A consciência de Chacal não o deixaria em paz, depois de ter mandado Maria
para o bordel à força para pagar aquela dívida. Ele tentou entrar no quarto,
mas a porta estava fechada por dentro com chave.
Maria Victória
De repente a porta foi aberta e um homem de uns quarenta anos entrou, ele
usava uma regata branca e tinha um alargador na orelha. Ele sorriu para mim e
trancou a porta, colocando a chave sobre um móvel e eu teria que passar por ele
para pegar. Fiquei apavorada com aquele homem asqueroso, ele veio com tudo para
cima de mim e era todo malhado e forte. Eu estava perdida, não havia como sair
e eu o vi passar a chave na porta.
– Espero que seja mesmo boa no serviço, novinha!
– É um engano, não se aproxime de mim. Não sou prostituta! – Gritei, mas a
música lá fora estava tão alta que não adiantou muito para intimidá-lo.
– Vamos deixar de caô piranha, estou pagando uma nota para comer e não tenho
tempo para mi mi mi! Vá logo tirando a roupa se não quiser que te rasgue ela
inteira no corpo.
Aquele era o meu fim, se esse nojento me tocar eu estou morta. Comecei a
gritar feito louca por socorro, fui até a janela e tentei abrir. Senti ele me
pegar pela cintura e jogar na cama, rasgou minha blusa deixando meus seios à
mostra.
– Por favor não, não! – Eu já estava chorando muito e meu corpo todo tremia
de horror...senti uma dor forte na boca e vi o punho dele fechado afastando-se
do me rosto, de repente a porta foi arrombada.
– Afaste-se dela. – Era o Chacal, o homem que tentava me pegar a força abriu
os braços e sorria para ele.
– Não ferra comigo Chacal, eu paguei por essa vadia e paguei caro.
– Saia de perto dela!
– Ela é das suas? Não sabia que agora tu exigia fidelidade de piranha. – Ele
sorriu e Chacal o puxou para longe de mim, só naquele momento eu vi que meus
seios estavam quase para fora e eu tentei me cobrir com as mãos.
Chacal deu uma surra nele, depois mais homens dele vieram e terminaram de
acabar com aquele homem. Deram um tiro nele bem na minha frente e eu gritei ao
ver o último olhar de vida dele, senti pena por ser uma vida que estava sendo
tirada assim.
– Eu quero ir para casa! Eu só quero ir para casa! – Eu repetia
incessantemente, cobrindo meu corpo e eu sentia uma dor forte na boca e aquele
soco deveria ter feito um grande estrago.
Chacal veio perto da cama, enquanto os outros tiravam o corpo daquele homem
e limpavam o sague do quarto.
– Vem comigo. – Ele tentou tocar em mim, mas eu me afastei.
– Você é um monstro!
– É assim que me agradece por acabar com aquele merda por você? Queria que
ele te pegasse de jeito ou o que?
Comecei a chorar ainda mais, ele tirou a jaqueta de couro e me cobriu.
– Vamos sair desse puteir*.
Eu estava frágil, tenho medo dele, mas tenho medo de ficar aqui também. Ele
me pegou os braços e saímos do bordel sob os olhares de todos que estavam lá,
ele subiu na moto e eu subi atrás. Aquele lugar tinha o cheiro de morte e eu
nunca vou me esquecer de tudo o que eu vivi ali, chegamos novamente na casa
dele. Me puxou pelo punho com firmeza e fomos até um dos quartos...
Ele me trancou lá, acho que é o quarto dele. É muito grande e bonito, parece
daqueles de novelas e certamente ele pagou para que alguém o decorasse. Toquei
meu lábio e vi o sangue na ponta do meu dedo.
– Ai...
Chacal chegou, afastou minha mão do meu rosto e aproximou um algodão no meu
lábio ferido.
– Vai me deixar ir embora com o meu irmão?
Ele se enfureceu com a minha pergunta e eu pude ver em seu olhar.
– Limpe o ferimento, se quiser tem um espelho logo ali. Fica na tua e não me
cause mais problemas...
Meus olhos foram inevitavelmente para o telefone ao lado da cama em que eu
estava sentada e ele acompanhou meus pensamentos.
– Eu não vou tirar nada do lugar em que está, se ligar para a polícia eu
apago o teu irmão, tá ligada? Meus camaradas e eu, encontraremos vocês, seja
aqui no paraíso ou no inferno em que se esconderem.
– Sim senhor!
– Senhor tá no céu, é Chacal para você.
Levantei-me fui até onde ele indicou que havia um espelho, era um banheiro
muito bonito. Cheio de LEDs e hidromassagem, já imagino o tipo de lazer que ele
tem aqui e com que tipo de vira-latas, limpei minha ferida e o lábio já estava
ficando inchado.
Demorei uns minutos lá, eu queria deixar de ficar olhando para ele ou
discutindo. Pensei em chamar a polícia, mas meu irmão estava preso naquele
lugar e eu não quero arriscar a vida do único da família que ainda me resta.
Saí do banheiro, mas ele já não estava no quarto e havia uma bandeja com comida
e água sobre o móvel.
Estou com muita fome, mas não comer pensando no Luíz.
[...]
Chacal desceu as escadas e logo viu um de seus subordinados esperando por
ele e com uma expressão de pavor no olhar.
– Tu apagou o...
– Eu tive que fazer! Tá com medo? – Chacal sorriu irônico.
– Chacal, o cara era o líder.
– E daí? Nenhum deles me assusta, se está se borrando...pega tua erva e vai
vender em outra freguesia.
– É que eles não vão deixar isso assim barato.
– Deixa que eles venham, eu tenho uma bala para o rabo de cada um deles. Se
só veio aqui me chutar o saco já pode ir!
– Os camaradas querem saber o que fazer com o irmão da bonitinha.
– Os dois ficarão aqui no meu ninho, vá cuidar dos negócios e dos meus
inimigos eu cuido pessoalmente. Quando aos CAM, manda chupar o cano da minha
arma!
Chacal saiu para resolver uns negócios no Morro do adeus, ficou dentro do
carro enquanto um de seus homens fazia uma importante venda por lá. Os
aviõezinhos trouxeram o dinheiro e levaram os malotes para dentro da comunidade
e depois disso ele voltou para casa, já tarde da noite. Entrou em casa, seu
primeiro pensamento era em Maria e que ia encontra-la em seu quarto. Ele abriu
a porta e a viu de pé apenas olhando para fora e observando o morro todo
iluminado e a beleza do Rio de Janeiro à noite.
– Tu é mesmo forte gatinha, achei que ia te encontrar dormindo! – Ele olhou
para o móvel e a comida que havia pedido que trouxessem para ela estava ainda
intocável. – O filho da mãe te bateu tão forte que não pode comer?
– Eu não quero nada, nada até poder falar com o meu irmão.
Chacal não gostava de vê-la se preocupar tanto com o irmão ao invés de si
mesma.
– Esquece dele e pense em você, aquele trouxa não merece que fique pensando
nele. Coma e trate de pensar em como me pagar o que ele deve!
– Por favor, me deixa ir para onde ele está. – Suspiro de angústia. – Eu nem
sei se ainda está vivo...
As lágrimas dela eram de muita preocupação e ele viu que não poderia
vencê-la pelo cansaço.
– Ele ainda está vivo, mandei levarem comida.
– Luíz é a única família que eu tenho, Chacal eu já entendi que não posso
fazer nada contra o poder que você tem nesse lugar. Eu só quero poder sair
daqui com o meu irmão, lá fora eu posso trabalhar e ele também...
Ele sorriu.
– Acha que servindo cafezinho, vai poder me pagar o que o vacilão me deve?
Além de tudo, eu tenho umas gravações dele que certamente você ia adorar.
– Como sabe o que eu faço lá fora? Meu irmão deve a você a quanto tempo? –
Maria Victória ficou com muito mais medo do que poderiam fazer com ele ali e
caso tivesse se envolvido com o tráfico, deixando provas contra si mesmo.
– Tempo o bastante para eu saber o tipo de laia dele! Coma isso e pense se
quer mesmo sair daqui com ele.
Chacal encerrou o assunto com ela e tirou toda a roupa, ficando totalmente
nu e Maria virou-se de costas envergonhada e assustada.
– Vou tomar um banho, enquanto você come e pensa direitinho.
Maria Victória
Ele não vai nos deixar sair enquanto eu não der um jeito de pagar,
Deus...como eu posso aceitar viver em um lugar assim? Eu preciso de forças para
não vender a minha alma a esse monstro. Um tempo depois, Chacal saiu do banho
de cabelos molhados, tirou o roupão ficando nu novamente e eu o evitava o tempo
todo.
– O filho da mãe te acertou em cheio mesmo novinha.
Ele se referia ao inchaço da minha boca, ele viu que a comida estava igual.
– Já que não quis entrar no banho comigo, comece a me pagar o que deve aqui.
Com a boca inchada ou não, sei que ela deve causar loucuras.
– Esse tipo de trabalho eu não faço e mesmo que me mate!
Chacal correu para cima de mim, estava nu e ainda molhado, derrubou-me na
cama e deitou-se em meu corpo...
– Essa sua coragem ainda vai te ferrar e muito. – Ele segurou meu queixo bem
perto da sua boca, seu hálito quente me aquecia.
– Eu sei do que você é capaz, já disse que eu estou disposta a trabalhar
para pagar a dívida do meu irmão. Se quiser que venda suas porcarias eu vou
vender, mas eu quero que o deixe sair daquele lugar horrível e ir para casa.
– Você tem um bom coração mina, mas vai se dar muito mal por causa dele.
Ele saiu de cima de mim, vestiu-se e saiu me puxando pelo braço até onde
Luíz estava preso. Me empurrou para dentro e eu abracei bem forte, mais uma vez
nos trancaram juntos.
Luíz verificou meu ferimento.
– Machucaram você, cacete! Por minha causa devem ter feito coisas
abomináveis...
Ele chorava muito de remorso, mas eu o acalmei.
– Eu estou bem, me agrediram, mas não conseguiram fazer nada do que
pretendiam. Eu negociei com ele, Chacal vai te deixar sair em troca dos meus
serviços.
– De jeito nenhum, não aceito que seja a cachorra dele!
– Não, isso nunca, eu vou trabalhar em outras coisas. – Abaixei o meu olhar,
mas Luíz levantou meu rosto para que o olhasse nos olhos.
– Vendendo erva e pó?
– Se for necessário, sim!
– De jeito nenhum, eu assumo meus B.O e quero que vá para casa. Deixe que esses
fodidos me matem se quiserem.
– Você sabe que eu daria minha vida por você, se não me deixarem te
salvar...então sou eu que morrerei sem você.
Ele é mais do velho do que eu dez anos, eu reproduzi nele um amor paternal.
Sempre foi o meu exemplo e agora estar ali por causa das escolhas erradas que
ele fez me machucava muito.
Luíz chorou e nos abraçamos forte, minutos depois, abriram a porta e um
homem nos trouxe comida e água. Era uma bandeja farta e o bastante para nós
dois, respirei aliviada ao saber que ele estaria alimentado naquela noite e só
assim eu pude comer também.
– Você deve mesmo ter convencido aquele miserável, eu não como a dois dias e
quando os arrombados me traziam alguma coisa era um pão seco e água.
– Então vamos aproveitar que o coração dele está menos “peludo” hoje.
– Manda a real para mim Maria, o que fizeram contigo lá fora?
– Me levaram para um bordel, ele queria que eu me vendesse para pagar a
dívida. Mas não se preocupe, eu não lutaria até a morte, mas não permitiria que
tocassem em mim.
– Por isso te feriram assim!
– Chacal invadiu o quarto quando um deles tentava me violentar e o matou.
– Por que esse idiota te salvaria? Certamente por ele quer ser o seu dono,
ele não perdoa mulher nenhuma do morro.
– Mas comigo ele não vai conseguir nada Luíz, vamos dar um jeito de pagar o
que você deve e vamos sair daqui. Mantenha a fé.
[...]
Luíz sabia que não seria assim, se Chacal a escolheu para ser uma de suas
amantes...os dois só sairiam dali depois que ele conseguisse isso.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 60
Comments
jeovana❤
qual sera a verdade spbre os pais deles?
2024-12-05
0