Capítulo 18. Inferno

Célia sorriu ao ver a traquinagem que fez, sentia-se como uma criança travessa que enganou os pais. Olhou a quantidade de respostas que já tinha seu comentário e ficou satisfeita.

— Foi tão fácil!

Ela apenas comentou no post original, que aquele papai modelo, estava no hospital com a filha, por culpa dele mesmo, que deu bolo confeitado para a bebê de quatro meses. Pronto, ninguém foi checar a veracidade dos fatos, apenas divulgaram como loucos e se fizeram júri e juiz de Miguel.

Terminou de verificar tudo, pegou a mala e saiu, direto para o aeroporto, estava na hora de voltar. Seu plano estava funcionando, apesar da intromissão daquela doutorazinha.as Carlos também estava fazendo sua parte, difamando.o hospital e contando de forma diferente, a história da internação da sua paciente.

Carlos colocou a culpa toda em Miguel, dizendo que ele era um homem adulto, cuidando de uma criança indefesa e devia ter se instruído sobre o que devia ou não, dar para a filha comer e sequer sabia que a filha era alérgica. Aproveitou bem a resposta ao comentário de Célia, para colocar mais lenha na fogueira.

Se tornou uma guerra midiática.

Tanto o hospital, quanto a empresa de Miguel, tinham advogados especializados na área de propaganda e marketing e não sabiam muito nem como lidar com esse tipo de ataque. Infelizmente, levou um tempo precioso para poderem anular as postagens fake e já tinha sido muito compartilhada.

*

Miguel se preparou para ir trabalhar, quando Denise chegou. Gabriela ficou triste ao notar que Jessica não estava mais lá, mas aceitou, pois em sua cabecinha  ela logo iria voltar. Por tanto, quando Denise chegou, agitando a atmosfera tranquila  ele franziu a testa preocupado.

— O que houve Denise?

— O senhor não tem noção do quanto aquelas postagens cresceram e inverteram sua popularidade, não é?

— O que foi agora?

— Alguém respondeu ao post do papai modelo, contando que Gabi estava internada graças a sua negligência e contou que o senhor deu bolo confeitado para ela.

— Sim, eu dei, porque o pediatra havia dito que podia.

— O mesmo pediatra que está dizendo que o senhor é que foi negligente com sua filha. Tá feita a confusão e tem até polícia lá embaixo. Tentaram invadir o condomínio e houve depredação e picharam os muros.

— Eu não tenho conta nas redes sociais, mas sei o quanto isso pode prejudicar a empresa e tenho advogados para resolverem o problema.

— Mesmo que eles consigam tirar o post, já foi muito compartilhado e não vai sumir e essas pessoas loucas, não vão esquecer.

Ele ligou para o advogado da empresa e ele respondeu que já havia entrado com as medidas cabíveis, mas confirmou o que Denise falou. A campainha tocou, ele desligou o celular e foi atender a porta, levando um susto com o flash de uma câmera e uma microfone colocado quase dentro de sua boca.

— Mas o que…como conseguiram entrar aqui?

Denise foi rápida, colocou Gabriela no carrinho e foi até a porta, impedindo que Miguel tivesse um ataque.

— Espere seu Miguel, podem ser úteis.

— Como assim, úteis? Estão me difamando, só querem sensacionalismo. 

Denise verificou se haviam outros, mas não. Desconfiou do que podia acontecer e verificou a logo no microfone para saber qual era a emissora.

— Vocês sabem que estão invadindo propriedade particular, não sabem?

— Desculpe, senhor, mas essa é sua chance de explicar e tentar inverter essa onda de ataques ao senhor e a sua empresa.

— Minha empresa?

— Calma, senhor, eles são de uma rede de televisão idônea, apesar de infringirem a lei. — disse Denise, olhando séria para eles.

— Desculpem, é que também moro nesse prédio e aproveitei a oportunidade. — informou a reporter.

— Entrem, por favor, não quero incomodar a vizinha.

Eles entraram, encarando um CEO muito contrariado, mas prevenido, que ligou todos os dispositivos que possuía, para gravar tudo. Sentaram-se e a repórter iniciou logo a entrevista  perguntando o que realmente aconteceu e Miguel resumiu a história.

— Esse pediatra é o mesmo que fez a acusação?

— Não sei ao que você se refere.

Ela mostrou a postagem e ele viu a foto de Carlos.

— Sim, é ele e inclusive, o hospital denunciou ele, pois é recorrente.

— Ótimo daner disso, vou enviar essa informação agora mesmo para a redação, eles vão enviar alguém lá para confirmar e teremos uma matéria completa. 

— Agradeço se não inventarem uma outra história, essa conversa está sendo gravada e tenho uma ótima equipe de advogados, que já está cuidando do caso.

A repórter se encolheu um pouco e olhou em volta da sala, se perguntando se falou algo indevido.

— Vou fazer uma última pergunta, senhor Miguel e agradeço sua cooperação. O senhor tem ideia de quem está querendo difamá-lo?

— Posso só conjecturar que pode ser  a mãe da minha filha, se for, logo ela estará aqui, querendo tirar a guarda de mim e não, não fui eu que quis a menina, mas ela que entregou a criança, desistindo da guarda, o porquê, parece que ela quer me forçar a um casamento, o que não vai acontecer.

— O senhor pode se casar com outra, isso tiraria as chances dela.

— Seria trocar seis por meia dúzia.

— Hunmmmm!!! — exclamou ela, sorrindo e se levantando satisfeita. Conseguiu a matéria e uma bela continuação. — Muito obrigada, mesmo, senhor Mendes. Se precisar, é só entrar em contato, me responsabilizarei pelos fatos que irão ao ar. 

— Obrigada, por favor, não venha mais sem avisar. 

Ele levou-os até a porta  temdo certeza que falou demais e alguma coisa a mais, sairia dali. Mas se a materia ajudasse a desmascarar a "dupla dinâmica", valeria o preço.

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