Capítulo 15

Meia-noite e seus homens haviam invadido uma mansão de Chacal, eles sabiam

que o dono não estava lá naquele momento, mas essa era a melhor oportunidade de

tomar para si o Morro do Éden.

Karina chorava desesperada, Meia-noite, então apontou sua arma dourada para

ela e depois diretamente para Luíz.

– Acho que os dois vacilões já perceberam que eu não estou aqui para

brincadeira, tá ligado! Comigo o papo é direto e certo, não estamos aqui para

achar Chacal ou a gostosinha da tua irmã, por que isso os meus camaradas já

estão conseguindo fora das dependências dessa zona.

– Então, o que querem aqui? – Luíz questionou.

– Dar uma ordem nessa bagaça e claro, um novo tempo a este lugar...fala

sério, chamam essa merda de paraíso?

Meia-noite se levantou e caminhou, ficando atrás de Karina ele segurou o

rosto dela enfiando o cano da arma em sua boca e ela chorava muito e Luíz

tentou ajudar.

– Ô mermão deixa a mina em paz, Karina não tem nada com isso!

Ele então retirou o cano da arma da boca dela, mirou para o seu joelho e

disparou, Karina gritou e o sangue logo sujou todo o sofá e o chão da casa.

Luíz se desesperou e foi tentar ampará-la, mas os dois homens que estavam lá

o seguraram, cada um em um de seus braços.

– Já estou ligado que vocês não estão de brincadeira e já devem estar atrás

do Chacal e da minha irmã, mas podemos negociar essa parada...

Luíz chorava e estava disposto a tudo para conseguir sair vivo daquele lugar

e levar Karina com ele.

Meia-noite puxou os cabelos de Karina e mirou no outro joelho dela.

– Teu parça já resolveu cooperar comigo e tú novinha, vai fazer o mesmo?

Desesperadamente ela sentiu as lágrimas molharem os seus olhos, ela clamava

a Deus por dentro, não queria morrer daquela forma e muito menos, ver Luíz

também ser assassinado.

– Então abre a mala piriguete e me economiza tempo dizendo...para onde foi

aquele arrombado e a cachorra dele?

– Eles não me disseram senhor...

Karina levou mais um tiro na outra perna assim que se negou a dizer, em meio

a quase um desmaio, ela teve que contar a verdade mesmo que Chacal tivesse

mantido a informação em segredo, justamente para protegê-la e se proteger...

Ela havia visto o notebook dele aberto, com a informação daquele resort em

que estavam hospedados.

Sem ter outra alternativa ela passou a ele todas as informações que tinha,

enquanto gemia de dor e medo.

– É assim que eu gosto de ver, colaborando comigo novinha...

Luíz vendo a barbárie naquele homem, não pensou duas vezes.

– Eu também odeio Chacal!

As palavras dele chamara a atenção de Meia-noite.

– Disso eu e os meus chegados já sabemos, inclusive que ele te faz de

escravo, mas antes de decidir em qual vala vou te jogar...te darei a chance de

viver mais essa noite, tirem ele e a vadiazinha da minha frente.

Luíza e Karina foram levados para um dos quartos, onde ficaram presos ela

ainda sangrava muito, infelizmente onde eles estavam, era um dos quartos que

haviam sido utilizados por Chacal como cativeiro de Luíz e ali estavam alguns

kits de primeiros socorros que Maria Victória havia utilizado com o irmão.

– Talvez esteja melhor que você me deixe morrer...

– Vê se para de dizer bobagem, caraca você está perdendo muito sangue!

Luíz estancou o sangue da jovem felizmente não havia atingido nenhuma

artéria importante e desde que o ferimento se mantivesse limpo, ela ainda

poderia aguardar um pouco mais por socorro.

Meia-noite então pediu para que seus homens se infiltrassem nos locais mais

importantes daquela comunidade e pouco a pouco o poder fosse passado para eles,

em pouco tempo chegariam lá para eliminar de uma vez por todas Chacal, mas ele

pediu que poupassem Maria Victória, pois ela seria importante para a sua nova

era como o dono da quebrada.

Ele resolveu poupar a vida de alguns dos homens que trabalhavam para Chacal,

essa era uma forma de humilha-lo e mostrar que o morro do Éden e todas as

pessoas que ali estavam, deveriam seguir as ordens de um novo dono.

Baratão foi espancado, os homens de confiança de Chacal que permaneciam na

Fundação também foram dominados pelos CAM.

Foi um dia e uma noite extremamente sangrenta, em que aqueles que resistiam

ou tentavam impedir o domínio daquela facção sofreram e muitos perderam suas

vidas, mas estava sacramentado e ninguém mais poderia se opor as vontades de

Meia-noite.

– E aí chefe, já pensou no que vai fazer com aqueles dois?

– Por enquanto deixe-os onde estão tá ligado, meus planos para eles são

muito mais sinistros do que você imagina!

Karina e Luíz passaram uma terrível noite presos dentro daquele quarto e

apenas tiveram acesso a pão e água, ela sentia algumas dores e não conseguia

permanecer de pé, ele já não procurava saída para aquele lugar, pois havia

passado muito tempo ali e sabia que não existia nenhuma alternativa de fuga.

Luíz

Chacal não pode voltar a este lugar ou vai rodar assim que colocar os pés

aqui, minha irmã está ao lado dele e não quero nem pensar no que vai acontecer

com ela assim que esses malditos assassinos puserem as mãos nela.

Ele se aproximou de Karina, retirou sua camisa rasgou e amarrou nos joelhos

da jovem pressionando um pouco mais do que as gazes que havia colocado em seus

ferimentos.

– Fica fria Karina há de existir uma forma de nos livrarmos desses putos!

– Eu tive medo de perder você, mas acho que agora tudo isso parece pequeno

diante do que pode acontecer com a gente e certamente vamos nos dar muito

mal...esses caras são animais.

– Não perca as esperanças, Chacal também é um bandido velhaco e talvez

consiga fugir das garras desses otários.

– Cedo ou tarde, você terá que escolher um lado Luíz...não dá para servir a

dois deuses.

Nunca pensei que algum dia eu pudesse torcer para que Chacal se livrasse de

algum perigo, mas agora preciso que ele fique vivo para proteger minha irmã,

mesmo que depois eu acabe com a raça dele com as minhas próprias mãos...neste

momento a vida dele importa.

Na sala de estar, o telefone principal da casa de Chacal tocou e um dos

homens de confiança de Meia-noite atendeu.

– Porquê não atendem esta droga de uma vez? Chama o noiado do Baratão e peça

para ele atender o maldito celular dele!

Chacal estranhou o fato de que a pessoa do outro lado não havia respondido

nada, certamente não era Karina e ele ficou pensativo sobre isso, mas não quis

compartilhar com Maria Victória, pois eles estavam ali justamente para ser

desligarem do Morro do Éden, pelo menos, durante o tempo em que estivessem

juntos naquele lugar tão tranquilo.

Maria Victória

Passamos um lindo dia juntos fazendo uma trilha que nos levou até uma

nascente maravilhosa de águas cristalinas e frias, dei um mergulho e Chacal

ficou apenas me olhando.

–Você não vem?

– Eu teria que ser um completo estúpido para recusar um pedido como esse!

Ele pulou na água de repente e eu sorri de braços abertos esperando que ele

viesse me tocar. Ficamos nos beijando e trocando carinhos naquela água por

muito tempo, a paz de ouvir apenas o canto dos pássaros e o movimento das águas

era tão diferente da vida agitada no morro de baladas carros e outros sons

urbanos.

– Você é linda! – Ele repetia ao admirar o meu rosto e passar a sua língua

pelos meus lábios.

– Há algo que eu gostaria de saber sobre você Chacal!

Ele sempre ficava apreensivo quando eu fazia perguntas sobre a vida pessoal

dele, mas acredito que ele possa estar sentindo algo verdadeiro por mim e isso

faz toda a diferença no modo como eu irei abrir ou não o meu coração para ele.

– Manda então, o que quer saber?

– Eu quero saber, qual é o seu nome de verdade?

Ele se afastou de mim percebi que ficou muito incomodado com a pergunta, mas

é impossível estarmos juntos e criando um relacionamento verdadeiro sem que

soubéssemos coisas simples da vida um do outro.

– Não fuja da minha pergunta, apenas quero saber o máximo que eu puder sobre

o homem que conseguiu conquistar o meu amor, mesmo que tenha sido me

aprisionando a sua vida!

– Isso significa que você me ama, é isso Maria?

Eu não respondi nada, até que ele me desse aquilo que eu pedi.

– Acho que já está na hora de você saber certas coisas gata, o meu nome

verdadeiro é Carlos!

– É um nome muito bonito e combina com a sua personalidade: forte e

destemido.

Chacal

Por mais que ela tenha tocado neste assunto pessoal ainda não é o momento de

contar sobre tudo o que nos liga no passado, quero curtir com ela e continuar

sendo feliz como eu jamais fui antes. Me esquecer das coisas que fui capaz de

fazer no passado para me vingar e até deixar de pensar nas coisas que eu estava

disposto a fazer com ela, para sentir menos a dor da perda do meu pai e toda a

injustiça.

Puxei o corpo dela para junto de mim e nos beijamos, aquela era a forma mais

deliciosa de silenciá-la, naquele lugar teríamos privacidade para fazer amor e

assim fizemos durante toda aquela com muito desejo por toda a tarde até chegar

à noite e voltarmos para o hotel onde jantamos.

Haviam alguns cantores regionais tornando o nosso momento ainda mais

agradável e eu consegui me esquecer um pouco da ligação que realizei para casa

e que Karina por algum motivo não atendeu me deixando bolado.

– Vamos para o quarto minha joia?

– Sim, mas você ainda não me deu notícias sobre Karina e o meu irmão.

Eu sempre fui um grande mentiroso pela necessidade e até mesmo para me

livrar de assuntos que eu não gostaria de ter que tratar, mas desde que conheci

essa gata mentir para ela é um verdadeiro martírio, mas eu não tinha outra

alternativa.

– Sim, ela disse que está tudo bem por lá, então fica fria minha princesa e

vamos descansar porque amanhã teremos um dia ainda mais perfeito do que esse!

Ela sorriu e fomos mãos dadas para o nosso quarto.

[...]

Maria Victória não tinha levado o telefone celular, Chacal o havia

confiscado logo que ela havia se atrevido a sair sem ele e quase sido morta

naquele tiroteio, dessa forma ela não tinha como confirmar o que Chacal havia

dito há poucos instantes e algo dentro do seu coração parecia estar errado e

uma sensação de perigo começava a tirar a paz dela, mas com o amor e os toques

dele, sua mente foi direcionada integralmente ao prazer de fazer amor com seu

homem durante toda aquela noite.

Maria Victória

Depois que fizemos muito amor, ele ainda permaneceu dentro de mim fiz um

carinho em seus cabelos curtos e ele me olhou nos olhos eu senti que aquele era

o momento de nos darmos uma grande oportunidade de zerar a vida.

– Eu não sei se realmente sente por mim o mesmo que eu sinto por você, mas

neste momento, eu preciso me atrever a dizer...você seria capaz de deixar todo

o seu passado para trás e recomeçar ao meu lado uma nova vida?

Ele se levantou de repente e sentou-se ao meu lado eu também me sentei.

– Eu não deveria ter dito isso a você Carlos ou melhor Chacal!

– Pelo contrário, suas palavras vão me encontro aquilo que o meu coração

pede. Quando me tornei líder daquela comunidade fiz isso para me tornar poderoso,

mas aos poucos fui percebendo que aquele povo necessita de muito mais...

– De drogas e armas por exemplo?

– Você não entende novinha, essa é a lei do Rio de Janeiro e as comunidades

que não se adaptam são destruídas em pouco tempo, eu dei ao Morro do Éden um

nome que ecoa por toda a cidade como sinal de sucesso...talvez os meus modos

para fazer isso não sejam os mais corretos, mas eles têm mantido aquele povo

seguro e suas barrigas cheias.

– Mas isso não é certo Carlos, as custas de tantas famílias perdidas e vidas

roubadas por causa do vício das drogas e do tráfico de armas!

– Eu não sou Deus Maria Victória, se esse é o preço a pagar então temos que

pagar por ele!

– Então deixe-os livres para viver da maneira que escolherem, vamos embora,

podemos transferir o meu irmão de estado...traremos Karina também. Mudaremos

toda a nossa vida e os nossos nomes para recomeçar de outra forma.

Ele ficou pensativo e eu temendo ouvir um grande não.

– Prometo pensar em tudo o que está dizendo!

Não senti muita firmeza nas palavras dele, talvez Carlos tenha totalmente

sido consumido ao experimentar o poder por todos esses anos e não consiga

jamais abrir mão dele para ter uma vida decente. Ele se preocupa com as pessoas

daquela comunidade, mas de certo modo os escraviza a viver uma vida errada

ensinando que o crime compensa...e isso é mentira.

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