Sabrine acordou subitamente, seu corpo envolto por uma estranha calmaria. Estava no meio da floresta, mas o cenário ao redor não era mais assustador. O sol brilhava entre as folhas das árvores, iluminando o ambiente com tons de verde e marrom. A floresta, que antes parecia hostil e sombria, agora parecia acolhedora, quase bela. Olhando para si mesma, viu que o vestido branco que usava estava limpo, sem vestígios de sangue ou sujeira. Sua perna, que antes fora dilacerada, estava intacta. Os fios ruivos de seu cabelo brilhavam sob a luz do sol, mais vibrantes do que jamais viu.
Por um momento, ela se perguntou se tudo aquilo não passava de um sonho. Talvez tivesse caído no sono e seu subconsciente, fértil e cheio de medos, criou o pesadelo terrível que experimentou. Mas, no fundo, Sabrine não acreditava que fosse apenas um sonho. Algo naquela sensação, naquele lugar, parecia real demais. Ela se lembrava claramente do momento em que fora levada para a floresta, entregue ao que todos chamavam de Demônio. Contudo, ali estava ela, viva e inteira. Será que o Demônio havia escolhido ignorá-la? Ou talvez estivesse apenas esperando o momento certo para levá-la?
Um som repentino quebrou seus pensamentos, fazendo-a recuar instintivamente. Seus olhos se arregalaram de medo ao ver, diante de si, uma imensa loba de pelagem avermelhada, que caminhava com passos lentos e elegantes em sua direção. A criatura era ao mesmo tempo aterrorizante e fascinante, com olhos âmbar que pareciam enxergar sua alma. Nunca em sua vida Sabrine vira um animal tão grande. Mas, mesmo com o pavor que sentia, havia algo hipnótico e familiar naquela presença.
— Olá, humana. — A voz saiu da loba com tranquilidade, sem mover os lábios, como um sussurro dentro da mente de Sabrine. Ela ficou completamente arrepiada.
Ela tremia, incapaz de processar o que acabara de ouvir. Uma loba que falava dentro de sua mente? Como isso era possível? Tentou racionalizar a situação, mas a lógica parecia distante. Lembrou-se vagamente de um livro que leu há muito tempo, em que mencionava que os monstros da floresta não eram completamente animais, mas também humanos. Era por isso que os caçadores de Rostya os perseguiam incansavelmente, acreditando que essas criaturas eram filhos do Demônio e, portanto, deveriam ser exterminadas.
Os chamados "filhos do Demônio" eram caçados sem piedade. Lobisomens, vampiros, feiticeiras, e outras criaturas mágicas, cada um com sua lenda particular. Eram acusados de crimes horríveis: devorar crianças, lançar maldições ou roubar riquezas. No entanto, Sabrine não sabia em quais dessas histórias acreditar. Afinal, tantas versões haviam sido contadas que a verdade parecia perdida.
— Você fala? — Sua voz saiu trêmula, quase um sussurro. O medo a dominava completamente.
— Não está vendo, humana? — A loba respondeu com sarcasmo. — Ou será que sua mente é tão limitada que não acredita no que está diante de seus próprios olhos? Não consegue sequer reconhecer a si mesma?
— O quê? O que está dizendo? — Sabrine mal compreendia as palavras da criatura. Tudo parecia confuso demais.
— Vejo que és fraca, mesmo tendo lutado por tanto tempo... sem entender nada — continuou a loba, sua voz carregada de desdém, embora houvesse um fundo de lamento em sua expressão.
— Eu... pare! Não entendo o que você quer dizer. Ou se você está realmente falando, ou se eu estou ficando louca! — Sabrine interrompeu, sua voz mais alta, quase histérica. — Eu nem sei se estou viva ou morta. Minha vida sempre foi um pesadelo, e isso... isso só piora!
A loba permaneceu em silêncio por um momento, antes de responder com um tom mais suave:
— Ser uma das órfãs não é fácil, eu sei. Sinto muito pela maldição que colocaram sobre você, Sabrine. — A menção de seu nome fez o estômago de Sabrine se revirar. Ela não havia dito seu nome à criatura. — Mas, às vezes, as coisas acontecem por um propósito. E só mais tarde, o verdadeiro significado se revela.
— Então está dizendo que todo o meu sofrimento foi por um propósito? — Ela cruzou os braços, tentando demonstrar alguma valentia.
— Sim, pequena rebelde. — A loba replicou calmamente. — As dores podem parecer insuportáveis agora, mas no futuro tudo fará sentido.
— Não consigo ver esse futuro. Tudo o que vejo é o presente, e não sei o que estou fazendo aqui! — A voz de Sabrine agora estava cheia de tristeza.
— O passado está cheio de cicatrizes. O presente é o que tens diante de ti. Mas o futuro... o futuro é uma história que ainda será escrita. Basta que você abra os olhos.
Antes que Sabrine pudesse responder, sentiu seu corpo sendo puxado com força. Sua respiração acelerou, e o suor escorreu por sua testa. Lentamente, seus olhos começaram a se ajustar ao ambiente ao seu redor. Estava deitada em uma cama, envolta em um lençol vermelho. O quarto onde estava era pequeno, mas aconchegante. As paredes eram negras, decoradas com estranhas pinturas. No canto, uma cabeça de veado estava pendurada, o que a fez estremecer. A porta se abriu com um rangido, revelando uma mulher de cabelos loiros que entrou com um sorriso acolhedor.
— Você finalmente acordou — disse a mulher, aproximando-se da cama. — Achávamos que não iria mais despertar.
— Quanto tempo eu dormi? — Sabrine perguntou, ainda atordoada.
— Uma semana — respondeu a mulher, com um sorriso amigável. — Aconteceu muita coisa enquanto você estava fora.
— Uma semana? — Sabrine murmurou, incrédula.
— Sim, mas agora está tudo bem. Você está segura aqui — disse a mulher, enquanto ajeitava as dobras do lençol.
— Segura? — Sabrine repetiu, segurando o lençol com força. — Onde... onde estou?
— Este lugar é um refúgio. — A loira disse, observando-a com um olhar compreensivo. — Sei que tudo deve parecer confuso agora, mas as coisas logo serão explicadas. O Alfa vai falar com você.
"Alfa?" Sabrine pensou, sem saber exatamente o que aquilo significava.
— Achei que eu... que eu poderia morrer. Talvez pelo lobo, ou pelo Demônio. Não sei.
— Oh, você não morreria tão facilmente — respondeu a mulher com um sorriso astuto. — E, antes que eu me esqueça, qual é o seu nome?
— Sabrine — ela disse, ainda confusa.
— Prazer, Sabrine. Eu sou Dandara, mas pode me chamar de Dan. Alguns lobinhos atrevidos me chamam assim. — A mulher riu de leve.
— Tá bom, Dan... — respondeu Sabrine, tentando esboçar um sorriso.
— Espero que nos tornemos ótimas amigas — disse Dandara, com um brilho nos olhos. — Agora, descanse um pouco.
Sabrine sorriu, embora sentisse um misto de ansiedade e curiosidade. Quando Dandara se preparava para sair, ouviram batidas na porta, e três figuras entraram no quarto, mudando completamente o ar do lugar.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Vaniza Goncalves
por q ela perguntou o nome dela sendo que já tinha falado antes ??
2025-04-03
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Nélida Cardoso
nunca tive lido um livro sobre cobra 🐍 /CoolGuy//CoolGuy//CoolGuy//CoolGuy/
2025-03-19
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mega droid
ahá! eu já li, mas vou ler novamente só porque eu gosto
2025-03-26
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