NovelToon NovelToon

Morro Do Éden (cancelado)

Capítulo 1

Dias atuais...

Era mais um dia comum e Maria Victória servia café na empresa em que trabalhava,

estava cansada do assédio do patrão, mas temia pedir demissão e ficar sem ter

como sem manter. Ela foi mandada para morar com os tios no Rio de Janeiro – RJ,

mas tem um irmão problemático e que sempre se mete em confusões por onde passa.

Sua família já teve muito dinheiro, mas com a morte do pai as coisas deixaram

de ser como antes e eles perderam tudo o que tinham ao serem despejados de sua

casa.

Maria chegou em casa e seu irmão não estava lá, apenas ela trabalha para

mantê-los e eles moram em um pequeno apartamento alugado. O irmão vive de fazer

trabalhos informais (bicos) e quase nunca pode ajudar com as contas da casa.

– Luíz?

Ela chamou, mas não conseguiu encontra-lo. Maria se desesperou ao ver os

dias passarem e não conseguir encontrar vestígio do irmão, ela decidiu pedir

ajuda da polícia levando as fotos dele.

– Fica calma tchuchuca, seu irmão deve ter ido dar um rolê com alguma mina.

Ninguém se importou com o pedido de Maria, ela resolveu pressionar os amigos

de vida “errada” que ele tinha. Foi até a casa de um deles, o cheiro de erva

estava espalhado pelo ar.

– Eu quero me diga, onde Luíz está?

– Como eu vou saber potranca? O “leke” é teu irmão e não meu!

Ela o agarrou pela camisa sem se intimidar.

– Me dê ao menos uma pista de onde ele pode ter ido, vamos fale logo!

O homem deu mais um trago na droga e respondeu.

– Ele gostava da quebrada do Morro do Éden, erva da boa e barata.

– Morro do Éden. – Ela agora tinha uma pista de onde poderia procurar por

ele.

Maria Victória

Peguei um ônibus para chegar até lá, nunca ouvi falar nesse tal morro. Deve

ser um lugar barra pesada e cheio de bandidos, meu irmão caiu de vez na vida

errada e boa parte disso é culpa de termos ficados sozinhos desde tão cedo.

Como foi difícil para nós dois termos que viver com nossos tios, apesar de

terem cuidado bem e nos dado educação, a falta de ter pai e mãe nos acompanha

onde formos.

Me disseram para descer na rodoviária e pegar um coletivo para lá, eu teria

que descer quatro pontos depois. Eu estava tão cansada, mas fiz de tudo para

não cochilar e perder o destino, cheguei de desci do ônibus. Para subir o morro

eu peguei um moto táxi, percorrendo aquelas vias estreitas, eu pude ver que

aquela comunidade para ser amistosa. Muitas pessoas vendendo seus produtos nas

ruas, crianças empinando pipa e parecia bem tranquilo.

Desci da moto e antes de pagar eu resolvi conversar com o rapaz da moto.

– Eu estou aqui procurando um rapaz, posso te mostrar uma foto?

Ela assentiu com a cabeça e subiu mais o capacete, para liberar melhor seu

campo de visão. Ele olhou atenciosamente para o meu celular e balançou a cabeça

negando.

– Não gata, não vi teu chegado...dou meus “corre” e levo muitos para cima do

morro, mas esse eu não me lembro de ter visto.

– Obrigada moço, estou muito preocupada com ele. E disseram que pode estar

por aqui e ne mesmo a policia quis me ajudar a procurar por ele.

– Vou te mandar um papo reto, aqui não é terra ninguém. Se quer achar teu

camarada vai ter que pedir para o Chacal!

– Chacal? E quem é esse?

– O chefe aqui das quebradas, para achar alguém aqui basta mandar o B.O para

ele e já é.

– Está bem, agradeço pela dica.

Caminhei pelas ruas mostrando a foto dele, mas a impressão que me deu é que

ninguém ali queria me ajudar de verdade.

– Olá, o senhor conhece esse rapaz?

Ele balançou a cabeça negando sem sequer olhar a foto, parei e sentei-me em

um banco. Uma senhora passava e me viu massageando o próprio pé.

– Parece cansada moça, precisa de ajuda?

– Eu vim aqui procurar uma pessoa, mas não estou conseguindo.

– Se quis descansar um pouquinho no meu barraco acho que será melhor do que

aqui nesse banco, lá você pode falar com a minha filha.

– Certo então.

Fui até a casa dessa gentil senhora, ela tem uma filha e conversamos muito

sobre o meu irmão. Ela disse que o havia visto no baile do Paraíso, uma casa de

eventos onde quase todos os dias tem funk e festas.

– Cê vai ter mesmo que pedir ajuda para o Chacal, ele pode pedir aos

camaradas dele para procurar seu irmão. Estou indo para o baile hoje, vem

comigo e aproveita!

– Eu não vim preparada para isso, mas preciso mesmo achar o paradeiro

dele...meu irmão é tudo o que me restou da nossa família.

– Então deixa de caô e vamos, te empresto um vestido.

– Certo!

Eu não queria ir para festa nenhuma, tenho medo desses bailes malucos e de

tudo o que falam que aconteceu dentro deles. Apesar de ter vindo bem novinha

para o Rio, eu não sou de sair e muito menos pelas comunidades mais afastadas.

Ela me deu um vestido super curto e justo de cor preta, tomei um banho e me arrumei

para ir com ela, um carro cheio de caras esquisitos veio os buscar. Eles foram

educados, mas tentaram flertar comigo...a garota que estava comigo logo avisou

a eles que eu não estava ali para curtir e sim, em uma missão de busca.

Uma esquina antes já podíamos ouvir o som alto da música que tocava lá, a

fumaça dos cigarros tornavam tudo ainda mais obscuro, saí do carro descendo o

vestido e ouvindo os assovios de um bando de tarados que nos olhavam.

– Fica fria, meus parças vão cuidar da gente.

Ela me puxou pela não, naquela noite mulher não pagava entrada. Aquela

música alta estava me deixando surda, as luzes fortes, mulheres seminuas

descendo até o chão e mostrando quase tudo em trajes mínimos como o meu.

Música – Adultério (Mr Catra)

Na 4 por 4 o tempo voa

Whisky e Redbull, quanta mulher boa

O p*u ficando duro

O bagulho tá sério

Vai rolar um adultério...

Panram, panraparam panparam,

Paparam panraparam...

– Me leva até o Chacal, por favor! – Eu insisti com ela, n]ao tenho mais

interesse em ficar esse lugar caótico.

Ela pegou uma bebida e avisou aos caras que estavam com ela.

– Vem, vou te levar até o dono da bagaça!

Saímos no meio da galera, um imbecil pegou em uma mecha do meu cabelo, mas

eu saí rapidamente. Alguns bêbados nos falavam obscenidades, mas felizmente não

nos tocaram...passamos para trás do lugar, havia uma porta com um cara mal

encarado na frente.

– Precisamos trocar uma ideia com o Chacal. – Ela disse e ele nos olhou dos

pés à cabeça.

– O “chefia” já tem companhia para essa noite, acho que as gostosas chegaram

tarde demais.

Ela insistiu.

– Não é isso que está pensando, vai dorme sujo...me quebra essa. A mina está

desesperada procurando o camarada dela.

“Dorme sujo” misericórdia, ele pensou um pouco e olhou para os lados.

– Ele está no camarote, pega essas pulseiras...cê sabe como ele é. Então

chega na humildade!

– Faremos isso. – Ele nos deu duas pulseiras de acesso e nos deixou passar,

o camarote tinha algumas pessoas, mas nada muito diferente do que havia lá

embaixo.

Andamos mais um pouco, o cheiro de maconha ali era forte e do cigarro

eletrônico. As mulheres que estavam ali em cima nos olhavam com despeito.

– Ali, o Chacal é aquele.

Ela me apontou onde ele estava, era um homem bonito...estava com os botões

da camisa preta, todos abertos e com um copo de marca famosa na mão. Sobre a

mesa garrafas de bebidas caras e a ostentação parecia ser o sobrenome dele, uma

mulher loira sentada em seu colo e dando um pouco da bebida do copo dela na

boquinha dele. Além de outra morena que estava de pé atrás dele fazendo

massagem em seus ombros.

Que ridícula forma de mostrar poder, tentei chegar perto dele, mas um dos

caras me impediu.

– Onde você vai delícia, deixa seu nome e na fila de espera...aposto que o

Chacal vai adorar tua companhia no próximo rolê.

– Não quero ser uma das cachorras de estimação dele, preciso falar com ele e

o assunto é sério.

– Ih marrentinha, ele não está de serviço. Então é melhor levar seu belo

traseiro daqui.

– Eu vou falar com ele e ninguém vai me impedir!

Eu tentei passar por ele, mas fui carregada para longe.

– Por favor moço, me entenda é um caso de vida ou morte.

Ele me colocou no chão, antes que ele me respondesse alguém nos interrompeu

e era o cara que nos deixou entrar.

– Ou se comporta ou te tiro daqui!

Não me deixaram chegar perto dele e eu comecei a chorar desesperadamente, já

que eu não podia fazer mais nada, passei o tempo todo de longe olhando para

aquele imbecil e as duas que estavam com ele. A garota que estava comigo finalmente

decidiu ir embora e nós fomos para a casa dela, retirei o vestido e vesti minha

roupa. Ter vindo aqui foi um grande erro, chamei um Uber e voltei para casa.

Ainda no baile.

Chacal ouviu dois de seus camaradas comentando sobre a bela jovem que estava

procurando pelo chefe, que certamente ela não era do morro.

– Precisava ver a mina era uma máquina de tão gostosa!

– Ela queria trocar uma ideia comigo? – Chacal perguntou e os dois se

olharam assustados.

– Sacomé chefe, não a deixamos chegar perto e estragar sua festa.

Depois de descobrir mais sobre a tal garota ele estava ainda mais empolgado

em conhecê-la

– Tragam ela para mim e nunca mais tomem qualquer decisão pelas minhas

costas, entendeu?

– Ih chefinho agora tu me apertou, a mina foi embora daqui chorando e P da

vida por que não conseguiu.

– Vire-se, mas eu a quero aqui!

Chacal ficou intrigado com essa moça, por quê estava procurando por ele de

maneira tão insistente, sendo que ele também...

Resolveu saber mais sobre ela...pediu aos moleques do morro para levantarem

informações para ele nos dias seguintes.

– O nome dela é Maria, trabalha na Barra da Tijuca.

– Tragam ela para mim, hoje mesmo e não restam dúvidas de que ela é também

quem eu procuro!

– “Falô chefia” já é!

Maria Victória

Passei o dia com a cabeça totalmente transtornada, pensei em voltar aquele

lugar, mas aquele animal não iria me ouvir de novo. É um bandido sem coração,

entregue a vida errada e fútil que leva...uma pena, por que apesar de tudo ele

é muito bonito. Peguei minha bolsa, saí pelo pátio da empresa em direção ao

ponto ônibus, sempre caminho por vinte minutos até chegar lá. De repente, um

carro parou ao meu lado e de dentro dele um cara tirou os óculos escuros que

usava, logo o reconheci e era o capanga do Chacal que me barrou no dia do

baile.

– Entra no carro! – Ele disse e alguém que estava no banco de trás abriu a

porta para mim.

– Não vou fazer isso, sequer te conheço.

– Você se lembra de mim da quebrada, vamos...eu não tenho o dia todo. – Ele

parecia estar armado, esse tipo de marginal sempre anda preparado para tudo.

Olhei para os lados, mas respirei fundo e entrei no carro. Havia um homem no

banco de trás, uma mulher no banco da frente e era a morena da noite anterior,

nos olhávamos pelo espelho retrovisor e eu estava me sentindo sequestrada. Fui

levada novamente para o Morro do Éden, mas dessa vez para uma casa diferente de

todos os barracos que conheci, era bonita e se destacava entre todas.

– Para o teu bem se esqueça de tudo o que viu aqui no morro! – Ela me deu

aquele conselho e vou acatar, paramos e eu saí do carro.

Eu ainda estava usando meu uniforme do trabalho, entramos naquela casa tão

bonita. Havia um quadro na sala de estar e era de um homem...

– Fique aqui, vou ver se o chefe já está com humor para trocar uma ideia

contigo.

Aquele homem ia sair e eu avisei sem medo.

– Diga a ele que tenho pressa, já vai anoitecer.

Ele sorriu, certamente por ver que eu não sou mais uma boba com as quais

eles estão acostumados a lidar e eu tenho que ser firme se quiser achar aquele

maluco do Luíz.

Fiquei sentada na sala por um bom tempo, ele realmente esperou anoitecer de

propósito.

– Vem marrentinha, o Chacal está te esperando no escritório dele.

Caminhamos mais um pouco pela casa, apesar de ele ser um marginal, a casa

tinha itens de bom gosto. Aquele homem indicou a sala e eu bati na porta...

– Entre!

Ouvi uma voz grave a me pedir, entrei lentamente e ele estava sentando na

cadeira de pernas cruzadas como se fosse o rei da cocada preta!

– Posso? – Perguntei olhando para a cadeira na minha frente, nossos olhares

não se desviavam.

– Então tu é a exaltadinha da festa, joga na roda...o que quer comigo, posso

saber?

– Sim senhor...

– Sem essa de senhor, me chame de Chacal!

– Certo Chacal. – Ironizei. – Estou aqui procurando um homem chamado Luíz,

ele tinha negócios aqui no morro e a dias não aparece em casa.

– Sinto muito gata, mas acho que teu marido deve estar com alguma novinha da

quebrada. Mas relaxa, tendo uma mulher como você logo ele volta para casa!

Os olhos dele foram de encontro a minha boca e subiram aos meus olhos.

– Por favor, eu preciso de ajuda. A polícia não quer me ajudar e ele é meu único

irmão....

Ele sorriu, levantou-se da cadeira e foi até a janela dando uma olhada

rápida para o lado de fora.

– Vai me ajudar? – Perguntei cheia de esperança.

– Posso pensar no seu caso.

Me enfureci, por jogar tão sujo com a dor que estou sentindo? Levantei-me da

cadeira, ou procurar outra forma de encontra-lo e nem que eu tenha que me

ajoelhar aos pés da polícia. Fui em direção a porta, mas ele me segurou pelo

punho e nos olhamos.

– Sabe que pode conseguir minha ajuda, se realmente quiser.

Chacal aproximou seus lábios dos meus, me afastei e fiquei pressionada pelo

corpo dele contra a porta.

– E eu teria que me tornar uma das vadias, que usam uma coleira com seu

nome?

Ele sorriu.

– Tú é muito mais afrontosa do que me disseram, mas sabe de uma coisa? Isso

me excita ainda mais!

Ele me roubou um beijo ardente, eu não queria corresponder, mas meu corpo

não me obedecia e nos comemos aos beijos naquela sala. O empurrei com força

para longe mim e abri a porta, ele voltou e pegou o telefone da mesa.

– Tranquem toda a casa!

Meu coração ficou apertado, eu estava em uma armadilha.

Capítulo 2

Flashback

Sergipe, ano de 2010.

Carlos era um jovem de 18 anos, sua família é bem tradicional na cidade. Seu

pai trabalha duro para manter a família, a mãe é dona de casa e a irmã tem 14

anos e estuda. Ele estava estudando para prestar o vestibular, sonhava em ser

médico e lutava para conseguir uma bolsa de estudos, pois o curso na rede

particular era muito caro.

Era uma segunda-feira qualquer, mas nem tanto assim, seu pai chegou em casa

muito triste e calado.

–  O que aconteceu papai? –  Ele perguntou aproximando-se dele.

–  Problemas no trabalho.

–  Porque não pede para sair? Vejo o quanto o senhor se dedica para

aquela fábrica.

–  Não posso, você vai estudar e sua irmã em breve também. Não posso

ficar sem trabalho ou vamos passar necessidade.

Ele vê os sacrifícios do pai para manter o sonho da família de ter um futuro

melhor. Alguns dias passaram e a tristeza só aumentava, a mãe de Carlos entrou

em desespero ao descobrir que o marido seria preso por contrair uma dívida com

o banco. Ela relatou em prantos ao filho o que estava acontecendo e por isso o

pai estava tão triste nos últimos dias.

–  Isso não pode ser, meu pai não pegaria tanto dinheiro assim e nem

tem motivos para isso!

– Eu só sei que temos pouco tempo para levantar todo esse valor ou seu pai

vai para a cadeia filho.

Esperaram que o pai chegasse do trabalho e o confrontou.

–  Por que o senhor pegou tanto dinheiro papai? São quase meio milhão

de reais!

Ele ficou constrangido e tentou encontrar uma resposta plausível.

– Eu não fiz isso filho, pegaram meus documentos e me fizeram assinar. Mas

eu juro que não sabia o que era.

Acreditando que o pai havia caído em um golpe, Carlos tentou pensar no que

fazer.

– Vamos conseguir um advogado para o senhor.

Ele não queria que o pai pagasse por algo que não fez, depois do que

aconteceu o pai dele nunca mais voltou a empresa por sua própria segurança. Mas

isso não adiantou...em uma noite, homens mascarados invadiram a casa e deram

seis tiros no patriarca.

Depois desse crime hediondo, Carlos começou a procurar pelos culpados dia

após dia, sabia que aquele crime tinha acontecido a mando do dono da empresa em

que seu pai trabalhava. Pelo sobrenome descobriu que a família tinha ido para o

Rio de Janeiro, a casa de seus pais foi colocada à venda e ele agora era o

homem da família.

– Vamos nos mudar para o Rio de Janeiro.

Eles partiram para lá, não podiam usar todo o dinheiro que conseguiram com a

venda da casa. Decidiram se unir a algumas pessoas que iriam invadir um

terreno, na noite em que chegaram tomaram um pedaço de terra naquele morro para

chamar de seu. A polícia entrou para tentar coloca-los para fora, sua irmã

acabou baleada e morta, seu corpo foi enterrado nas proximidades. Aquilo

despertou nele ainda mais o desejo de fazer justiça e de transformar aquele

lugar, passou a liderar os moradores e pouco a pouco foram mostrando para a

sociedade sua organização e que não poderiam expulsá-los de lá. Dois anos

depois a batalha na justiça foi vencida pelos invasores do terreno e puderam

oficialmente dar um nome para a comunidade, Carlos à essa altura já era o líder

deles e passou a ser chamado de Chacal.

– O nosso morro é o nosso Paraíso, o Morro do Éden!

A violência era quase nula naquela favela, os moradores se conheciam e

cuidavam uns dos outros. Porém as atividades ilícitas sempre estavam presentes,

Carlos queria ser muito rico para conseguir encontrar aquele homem e passou a

comercializar armas e drogas...apesar de não fazer uso delas. Sua mãe morreu

alguns anos depois de causas naturais, a casa dele era uma verdadeira mansão

construída no centro do morro.

Sua influência entre a comunidade era enorme, sempre um novo morador

chegava, precisava pedir permissão a ele. As brigas entre facções eram mediadas

por ele, traduzindo em meias palavras...ele é o dono da porra toda!

Alguns anos mais tarde, era dia de baile no Morro do Éden. Chacal tinha que

estar presente em todos eles para ditar as regras, naquela noite, havia

escolhido duas companhias femininas...ele sempre achou que ter uma só mulher

poderia dar a falsa impressão de que ele estava sob o comando do sexo oposto.

Entrou no baile ovacionado como um rei e em meio a aplausos, todas as mulheres

gostariam de ser acompanhantes dele por uma noite e estar no camarote comendo e

bebendo do bom e do melhor.

Chegou ao camarote, só depois dele a música podia começar a tocar. Ele

sentou-se em sua cadeira especial para provar de suas caras bebidas, umas horas

depois notou uma pequena confusão entre um de seus parças, mas não quis saber o

que acontecia, pois eles manteriam o controle da situação. Voltou para casa,

uma das garotas lhe fez sexo oral e ele mandou que fosse embora, telefonou para

seus subordinados.

– Como estão as coisas por aí?

– Ele está dominado chefia e do jeito que queríamos.

– Conseguiu que ele fale o paradeiro do pai? –  Chacal perguntou a ele.

– Ainda não Chacal, já quebrei a cara desse filho da puta e ele insiste que

o pai morreu.

– Continue e tente tirar desse miserável se ainda resta alguém da família.

– Sim chefia, já é!

Ele dormiu e no dia seguinte, soube da confusão com a garota que procurava

por ele, sempre foi amante das belas mulheres e saber que uma jovem de fora

insistia tanto em buscar por ele o excitou. Pediu aos moleques informações

sobre ela e logo chegaram para ele poucos dias depois, juntando as informações

com as que ele já tinha sobre Luíz, ele soube que Maria era irmã dele.

– Ela veio para mim, isso é muito melhor do que eu pensava!

Pediu que os seus subordinados a procurassem no trabalho e trouxessem para

ele, agora poderia ter os dois filhos de seu maior inimigo em suas mãos.

Flashback off

Maria Victória

Ele mandou que fechassem toda a casa, fiquei desesperada e ninguém sabia

onde eu estava. Voltei para dentro da sala e o vi ajeitar o telefone de volta

no gancho.

– Por que mandou que fechassem a casa? – Perguntei dando passos para trás,

mas ele vinha em meinha direção.

– Não precisa ficar bolada, se for boazinha as coisas poderão ser menos

complicadas entre nós.

– Não existe “nós” e se você se aproximar eu quebro a sua cara!

Ele sorriu e me abraçou forte contendo meus braços com força, eu não

conseguia me mover. Fui levada por ele até a parte debaixo da casa, fiz tanta

força que ao me soltar eu acabei caindo com tudo no chão. Olhei para o meu lado

e vi uma cadeira, meu irmão estava nela...todo ferido e amarrado.

– Seu animal maldito, por que fez isso com ele?

– Seu irmão não é tão bom rapaz quanto você pensa gatinha, ele me deve uma

nota em drogas e vadias do bordel!

– Isso não é motivo para o agredirem assim, me fala quanto ele deve e eu vou

fazer qualquer coisa para pagar tudo. Anda, fala! – Gritei.

– Seria capaz de tudo mesmo novinha?

Eu chorava alisando o rosto de Luíz, ele estava desmaiado e suas mãos

estavam brancas de ficarem tanto tempo amarradas sem o sangue circular.

– Por favor, me deixa cuidar dos ferimentos dele. Prometo negociar com você,

eu não ganho muito, mas juro por Deus que posso conseguir...

– Não vale a pena derramar suas lágrimas por esse noiado, já sabe por que

está aqui...agora venha comigo.

– Não se atreva a me tocar de novo, eu só saio daqui depois que limpar os

ferimentos dele e vê-lo acordado.

Ele ficou irritado, cerrou os punhos e me olhou, mas eu me mantive firme.

– Dessa vez você venceu, mas nosso papo será definitivo assim que eu voltar!

Ficamos dentro daquela sala e ele nos trancou, consegui desamarrar as mãos

do Luíz e ele caiu no chão. Puxei seu corpo para meu colo, logo depois abriram

a porta novamente e um dos capangas dele jogou um kit de primeiros socorros

para dentro da sala e nos trancou novamente.

– Fica calmo, eu vou cuidar de você!

Levantei-me um instante e peguei os materiais, joguei um pouco de água

oxigenada nos ferimentos da testa dele e Luíz gemeu de dor.

– Que dor do caralho!

– Vejo que já está melhorando, por que veio parar nesse lugar? Como se

envolveu com tantas coisas erradas?

– Me perdoe maninha, mas os caras da quebrada me convenceram a entrar nessa.

– Estamos perdidos nas mãos desse traficante, mas agora é tarde demais para

lamentar.

– Eu não queria que você estivesse aqui Maria, vou implorar para que ele te

libere...a culpa de toda essa merda é só minha!

Consegui limpar os ferimentos dele e passar alguns remédios, o deixei

deitado no chão e fui verificar ao nosso redor para tentar encontrar uma saída.

Esse maldito lugar não tem sequer uma janela, certamente é uma sala feita

especialmente para torturar os inimigos.

– Eu não sei como mana, mas vou te tirar desse inferno.

– Não pense nisso agora, temos que nos manter vivos! – A porta foi aberta,

nos trouxeram comida. – Eu quero falar com Chacal mais uma vez.

– O chefe vazou mais cedo para resolver umas paradas.

– Então diga a ele quando voltar, por favor.

Nos trancaram novamente, dei comida para Luíz e ele sentia muita dor para

mastigar. Nos acomodamos como como pudemos para dormir naquele chão frio e

mesmo com o medo acabamos adormecendo. Fui despertada bruscamente com o grito

do meu irmão ao ter sua mão pisada por um dos capangas de Chacal, não suportei tanta

maldade e fui para cima dele dando uma porção de tapas e ele estava prestes a

me agredir.

– Deixa-a em paz!

– Mas chefe essa piranha me desafiou...

– Dane-se, saia daqui e deixe-me sozinho com os dois. – Chacal nunca falava

duas vezes e o homem saiu me olhando feito uma fera.

Ele se sentou em uma cadeira de frente para nós dois.

– Vai nos deixar sair? – Perguntei cheia de esperança de que toda aquela

tortura com meu irmão os tivesse deixado satisfeitos.

– Depende do nosso acerto de contas.

– Você não tem que negociar com ela, a dívida é minha e não da minha irmã. –

Luíz tentou ficar de pé, mas a dor o fez sentar novamente no chão.

– Olhe para você mano, está o pó da rabiola e ainda tem a cara de pau de me

exigir alguma coisa. – Chacal sorriu.

– Eu só estou assim por que teus cães de guarda me moeram no pau, mas um dia

nós dois ainda iremos nos resolver mano a mano.

Fiquei com medo de que Luiz piorasse tudo ainda mais.

– Por favor parem com isso, se veio aqui para conversar e negociar nossa

saída então é o que faremos. O que você quer para nos deixar sair? Aqui nesse

buraco eu nem eu e nem poderíamos juntar o dinheiro para te pagar o que ele

deve.

– Está certa marrentinha, mas eu tive uma ideia para te fazer levantar essa

grana. Só vim aqui saber se está disposta a tudo...

– Ela não vai ser sua prostituta! – Luíz gritou revoltado.

– Pare com isso, ele ainda não disse o que vai ser. Estou disposta a tudo

que não manche a minha honra.

Ele sorriu e apenas saiu da sala, meu coração ficou muito pior do que antes.

Acho que dessa vez irão decidir nos matar, não irão os deixar sair daqui depois

de ver seus rostos e sabermos o que fazem para ganhar a vida.

– Aquele miserável vai te querer como mais uma cachorra dele, eu sei que

vai.

– Pare de se torturar com isso, eu não quero morrer e nem quero que você

morra. Então termos que fazer sacrifícios e eu preciso do seu apoio!

[...]

Ainda naquele dia os capangas de Chacal tiraram Maria Victória de dentro do

quarto, ela foi levada para um dos quartos comuns da casa.

– Quero que vista isso! – Deram a ela uma roupa vulgar e cheia de brilhos de

cor vermelha.

– Não vou vestir isso.

– Se eu fosse você, não tentaria bancar a esperta...veste logo isso

cachorra.

Maria não teve escolha, depois de se vestir, ela foi levada para um outro

lugar no morro. Era casa iluminada e com som alto, mas não parecia ser um

baile...

– Chacal te mandou fazer bem o trabalho de vadia, só assim vai conseguir

levantar o que deve para ele. E já sabe, se bancar a esperta ele vai mandar

cortar a língua do teu irmão.

Maria Victória

Entrei chorando naquele lugar horroroso, as mulheres no colo dos homens e

seminuas como eu estava. Minha honra será morta nessa noite, mas não posso

deixar Luíz nas mãos desses loucos, sempre fui tão reservada sexualmente e

agora vou ter que transar por dinheiro. As mulheres me olhavam com raiva,

parecia que eu estava ali para tomar o trabalho delas, fiquei em um cantinho e

orando para que não me visse.

– Já temos um trabalho para você tchutchuca, carne nova no pedaço é sempre

assim...vem comigo!

Me empurraram para dentro de um dos quartos, olhei ao redor e não tinha

nenhuma janela aberta.

– Tú inaugurou com sorte morena, pagaram o melhor quarto que temos...você

vai dar para o líder da CAM (comando das armas no morro).

A alguns metros dali...

Chacal estava em seu quarto com mais um de suas amantes, ela se abaixou para

abrir seu zíper.

– Acho que você anda tenso chefinho, vou te ajudar a relaxar na minha

garganta!

O pensamento dele estava em Maria e naquele beijo que deram em seu escritório,

sua doçura e forma segura como o enfrentou.

Chacal

A essa hora já deve estar na cama com outro, será de muitos e isso me fará

cobrar um pouco do que o miserável do pai dela fez a minha família. Mas a

maldição é que eu não tiro aqueles olhos escuros da minha cabeça, não posso

sentir compaixão por aquela cachorra...não posso.

[...]

A mulher que estava com ele iria começar o sexo, mas ele a empurrou e ela

caiu sentada. Chacal fechou seu zíper e pegou a camisa, estava apressado.

– O que foi, fiz algo errado?

Ele sequer respondeu e saiu bem rápido indo em direção a sala da casa, subiu

na moto e acelerou para a casa da luz vermelha, desceu e foi entrando

rapidamente. Ao chegar, as mulheres ficaram atônitas com a presença e loucas

para serem escolhidas por ele já que ele não costumava pegar nenhuma das

prostitutas de lá.

– Saiam da frente vagabundas...

Ele passou indo em direção a dona do lugar e queria uma resposta rápida.

– Eu quero saber, onde ela está?

– A bonitinha que trouxeram? – Ela sorriu. – O morcego está com ela no

quarto!

Chacal engoliu seco.

– Em qual quarto ela está?

– Não pode fazer isso...

Ele agarrou a mulher pelo pescoço encostando-a na parede, mostrando a arma e

todas as mulheres da casa ficaram assustadas.

– O que eu não posso fazer hein, me diga sua coroa fodida de merda?

A mulher ficou apavorada e gaguejou para responder, mas estava diante do

todo poderoso da comunidade.

– No primeiro quarto depois da escada.

Ele saiu correndo para encontrar Maria Victória antes que fosse tarde demais.

Capítulo 3

A consciência de Chacal não o deixaria em paz, depois de ter mandado Maria

para o bordel à força para pagar aquela dívida. Ele tentou entrar no quarto,

mas a porta estava fechada por dentro com chave.

Maria Victória

De repente a porta foi aberta e um homem de uns quarenta anos entrou, ele

usava uma regata branca e tinha um alargador na orelha. Ele sorriu para mim e

trancou a porta, colocando a chave sobre um móvel e eu teria que passar por ele

para pegar. Fiquei apavorada com aquele homem asqueroso, ele veio com tudo para

cima de mim e era todo malhado e forte. Eu estava perdida, não havia como sair

e eu o vi passar a chave na porta.

– Espero que seja mesmo boa no serviço, novinha!

– É um engano, não se aproxime de mim. Não sou prostituta! – Gritei, mas a

música lá fora estava tão alta que não adiantou muito para intimidá-lo.

– Vamos deixar de caô piranha, estou pagando uma nota para comer e não tenho

tempo para mi mi mi! Vá logo tirando a roupa se não quiser que te rasgue ela

inteira no corpo.

Aquele era o meu fim, se esse nojento me tocar eu estou morta. Comecei a

gritar feito louca por socorro, fui até a janela e tentei abrir. Senti ele me

pegar pela cintura e jogar na cama, rasgou minha blusa deixando meus seios à

mostra.

– Por favor não, não! – Eu já estava chorando muito e meu corpo todo tremia

de horror...senti uma dor forte na boca e vi o punho dele fechado afastando-se

do me rosto, de repente a porta foi arrombada.

– Afaste-se dela. – Era o Chacal, o homem que tentava me pegar a força abriu

os braços e sorria para ele.

– Não ferra comigo Chacal, eu paguei por essa vadia e paguei caro.

– Saia de perto dela!

– Ela é das suas? Não sabia que agora tu exigia fidelidade de piranha. – Ele

sorriu e Chacal o puxou para longe de mim, só naquele momento eu vi que meus

seios estavam quase para fora e eu tentei me cobrir com as mãos.

Chacal deu uma surra nele, depois mais homens dele vieram e terminaram de

acabar com aquele homem. Deram um tiro nele bem na minha frente e eu gritei ao

ver o último olhar de vida dele, senti pena por ser uma vida que estava sendo

tirada assim.

– Eu quero ir para casa! Eu só quero ir para casa! – Eu repetia

incessantemente, cobrindo meu corpo e eu sentia uma dor forte na boca e aquele

soco deveria ter feito um grande estrago.

Chacal veio perto da cama, enquanto os outros tiravam o corpo daquele homem

e limpavam o sague do quarto.

– Vem comigo. – Ele tentou tocar em mim, mas eu me afastei.

– Você é um monstro!

– É assim que me agradece por acabar com aquele merda por você? Queria que

ele te pegasse de jeito ou o que?

Comecei a chorar ainda mais, ele tirou a jaqueta de couro e me cobriu.

– Vamos sair desse puteir*.

Eu estava frágil, tenho medo dele, mas tenho medo de ficar aqui também. Ele

me pegou os braços e saímos do bordel sob os olhares de todos que estavam lá,

ele subiu na moto e eu subi atrás. Aquele lugar tinha o cheiro de morte e eu

nunca vou me esquecer de tudo o que eu vivi ali, chegamos novamente na casa

dele. Me puxou pelo punho com firmeza e fomos até um dos quartos...

Ele me trancou lá, acho que é o quarto dele. É muito grande e bonito, parece

daqueles de novelas e certamente ele pagou para que alguém o decorasse. Toquei

meu lábio e vi o sangue na ponta do meu dedo.

– Ai...

Chacal chegou, afastou minha mão do meu rosto e aproximou um algodão no meu

lábio ferido.

– Vai me deixar ir embora com o meu irmão?

Ele se enfureceu com a minha pergunta e eu pude ver em seu olhar.

– Limpe o ferimento, se quiser tem um espelho logo ali. Fica na tua e não me

cause mais problemas...

Meus olhos foram inevitavelmente para o telefone ao lado da cama em que eu

estava sentada e ele acompanhou meus pensamentos.

– Eu não vou tirar nada do lugar em que está, se ligar para a polícia eu

apago o teu irmão, tá ligada? Meus camaradas e eu, encontraremos vocês, seja

aqui no paraíso ou no inferno em que se esconderem.

– Sim senhor!

– Senhor tá no céu, é Chacal para você.

Levantei-me fui até onde ele indicou que havia um espelho, era um banheiro

muito bonito. Cheio de LEDs e hidromassagem, já imagino o tipo de lazer que ele

tem aqui e com que tipo de vira-latas, limpei minha ferida e o lábio já estava

ficando inchado.

Demorei uns minutos lá, eu queria deixar de ficar olhando para ele ou

discutindo. Pensei em chamar a polícia, mas meu irmão estava preso naquele

lugar e eu não quero arriscar a vida do único da família que ainda me resta.

Saí do banheiro, mas ele já não estava no quarto e havia uma bandeja com comida

e água sobre o móvel.

Estou com muita fome, mas não comer pensando no Luíz.

[...]

Chacal desceu as escadas e logo viu um de seus subordinados esperando por

ele e com uma expressão de pavor no olhar.

– Tu apagou o...

– Eu tive que fazer! Tá com medo? – Chacal sorriu irônico.

– Chacal, o cara era o líder.

– E daí? Nenhum deles me assusta, se está se borrando...pega tua erva e vai

vender em outra freguesia.

– É que eles não vão deixar isso assim barato.

– Deixa que eles venham, eu tenho uma bala para o rabo de cada um deles. Se

só veio aqui me chutar o saco já pode ir!

– Os camaradas querem saber o que fazer com o irmão da bonitinha.

– Os dois ficarão aqui no meu ninho, vá cuidar dos negócios e dos meus

inimigos eu cuido pessoalmente. Quando aos CAM, manda chupar o cano da minha

arma!

Chacal saiu para resolver uns negócios no Morro do adeus, ficou dentro do

carro enquanto um de seus homens fazia uma importante venda por lá. Os

aviõezinhos trouxeram o dinheiro e levaram os malotes para dentro da comunidade

e depois disso ele voltou para casa, já tarde da noite. Entrou em casa, seu

primeiro pensamento era em Maria e que ia encontra-la em seu quarto. Ele abriu

a porta e a viu de pé apenas olhando para fora e observando o morro todo

iluminado e a beleza do Rio de Janeiro à noite.

– Tu é mesmo forte gatinha, achei que ia te encontrar dormindo! – Ele olhou

para o móvel e a comida que havia pedido que trouxessem para ela estava ainda

intocável. – O filho da mãe te bateu tão forte que não pode comer?

– Eu não quero nada, nada até poder falar com o meu irmão.

Chacal não gostava de vê-la se preocupar tanto com o irmão ao invés de si

mesma.

– Esquece dele e pense em você, aquele trouxa não merece que fique pensando

nele. Coma e trate de pensar em como me pagar o que ele deve!

– Por favor, me deixa ir para onde ele está. – Suspiro de angústia. – Eu nem

sei se ainda está vivo...

As lágrimas dela eram de muita preocupação e ele viu que não poderia

vencê-la pelo cansaço.

– Ele ainda está vivo, mandei levarem comida.

– Luíz é a única família que eu tenho, Chacal eu já entendi que não posso

fazer nada contra o poder que você tem nesse lugar. Eu só quero poder sair

daqui com o meu irmão, lá fora eu posso trabalhar e ele também...

Ele sorriu.

– Acha que servindo cafezinho, vai poder me pagar o que o vacilão me deve?

Além de tudo, eu tenho umas gravações dele que certamente você ia adorar.

– Como sabe o que eu faço lá fora? Meu irmão deve a você a quanto tempo? –

Maria Victória ficou com muito mais medo do que poderiam fazer com ele ali e

caso tivesse se envolvido com o tráfico, deixando provas contra si mesmo.

– Tempo o bastante para eu saber o tipo de laia dele! Coma isso e pense se

quer mesmo sair daqui com ele.

Chacal encerrou o assunto com ela e tirou toda a roupa, ficando totalmente

nu e Maria virou-se de costas envergonhada e assustada.

– Vou tomar um banho, enquanto você come e pensa direitinho.

Maria Victória

Ele não vai nos deixar sair enquanto eu não der um jeito de pagar,

Deus...como eu posso aceitar viver em um lugar assim? Eu preciso de forças para

não vender a minha alma a esse monstro. Um tempo depois, Chacal saiu do banho

de cabelos molhados, tirou o roupão ficando nu novamente e eu o evitava o tempo

todo.

– O filho da mãe te acertou em cheio mesmo novinha.

Ele se referia ao inchaço da minha boca, ele viu que a comida estava igual.

– Já que não quis entrar no banho comigo, comece a me pagar o que deve aqui.

Com a boca inchada ou não, sei que ela deve causar loucuras.

– Esse tipo de trabalho eu não faço e mesmo que me mate!

Chacal correu para cima de mim, estava nu e ainda molhado, derrubou-me na

cama e deitou-se em meu corpo...

– Essa sua coragem ainda vai te ferrar e muito. – Ele segurou meu queixo bem

perto da sua boca, seu hálito quente me aquecia.

– Eu sei do que você é capaz, já disse que eu estou disposta a trabalhar

para pagar a dívida do meu irmão. Se quiser que venda suas porcarias eu vou

vender, mas eu quero que o deixe sair daquele lugar horrível e ir para casa.

– Você tem um bom coração mina, mas vai se dar muito mal por causa dele.

Ele saiu de cima de mim, vestiu-se e saiu me puxando pelo braço até onde

Luíz estava preso. Me empurrou para dentro e eu abracei bem forte, mais uma vez

nos trancaram juntos.

Luíz verificou meu ferimento.

– Machucaram você, cacete! Por minha causa devem ter feito coisas

abomináveis...

Ele chorava muito de remorso, mas eu o acalmei.

– Eu estou bem, me agrediram, mas não conseguiram fazer nada do que

pretendiam. Eu negociei com ele, Chacal vai te deixar sair em troca dos meus

serviços.

– De jeito nenhum, não aceito que seja a cachorra dele!

– Não, isso nunca, eu vou trabalhar em outras coisas. – Abaixei o meu olhar,

mas Luíz levantou meu rosto para que o olhasse nos olhos.

– Vendendo erva e pó?

– Se for necessário, sim!

– De jeito nenhum, eu assumo meus B.O e quero que vá para casa. Deixe que esses

fodidos me matem se quiserem.

– Você sabe que eu daria minha vida por você, se não me deixarem te

salvar...então sou eu que morrerei sem você.

Ele é mais do velho do que eu dez anos, eu reproduzi nele um amor paternal.

Sempre foi o meu exemplo e agora estar ali por causa das escolhas erradas que

ele fez me machucava muito.

Luíz chorou e nos abraçamos forte, minutos depois, abriram a porta e um

homem nos trouxe comida e água. Era uma bandeja farta e o bastante para nós

dois, respirei aliviada ao saber que ele estaria alimentado naquela noite e só

assim eu pude comer também.

– Você deve mesmo ter convencido aquele miserável, eu não como a dois dias e

quando os arrombados me traziam alguma coisa era um pão seco e água.

– Então vamos aproveitar que o coração dele está menos “peludo” hoje.

– Manda a real para mim Maria, o que fizeram contigo lá fora?

– Me levaram para um bordel, ele queria que eu me vendesse para pagar a

dívida. Mas não se preocupe, eu não lutaria até a morte, mas não permitiria que

tocassem em mim.

– Por isso te feriram assim!

– Chacal invadiu o quarto quando um deles tentava me violentar e o matou.

– Por que esse idiota te salvaria? Certamente por ele quer ser o seu dono,

ele não perdoa mulher nenhuma do morro.

– Mas comigo ele não vai conseguir nada Luíz, vamos dar um jeito de pagar o

que você deve e vamos sair daqui. Mantenha a fé.

[...]

Luíz sabia que não seria assim, se Chacal a escolheu para ser uma de suas

amantes...os dois só sairiam dali depois que ele conseguisse isso.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!