Capítulo 02

Sabrine foi levada perante o chefe, o maioral que dá as ordens a todos os caçadores, para ser julgada.

— Escórias. Todos vocês serão torturados e devorados — rosnou ela novamente.

— Levem-na. — O sotaque do homem tornou-se mais feroz ao dar a ordem. Sabrine percebeu o ódio em sua voz, especialmente após suas palavras malditas. Ela não tinha ideia de que suas falas carregavam um peso quase profético, como se pudesse invocar uma realidade impossível. Afinal, ninguém jamais sobrevivia ao ser levado para a floresta e oferecido ao Demônio.

O coração de Sabrine parecia saltar dentro de seu peito quando seu corpo foi empurrado pelos Caçadores. O medo a dominava completamente. Histórias aterrorizantes contadas por outros órfãos sobre a floresta ecoavam em sua mente. Diziam que era um lugar habitado por criaturas monstruosas, capazes de devorar uma pessoa em segundos. Ela nunca as vira, mas acreditava nas lendas. Havia até ouvido os Caçadores se vangloriando há algum tempo por terem matado um lobisomem de um clã distante.

Os Caçadores cavalgavam lentamente em cavalos majestosos, enquanto Sabrine era puxada por uma corda atada ao seu pulso, forçando-a a caminhar. A cada passo, a escuridão da floresta se aproximava mais, e, com ela, um frio ainda mais profundo tomava conta de seu corpo. Durante a marcha forçada, Sabrine se perdeu em seus pensamentos. Perguntava-se se havia lutado por algo que já estava decidido. Afinal, sempre fora rejeitada, maltratada, odiada, como se tivesse nascido apenas para morrer. O destino parecia inescapável e cruel.

Ela gostava das estrelas. Eram as únicas que lhe traziam um pouco de paz nas noites solitárias, quando olhava para o céu e imaginava outros mundos, outras possibilidades. Apaixonara-se também pelos livros que encontrava misteriosamente na janela do seu quarto, e por alguns momentos, esses pequenos prazeres a faziam esquecer que era uma órfã desprezada. Mas, ao mesmo tempo, odiava profundamente os humanos. Odiava aqueles que a maltrataram desde sempre. Seu coração estava repleto de ressentimento.

O vento frio cortava sua pele pálida como seda, e o vestido branco que vestia, quase transparente, balançava como seus cabelos ruivos. Sabrine fitou um dos Caçadores que desceu do cavalo, e, para sua surpresa, ele retirou a corda de seu pulso. Seu coração começou a bater ainda mais rápido. Sabia que não poderia escapar, mas o que a esperava naquela floresta era um destino que não queria enfrentar.

— Não... Não me deixem aqui — pediu, tentando manter a voz firme, mas o desespero era evidente.

— Vejam só, cadê a garota valente de antes? — zombou um dos Caçadores, provocando risadas dos outros.

— Eu não quero ficar aqui, por favor... — Sabrine implorou, sentindo a humilhação tomar conta de si.

— Que pena. Uma moça tão bela sendo uma das órfãs... — comentou um deles, em um tom que misturava desprezo e piedade. — Vai ser devorada. — Ele riu mais ainda.

— Esse é o seu destino, garota — disse outro Caçador, de forma simples e direta. Diferentemente dos demais, ele não a olhava com repulsa ou superioridade, mas com uma neutralidade desconcertante. Era raro alguém olhar para ela de maneira tão... normal.

"Esse é o seu destino, garota."

As palavras se repetiam em sua mente como um eco, enquanto a floresta escura surgia imponente diante de seus olhos. As árvores formavam uma muralha impenetrável, escondendo qualquer possível saída. Sons estranhos ecoavam por entre os troncos, provavelmente de animais selvagens, e o céu, antes claro, parecia agora mais escuro e pesado, como se refletisse seu destino.

Sabrine estava tão absorta em seus próprios pensamentos que não percebeu quando os homens a deixaram sozinha. Não havia mais esperança. O desespero se enraizou em sua alma.

Ela deu um passo à frente, mas um barulho, vindo de dentro da floresta, a fez parar imediatamente. O som voltou, mais forte e mais próximo. Era o ruído de lobos. A cada instante, pareciam se aproximar mais.

Sem pensar duas vezes, Sabrine começou a correr. O medo tomou conta de seu corpo, seus pés moviam-se com desespero, esmagando folhas e galhos pelo caminho. Ela não se atreveu a olhar para trás. Mas sua fuga não durou muito. Algo a agarrou com uma força brutal, arremessando-a contra uma árvore. Um gemido de dor escapou de seus lábios quando sentiu o impacto.

Ao erguer a cabeça, ela o viu. Um lobo gigantesco, com olhos cinzentos e ferozes, avançava lentamente em sua direção. Seu corpo tremia. Não havia escapatória.

— AAAAAAAAHHH! — Ela gritou.

O monstro não mostrou piedade. Suas garras afiadas cravaram-se na perna de Sabrine, rasgando carne e pele, enquanto o sangue escorria pelo chão. O grito de dor da garota ecoou pela floresta, mas o lobo não estava satisfeito. Ele queria destruí-la.

Com um movimento violento, o lobo a arrastou pelo chão da floresta. Sua boca abocanhou o braço de Sabrine, e ela sentiu as presas perfurarem sua pele, tocando seu osso. O sangue jorrava novamente, manchando as folhas e a terra abaixo dela.

Sua visão estava turva, mas ainda conseguia ver o lobo a afastando do tronco da árvore. Seria aquele um lobo comum, ou uma daquelas criaturas monstruosas das lendas? Ela não sabia, e sua mente estava tão confusa e exausta que pouco importava. Suas lágrimas escorriam pelo rosto ferido, e o céu, antes estrelado, agora parecia falso, assim como a esperança que já não existia em seu coração. A morte parecia inevitável.

De repente, um som rápido entre as árvores chamou a atenção do lobo, que a largou imediatamente. Sabrine mal teve tempo de entender o que estava acontecendo antes de ver uma figura imponente surgir entre as árvores. Era um homem alto, que parou em frente ao lobo cinzento. Outros lobos apareceram logo atrás dele, todos observando a cena com atenção.

— Você esqueceu das regras, Musk? — A voz grave do homem ecoou pelos ouvidos de Sabrine. Ele era enorme, vestindo apenas uma calça, e seu corpo moreno estava coberto de tatuagens tribais. Seus olhos verdes brilharam enquanto observava a ruiva caída no chão, suas pálpebras trêmulas e os lábios ressecados.

O lobo rosnou, mas o homem parecia entender a linguagem da criatura.

— Transforme-se — ordenou ele, com uma autoridade que reverberou pela floresta.

O lobo hesitou, rosnando em rebeldia. Os outros lobos atrás do homem pareciam impacientes, enquanto Sabrine assistia, apavorada e exausta.

O lobo avançou, desafiando o homem. Mas, com um único movimento, o desconhecido o arremessou contra uma árvore, fazendo-o gemer de dor. Mesmo ferido, o lobo se levantou.

— Transforme-se, agora! — A voz do homem soou como um trovão. O som era tão forte que os pássaros fugiram das árvores, e Sabrine sentiu os ouvidos sangrarem.

O lobo, finalmente, começou a se transformar. Diante dos olhos de Sabrine, ele se transformou em uma mulher de cabelos grisalhos, que o olhou com assombro.

— Loba — murmurou Sabrine.

Com o corpo enfraquecido, Sabrine sentiu a escuridão tomar conta de sua visão. Suas forças se esvaíram, e ela finalmente apagou.

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Comments

Fatima Monjane

Fatima Monjane

meu deus foi bem intenso

2023-10-24

41

Maria Sena

Maria Sena

Nossa, da forma vibrante como já começou acho que não vamos ter tempo nem de respirar. Aguenta coração!!!♥

2025-02-15

0

Claudia Claudia

Claudia Claudia

nossa foi impactante só de imaginar fiquei apavorada 😖😖😖😖

2025-03-16

0

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