Capítulo 14. A Advogada

O dia passou e foram visitar a obra, mas Miguel não deu oportunidade para Álvaro, estava preocupado mesmo, era com a mídia e com todas as pessoas que o estavam seguindo, se é que podiam chamar de seguir, pois era uma verdadeira perseguição.

Voltou rapidamente ao escritório e Alvaro ficou decepcionado, mas achou que valia a pena insistir, pois tinham uma amizade de anos e sabia que tinha dado uma mancada.

Logo após tomar um café rapidinho, a secretária anunciou a chegada da advogada e autorizou a entrada. Estava terminando de assinar alguns papéis, pois queria terminar logo e ir para casa ver sua filha, quando a secretária apresentou:

— CEO Mendes, esta é a Doutora Rachel Teixeira. 

Ele largou a caneta e se levantou, só então olhando para ela. Estendeu a mão, avaliando a mulher. Ela de estatura mediana,cabelos lisos e escuros, presos em um coque elegante como a roupa que usava. Bonita, de estilo clássico.

— Obrigada por me atender, imagino como seu dia deve ser corrido. Infelizmente, para mim está difícil sair para qualquer lugar.

Indicou que ela sentasse e notou que a expressão, que antes era arrogante, passou a ser suave e até um sorriso apareceu.

— Eu entendo, senhor Mendes, vi o movimento lá em baixo. Mas o senhor quer o que, especificamente.

— Quero que dê uma olhada nos documentos da guarda de minha filha e veja se está tudo correto e faça o que puder, perante a lei, para impedir que ela seja tirada de mim.

— Gostei disso, embora sempre considere que a criança deva ter os dois pais presentes. O senhor tem os documentos?

— Sim, aqui está.

Ela pegou os documentos e examinou. 

— A certidão está correta, sem nenhum adendo informando a guarda de um dos pais. Agora, quanto à guarda, ela concede plenos poderes ao pai, desde que ele cumpra eficientemente com a segurança e cuidados da bebê e não ponha ela em risco. Isso aqui sim pode ser uma armadilha. Pode me contar como ocorreu a gravidez e como se rompeu o relacionamento de vocês.

Miguel contou como foi sua história com Célia, o término da relação, o comunicado da gravidez e nesse ponto, ela interrompeu:

— Ela lhe contou da gravidez, lhe deu o resultado do exame, pegou o cheque e foi embora, sem mais nem menos?

— Sim.

— O senhor não pediu um exame de DNA?

— Não, pensei que ela usaria o dinheiro para um aborto. Jamais imaginei que meses depois, receberia um bebê de presente.

— Ela sequer avisou ou veio junto para entregar o bebê?

— Não. Um amigo tentou entrar em contato com ela, mas disse que ela estava fora do país.

— Que amigo foi esse?

— O ex pediatra da bebê, Doutor Carlos.

— Ele disse para que queria falar com ela?

— Para saber o histórico de doenças da família.

— Entendo e ela nunca ligou para saber da bebê?

— Não.

— Me admira muito o senhor não perceber toda a armação que essa mulher fez, ela foi muito ardilosa. Se o amigo é esse mesmo que negligenciou a criança, não me admiraria se ele estiver mancomunado com ela.

— Como assim? O que ela quer, dinheiro?

— Não, o plano dela é bem mais complexo. Ela quer tudo. Destruindo sua reputação, ela consegue afastar a menina de você.

— Isso nem pensar, ela é tudo pra mim.

— Exatamente e foi por isso que ela deixou você ficar com a bebê, para se apegar a ela e neste momento em que está bem apegado, ela cria essa confusão.

— Tá, até aí eu entendi,mas porque ela iria querer me dar para depois me tirar?

— Dificil você, hein? Ela quer casar, ter o seu nome, ser dona da empresa e esfregar na cara da sociedade, o quanto é poderosa.

— Mas eu nunca vou casar com ela, mesmo porque, não fui negligente.

— Vamos ver o próximo passo dela, provavelmente será a mídia, por isso usei os fados do hospital e já abri um processo contra a mídia por exposição indevida, já que não foi você quem postou e nem autorizou, assim, ela não poderá acusá-lo.

— Uau, a senhora é boa, doutora Rachel.

—  Me chame só de Rachel. Pensei que poderíamos jantar para conversarmos mais sobre o assunto.

Ele olhou para a mulher, que havia desabotoado dois botões da blusa e cruzado as pernas, subindo um pouca a saia, para mostrar as pernas e entendeu tudo. Mais uma interessada.

— Existe mais alguma possibilidade a ser conversada.

— O senhor pode se casar, antes que ela consiga seus intentos.

— Essa possibilidade realmente não existe, não vou impor a presença de uma estranha a minha filha e nem vou casar por contrato. A vida real não é como os romances, que o CEO se apaixona pela babá ou pela esposa de mentirinha.

— Talvez o senhor só não tenha conhecido a pessoa certa.

Miguel tinha um acordo com a secretária, sempre que uma reunião demorasse demais, apertava um botão debaixo da mesa e uma luz aparecia na mesa dela e ela interrompia a reunião. Foi o que ele fez e ela entrou:

— Desculpe, senhor, mas o senhor pediu para lembrá-lo do horário de render a babá e eu também já estou indo.

— Obrigada e boa noite.

Ele se levantou e pegou o paletó, vestindo-o.

— Vamos, doutora, preciso cuidar da minha filha.

— Mas nós não terminamos!

— É como eu disse, somos muito ocupados, seria bom se tivesse vindo mais cedo.

Ele foi desligando as luzes e guiando ela para fora, seguiram até o elevador e quando ela desceu no saguão, ele continuou até a garagem, sem que ela notasse a tempo, pois o plano dela era, no mínimo, que ele a levasse em casa, já que veio de táxi. Ficou frustrada e chamou um carro de aplicativo, dando graças a Deus, por já não ter tanta gente na porta.

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