Maria estava agora vivendo com o irmão na casa de Chacal e não podia andar
fora da linha, tinha medo de ficar naquela casa, mas tinha medo de sair dela.
Suas amigas telefonaram para saber o motivo de seu sumiço e ela teve que dar
uma boa desculpa para sair de cena.
– Eu não sei quando poderei voltar dessa viagem, telefonei para a empresa e
dei uma desculpa qualquer para deixar o trabalho.
– Mas essa sua atitude de se mudar para o morro assim do nada é muito
estranha Maria.
– Luíz e eu tivemos que fazer isso, mas não se preocupe...tudo isso será
apenas por um tempo.
Ela desligou o telefone, saiu do quarto e decidiu ajudar a preparar o café
da manhã.
– Bom dia, posso te ajudar?
Maria perguntou para uma das empregadas da casa, era uma senhora da própria
comunidade e parecia gentil.
– Se você quiser, claro que pode!
Maria Victória
Estar nesse lugar é terrível demais, não me sinto segura em nenhum momento.
Chacal é perigoso e esses homens que andam ao lado dele também...
– Bom dia, como dormiu a mais nova moradora do meu barraco?
Ele sorriu debochando, tomou um copo d’água e olhou-me esperando a resposta.
– Eu dormiria melhor se pudesse estar a minha casa!
– Como eu disse novinha, a porta da rua é serventia da casa.
– Você sabe que se eu pudesse já teria ido. – Respondi furiosa.
O celular dele tocou, ele preferiu atender do que me dar uma resposta
atravessada.
– Fala meu camarada, claro que vou...eu só precisei resolver umas paradas
por aqui antes. Certo, claro que irei e estaremos aí em duas horas!
Chacal saiu e eu preparei tudo com ela, Luíz e eu decidimos que obviamente
iríamos comer na cozinha com os demais empregados da casa.
– Bom dia mana. – Luíz chegou e sentou-se em uma das cadeiras da mesa da
cozinha, ele esperou que a empregada saísse com o café da manhã do Chacal. –
Aquele merda não tentou nada com você, tentou?
– Não, eu dormi no quarto ao lado do seu.
– Mas não confio nesse vacilão, o jeito que ele olha para você Maria...
– Não ter escolha é a pior coisa de ter que ficar nesse lugar! Mas tenho
medo de sairmos agora e nos fazerem mal.
– Não podemos viver aqui para o resto da vida por causa das ameaças, vou dar
meu corres e a gente foge do estado.
– Eu já te disse que não quero que se envolva ainda mais no crime, vou
pensar em uma forma de nos livrarmos do Chacal e desses outros bandidos.
Chacal
Fiquei esperando por ela na mesa de jantar, mas apenas a empregada veio me servir.
– E a minha joia, vai fazer greve de fome?
Ela sorriu.
– A mocinha disse que vai comer com o irmão na cozinha.
Ela está mesmo disposta a me afrontar, que garota mais teimosa e marrenta.
Tenho que resolver umas paradas e vou passar o dia fora de casa, deixei
combinado com o Pelé e o Vilmar para ficarem de olho na casa e não permitirem
que ela saia daqui e minha vingança contra esses dois, está apenas começando.
Mandei chamarem Luíz e ele veio com aquela cara de otário.
– Como eu já te mandei o papo reto, aqui eu não sustento vagabundo. Vai
trabalhar no depósito descarregando os materiais junto com os meus parças e
eles ficarão de olho em você.
– Não temos intenção de ficar aqui por muito tempo!
Eu gargalhei.
– Certo, mas vá para o seu “corre” e tira o traseiro da minha frente.
Ele saiu furioso, se eu pudesse estar fazendo isso com o pai deles...teria
um sabor ainda mais doce. Comi, subi as escadas, peguei minhas armas dentro do
cofre e fui pegar o carro...olhei para a janela e Maria estava me olhando sair.
Não quero que ela deixe a casa, claro que não temo o que possam fazer com ela,
mas não quero perder a chance de puni-los pelo passado que nos une.
Maria Victória
Passei o dia inteiro fazendo os serviços da casa, eu não tinha mais nada
para fazer. Mas a empregada não me deixou entrar em determinados quartos da
casa, certamente usados para esconder coisas ilícitas.
– Estou indo agora, mas prometo que farei tudo para que me liberem logo do
trabalho.
– Trabalho? O que vai fazer Luíz?
– Tenho que ir ao depósito, ele mandou e eu não posso descumprir as ordens
desse infeliz.
Temi por ele, mas tive que deixa-lo ir. Fui limpar o quarto do Chacal, havia
uma camisa dele em cima da cama e eu resolvi pegar e colocar no lugar certo.
Estava muito perfumada e eu levei até mais perto do meu nariz, fechei meus
olhos e pensei no nosso beijo.
Não sei o que está acontecendo comigo, não posso pensar em alguém como ele.
Chacal é um assassino e bandido, tenho que colocar isso na minha cabeça antes
que sinta o que não devo sentir. Depois de fazer o meu trabalho, eu fui para o
quarto e esperei aquele dia passar.
[...]
Chacal foi buscar uma encomenda de armas, mas eles acabaram tendo um
problema com a entrega. Ele entrou sozinho para falar com o representante
deles...
– Aqui está! – Ele entregou um bolo de dinheiro, o homem contou e fez uma
expressão não muito satisfeita.
– Meu patrão disse que agora é o dobro, vocês demoraram e ele não gosta de
esperar.
– Tô pouco me ferrando para o que ele gosta ou não, pega teu agrado e sai da
minha frente!
Eles iam sair com o carregamento, mas o homem mandou que impedissem a
passagem dos carros. Chacal passou a mão a arma em sua cintura, o negociador
tentou impedir que ele pegasse o revólver...os dois entraram em luta corporal e
Chacal sacou a arma, mas o homem conseguiu desarmá-lo e a arma caiu pra longe
deles.
Começaram a trocar socos e chutes, Chacal foi atingido por um corte de
navalha no ombro, mas depois o desarmou e acertou duas vezes no nariz e ele
sangrava. O homem caiu no chão de barriga para baixo e sangrando...
Chacal
Segurei a cabeça daquele merda pelos cabelos curtos com toda a força,
levantando seu rosto quebrado do chão e observando as gotas de seu sangue
pingarem.
– Nunca mais tente bancar o esperto comigo camarada!
Meti a cara dele com tudo no chão e ele desmaiou...joguei o dinheiro em cima
dele, peguei minha arma e apontei para a cara dos homens dele que estavam nos
bloqueando a saída. Conseguimos passar com a carga de armas e eu entrei no
carro...
– Caralho! – Passei a mão no ombro e só depois da adrenalina baixa eu senti
a dor do corte que ele me fez.
– Ih chefia, melhor ligar para o médico esperar pelo senhor na volta.
– Merda de médico, isso não é nada demais e vamos sair daqui.
Fomos embora daquele lugar antes que desse ruim para nós.
[...]
Luíz chegou ao tal depósito, eles estavam esperando as armas trazidas por
Chacal e ele seria responsável por identificar cada uma delas para o repasse no
mercado negro. Elas eram mandadas para vários países...
– Antes de começar o teu trampo de hoje, vai lavar todos os carros da
garagem!
– Só pode estar de caô com a minha cara.
– Caô merda nenhuma, tú aqui segue as minhas ordens e eu sigo a do chefe.
Então é bom pegar os baldes e começar sem chiar!
Luíz saiu para cumprir aquelas ordens absurdas, eram oito carros e todos
usados por eles nos crimes. Alguns até tinham manchas de sangue, Chacal estava
trazendo as armas de um lugar mais distante e chegou à noite em casa.
Maria tinha feito o jantar, mas ao ouvir vozes masculinas ela correu para a
sala e achou que Luíz tinha voltado.
Maria Victória
Era o Chacal e um dos comparsas dele, os dois pareciam ter vindo mesmo de
uma guerra e estavam sujos e ele tinha marcas roxas no rosto. Ele passou por
mim e o outro homem carregava algumas caixas, ambos subiram as escadas, fiquei
com vontade de perguntar sobre o meu irmão, mas sequer tive tempo de fazer
isso.
Resolvi ir para o quarto e ficar olhando para o lado de fora até o meu irmão
chegar.
[...]
– Liga para o Maroto, diga a ele que pode vir pegar as paradas dele amanhã.
– Sim chefe, não quero mesmo que ligue para o médico vir?
– Não, leve as armas para o depósito...manda o vacilão organizar uma por
uma. – Ele sorriu mesmo sentindo dor.
Ele sabia que Maria iria se recusar a comer com ele na sala de jantar, ele
resolveu provocar um pouco. Foi até o quarto dela e abriu a porta de repente...
– Não aprendeu a bater? – Ela perguntou irritada, estava sentada em uma
cadeira rente a janela e assim que o viu se levantou.
– Essa é minha casa e eu entro por onde me der vontade!
– Mas não no quarto de uma mulher, acha que é dono do mundo só por que
controla um esquadrão de otários armados?
As palavras dela o irritaram, Chacal a puxou pelo braço e abraçou com
força...Maria o empurrou e acabou tocando em seu ferimento, observou o sangue
em sua mão depois de tocá-lo.
– Você está machucado!
– Não foi nada demais, vou sobreviver e quanto ao fodido do teu irmão...não
espere por ele acordada, dei um longo trampo para ele cumprir e só volta depois
disso.
– Por favor Chacal, estamos fazendo tudo o que você quer.
Ele saiu de perto dela e negou com a cabeça.
– Nem tudo! Te espero lá embaixo para jantar comigo.
Maria Vitória
Ele estava machucado, aquilo parecia estar doendo muito e já posso imaginar
o que possa ter causado esse ferimento, certamente briga entre facções ou algo
pior. Mesmo com a minha mente tomada pelo medo do que poderia estar acontecendo
com Luíz, eu tomei um banho...tínhamos recebido algumas roupas e coisas de uso
pessoal e nem sei de onde aquilo pode ter vindo.
Desci as escadas e fui até a sala de jantar, ele ainda não estava lá, mas eu
me sentei e fiquei esperando por ele.
Chacal
Assim que a água caiu nessa merda de ferimento eu vi estrelas, esse corte
daria facilmente uns seis pontos. Fiz um curativo no improviso, a forma como
ela me olhou ao perceber que eu sangrava, será que essa garota se importa
comigo?
Estou sendo otário ao pensar nisso, me vesti e telefonei para saber como
andava o trabalho do Luíz.
– Fala aí meu camarada, como anda o nosso mais novo escravo?
Ele sorriu.
– Lavou e poliu todos os carros esta tarde, agora que os bagulho chegaram
ele passou para sala e vai ter uma longa noite cuidando das paradas que
trouxeram.
Eu sorri, quero mais é que ele se foda. Desliguei e fui jantar com a exaltadinha.
Ela já estava lá, comportada e esperando por mim...
– Agora sim, podemos comer!
Sei que ela queria me perguntar sobre o irmão, mas eu não quis tocar no
assunto. Maria não comeu quase nada e sei que é para me provocar.
– O rango não está do seu agrado?
– Está sim, eu mesma fiz...mas não consigo comer quando estou preocupada.
– Ele vai voltar logo e vê se come de uma vez! – Ela começou a mexer com a
colher no prato, jogando a comida de um lado para o outro e sem muita vontade.
– Posso pensar em reduzir o trampo do seu irmão, mas desse jeito marrento e
teimoso...não vai conseguir nada de mim.
– Diga-me o que tenho que fazer para que deixe Luíz em paz, eu quero que o
deixe ir embora desse lugar e destrua as provas que tem da participação dele em
qualquer coisa ilícita que ele possa ter se envolvido por sua causa.
– Por minha causa? Então eu sou o culpado de ele ser um merda e vida errada
também? – Eu gargalhei e ela ficou ainda mais puta da vida. – Entende uma
coisa minha joia, ninguém o obrigou a comprar bagulho nenhum... Luíz veio por
que quis e a proposta que você me fez, eu posso pensar no assunto e quem sabe
tenha algo seu que eu possa querer.
Claro que posso negociar uma trégua sexual com ela e farei isso em breve,
mas não antes de deixa-la consciente de que sou eu quem dá as regras do jogo.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Sandra Martins
demorando demais pra eles se acertarem
2024-02-13
1
Anna Cristina
estou gostando e muito de ler parabéns autora.
2023-10-10
0