Romano - Supremo Alfa
Os fios avermelhados de cabelo balançavam violentamente com a ventania, enquanto o corpo de Sabrine se encolhia debaixo de um pedaço de pano surrado. O frio parecia cortar sua pele pálida, e o vento forte invadia o cômodo sem pedir permissão. Ela sempre sentia isso nas noites mais escuras, quando o vento parecia ganhar vida e sussurrar em seus ouvidos. A pequena janela com grades, de onde quase não se via o lado de fora, ainda permitia vislumbrar o céu azul-escuro, pontilhado de luzes brancas e distantes — estrelas, como lera em algum dos poucos livros que conseguira.
Era ali que passava seus dias e noites, sem distinguir exatamente quantas horas se passavam. O tempo parecia ter se tornado irrelevante em sua vida. Não tinha relógio, mas conseguia perceber quando o dia chegava, trazendo a luz cinzenta que mal iluminava seu pequeno quarto. O lugar onde sobreviviam os órfãos não tinha nada do conforto que ela um dia sonhara. O espaço que chamavam de quarto era, na verdade, apenas um cubículo com um colchão fino, um lençol rasgado e nenhuma proteção contra o frio. As noites eram longas e gélidas, e os ossos de Sabrine quase doíam com a baixa temperatura. Não havia cobertores, e ela se encolhia, tentando se aquecer da melhor forma possível.
Estava ali havia mais de treze anos, pelas suas contas. Era difícil lembrar exatamente quando fora trazida. Talvez fosse um bebê, talvez não. Ninguém se importava em contar. Naquele tempo, aprendera a sobreviver à fome, ao frio e, acima de tudo, ao medo. Rostya era um lugar cruel para os órfãos. Os outros não sabiam ler ou escrever, mas Sabrine havia aprendido. Aquele era um segredo que guardava para si, pois sabia que os outros a invejariam ou, pior, que os Caçadores poderiam descobrir.
Misteriosamente, alguém deixava livros na janela durante a noite, e ela lia avidamente cada página, como se as palavras fossem uma fuga temporária daquela realidade sombria. Quem seria essa pessoa? Nunca soubera. Talvez alguém que tivesse pena dela, ou talvez fosse apenas uma armadilha. De qualquer forma, os livros se tornaram seu refúgio, um pedaço de outro mundo ao qual ela pertencia apenas em pensamento.
A sociedade de Rostya fazia questão de deixar claro que órfãos como ela não pertenciam a lugar nenhum. Eram diferentes das crianças normais, aquelas que tinham famílias. E havia uma lenda que todos conheciam:
"Pequenos seres, sem mãe ou pai, sozinhos e desorientados pelo mundo, foram glorificados pelo Demônio em uma vida passada. Eles viviam em luxo e usufruíam dos desejos de seu mentor após assassinar seus pais em pacto. Desde então, quando completam 18 anos, esses seres devem ser entregues à floresta à meia-noite, antes que influenciem outras crianças, que são puras e inocentes."
A lenda era repetida tantas vezes que Sabrine a sabia de cor. Era como se todo o vilarejo tivesse medo de que os órfãos pudessem corromper suas crianças. Ela sempre se perguntava se aquilo era verdade. Como alguém poderia acreditar que bebês ou crianças indefesas pudessem ser responsáveis por atos tão terríveis?
Mas o medo era real, e o desprezo que sentiam pelos órfãos também. Não tinham os mesmos direitos que os outros. Eram invisíveis aos olhos da sociedade, exceto quando era conveniente culpar alguém. Os órfãos eram magros, maltrapilhos e, na maioria das vezes, maltratados. Muitos sequer sabiam seus próprios nomes. Assim como os demais, Sabrine era magra, o corpo esquelético parecia se contorcer a cada movimento brusco. Porém, diferentemente dos outros, seus cabelos ruivos e seus olhos azul-escuros a faziam se destacar. Uma beleza pálida, quase fantasmagórica, que atraiu olhares indesejados ao longo dos anos.
Ela odiava isso. Odiava seu corpo por ser tão chamativo. Em um lugar onde deveria ser invisível, Sabrine se destacava. E isso era perigoso. Os Caçadores, que faziam a manutenção da ordem e impunham o medo nos órfãos, não perdoavam sua aparência. Mais de uma vez, tivera que suportar os olhares sujos de alguns deles. E, naquele momento, ela soube que não seria diferente.
Estava prestes a dar uma mordida no pão endurecido que molhara no feijão ralo quando ouviu passos pesados se aproximando. Seu corpo se enrijeceu, e ela largou o pedaço de pão, afastando-se da porta. Limpou a boca com o dorso da mão e recuou para o canto mais escuro do quarto, onde esperava que os Caçadores não a vissem de imediato.
— Olá, Ratinha — disse uma voz áspera e familiar. O homem entrou na sala. Ele usava roupas negras e carregava armas e flechas. Era um Caçador, e Sabrine o odiava. — Gostaria de me divertir com você, caso não mordesse como uma cadela... — disse ele, sorrindo maliciosamente enquanto seus olhos percorriam o corpo da garota.
Sabrine sentiu a raiva crescer dentro dela. O nojo misturava-se ao medo, mas ela não demonstrou nenhum dos dois. Precisava se manter firme.
— Mas você vai para casa hoje. Vai viver com seu superior.
"Ir para casa? Viver com meu superior?"
A mente de Sabrine borbulhava de perguntas. O que ele queria dizer com isso? Seus olhos se arregalaram quando entendeu.
— O quê? Não! Vocês não podem me deixar na floresta, por favor...
— Depois de você, só restam mais cinco em Rostya — respondeu o Caçador com um sorriso frio. — Ficaremos livres de vocês, aberrações. As coisas irão prosperar, as crianças serão puras novamente, e todos viverão felizes.
Sabrine estava apavorada. Sabia o que acontecia com os órfãos que eram deixados na floresta. Eles nunca voltavam. Mas o pânico logo se transformou em uma raiva que queimava em seu peito.
— O único monstro que vejo aqui é você — ela cuspiu as palavras com desprezo.
O Caçador franziu o cenho, irritado com a audácia dela.
— O monstrinho quer apanhar antes de morrer — rosnou ele, aproximando-se mais.
Sabrine manteve-se firme, apesar do medo crescente.
— Espero que seja você o próximo. Que seja torturado pelos seus próprios demônios, que seus ossos sejam devorados e seus gritos ecoem por toda Rostya — disse ela, com uma convicção que até surpreendeu a si mesma.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Ellymar
Estou gostando bastante, a escrita, perfeita, sem erros, da para entender perfeitamente. e olha que nem gosto do gênero de história, mais tô gostando.😊💗
2023-11-24
36
GAMER W (TITANS BR)
a Naiara é incrível suas histórias não deixam a gente parar de ler. sou muito fã
2023-11-28
5
corrinha
a história já chamou minha atenção 😃😃
2023-09-25
5