Maria Victória jantou com Chacal, mas não conseguiu dormir esperando pelo
irmão. Ela ficou na sala e acabou cochilando no sofá de tão cansada...
Luíz passou toda a madrugada guardando as armas trazidas por eles no final
daquele dia, ele também estava muito cansado e faminto.
– Aquele arrombado vai me pagar por essa! – Ele resmungava colocando o
armamento dentro de caixas para o repasse.
Em casa, Chacal também não conseguia pegar no sono. Levantou-se para tomar
água e viu Maria dormindo no sofá e era uma noite fria, ele foi até o quarto
mais próximo e pegou um cobertor para cobri-la. O protetor e amoroso dela,
estava ganhando o coração dele pouco a pouco, mas ele não podia pensar na
hipótese de sentir algo por ela...o único sentimento que poderiam sentir um
pelo outro, era o ódio.
Maria Victória
Acordei e ainda não havia amanhecido, mas o relógio já marcava três e cinco
da manhã. Eu estava coberta com um lençol, realmente estava muito
frio...nenhuma das empregadas dormia em casa e se Luíz não chegou...
– Só pode ter sido ele!
Isso me faz pensar que talvez ainda haja alguma coisa de boa dentro desse
homem, ouvi a porta ser aberta e era o meu irmão finalmente.
– Finalmente, o que esteve fazendo todo esse tempo?
Ele parecia estar muito cansado, mas pelo menos não parecia ter usado nada
de errado e nem estar ferido.
– Arrumar as paradas que esses otários vão repassar.
– Que tipo de paradas? – Insisti.
– Armas, de todos os calibres que você imaginar mana... não é atoa que ele
mora nesse palácio aqui!
– Não quero nem pensar no que a polícia faria conosco se não pegassem com
eles.
– Tarde demais para fora, ele quer mais é que a gente saiba de todas as
coisas dele... Chacal é esperto demais para sair perdendo. Na boa, preciso
descansar eu tô quebrado para caramba.
– Sim, vá dormir e amanhã conversamos melhor.
Subi para tentar descansar também, a luz do quarto dele estava acesa e deve
ser consciência pesada que não o deve estar deixando dormir. Sinto falta da
nossa casa, mesmo que Luíz me deixasse quase sempre sozinha ao menos eu tinha
as minhas coisas para tomar conta e o meu trabalho para distrair a mente. Eu
tinha terminado um relacionamento a pouco tempo, ainda dói em mim saber que fui
trocada por uma vadia qualquer...tenho que limpar minha mente, tenho problemas
demais para pensar em quem saiu ou entrou na minha vida.
[...]
Assim que amanheceu Chacal foi saiu para tomar conta de suas coisas, mas não
antes de bater na porta do quarto de Luíz e leva-lo junto. Maria acabou
acordando um pouco mais tarde do que gostaria e foi procurar pelo irmão, mas
encontrou o quarto vazio. Foi até a cozinha...
– Você viu o meu irmão essa manhã?
– Ele saiu mais cedo com o patrão.
De novo com essas saídas misteriosas, eu estava cansada de ficar presa
dentro daquela mansão e mesmo que ele tenha me mandado ficar quieta em casa, eu
não posso passar dia e noite presa. Esperei um dos seguranças imbecis dele se
distraírem e não nada difícil, consegui sair sem que ele me visse. Caminhei pelas
ruas do morro, haviam crianças correndo e empinando pipa...haviam camelôs
vendendo todos os tipos de artesanato, mas também dura realidade de ver meninas
novinhas já grávidas ou levando bebês nos braços.
Eu estava tão desacostumada a sair, que sentir o sol tocar minha pele me
revigorou. As pessoas me olhavam meio assustadas e meio curiosas, acho que todo
mundo sabe o que aconteceu naquele dia no bordel. Uns garotos que jogavam bola
acabaram chutando para bem perto dos meus pés e eu me abaixei para pegar, assim
que me levantei... havia um homem na minha frente e a presença dele fez com que
os meninos corressem e eu não entendi o porquê.
Ele sorriu para mim, vi que estava com uma arma na cintura além de ter a
mesma tatuagem que o cara que o Chacal matou e eu parecia estar muito
encrencada. Em um reflexo rápido eu arremessei a bola no rosto dele e saí
correndo desesperadamente, ouvi o primeiro tiro que atingiu os vidros de um
carro parado a poucos metros de mim, consegui me esconder atrás dele e outros
disparos foram feitos, meu coração estava quase saindo pela boca e só conseguia
rezar pela minha vida.
[...]
Chacal havia ido com Luíz até a fundação onde repassavam cestas básicas para
os moradores mais carentes da comunidade, era mais uma forma de absorver o
trabalho dele em algo edificante. O local ficava próximo a praça onde Maria
estava e sofrendo aquele atentado, eles ouviram os tiros e o morro do Éden
sempre teve fama de ser uma das comunidades mais pacatas, aquilo fugia
totalmente do normal.
– São tiros, não restam dúvidas!
Chacal sacou sua arma e saiu correndo para o lado de fora, Luíz e outros
homens o acompanharam...deu dois tiros pelas costas do atirador. Chegou mais
perto e ele já agonizava, ele mirou o revólver dentro da boca e exigiu.
– Foi o puto do Coiote que te mandou, não foi? – Chacal preparando a arma
para o próximo disparo.
O homem não consegui dizer nada tamanha a dor que sentia, Luiz amparou Maria
Victória ajudando-a a se levantar do chão depois daquele susto e ela chorava
desesperadamente.
– Já chega Chacal, você já o matou! – Ela implorou, sabendo que não haveria
mais o que fazer.
– Limpem a bagunça... – Ele gritou para seus subordinados e acenou para que
Luíz e ela voltassem com ele para casa.
Assim que entraram...
– Caraca, tá de brincadeira com a minha cara garota? Te falei que eles não
são de brincadeira e tú resolve desfilar pelo morro?
– Como eu poderia saber que aquele miserável estava me vigiando? – Ela ainda
chorava abraçada ao irmão.
– Ela não pode passar a vida inteira aqui debaixo das tuas asas. – Luíz a
defendeu, mas Chacal chegou mais perto deles ainda com a arma em punho.
– Falta de aviso não é, coloca uma coisa nessa sua cabecinha...tú e tua irmã
só estão vivos, por que eu estou dando uma moralzinha de abrigar os dois. Agora
os fardados vão bater na minha porta e lá se vão mais rios de dinheiro para
limpar minha capivara! (ficha criminal).
Ele enfiou dedo quase no rosto de Luíz.
– Eu não onde eu tô que não... – Ele cerrou os punhos, mas viu o quanto ela
ainda estava assustada e resolveu sair da frente deles, antes que perdesse a
razão por completo.
Maria Victória
Eu nunca passei por uma situação parecida, nem mesmo quando fui mandada para
aquele bordel com aquele homem nojento. Luíz me acompanhou até o quarto, não
posso aceitar viver nessa clausura eterna, mas não podemos sair.
– Olha para mim mana, cê tá legal mesmo? Se machucou?
– Só alguns ralados por causa dos estilhaços dos vidros, Luíz...eu odeio
esse lugar. Aqui é o inferno, não tem nada de paraíso e eu daria tudo para não
estar aqui nesse lugar.
– Oh Maria, não sei o que vou fazer, mas vou te tirar desse pesadelo.
Prometo que em breve você vai voltar para casa...fico bolado de te ver assim.
– Odeio quando você fala gírias como eles, parece que viver aqui está te
transformando pouco a pouco. Quero meu irmão de volta!
Ele me abraçou e choramos juntos, lembrei-me do meu pai e de como ele era
presente na nossa vida apesar de tudo. Pelo menos, Chacal não o mandou
trabalhar a tarde e ficamos um tempo juntos...
Chacal
Essa mulher quer acabar comigo, quase conseguiu se matar em poucos minutos
fora da minha proteção. Mas já que ela está se sentindo presa e sozinha, vou
dar a ela um pouco de lazer essa noite. Mandei que conseguissem uma roupa
apropriada para ela, essa noite seria minha convidada no baile funk.
Eu sei que ela vai recusar se eu não concordar em levar o otário do irmão
dela, mas vou abrir essa exceção.
– Levem até o quarto dela e digam para que estejam prontos antes das 22:00!
– Dei a ordem para uma das vagabas do bordel conseguirem essa roupa para
deixa-la ainda mais gostosa e de acordo com a ocasião.
Logo recebi a ligação, sempre tem um X9 para telefonar para a polícia e
deixa-los prontos para me extorquir.
– Recebi uma ligação sobre o que aconteceu a pouco no seu morro, devo fazer
uma visita Chacal?
Ele sorriu, sabemos bem como resolver esse assunto.
– Cinquenta mil para sumir com esse B.O!
– Fala sério, cinquenta mil por um cadáver de facção rival.
– Pega a visão é sessenta e não se fala mais nisso, já pedi para se
desfazerem do corpo e agora já é.
– Vou te quebrar essa como sempre, mas está cada dia mais difícil de te dar
uma força então vê se anda na linha Chacal.
– Firmeza!
Já que a sujeira estava prestes a ser limpa, eu tinha mais é que me divertir...enquanto
eu tiver um chegado na polícia, estou ileso.
[...]
Horas depois, a empregada bateu na porta e entregou algumas peças de roupa
para Maria Victória.
– Chacal pediu para esteja pronta antes das dez da noite e seu irmão também!
– Pronta para que? – Ela perguntou, mas não teve resposta. Maria abriu o
vestido e era bem a cara das novinhas do morro, curto, decotado e cheio de
brilhos. – Ele ficou maluco se acha que vou vestir isso!
– Ele quer te transformar em uma das cachorras dele, mas isso é o que nós
vamos ver. – Luíz iria tirar satisfação com ele, mas Maria o impediu.
– Espere, não vá discutir com ele. Além disso, a empregada disse que você
vai junto...ele não vai se atrever a nada contigo do meu lado.
– Tem razão, vou cuidar de você e não precisa ficar com medo.
Luíz saiu para que ela pudesse se arrumar, entrou em seu quarto e Chacal
entrou logo depois.
– Pega e vê se toma banho! – Ele o entregou uma roupa.
– Cuidado mermão, assim vou achar que o todo poderoso tá querendo me
agradar.
– Veste isso, antes que eu te enfie goela abaixo! – Chacal bateu à porta.
O horário combinado havia chegado e ele esperava por eles na sala de estar.
– Cacete, eu devia ter marcado uma hora antes. – Ele estava ansioso, até que
Maria surgiu no alto da escada... naquela roupa reveladora e sexy.
– Quê isso morena! – Cochichou dando uma coçadinha no queixo.
Maria Victória
Eu estava me sentindo ridícula, era ainda pior do que o primeiro vestido que
me deram para fazer programa. Desci as escadas e ele já estava lá embaixo, com uma
roupa preta e cheio de cordões de ouro.
– Achei que ia me dar um bolo!
– Eu sempre cumpro com as minhas obrigações Chacal.
– Então sair comigo é obrigação? – Ele debochou, todas as garotas da favela
adorariam estar no lugar dela, mas não Maria e isso o tirava do sério.
– Sim, ou acha que eu quero ver um bando de vadias descendo até o chão e te
bajulando?
– Quem sabe alguma daquelas piriguetes consiga me fazer tirar os olhos das
suas coxas.
– Imbecil!
Luíz chegou para acalmar o assunto entre eles, o carro já estava pronto e os
homens que fariam a segurança dele já estavam prontos. Chegaram ao baile funk,
haviam muitas pessoas e inclusive as que vinham de bairros nobres para curtir
com a galera da quebrada, pancadão rolando e as novinhas descendo até o chão.
Sempre que Chacal chegava era um acontecimento e todos paravam para olhar quem
teria a honra de chegar com ele, ou pelo menos de estar ao seu lado no
camarote.
Maria Victória
Um bando de mulheres olhando para mim como se eu fosse algo de outro mundo,
subimos para o camarote e ele começou a dar um monte de ordens.
– Não parece muito animada, por que não coloca a raba para mexer?
Eu não quis me sentar ao lado dele naquele confortável sofá dourado e também
não respondi a sua estupidez, onde ele era servido como um verdadeiro rei. A
hipocrisia dele era gigante, um cara que vende pó e erva e não faz uso de
nenhum deles...ele sabe bem o que está fazendo e o poder destruição que isso
tem na vida de uma pessoa.
– Vai, trás alguma coisa para o meu “cunhadinho”!
Ele pediu que trouxessem bebida, uma das mais caras. Luíz começou a dançar
próximo de uma garota e eu percebi que nessa noite, eu terei que cuidar de mim
mesma.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 60
Comments
Viviane Ramos Ramos
essa história tá ficando chata quero w eles se peguem logo
2023-07-21
2