Capítulo 05

Sabrine realmente estava confusa, pois, de repente, não era mais considerada uma dos Órfãos, sendo sempre odiada pela sociedade por ter sido classificada como uma. Lembrava-se dos momentos em que passou fome porque os caçadores a esqueceram e sequer queriam realmente alimentar os filhos do Demônio, como eles chamavam os órgãos. Lembrava-se também das vezes em que apanhou dos guardas, por não querer fazer trabalhos desnecessários, e de quando foi repreendida simplesmente por retrucar. Era como se, por viver importunando, ninguém fizesse nada, porque, às vezes, ela merecia sofrer por conta do que a lenda dizia.

Sabrine não acreditava que teria nenhuma liberdade. Sairia de uma opressão para cair em outra, no caso, nas mãos do Demônio. Mas suas ideias começaram a mudar naquela manhã, sendo tratada tão gentilmente por estranhos que, até então, não pareciam querer seu mal.

Entretanto, continuava estranhando tudo. Sua vida melhorou tão de repente: vestindo as roupas mais confortáveis, tomando um verdadeiro banho e com privacidade — algo que não tinha, já que todos os órfãos tomavam banho de mangueira sob a vigilância dos guardas. Ela acreditava que, assim como ela, as outras pessoas que sofreram anos por causa de uma mentira também deveriam receber a mesma oportunidade de se esbanjar com comida e dormir em uma cama macia. Mas sabia que a sorte não era para todos, embora fosse o que deveria acontecer.

Estava sentada na cama, esperando que Romano fosse ao seu encontro.

O barulho vindo da porta a fez se levantar rapidamente. A pessoa bateu novamente, possivelmente esperando permissão para adentrar no cômodo.

— Pode entrar. — Sabrine permitiu, e observou Romano entrando. Seus cabelos negros, assim como sua pele, estavam molhados, e ele vestia outra roupa. A garota supôs mentalmente que ele havia se banhado.

— Já comeu? — perguntou ele, aproximando-se mais.

— Sim, a senhora trouxe — respondeu Sabrine. Romano assentiu, pois foi ele quem deu as ordens.

— Ótimo — respondeu ele. — Iremos até meus pais, eles são os conselheiros da alcateia. Sei que está atônita com muitas coisas, com um possível medo por nunca ter tido contato com lobos antes. Mas saiba que não vou deixar ninguém tocar em você, e a loba que a machucou já foi severamente repreendida — falou seriamente.

— Obrigada, mas eu realmente quero saber por que estão fazendo tudo isso por mim.

— Você saberá de tudo, por isso vamos até meus pais. Eles poderão lhe explicar tudo corretamente — explicou Romano. — Vamos.

Romano abriu a porta, e em passos lentos Sabrine caminhou para o lado de fora. Ela pôde ver várias pessoas caminhando de um lado para o outro: viu crianças em grupos correndo, homens sem camisa carregando madeira, algumas pessoas transformadas em lobos indo para a floresta, e uma mulher grávida sentada no centro do lugar, em uma mesa, onde todos se reuniam à noite. Inevitavelmente, sentiu olhares voltados para si — de estranheza, indiferença, muitos de curiosidade — e notou um grupo de três mulheres que a observavam com fúria.

— Vamos, Sabrine — disse Romano, atrás de si, perto do seu ouvido. Sentindo seus pelos arrepiarem com o toque singelo nas costas, ela começou a segui-lo.

As casas estavam reunidas dentro de um grande muro, e todos pareciam viver em harmonia, mesmo que, certamente, às vezes acontecessem pequenas desavenças ou alvoroços inoportunos. Pelo caminho, as pessoas cumprimentavam o Alfa, e mostravam curiosidade em relação a ela.

— Mãe, pai — Romano adentrou, cumprimentando-os. Em seguida, Sabrine entrou no lugar, tornando-se o centro das atenções dos dois velhos conselheiros e pais do Alfa.

A senhora Úrsula encarou a garota e, em seguida, apenas suspirou, sentando-se em uma poltrona de couro em frente a eles. Já Fred não gostou da juventude que Sabrine aparentava ter. Ele esperava que a loba prometida ao seu filho fosse mais velha e, possivelmente, mais responsável em relação aos deveres e dons.

— Sentem-se — ordenou Úrsula, e, como mandado, seu marido sentou-se ao seu lado, em uma poltrona da mesma cor. O filho sentou-se em um sofá, trazendo a ruiva para se sentar ao lado.

— Trouxe-a porque vocês devem saber que ela é minha predestinada — disse Romano.

Sabrine arregalou os olhos azul-mar ao saber o que aquilo significava. Lera em um livro, uma vez, sobre lobos, mas nunca imaginou que entre lobos-humanos isso também existisse e que ela fizesse parte disso.

— Por que não me disse antes?

— Porque você tinha acabado de acordar, não reconhece sequer seus dons, e isso seria mais um fardo — replicou Romano. — Não vou forçá-la a nada, mesmo que nós dois possamos morrer se rejeitar a ligação.

— Acalmem-se — ordenou Úrsula, observando ambos ficarem nervosos.

— Uma ligação não é brincadeira, garota. Vocês estão ligados para a vida toda, porque o lobo interior que existe em vocês quer que isso aconteça. Possivelmente, em suas vidas passadas, vocês também eram ligados, porque é assim que funciona. Mesmo que morram, renascerão de novo e só descansarão quando ficarem realmente juntos — explicou Fred. — Basta satisfazer o desejo dos lobos e ficarem juntos. Sei que, no momento, por ser novidade, isso pode parecer difícil, mas vocês conseguirão lidar com isso. Conseguirão.

— Já sobre seu lado loba, é comum só se revelar no momento em que o lobo se sente confiante ou no momento certo. Por esse motivo, demorou tanto para que isso ocorresse. Agora, basta você tentar aceitar esse fato e dominar seus dons — completou Úrsula.

— Eu não faço ideia de como fazer isso — falou Sabrine. — E não sei se esse meu lado vai querer se revelar de novo.

— Vocês são um só — intrometeu-se Romano. — Mesmo que ele seja tão poderoso, você também é.

— Pedirei para que alguém da alcateia a treine — disse Fred, recebendo um olhar de revolta do filho. — Você não pode, filho. Não vai pegar leve com ela.

— Que seja uma mulher, então.

— Da última vez, uma mulher daqui quase me matou — disse Sabrine, sincera, sentindo os olhares pesarem sobre si.

— Será um treinamento pesado, porém com limites. E, de qualquer forma, você é uma loba rara, garota. Mesmo que não fosse, você não se machucaria tanto, pois seu lobo já se revelou, e ele protegerá seu corpo de ferimentos graves.

"Loba rara?"

— Loba rara? Como assim? — perguntou Sabrine, intrigada.

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Comments

Rozineide Oliveira

Rozineide Oliveira

parabéns autora show amando cada capítulo 😍

2023-09-17

29

Claudia Claudia

Claudia Claudia

não gostei da forma como tudo está sendo apresentado a ela os pais do Alfa estão se esquecendo que ela não sabe que é uma loba nem nos sabíamos vai com calma 😄😄😄

2025-03-16

0

Maria Sena

Maria Sena

Acho que os pais deles vão colocar obstáculos, e que escolhida deles é a loba que atacou ela.

2025-02-16

0

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