Capítulo 6

Maria Victória jantou com Chacal, mas não conseguiu dormir esperando pelo

irmão. Ela ficou na sala e acabou cochilando no sofá de tão cansada...

Luíz passou toda a madrugada guardando as armas trazidas por eles no final

daquele dia, ele também estava muito cansado e faminto.

– Aquele arrombado vai me pagar por essa! – Ele resmungava colocando o

armamento dentro de caixas para o repasse.

Em casa, Chacal também não conseguia pegar no sono. Levantou-se para tomar

água e viu Maria dormindo no sofá e era uma noite fria, ele foi até o quarto

mais próximo e pegou um cobertor para cobri-la. O protetor e amoroso dela,

estava ganhando o coração dele pouco a pouco, mas ele não podia pensar na

hipótese de sentir algo por ela...o único sentimento que poderiam sentir um

pelo outro, era o ódio.

Maria Victória

Acordei e ainda não havia amanhecido, mas o relógio já marcava três e cinco

da manhã. Eu estava coberta com um lençol, realmente estava muito

frio...nenhuma das empregadas dormia em casa e se Luíz não chegou...

– Só pode ter sido ele!

Isso me faz pensar que talvez ainda haja alguma coisa de boa dentro desse

homem, ouvi a porta ser aberta e era o meu irmão finalmente.

– Finalmente, o que esteve fazendo todo esse tempo?

Ele parecia estar muito cansado, mas pelo menos não parecia ter usado nada

de errado e nem estar ferido.

– Arrumar as paradas que esses otários vão repassar.

– Que tipo de paradas? – Insisti.

– Armas, de todos os calibres que você imaginar mana... não é atoa que ele

mora nesse palácio aqui!

– Não quero nem pensar no que a polícia faria conosco se não pegassem com

eles.

– Tarde demais para fora, ele quer mais é que a gente saiba de todas as

coisas dele... Chacal é esperto demais para sair perdendo. Na boa, preciso

descansar eu tô quebrado para caramba.

– Sim, vá dormir e amanhã conversamos melhor.

Subi para tentar descansar também, a luz do quarto dele estava acesa e deve

ser consciência pesada que não o deve estar deixando dormir. Sinto falta da

nossa casa, mesmo que Luíz me deixasse quase sempre sozinha ao menos eu tinha

as minhas coisas para tomar conta e o meu trabalho para distrair a mente. Eu

tinha terminado um relacionamento a pouco tempo, ainda dói em mim saber que fui

trocada por uma vadia qualquer...tenho que limpar minha mente, tenho problemas

demais para pensar em quem saiu ou entrou na minha vida.

[...]

Assim que amanheceu Chacal foi saiu para tomar conta de suas coisas, mas não

antes de bater na porta do quarto de Luíz e leva-lo junto. Maria acabou

acordando um pouco mais tarde do que gostaria e foi procurar pelo irmão, mas

encontrou o quarto vazio. Foi até a cozinha...

– Você viu o meu irmão essa manhã?

– Ele saiu mais cedo com o patrão.

De novo com essas saídas misteriosas, eu estava cansada de ficar presa

dentro daquela mansão e mesmo que ele tenha me mandado ficar quieta em casa, eu

não posso passar dia e noite presa. Esperei um dos seguranças imbecis dele se

distraírem e não nada difícil, consegui sair sem que ele me visse. Caminhei pelas

ruas do morro, haviam crianças correndo e empinando pipa...haviam camelôs

vendendo todos os tipos de artesanato, mas também dura realidade de ver meninas

novinhas já grávidas ou levando bebês nos braços.

Eu estava tão desacostumada a sair, que sentir o sol tocar minha pele me

revigorou. As pessoas me olhavam meio assustadas e meio curiosas, acho que todo

mundo sabe o que aconteceu naquele dia no bordel. Uns garotos que jogavam bola

acabaram chutando para bem perto dos meus pés e eu me abaixei para pegar, assim

que me levantei... havia um homem na minha frente e a presença dele fez com que

os meninos corressem e eu não entendi o porquê.

Ele sorriu para mim, vi que estava com uma arma na cintura além de ter a

mesma tatuagem que o cara que o Chacal matou e eu parecia estar muito

encrencada. Em um reflexo rápido eu arremessei a bola no rosto dele e saí

correndo desesperadamente, ouvi o primeiro tiro que atingiu os vidros de um

carro parado a poucos metros de mim, consegui me esconder atrás dele e outros

disparos foram feitos, meu coração estava quase saindo pela boca e só conseguia

rezar pela minha vida.

[...]

Chacal havia ido com Luíz até a fundação onde repassavam cestas básicas para

os moradores mais carentes da comunidade, era mais uma forma de absorver o

trabalho dele em algo edificante. O local ficava próximo a praça onde Maria

estava e sofrendo aquele atentado, eles ouviram os tiros e o morro do Éden

sempre teve fama de ser uma das comunidades mais pacatas, aquilo fugia

totalmente do normal.

– São tiros, não restam dúvidas!

Chacal sacou sua arma e saiu correndo para o lado de fora, Luíz e outros

homens o acompanharam...deu dois tiros pelas costas do atirador. Chegou mais

perto e ele já agonizava, ele mirou o revólver dentro da boca e exigiu.

– Foi o puto do Coiote que te mandou, não foi? – Chacal preparando a arma

para o próximo disparo.

O homem não consegui dizer nada tamanha a dor que sentia, Luiz amparou Maria

Victória ajudando-a a se levantar do chão depois daquele susto e ela chorava

desesperadamente.

– Já chega Chacal, você já o matou! – Ela implorou, sabendo que não haveria

mais o que fazer.

– Limpem a bagunça... – Ele gritou para seus subordinados e acenou para que

Luíz e ela voltassem com ele para casa.

Assim que entraram...

– Caraca, tá de brincadeira com a minha cara garota? Te falei que eles não

são de brincadeira e tú resolve desfilar pelo morro?

– Como eu poderia saber que aquele miserável estava me vigiando? – Ela ainda

chorava abraçada ao irmão.

– Ela não pode passar a vida inteira aqui debaixo das tuas asas. – Luíz a

defendeu, mas Chacal chegou mais perto deles ainda com a arma em punho.

– Falta de aviso não é, coloca uma coisa nessa sua cabecinha...tú e tua irmã

só estão vivos, por que eu estou dando uma moralzinha de abrigar os dois. Agora

os fardados vão bater na minha porta e lá se vão mais rios de dinheiro para

limpar minha capivara! (ficha criminal).

Ele enfiou dedo quase no rosto de Luíz.

– Eu não onde eu tô que não... – Ele cerrou os punhos, mas viu o quanto ela

ainda estava assustada e resolveu sair da frente deles, antes que perdesse a

razão por completo.

Maria Victória

Eu nunca passei por uma situação parecida, nem mesmo quando fui mandada para

aquele bordel com aquele homem nojento. Luíz me acompanhou até o quarto, não

posso aceitar viver nessa clausura eterna, mas não podemos sair.

– Olha para mim mana, cê tá legal mesmo? Se machucou?

– Só alguns ralados por causa dos estilhaços dos vidros, Luíz...eu odeio

esse lugar. Aqui é o inferno, não tem nada de paraíso e eu daria tudo para não

estar aqui nesse lugar.

– Oh Maria, não sei o que vou fazer, mas vou te tirar desse pesadelo.

Prometo que em breve você vai voltar para casa...fico bolado de te ver assim.

– Odeio quando você fala gírias como eles, parece que viver aqui está te

transformando pouco a pouco. Quero meu irmão de volta!

Ele me abraçou e choramos juntos, lembrei-me do meu pai e de como ele era

presente na nossa vida apesar de tudo. Pelo menos, Chacal não o mandou

trabalhar a tarde e ficamos um tempo juntos...

Chacal

Essa mulher quer acabar comigo, quase conseguiu se matar em poucos minutos

fora da minha proteção. Mas já que ela está se sentindo presa e sozinha, vou

dar a ela um pouco de lazer essa noite. Mandei que conseguissem uma roupa

apropriada para ela, essa noite seria minha convidada no baile funk.

Eu sei que ela vai recusar se eu não concordar em levar o otário do irmão

dela, mas vou abrir essa exceção.

– Levem até o quarto dela e digam para que estejam prontos antes das 22:00!

– Dei a ordem para uma das vagabas do bordel conseguirem essa roupa para

deixa-la ainda mais gostosa e de acordo com a ocasião.

Logo recebi a ligação, sempre tem um X9 para telefonar para a polícia e

deixa-los prontos para me extorquir.

– Recebi uma ligação sobre o que aconteceu a pouco no seu morro, devo fazer

uma visita Chacal?

Ele sorriu, sabemos bem como resolver esse assunto.

– Cinquenta mil para sumir com esse B.O!

– Fala sério, cinquenta mil por um cadáver de facção rival.

– Pega a visão é sessenta e não se fala mais nisso, já pedi para se

desfazerem do corpo e agora já é.

– Vou te quebrar essa como sempre, mas está cada dia mais difícil de te dar

uma força então vê se anda na linha Chacal.

– Firmeza!

Já que a sujeira estava prestes a ser limpa, eu tinha mais é que me divertir...enquanto

eu tiver um chegado na polícia, estou ileso.

[...]

Horas depois, a empregada bateu na porta e entregou algumas peças de roupa

para Maria Victória.

– Chacal pediu para esteja pronta antes das dez da noite e seu irmão também!

– Pronta para que? – Ela perguntou, mas não teve resposta. Maria abriu o

vestido e era bem a cara das novinhas do morro, curto, decotado e cheio de

brilhos. – Ele ficou maluco se acha que vou vestir isso!

– Ele quer te transformar em uma das cachorras dele, mas isso é o que nós

vamos ver. – Luíz iria tirar satisfação com ele, mas Maria o impediu.

– Espere, não vá discutir com ele. Além disso, a empregada disse que você

vai junto...ele não vai se atrever a nada contigo do meu lado.

– Tem razão, vou cuidar de você e não precisa ficar com medo.

Luíz saiu para que ela pudesse se arrumar, entrou em seu quarto e Chacal

entrou logo depois.

– Pega e vê se toma banho! – Ele o entregou uma roupa.

– Cuidado mermão, assim vou achar que o todo poderoso tá querendo me

agradar.

– Veste isso, antes que eu te enfie goela abaixo! – Chacal bateu à porta.

O horário combinado havia chegado e ele esperava por eles na sala de estar.

– Cacete, eu devia ter marcado uma hora antes. – Ele estava ansioso, até que

Maria surgiu no alto da escada... naquela roupa reveladora e sexy.

– Quê isso morena! – Cochichou dando uma coçadinha no queixo.

Maria Victória

Eu estava me sentindo ridícula, era ainda pior do que o primeiro vestido que

me deram para fazer programa. Desci as escadas e ele já estava lá embaixo, com uma

roupa preta e cheio de cordões de ouro.

– Achei que ia me dar um bolo!

– Eu sempre cumpro com as minhas obrigações Chacal.

– Então sair comigo é obrigação? – Ele debochou, todas as garotas da favela

adorariam estar no lugar dela, mas não Maria e isso o tirava do sério.

– Sim, ou acha que eu quero ver um bando de vadias descendo até o chão e te

bajulando?

– Quem sabe alguma daquelas piriguetes consiga me fazer tirar os olhos das

suas coxas.

– Imbecil!

Luíz chegou para acalmar o assunto entre eles, o carro já estava pronto e os

homens que fariam a segurança dele já estavam prontos. Chegaram ao baile funk,

haviam muitas pessoas e inclusive as que vinham de bairros nobres para curtir

com a galera da quebrada, pancadão rolando e as novinhas descendo até o chão.

Sempre que Chacal chegava era um acontecimento e todos paravam para olhar quem

teria a honra de chegar com ele, ou pelo menos de estar ao seu lado no

camarote.

Maria Victória

Um bando de mulheres olhando para mim como se eu fosse algo de outro mundo,

subimos para o camarote e ele começou a dar um monte de ordens.

– Não parece muito animada, por que não coloca a raba para mexer?

Eu não quis me sentar ao lado dele naquele confortável sofá dourado e também

não respondi a sua estupidez, onde ele era servido como um verdadeiro rei. A

hipocrisia dele era gigante, um cara que vende pó e erva e não faz uso de

nenhum deles...ele sabe bem o que está fazendo e o poder destruição que isso

tem na vida de uma pessoa.

– Vai, trás alguma coisa para o meu “cunhadinho”!

Ele pediu que trouxessem bebida, uma das mais caras. Luíz começou a dançar

próximo de uma garota e eu percebi que nessa noite, eu terei que cuidar de mim

mesma.

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Comments

Viviane Ramos Ramos

Viviane Ramos Ramos

essa história tá ficando chata quero w eles se peguem logo

2023-07-21

2

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