Capítulo 19

A sensação é estranha. Seus olhos procuram pela luz, mas não consegue encontrar. Seu corpo por inteiro se mexe sobre a cama, coberto pelo suor que escorre sem limites. Sua respiração parece ficar cada vez mais acelerada, e seu coração insinua explodir. Os seus pêlos estão arrepiados, não soube e sequer consegue distinguir a sensação que sente no momento: medo, pavor e temor, talvez seja esse conjunto igual.

Quando seus olhos abrem, as lágrimas caem sobre a decoração do teto. O pesadelo nunca foi como o de antes, e nunca sentiu tanto a tal sensação como neste instante. Não havia monstros ou algo do tipo no sonho, era apenas uma escuridão assustadora que lhe rodeava.

Seus fios vermelhos graduaram em sua testa, justamente por conta do suor. Em passos hesitantes, levantou-se da cama confortável que Romano cedeu para si novamente - por conta da privacidade que ele queria e lhe deu -. O silêncio, como jamais antes, mostrou ser torturador.

Sabrine saiu do quarto, andando pelo pequeno corredor do andar de cima da casa. Seus olhos brevemente analisaram os quadros pendurados por ali, com pinturas da figura de Romano, com diferentes idades e ciclos desiguais. Tentando não fazer qualquer barulho que seja, desceu os degraus das escadas com lentidão, e se esforçou a enxergar a porta da saída por conta do escuro. Não soube distinguir se sair sozinha durante a madrugada seria o correto, mas não queria pregar os olhos e encontrar o temor da escuridão novamente. O medo a percorreu, e ela não quer sentir novamente.

Ao chegar no lado de fora, observou tudo totalmente quieto. Não havia nenhum tipo de movimentação no lugar, as casas e cabanas estavam quietas, e obviamente estavam descansando para o dia agitado que seria o aniversário do Alfa.

Sabrine ainda incerta sobre seus atos, se sentou em um banco criado por uma árvore cortada. Sentiu o vento gélido beijar sua pele branca como seda, e olhou para o céu cheio de pontos de luz. O seu sorriso foi espontâneo, e sincero como sempre foi ao passar horas encarando a sua visão preferida.

Quando estava presa, literalmente, nas mãos dos caçadores, a pequena brecha com grades, nomeada por si de janela, que a permitia enxergar as estrelas. E parecia que ao decorrer dos dias, os pontos de luz correspondiam às suas emoções ao vê-las. Sabrine não se considera uma pessoa sofrida, mas se considera uma pessoa que sofreu por conta de atos repugnantes daqueles que acreditam em algo sem saber a verdade. Embora acredite que não deveria ter sofrido tudo que sofreu, as coisas não irão mudar por conta dos seus pensamentos contrários dos raivosos - os humanos -. E acredita que agora, sendo uma das espécies criadas pela as bruxas, tudo irá piorar. Os órfãos e as espécies igualam em detalhe que os humanos os detestam e fazem de tudo que a cada minuto, hora e dias, sejam lentamente inexistentes: no caso, eles acreditam que apenas as suas existências são válidas e importantes e por isso, o número de caçadores aumenta.

Sabrine sentiu seu corpo relaxado, e sua mente ficou calma. Diferente de minutos atrás, a sua respiração se mostrou serena. Não sentia medo, pavor ou temor, se sentia protegida sob a lua presente ali. Seus pensamentos foram afastados - porém, não com agressividade -, pelo ruído alto que entrou em seus ouvidos. O olhar azul foi diretamente para frente, invés de continuar olhando para cima.

Seus olhos brilharam ao encarar o lobo branco em sua frente. Um sorriso lento surrou seus lábios, e aos poucos, Sabrine começou a se levantar da onde estava sentada. O animal parecia estar ali, mas ao mesmo tempo não: como uma sombra. Encarava-a com bravura e ela mostrando estar totalmente encantada, pela pelagem branca como a neve, olhos azuis que podem hipnotizar qualquer um.

— Está surpresa, querida ruiva? — A voz feminina vibrante penetrou em seu ouvido, deixando Sabrine por instantes, calada.

— Você é minha loba?

O questionamento fez o animal soltar um resmungo, e Sabrine não soube se foi positivo ou negativo. A boca do lobo não se abriu em nenhum momento, mas sua voz é escutada pela ruiva.

— Vejo que é bastante inteligente. — A retrucou, se aproximando cada vez mais. — E bastante linda, então escolhi o corpo correto dessa vez. Admiro sua inteligência completa, mas vou passar a admirar ainda mais, quando usá-la.

— Então minha inteligência está sendo testada? — Sabrine replica.

— Você está sendo testada. — A loba ditou. — Pode não parecer, ou demonstrar ser ao contrário, mas você é bem mais poderosa do que se pode imaginar, Sabrine. Acha que qualquer um pode, não aprender e sim saber ler sem qualquer base ou estudo para tal coisa? E você realmente acha que seus sonhos são apenas sonhos? Que uma cobra falante, é insignificante?

— O que está tentando dizer?!

Ouviu a risada.

— Se olhe, ruiva. Se sinta, imagine, abra seus olhos… E você verá acontecer. — A loba detalhou, em tom autoritário.

— Eu não sei fazer isso… Eu não sei muita coisa, na verdade. — Murmurou.

— Não, você sabe. Você sempre saberá, só que às vezes, você terá que passar pelas dificuldades para se encontrar. — Afirmou, continuando: — Você é poderosa. A mais poderosa das últimas décadas. Só que ninguém pode te ajudar, caso contrário, a sua realização não irá se completar.

— Farei de tudo para que se complete, mesmo que muitas coisas sejam misteriosas de entender. — Sabrine falou.

— Não se importe com o mistério, se importe como irá desvendar. E não se preocupe, eu sempre estarei com você.

E então, como uma estrela caindo do céu, de tamanha rapidez, o lobo correu em sua direção. Alguns segundos antes, Sabrine arregalou os olhos, não por receio, mas por surpresa. A única coisa que sentiu foi seu corpo ser elevado para trás, pela turbulência quando a loba a encarnou.

Romano sentiu o vento tocar em seu peitoral desnudo, pois seu lobo lhe acordou e o atraiu para o lado de fora da casa. Encarou com a sobrancelha franzida Sabrine que estava passos a sua frente, de costas para si.

— Sabrine? — Chamou-a.

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