Capítulo 18

Com muita dificuldade, Chacal consegue acompanhar o garoto e os dois caminham

pela floresta. Ele precisou usar um galho de árvore como bengala, pois mal

conseguia se segurar em pé e seguiram até chegarem em uma humilde casa à beira

do rio.

Havia uma velha senhora cozinhando em um fogão de lenha, ela ficou muito

assustada ao ver a situação dele e correu para fora.

— Ernesto, quem é este homem e o que aconteceu com ele?

Ela ficou desesperada ao ver que aquele estranho estava tão ferido. Chacal

mal podia falar e acabou desmaiando, a senhora e o menino então conseguiram

colocá-lo em uma das camas. A mulher limpou seus ferimentos e percebeu que

aquilo era causado por disparos de arma de fogo.

— Esse homem deve ser algum bandido, ele está baleado e não deveria tê-lo

trazido para cá menino.

— E então por causa disso, vai deixa-lo assim vovó? Não se lembra de que o

meu pai nos deixou por causa disso...a senhora também deseja que ele morra

assim?

As palavras do neto comoveram o seu coração, ela não tinha muito

conhecimento sobre medicina, mas havia trabalhado durante muitos anos como técnica

de enfermagem e por morar em um lugar tão ermo, precisavam sempre saber como

cuidar daquele tipo de ferimento sem esperar por uma ambulância que

provavelmente não conseguiria chegar a tempo.

Ela resolveu esterilizar os ferimentos com uma pequena faca, aqueceu a sua

extremidade e conseguiu extrair as duas balas cauterizando os ferimentos que

pararam de sangrar imediatamente, para lidar com uma possível infecção, ela

preparou um chá utilizando ervas da região e esperaria que ele acordasse, para

que dissesse exatamente o que aconteceu e pudesse tomar aquele remédio.

O pequeno Ernesto ficou ao lado da cama, sentia muita pena daquele homem e

naquele momento projetava nele a falta que tinha do próprio pai que os havia

deixado, para levar uma vida de crimes e diretamente havia envolvido a sua mãe

e ela foi morta pelos inimigos dele.

Chacal estava delirando, pois uma febre alta estava tomando conta do seu

corpo naquele instante e ele só conseguia chamar por Maria Victória...a senhora

começou a colocar compressas sobre sua testa, tentando abaixar sua temperatura.

— Ele vai morrer! — O garoto exclamou preocupado.

— Meu amor, como eu disse a você no passado, nós não temos controle sobre

nada do que acontece nessa vida e tudo que podemos fazer é torcer para que ele

se recupere, agora vá para o seu quarto, você tem que descansar eu ficarei

cuidando dele.

Maria Victória

Meia-noite já estava oficialmente tomando conta de todo o morro, agora que

não era mais jurada de morte por eles ela podia sair pelas ruas, algumas pessoas

comentavam que Maria havia ajudado Meia-noite a eliminar Chacal em troca de se

manter como a rainha daquele lugar.

Ela estava inconformada com o modo frio com que Luiz estava lidando com

tudo, Karina estava se recuperando daqueles ferimentos, mas o trauma dentro

dela ainda permaneceu depois da invasão daqueles homens e é claro, por não

conseguir conviver com aquelas pessoas tão perigosas dentro da mesma casa e

sequer podia dormir tranquila.

Maria Victória

Felizmente, Meia-noite tem se mantido afastado de mim, acho que ele

compreende que eu não tenho mais nada a perder. Para me manter aqui a princípio

Chacal, apenas usava como terror psicológico o fato de que nós dois estávamos

jurados de morte pela facção dos CAM, mas ele já não tinha essa arma contra mim

para me manter aprisionada.

Foi então que eu decidi fazer as minhas malas e voltar para nossa antiga

casa, se o Luiz quiser permanecer sendo o cão leal desse marginal ele pode

ficar, mas eu não permanecerei nem mais um segundo aqui neste lugar. Assim que

eu ia sair com a minha pequena mala na mão, Meia-noite e Luiz apareceram de

repente na porta da casa.

— Onde pensa que vai com essa mala gata?

— Por favor, Meia-noite ou seja lá como você se chama, sem ironias, eu não

tenho mais nada que me prenda a este lugar!

Olhei para o Luiz e ele parecia assustado.

— Boa tentativa Maria Victória, mas está se esquecendo de uma coisa e eu vou

refrescar a sua memória tá ligada, o meu irmão foi morto por tua causa!

— Ele foi morto porque tentou abusar de mim!

— Isso não importa, o que interessa é que tu ainda me deve. Ou está pensando

que é apenas a vida daquele noiado vai pagar o que os dois me fizeram?

— Eu já não me importo mais, mate-me se quiser!

Ele então gargalhou.

— Caramba, acha mesmo que o pior que pode te acontecer é a morte? Eu posso

barbarizar com este lugar e todas as pessoas que você conhece.

Meia-noite olhou para Luiz que Deus me perdoe, mas essa ameaça foi boa para

que ele entenda que está apostando muito alto ao caminhar ao lado daquele

demônio. Novamente uma maldita ameaça para me fazer recuar, eu não tenho medo

de fugir dele, desde que Luiz concorde em ir comigo e junto com Karina, ele não

pode confiar que o seus serviços seriam capazes de fazer com que a sua vida em

algum momento seja poupada. Se eu fugir sozinha, então os dois serão mortos e

tenho que fazer de tudo para convencer esse idiota a finalmente deixar este

inferno disfarçado de Paraíso.

Então simplesmente voltei levando a minha mala de volta, eu não aceito

e nem aceitarei esta vida que querem impor a mim, mas antes de dar a eles a

falsa impressão de que estou complacente em relação a isso, eu tinha que dizer

algumas coisas.

— Vou permanecer neste lugar, se é o que você quer Meia-noite, mas eu tenho

algumas condições.

— Então joga na roda novinha!

— Não quero mais que envolva nenhum garoto o morro em tráfico de drogas e

que retire todas as garotas menores de idade daquela casa de prostituição.

Quero que mande fechar o depósito de armas e que você mantenha a fundação, para

não deixar as famílias que dependem dela desamparadas.

Ele gargalhou tanto que precisou se sentar.

— Tá de onda com a minha cara né? Onde já se viu o bandido entrar na linha?

— Você já entendeu exatamente o que eu quero dizer, então se quiser que eu

permaneça aqui por minha própria vontade, terá que cumprir sua palavra.

Sai daquela sala e subi as escadas.

[...]

Luiz ficou constrangido apenas olhando para Meia-noite, Maria Victória

deveria estar mesmo sem juízo para fazer um pedido como aquele, esse lugar

jamais deixaria de ser o que era por tantos anos. Se ela não havia conseguido

manipular os sentimentos de Chacal, desafortunadamente também não conseguiria

fazer o mesmo com o outro chefe que era um homem ainda mais cruel.

Percebendo que as palavras dela haviam deixado o seu novo líder irritado,

ele também saiu da frente dele e foi verificar como Karina estava.

Meia-noite ficou refletindo sobre pedidos absurdos daquela garota, mas

pensou melhor e achou que dar a ela a falsa impressão de que o manipulava seria

uma opção muito mais viável do que forçar a cumprir com tudo o que ele

planejava para os dois.

Baratão e os outros subordinados de Chacal foram forçados a fazer os

serviços ainda mais sujos do que antes, pois agora os CAM os colocavam para

levar drogas e fazer todos os serviços ilícitos usando como moeda de troca, o

bem-estar de toda a comunidade do Paraíso, além de amigos e familiares destes

homens.

Dentro do quarto de Karina...

— Maria Victória foi mesmo embora? Ela me disse mais cedo que estava

disposta a dar o fora dessa confusão toda.

— E tu acha mesmo que o Meia-noite já deixaria sair assim? Chacal queria

acabar com a vida da minha irmã por algum motivo que eu não sei, esse outro é

ainda mais cruel e seu motivo é conhecido...caraca, minha irmã está brincando

com fogo!

— Coé Luiz? Então você acha que Maria Victória está errada em querer salvar

sua própria vida? Para você estar aprisionado aqui no meio deste inferno é uma

opção para ela? Se liga e desce daí! Esse tipo de vagabundo não tem essa parada

de parça, no momento em que você não servir mais para ele vai te apagar sem

qualquer piedade. Pega a visão, Chacal levou a sua irmã para uma viagem

romântica por que gostava dela, esse verme que está só ama a ele mesmo!

— Se liga você Karina, não sou um completo otário e sei bem com quem estou

lidando e para mim Chacal e esse otário valem o mesmo...porra nenhuma!

— Vamos meter o pé enquanto é tempo!

— Já te prometi pensar sobre isso, mas no momento que interessa para nós a

nos mantermos vivos e para isso, temos que continuar servindo a esse merda!

Karina estava revoltada com o jeito passivo de Luiz.

Maria Victória voltou para o seu quarto, começou a chorar se lembrando do

que tinha acontecido a Chacal, nunca pensou que viria cenas tão tristes quanto

aquelas que vivenciou enquanto estava neste lugar, mas entre todas as coisas o

que mais doeu para ela, foi ter visto o grande amor de sua vida ser morto

daquela forma terrível.

Ela aproveitou que Meia-noite havia dado uma saída, como havia feito amizade

com as empregadas pouco antes de todas terem sido demitidas, ela sabia onde

ficava a chave mestra da casa, ela resolveu entrar no antigo quarto de Chacal e

que agora estava sendo ocupado pelo novo dono do morro.

Com muita precaução, ela abriu aquela porta e entrou trancando-a por dentro

por segurança. Algumas gavetas do móvel estavam fechadas com chave, ela ficou

chateada de não poder ver o que havia no interior delas.

Acho que sua ida até aquele quarto tinha sido em vão, mas logo encontrou uma

foto dele sobre a cômoda e a pegou, já que estava ali também gostaria de ter

uma peça de roupa dele para se lembrar do seu cheiro então ela abriu o

guarda-roupa procurando por algo que pudesse trazer esse tipo de recordação. Na

parte de baixo do guarda-roupas havia uma gaveta que não era fechada com chave,

ela então puxou e verificou o que havia lá. A princípio, apenas pressas íntimas

como cuecas e meias, mas assim que ela tateou sentiu que havia algo por baixo.

Era um álbum de fotografias que parecia um pouco antigo, ela reorganizou

todas as coisas em seus devidos lugares para não levantar suspeitas de que

havia mexido em tudo aquilo certamente Meia-noite iria dar fim naquelas coisas

muito em breve.

Um dos homens de confiança de Meia-noite estava passando por aquele corredor

e ouvir o som de uma gaveta ser fechada dentro do quarto, ele sabia que seu

chefe já não estava em casa, então ele ficou de olho para verificar quem sairia

de dentro daquele lugar já que a porta estava trancada.

Maria Victória enfiou a chave para virá-la e sair do quarto.

— Qualé meu irmão, que cê tá fazendo aí camarada? Meia-noite acabou de ligar

ordenando o que você chegue em 2 minutos até a fundação, parece que ele quer

fazer um levantamento geral e delegar as novas funções.

— E por que não vai você, arrombado?

— Porque ele me mandou te chamar ô imbecil!

Ele ainda olhou para a porta, esperando mais um segundinho que fosse, mas

Maria Victória havia escutado o movimento e a conversa deles do lado de fora,

então recuou para esperar que saíssem de lá.

Ela guardou por mais alguns minutos, até que conseguiu sair dali levando as

coisas que havia ido buscar e trancando novamente a porta para não levantar

nenhum tipo de suspeita, correu levando todas aquelas coisas para dentro do seu

quarto. Chorou por alguns momentos olhando a foto dele.

Maria Victória

Se aquela tempestade não os tivesse impedido de sair daquele lugar, eu tenho

certeza que estaria ao seu lado, mas eu prometo que de alguma forma irei salvar

todas as pessoas que você amava. Os modos pelos quais você usava para tentar

mudar a vida dessas pessoas, poderiam não ser os melhores, mas eu tenho certeza

que dentro do seu coração havia amor por essa comunidade e eu não deixarei que

tudo isso se perca nas mãos de um maldito assassino e covarde.

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Anna Cristina

Anna Cristina

show

2023-10-11

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