Capítulo 17

Uma nova forte tempestade atinge a região de Manaus, em que Maria Victória e

Chacal estavam hospedados e com muita intensidade próxima ao hotel fazenda, as

gotas da chuva invadem aquela cova rasa, fazendo com que a terra amoleça e

molhe o seu rosto ele. Chacal então desperta desesperado sem poder respirar e

começa então a unir todas as forças que ainda possui, para escalar aquela terra

tentando fugir.

Gravemente ferido e perdendo muito sangue, mas tudo o que vinha a sua mente

era poder sair daquele lugar e salvar a mulher que amava. Depois de se debater

e fazer muita força para retirar a parte da terra que cobria o seu corpo a mão

dele surge de dentro da terra enlameada.

Ele renasce de dentro daquela vala...consegue se arrastar para o lado, a

chuva então lava parcialmente a lama do seu corpo, mas os ferimentos a bala não

deixavam de sangrar nem por nenhum só um momento.

Chacal se arrasta, mas estava muito fraco e cansado, acaba desmaiando mais

uma vez.

Maria Victória acorda do desmaio e percebe que aquilo não havia sido um

pesadelo, ela estava mesmo presa e nas mãos daqueles homens que haviam acabado

com a vida de Chacal a poucos instantes, ela então olha ao seu redor.

Estava dentro de um pequeno avião, cercada por aqueles caras estranhos e o

desespero tomou conta de seu coração, ela começou a se debater correndo em

direção a cabine. Eles precisavam contê-la ou todos poderiam morrer e nessa

luta corporal, ela acabou batendo a testa em um dos bancos e ficou ferida, eles

então não tiveram outra alternativa a não ser mantê-la amarrada durante toda

aquela viagem.

Karina percebia como o Luiz estava diferente, ter recebido parcialmente o

poder das mãos de Meia-noite estava subindo a cabeça dele e se sentia

verdadeiro braço direito do novo dono do Morro do Éden.

Ela havia recebido atendimento médico e felizmente iria se recuperar com um

pouco de repouso, Meia-noite logo levou os seus empregados para que formassem

conta da mansão que agora era sua, Luiz pediu para que Karina e ele tivessem um

quarto e ele pudesse tomar conta da irmã, como havia sido desde o começo.

Muitas pessoas do Morro do Éden não acreditavam no que estava acontecendo,

pois a notícia que davam a eles, era de que Chacal havia abandonado o morro e

os CAM assumiram para não deixá-los desamparados...fazendo-os passarem de

monstros usurpadores de poder, para verdadeiros salvadores.

Chacal além de ter sido morto naquela covarde emboscada, ainda estava tendo

sua memória pisoteada por aqueles homens levianos.

Maria Victória

Acordei com uma terrível dor na testa, passei a minha mão sobre a fronte e

assim que eu olhei para minha mão percebi que havia sangue, eu estava deitada

em um dos bancos do avião e minhas mãos estavam amarradas. Aqueles homens

horríveis olhavam para mim sorrindo o tempo inteiro, senti que o avião pousou e

eu queria me sentir aliviada por isso, mas não, toda a dor que eu trazia no meu

coração jamais me deixaria em paz. Chacal, assim ele era conhecido para todo o

mundo, mas para mim, ele foi apenas Carlos um homem que me deu carinho e

conseguiu ganhar o meu coração em tão pouco tempo.

—  Já é gatinha, chegou a hora de você voltar ao seu palácio, mas dessa

vez para conhecer um novo rei!

Eles me pegaram novamente e fui colocada dentro de um carro.

— Cacete você tinha que bater nessa mulher? Meia-noite vai cortar as suas

bolas por causa disso, ele deixou bem claro que queria a cachorra inteira!

—  Coé é mermão! Preferia o quê? Que eu a deixasse derrubar o avião com

a gente dentro imbecil?

— Chega de discussões, ele está esperando a encomenda, então apressem seus

traseiros, tá ligado!

Algumas horas depois, chegamos até a mansão era tão estranho para mim estar

de volta àquela casa, mas sem ter Chacal junto comigo. Cheguei a pensar que nós

nunca mais voltaríamos para aquele lugar e eu não sentiria a menor falta de

tudo que eu vivi aqui, a não ser as lindas noites de amor que tive com ele.

Antes de ser levada para dentro, um daqueles homens se aproximou de mim

segurando uma gaze embebida em alguma solução para fazer a limpeza do meu

ferimento na testa, ele passou aquilo de maneira tão ríspida e eu senti muita

dor.

— Novinha em folha, acho que agora podemos cair dentro!

Entramos naquela mansão, eu temi o que encontraria e estranhei também que

Karina não estava para abrir a porta. Me colocaram sentada no sofá e poucos

minutos depois, eu vi algo que me fez pensar que eu estava realmente presa em

algum tipo de pesadelo totalmente fora da realidade, porque era impossível que

aquilo estivesse acontecendo. Realmente não podia ser verdade que Luiz estava

descendo aquelas escadas, totalmente recuperado e bem vestido, eu só acreditei,

assim que ele me tocou e começou a desamarrar as minhas mãos.

— Eu sei maninha, tenho muitas coisas para explicar a você, mas fica fria e

tente se acalmar.

— E Karina onde ela está?

— Se recuperando de um pequeno acidente, mas você já vai saber de tudo.

Momentos depois, um homem negro, alto, forte e com algumas manchas

embranquecidas em sua pele, também descia as escadas como se fosse o dono

daquela casa e ele me olhou e Sorriu vindo em nossa direção.

—  Quem ele é? — Eu perguntei.

Luiz não me respondeu, acho que deixou para que aquele próprio homem se

apresentasse.

— Pode me chamar de Meia-noite Maria Victória, meus camaradas e eu te

conhecemos muito bem. Talvez você não se lembre muito disso, mas já conheceu o

meu irmão...foi o próprio que Chacal matou para te salvar no bordel. Deve estar

bolada, como ele era branco e eu sou negro, éramos filhos de pais diferentes,

mas isso não tira o fato de que ele e você derramaram o sangue errado. Então,

cabe a mim restabelecer as regras deste lugar, teu brother e eu já conversamos

sobre as novas regras do morro.

— Não existe mais nada que me prenda a esse lugar e se quiser me matar para

se vingar do que aconteceu, então faça isso eu estou aqui na sua frente!

Ele negou com a cabeça.

— A sua vida eu já tenho em minhas mãos tá ligada, o que quero procurar você

é muito melhor. Aceite ser minha esposa!

Impossível, jamais enquanto estiver sã eu permitirei que alguém me toque de

novo muito menos, um assassino como esse que tirou a vida do homem que eu amo,

Luiz Parece estar ao lado dele e eu nem quero pensar que meu irmão esteja

envolvido nesta trama terrível para tirar a vida de Carlos.

— Mate-me se quiser eu não me importo!

Ele olhou para o meu irmão e eu sei que ele o usaria para me intimidar.

— Esfria a cabeça pequena, eu não tenho pressa para ouvir a sua resposta,

enquanto isso, o meu palácio continuará sendo a sua casa e leve sua irmã para o

quarto que ocupava.

Luiz me levou nos braços, eu ainda estava muito fraca depois de me debater

contra aqueles homens e ter vivido o pior dia de toda a minha vida, ele me

levou para dentro e então, eu peguei uma toalha para tomar um banho e apenas

olhei para ele.

— Não quero acreditar que você esteja do lado desses homens.

— Caraca maninha, só estou tentando nos manter vivos!

[...]

Meia-noite  ficou impressionado com a beleza dela, estavam mais do que

justificados os motivos que levaram Chacal a perder a cabeça para proteger

aquela mulher, pensou em ir até o quarto da jovem e conseguir tudo o que

queria, mas ele era astuto e sabia que não bastaria tê-la apenas por uma noite

e por obrigação, ele queria criar uma situação que ela levasse a pedir por ele

e pouco a pouco Maria se esqueceria de Chacal e de todas as coisas que haviam

acontecido em sua vida, antes de te conhece-lo.

Maria Victória não conseguia dormir, fechava os seus olhos e ainda parecia

ouvir o som daqueles tiros e o gemido dele seguido do som do seu corpo caindo

no chão.

Como ela não estava conseguindo adormecer de maneira, nenhuma então ela foi

procurar por Karina no antigo quarto em que ela ocupava, mas não encontrou,

então ela caminhou em direção ao quarto de Luiz a porta está aberta. Ela entrou

e ficou surpresa e assustada ao ver que Karina estava ferida sobre aquela cama

e com as pernas imobilizadas.

— O que aconteceu com você? —  Maria Victória perguntou assustada, se

aproximando da cama.

Karina então se acomodou melhor e olhou para a porta com medo de que alguém

as ouvisse naquela conversa particular.

— Meia-noite!

— Foi aquele miserável que fez isso com você, não é justo, ele já se vingou

de Chacal e agora eu estou aqui para que ele termine com tudo de uma vez. não é

certo que queira fazer mal a todos vocês para me atingir.

Maria Victória começou a chorar revoltada inconformada com aquela situação,

Luiz chegou com um copo d'água que Karina havia pedido para ele.

— Olha para ela Luiz, como você tem coragem de se curvar a um líder como

esse maldito?

Luiz ficou envergonhado.

—  Eu sei que você está irada pelo que aconteceu, mas não tenho direito

de me julgar, pois estava nos braços de um homem que queria nos destruir.

— Sim eu caí nos braços dele com a intenção de salvar a sua vida, mas eu me

apaixonei por ele de verdade e isso não é culpa de ninguém. Isso é uma situação

completamente diferente de estar ao lado de um verdadeiro animal como esse

homem e se sentir feliz com a merda de poder que ele te dá.

Um forte desejo de vingança invadiu o coração de Maria Victória, se ela

permanecesse naquele lugar seriam apenas por dois motivos: se vingar da morte

do homem que amava e tentar livrar o morro do Éden daquele demônio que havia

conseguido se tornar o ditador de regras.

Ela ajudou a cuidar de Karina durante aquela noite, não conseguiria mesmo

pegar no sono de maneira nenhuma, Maria Victória passou pelo antigo quarto de

Chacal que percebeu que Meia-noite estava ocupando aquele lugar, já tentando

usurpar tudo o que era dele e aquilo, apenas para enchê-la ainda mais de

revolta.

Os homens de confiança dele, naquela noite haviam recebido o pagamento pelo

trabalho bem-sucedido o que nenhum deles imaginava, era que Chacal ainda estava

vivo naquela mata.

Em Manaus...

Às 5:00 da manhã do dia seguinte, alguns ribeirinhos passaram por aquela

região e um garoto que andava ao lado do seu cachorro precisou correr atrás

dele, ao farejar o local que chamou muito a sua atenção por um longo tempo, o

garoto então correu até lá viu um sapato retirou alguns arbustos e logo viu

Chacal deitado. Completamente ferido e parecia estar morto, o garoto se

aproximou dele para farejar e o menino ficou assustado e tentou puxar o

cachorro pela coleira, assim que o cão se mexeu sobre as pernas de Chacal ele

gemeu e pediu ajuda.

— Por favor, não me deixe aqui!

Ele então abre os olhos de repente e olhou para todas as direções, pensando

e quem poderia pedir ajuda, aquelas pessoas já haviam se afastado. Ele era

apenas mais um garoto órfão a quem ninguém daria ouvidos, mas ao mesmo tempo,

não queria deixar aquele homem para trás. Ele foi até o rio que era próximo

dali, encheu uma vasilha com água e levou para Chacal, jogou um pouco em seu

rosto para deixa-lo mais desperto e depois aproximou dos lábios dele, ele tomou

aquela água rapidamente.

Ele então, juntou um pouco das forças que tinha e rasgou um pedaço do tecido

da camisa que eu usava e com ele, apertou dando um nó firme em volta da cintura

sobre um dos seus ferimentos no abdômen. O menino ficou com pena da expressão

de dor que ele havia feito e haviam muitas perguntas que ele gostaria de fazer,

mas naquele momento, ele apenas se calou para ver o que aquele homem faria

disposto a salvar sua própria vida.

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