota em drogas e vadias do bordel!
– Isso não é motivo para o agredirem assim, me fala quanto ele deve e eu vou
fazer qualquer coisa para pagar tudo. Anda, fala! – Gritei.
– Seria capaz de tudo mesmo novinha?
Eu chorava alisando o rosto de Luíz, ele estava desmaiado e suas mãos
estavam brancas de ficarem tanto tempo amarradas sem o sangue circular.
– Por favor, me deixa cuidar dos ferimentos dele. Prometo negociar com você,
eu não ganho muito, mas juro por Deus que posso conseguir...
– Não vale a pena derramar suas lágrimas por esse noiado, já sabe por que
está aqui...agora venha comigo.
– Não se atreva a me tocar de novo, eu só saio daqui depois que limpar os
ferimentos dele e vê-lo acordado.
Ele ficou irritado, cerrou os punhos e me olhou, mas eu me mantive firme.
– Dessa vez você venceu, mas nosso papo será definitivo assim que eu voltar!
Ficamos dentro daquela sala e ele nos trancou, consegui desamarrar as mãos
do Luíz e ele caiu no chão. Puxei seu corpo para meu colo, logo depois abriram
a porta novamente e um dos capangas dele jogou um kit de primeiros socorros
para dentro da sala e nos trancou novamente.
– Fica calmo, eu vou cuidar de você!
Levantei-me um instante e peguei os materiais, joguei um pouco de água
oxigenada nos ferimentos da testa dele e Luíz gemeu de dor.
– Que dor do caralho!
– Vejo que já está melhorando, por que veio parar nesse lugar? Como se
envolveu com tantas coisas erradas?
– Me perdoe maninha, mas os caras da quebrada me convenceram a entrar nessa.
– Estamos perdidos nas mãos desse traficante, mas agora é tarde demais para
lamentar.
– Eu não queria que você estivesse aqui Maria, vou implorar para que ele te
libere...a culpa de toda essa merda é só minha!
Consegui limpar os ferimentos dele e passar alguns remédios, o deixei
deitado no chão e fui verificar ao nosso redor para tentar encontrar uma saída.
Esse maldito lugar não tem sequer uma janela, certamente é uma sala feita
especialmente para torturar os inimigos.
– Eu não sei como mana, mas vou te tirar desse inferno.
– Não pense nisso agora, temos que nos manter vivos! – A porta foi aberta,
nos trouxeram comida. – Eu quero falar com Chacal mais uma vez.
– O chefe vazou mais cedo para resolver umas paradas.
– Então diga a ele quando voltar, por favor.
Nos trancaram novamente, dei comida para Luíz e ele sentia muita dor para
mastigar. Nos acomodamos como como pudemos para dormir naquele chão frio e
mesmo com o medo acabamos adormecendo. Fui despertada bruscamente com o grito
do meu irmão ao ter sua mão pisada por um dos capangas de Chacal, não suportei tanta
maldade e fui para cima dele dando uma porção de tapas e ele estava prestes a
me agredir.
– Deixa-a em paz!
– Mas chefe essa piranha me desafiou...
– Dane-se, saia daqui e deixe-me sozinho com os dois. – Chacal nunca falava
duas vezes e o homem saiu me olhando feito uma fera.
Ele se sentou em uma cadeira de frente para nós dois.
– Vai nos deixar sair? – Perguntei cheia de esperança de que toda aquela
tortura com meu irmão os tivesse deixado satisfeitos.
– Depende do nosso acerto de contas.
– Você não tem que negociar com ela, a dívida é minha e não da minha irmã. –
Luíz tentou ficar de pé, mas a dor o fez sentar novamente no chão.
– Olhe para você mano, está o pó da rabiola e ainda tem a cara de pau de me
exigir alguma coisa. – Chacal sorriu.
– Eu só estou assim por que teus cães de guarda me moeram no pau, mas um dia
nós dois ainda iremos nos resolver mano a mano.
Fiquei com medo de que Luiz piorasse tudo ainda mais.
– Por favor parem com isso, se veio aqui para conversar e negociar nossa
saída então é o que faremos. O que você quer para nos deixar sair? Aqui nesse
buraco eu nem eu e nem poderíamos juntar o dinheiro para te pagar o que ele
deve.
– Está certa marrentinha, mas eu tive uma ideia para te fazer levantar essa
grana. Só vim aqui saber se está disposta a tudo...
– Ela não vai ser sua prostituta! – Luíz gritou revoltado.
– Pare com isso, ele ainda não disse o que vai ser. Estou disposta a tudo
que não manche a minha honra.
Ele sorriu e apenas saiu da sala, meu coração ficou muito pior do que antes.
Acho que dessa vez irão decidir nos matar, não irão os deixar sair daqui depois
de ver seus rostos e sabermos o que fazem para ganhar a vida.
– Aquele miserável vai te querer como mais uma cachorra dele, eu sei que
vai.
– Pare de se torturar com isso, eu não quero morrer e nem quero que você
morra. Então termos que fazer sacrifícios e eu preciso do seu apoio!
[...]
Ainda naquele dia os capangas de Chacal tiraram Maria Victória de dentro do
quarto, ela foi levada para um dos quartos comuns da casa.
– Quero que vista isso! – Deram a ela uma roupa vulgar e cheia de brilhos de
cor vermelha.
– Não vou vestir isso.
– Se eu fosse você, não tentaria bancar a esperta...veste logo isso
cachorra.
Maria não teve escolha, depois de se vestir, ela foi levada para um outro
lugar no morro. Era casa iluminada e com som alto, mas não parecia ser um
baile...
– Chacal te mandou fazer bem o trabalho de vadia, só assim vai conseguir
levantar o que deve para ele. E já sabe, se bancar a esperta ele vai mandar
cortar a língua do teu irmão.
Maria Victória
Entrei chorando naquele lugar horroroso, as mulheres no colo dos homens e
seminuas como eu estava. Minha honra será morta nessa noite, mas não posso
deixar Luíz nas mãos desses loucos, sempre fui tão reservada sexualmente e
agora vou ter que transar por dinheiro. As mulheres me olhavam com raiva,
parecia que eu estava ali para tomar o trabalho delas, fiquei em um cantinho e
orando para que não me visse.
– Já temos um trabalho para você tchutchuca, carne nova no pedaço é sempre
assim...vem comigo!
Me empurraram para dentro de um dos quartos, olhei ao redor e não tinha
nenhuma janela aberta.
– Tú inaugurou com sorte morena, pagaram o melhor quarto que temos...você
vai dar para o líder da CAM (comando das armas no morro).
A alguns metros dali...
Chacal estava em seu quarto com mais um de suas amantes, ela se abaixou para
abrir seu zíper.
– Acho que você anda tenso chefinho, vou te ajudar a relaxar na minha
garganta!
O pensamento dele estava em Maria e naquele beijo que deram em seu escritório,
sua doçura e forma segura como o enfrentou.
Chacal
A essa hora já deve estar na cama com outro, será de muitos e isso me fará
cobrar um pouco do que o miserável do pai dela fez a minha família. Mas a
maldição é que eu não tiro aqueles olhos escuros da minha cabeça, não posso
sentir compaixão por aquela cachorra...não posso.
[...]
A mulher que estava com ele iria começar o sexo, mas ele a empurrou e ela
caiu sentada. Chacal fechou seu zíper e pegou a camisa, estava apressado.
– O que foi, fiz algo errado?
Ele sequer respondeu e saiu bem rápido indo em direção a sala da casa, subiu
na moto e acelerou para a casa da luz vermelha, desceu e foi entrando
rapidamente. Ao chegar, as mulheres ficaram atônitas com a presença e loucas
para serem escolhidas por ele já que ele não costumava pegar nenhuma das
prostitutas de lá.
– Saiam da frente vagabundas...
Ele passou indo em direção a dona do lugar e queria uma resposta rápida.
– Eu quero saber, onde ela está?
– A bonitinha que trouxeram? – Ela sorriu. – O morcego está com ela no
quarto!
Chacal engoliu seco.
– Em qual quarto ela está?
– Não pode fazer isso...
Ele agarrou a mulher pelo pescoço encostando-a na parede, mostrando a arma e
todas as mulheres da casa ficaram assustadas.
– O que eu não posso fazer hein, me diga sua coroa fodida de merda?
A mulher ficou apavorada e gaguejou para responder, mas estava diante do
todo poderoso da comunidade.
– No primeiro quarto depois da escada.
Ele saiu correndo para encontrar Maria Victória antes que fosse tarde demais.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
jeovana❤
babaca idiota nojento os filhos ñ tem culpa dos erros do pai
2024-12-05
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