Capítulo 3

A consciência de Chacal não o deixaria em paz, depois de ter mandado Maria

para o bordel à força para pagar aquela dívida. Ele tentou entrar no quarto,

mas a porta estava fechada por dentro com chave.

Maria Victória

De repente a porta foi aberta e um homem de uns quarenta anos entrou, ele

usava uma regata branca e tinha um alargador na orelha. Ele sorriu para mim e

trancou a porta, colocando a chave sobre um móvel e eu teria que passar por ele

para pegar. Fiquei apavorada com aquele homem asqueroso, ele veio com tudo para

cima de mim e era todo malhado e forte. Eu estava perdida, não havia como sair

e eu o vi passar a chave na porta.

– Espero que seja mesmo boa no serviço, novinha!

– É um engano, não se aproxime de mim. Não sou prostituta! – Gritei, mas a

música lá fora estava tão alta que não adiantou muito para intimidá-lo.

– Vamos deixar de caô piranha, estou pagando uma nota para comer e não tenho

tempo para mi mi mi! Vá logo tirando a roupa se não quiser que te rasgue ela

inteira no corpo.

Aquele era o meu fim, se esse nojento me tocar eu estou morta. Comecei a

gritar feito louca por socorro, fui até a janela e tentei abrir. Senti ele me

pegar pela cintura e jogar na cama, rasgou minha blusa deixando meus seios à

mostra.

– Por favor não, não! – Eu já estava chorando muito e meu corpo todo tremia

de horror...senti uma dor forte na boca e vi o punho dele fechado afastando-se

do me rosto, de repente a porta foi arrombada.

– Afaste-se dela. – Era o Chacal, o homem que tentava me pegar a força abriu

os braços e sorria para ele.

– Não ferra comigo Chacal, eu paguei por essa vadia e paguei caro.

– Saia de perto dela!

– Ela é das suas? Não sabia que agora tu exigia fidelidade de piranha. – Ele

sorriu e Chacal o puxou para longe de mim, só naquele momento eu vi que meus

seios estavam quase para fora e eu tentei me cobrir com as mãos.

Chacal deu uma surra nele, depois mais homens dele vieram e terminaram de

acabar com aquele homem. Deram um tiro nele bem na minha frente e eu gritei ao

ver o último olhar de vida dele, senti pena por ser uma vida que estava sendo

tirada assim.

– Eu quero ir para casa! Eu só quero ir para casa! – Eu repetia

incessantemente, cobrindo meu corpo e eu sentia uma dor forte na boca e aquele

soco deveria ter feito um grande estrago.

Chacal veio perto da cama, enquanto os outros tiravam o corpo daquele homem

e limpavam o sague do quarto.

– Vem comigo. – Ele tentou tocar em mim, mas eu me afastei.

– Você é um monstro!

– É assim que me agradece por acabar com aquele merda por você? Queria que

ele te pegasse de jeito ou o que?

Comecei a chorar ainda mais, ele tirou a jaqueta de couro e me cobriu.

– Vamos sair desse puteir*.

Eu estava frágil, tenho medo dele, mas tenho medo de ficar aqui também. Ele

me pegou os braços e saímos do bordel sob os olhares de todos que estavam lá,

ele subiu na moto e eu subi atrás. Aquele lugar tinha o cheiro de morte e eu

nunca vou me esquecer de tudo o que eu vivi ali, chegamos novamente na casa

dele. Me puxou pelo punho com firmeza e fomos até um dos quartos...

Ele me trancou lá, acho que é o quarto dele. É muito grande e bonito, parece

daqueles de novelas e certamente ele pagou para que alguém o decorasse. Toquei

meu lábio e vi o sangue na ponta do meu dedo.

– Ai...

Chacal chegou, afastou minha mão do meu rosto e aproximou um algodão no meu

lábio ferido.

– Vai me deixar ir embora com o meu irmão?

Ele se enfureceu com a minha pergunta e eu pude ver em seu olhar.

– Limpe o ferimento, se quiser tem um espelho logo ali. Fica na tua e não me

cause mais problemas...

Meus olhos foram inevitavelmente para o telefone ao lado da cama em que eu

estava sentada e ele acompanhou meus pensamentos.

– Eu não vou tirar nada do lugar em que está, se ligar para a polícia eu

apago o teu irmão, tá ligada? Meus camaradas e eu, encontraremos vocês, seja

aqui no paraíso ou no inferno em que se esconderem.

– Sim senhor!

– Senhor tá no céu, é Chacal para você.

Levantei-me fui até onde ele indicou que havia um espelho, era um banheiro

muito bonito. Cheio de LEDs e hidromassagem, já imagino o tipo de lazer que ele

tem aqui e com que tipo de vira-latas, limpei minha ferida e o lábio já estava

ficando inchado.

Demorei uns minutos lá, eu queria deixar de ficar olhando para ele ou

discutindo. Pensei em chamar a polícia, mas meu irmão estava preso naquele

lugar e eu não quero arriscar a vida do único da família que ainda me resta.

Saí do banheiro, mas ele já não estava no quarto e havia uma bandeja com comida

e água sobre o móvel.

Estou com muita fome, mas não comer pensando no Luíz.

[...]

Chacal desceu as escadas e logo viu um de seus subordinados esperando por

ele e com uma expressão de pavor no olhar.

– Tu apagou o...

– Eu tive que fazer! Tá com medo? – Chacal sorriu irônico.

– Chacal, o cara era o líder.

– E daí? Nenhum deles me assusta, se está se borrando...pega tua erva e vai

vender em outra freguesia.

– É que eles não vão deixar isso assim barato.

– Deixa que eles venham, eu tenho uma bala para o rabo de cada um deles. Se

só veio aqui me chutar o saco já pode ir!

– Os camaradas querem saber o que fazer com o irmão da bonitinha.

– Os dois ficarão aqui no meu ninho, vá cuidar dos negócios e dos meus

inimigos eu cuido pessoalmente. Quando aos CAM, manda chupar o cano da minha

arma!

Chacal saiu para resolver uns negócios no Morro do adeus, ficou dentro do

carro enquanto um de seus homens fazia uma importante venda por lá. Os

aviõezinhos trouxeram o dinheiro e levaram os malotes para dentro da comunidade

e depois disso ele voltou para casa, já tarde da noite. Entrou em casa, seu

primeiro pensamento era em Maria e que ia encontra-la em seu quarto. Ele abriu

a porta e a viu de pé apenas olhando para fora e observando o morro todo

iluminado e a beleza do Rio de Janeiro à noite.

– Tu é mesmo forte gatinha, achei que ia te encontrar dormindo! – Ele olhou

para o móvel e a comida que havia pedido que trouxessem para ela estava ainda

intocável. – O filho da mãe te bateu tão forte que não pode comer?

– Eu não quero nada, nada até poder falar com o meu irmão.

Chacal não gostava de vê-la se preocupar tanto com o irmão ao invés de si

mesma.

– Esquece dele e pense em você, aquele trouxa não merece que fique pensando

nele. Coma e trate de pensar em como me pagar o que ele deve!

– Por favor, me deixa ir para onde ele está. – Suspiro de angústia. – Eu nem

sei se ainda está vivo...

As lágrimas dela eram de muita preocupação e ele viu que não poderia

vencê-la pelo cansaço.

– Ele ainda está vivo, mandei levarem comida.

– Luíz é a única família que eu tenho, Chacal eu já entendi que não posso

fazer nada contra o poder que você tem nesse lugar. Eu só quero poder sair

daqui com o meu irmão, lá fora eu posso trabalhar e ele também...

Ele sorriu.

– Acha que servindo cafezinho, vai poder me pagar o que o vacilão me deve?

Além de tudo, eu tenho umas gravações dele que certamente você ia adorar.

– Como sabe o que eu faço lá fora? Meu irmão deve a você a quanto tempo? –

Maria Victória ficou com muito mais medo do que poderiam fazer com ele ali e

caso tivesse se envolvido com o tráfico, deixando provas contra si mesmo.

– Tempo o bastante para eu saber o tipo de laia dele! Coma isso e pense se

quer mesmo sair daqui com ele.

Chacal encerrou o assunto com ela e tirou toda a roupa, ficando totalmente

nu e Maria virou-se de costas envergonhada e assustada.

– Vou tomar um banho, enquanto você come e pensa direitinho.

Maria Victória

Ele não vai nos deixar sair enquanto eu não der um jeito de pagar,

Deus...como eu posso aceitar viver em um lugar assim? Eu preciso de forças para

não vender a minha alma a esse monstro. Um tempo depois, Chacal saiu do banho

de cabelos molhados, tirou o roupão ficando nu novamente e eu o evitava o tempo

todo.

– O filho da mãe te acertou em cheio mesmo novinha.

Ele se referia ao inchaço da minha boca, ele viu que a comida estava igual.

– Já que não quis entrar no banho comigo, comece a me pagar o que deve aqui.

Com a boca inchada ou não, sei que ela deve causar loucuras.

– Esse tipo de trabalho eu não faço e mesmo que me mate!

Chacal correu para cima de mim, estava nu e ainda molhado, derrubou-me na

cama e deitou-se em meu corpo...

– Essa sua coragem ainda vai te ferrar e muito. – Ele segurou meu queixo bem

perto da sua boca, seu hálito quente me aquecia.

– Eu sei do que você é capaz, já disse que eu estou disposta a trabalhar

para pagar a dívida do meu irmão. Se quiser que venda suas porcarias eu vou

vender, mas eu quero que o deixe sair daquele lugar horrível e ir para casa.

– Você tem um bom coração mina, mas vai se dar muito mal por causa dele.

Ele saiu de cima de mim, vestiu-se e saiu me puxando pelo braço até onde

Luíz estava preso. Me empurrou para dentro e eu abracei bem forte, mais uma vez

nos trancaram juntos.

Luíz verificou meu ferimento.

– Machucaram você, cacete! Por minha causa devem ter feito coisas

abomináveis...

Ele chorava muito de remorso, mas eu o acalmei.

– Eu estou bem, me agrediram, mas não conseguiram fazer nada do que

pretendiam. Eu negociei com ele, Chacal vai te deixar sair em troca dos meus

serviços.

– De jeito nenhum, não aceito que seja a cachorra dele!

– Não, isso nunca, eu vou trabalhar em outras coisas. – Abaixei o meu olhar,

mas Luíz levantou meu rosto para que o olhasse nos olhos.

– Vendendo erva e pó?

– Se for necessário, sim!

– De jeito nenhum, eu assumo meus B.O e quero que vá para casa. Deixe que esses

fodidos me matem se quiserem.

– Você sabe que eu daria minha vida por você, se não me deixarem te

salvar...então sou eu que morrerei sem você.

Ele é mais do velho do que eu dez anos, eu reproduzi nele um amor paternal.

Sempre foi o meu exemplo e agora estar ali por causa das escolhas erradas que

ele fez me machucava muito.

Luíz chorou e nos abraçamos forte, minutos depois, abriram a porta e um

homem nos trouxe comida e água. Era uma bandeja farta e o bastante para nós

dois, respirei aliviada ao saber que ele estaria alimentado naquela noite e só

assim eu pude comer também.

– Você deve mesmo ter convencido aquele miserável, eu não como a dois dias e

quando os arrombados me traziam alguma coisa era um pão seco e água.

– Então vamos aproveitar que o coração dele está menos “peludo” hoje.

– Manda a real para mim Maria, o que fizeram contigo lá fora?

– Me levaram para um bordel, ele queria que eu me vendesse para pagar a

dívida. Mas não se preocupe, eu não lutaria até a morte, mas não permitiria que

tocassem em mim.

– Por isso te feriram assim!

– Chacal invadiu o quarto quando um deles tentava me violentar e o matou.

– Por que esse idiota te salvaria? Certamente por ele quer ser o seu dono,

ele não perdoa mulher nenhuma do morro.

– Mas comigo ele não vai conseguir nada Luíz, vamos dar um jeito de pagar o

que você deve e vamos sair daqui. Mantenha a fé.

[...]

Luíz sabia que não seria assim, se Chacal a escolheu para ser uma de suas

amantes...os dois só sairiam dali depois que ele conseguisse isso.

Mais populares

Comments

jeovana❤

jeovana❤

qual sera a verdade spbre os pais deles?

2024-12-05

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!