Capítulo 9. Loba Dourada

A expectativa era geral, o pai de Lua era o mais ansioso, pois sabia que a filha era especial, mas não sabia o quanto e nem qual seria sua aparência. Todos fitavam os dois Alfas se transformando, atrás das cadeiras, que bloqueou um pouco a visão de seu acasalamento, mas agora contemplavam o surgimento de dois animais magníficos, que se aproximaram da frente do palco, causando uma surpresa geral. 

              Os dois estavam muito maiores que o normal, o lobo Alfa, todo negro, de olhos vermelhos e a loba Luna, dourada, reluzente e havia uma nevoa ao seu redor, que parecia puro poder. As exclamações eram uma só:

              — É a Loba Dourada!

              — É a Loba Dourada!

              — É a Loba Dourada!

              O lobo Alfa negro, uivou para a lua e para os inimigos, ordenando que todos os que vieram atrás de sangue, fossem embora e assim, vários lobos foram se retirando. Mas o Alfa desafiante, ficou. Tranformado em seu lobo, que era muito grande também, mas não chegava ao tamanho que estava Wolf, partiu para cima do beta, que o vendeu a filha, mas não entregou  e a luta foi travada entre os dois. Luz temia os dois machos e não queria nenhum dos dois vivos, mas torcia por seu pai, que era o menos perigoso para ela.

              A luta não demorou muito e o Alfa arrancou a cabeça do beta e a jogou na fogueira, uivou para a lua e depois olhou com fúria para a Luna e com um salto inesperado, tentou chegar a ela, mas pareceu bater em uma barreira de poder, mas era o Alfa, se colocando à sua frente. Ele caiu, voltando a forma humana, instantaneamente, por causa da força de Wolf. Correu envergonhado e chegando ao início da floresta, se voltou e ameaçou:

              — Essa loba me pertence, não pense que isso vai ficar assim. — correu e saltou, se transformando no ar e seu bando o seguiu, indo todos embora ou quase.

              Finalmente a Alcateia estava sem intrusos e puderam festejar a lua de sangue corretamente. Era hora da caçada e o lobo uivou, liberando as fêmeas para correr e iniciando o ritual. Wolf, todo orgulhoso, ficou admirando sua fêmea correr ligeira, viu a direção que tomou e não se preocupou, encontraria ela facilmente, seguindo seu aroma especial. Uivou liberando os machos e seguiu junto, atrás de sua amada.

              Cleide se ocultou logo que o Alfa iniciou a luta com o beta e agora correu com sua loba e se escondeu, mas um dos machos que ficou, a encontrou  e a reivindicou, sendo seu companheiro, ela teve que se sujeitar. Agora não sabia como seria o amanhã, mas pediria clemência mais uma vez, ao seu Alfa e também a sua Luna, que agora percebia tudo que fez de errado para com ela. Talvez não tenha perdão, pois afrontou os dois.

              A floresta estava coalhada de sons de acasalamento. Rosnados, uivos e gemidos de prazer, inundaram o ar, só não os do casal Alfa, pois Wolf não encontrou Luzia, que a essa  altura, estava bem longe e não tinha a mínima intenção de voltar.

              Anteriormente, naquela noite, quando Luz viu seu pai e o Alfa que a comprou, entrou em estado de choque e viu tudo acontecer, mas como se não estivesse participando. Percebeu a fúria do Alfa, que estava prestes a pular no palco, para pegá-la e avisou Lucius, que o homem era perigoso e seu companheiro fez o impensável, a tomou sobre o palco, a frente de todos.

              Ela fugiu a vida toda, para não passar por aquela humilhação, de ser tomada como um pedaço de carne, sem direitos ou emoção, tudo por causa da selvageria dos lobisomens. Entendia o porquê de Lucius fazer o que fez, não foi a selvageria dele, ele até tentou não ser tão bruto, foi por causa dos gananciosos, que estavam ali para tomar a Alcateia de Lucius e para isso, podiam tomar sua companheira para si, sem qualquer respeito ao laço de união.

             Ele não podia iniciar a caçada, com Alfas de outras Alcateias e seus guardas, podendo violar as fêmeas dali, sem o mínimo respeito. No caso de Luz seria até pior, como ela ainda não havia sido marcada devidamente, poderiam tomá-la para si e Wolf definharia sem sua companheira. Ela entendeu o que aconteceu, mas o peso dele sobre ela, suas mãos tocando-a sem sentimento, depois a dor da penetração e os movimentos pesados. Foi demais para ela, que havia sido forte até ali, mas foi o que bastou para se perder. 

              Luz já havia decidido ir embora antes da festa, pois sabia que seu pai e o Alfa nojento, a encontrariam. Mas tudo fugiu do controle, com aquelas fêmeas atrevidas, que tomaram o lugar dela e os fizeram perder tempo. Mesmo assim, com tudo aquilo que aconteceu, a disputa por ela como se  fosse apenas uma coisa, um troféu, não aguentou e quando a corrida iniciou, Luzia correu junto com as outras lobas e no caminho, Luz mandou que desviasse.

              — " Mas nós, agora, temos um companheiro, fomos marcadas, não tem volta."

              — " Não vou aguentar, Luzia, não agora, preciso de um tempo para descobrir quem somos."

              — " Eu sei quem sou, sou a Loba Dourada, Luna da Alcateia da Cidade dos Anjos."

              — " Muito metida, isso sim. Ative o controle do nosso cheiro e vá para onde deixei a roupa."

              — " Não temos nada,  como vamos fugir? "

              — " Nunca precisamos de nada para fugir."

              — " Está bem, mas não vamos muito longe e nem vamos demorar, não quero sofrer sem nosso companheiro."

              — " Está bem."

              Chegando ao local onde Luz escondeu a roupa, a loba cedeu a forma humana e Luz se vestiu e fez o que melhor sabia fazer, disfarçou seu rastro, usou algumas ervas para disfarçar seu cheiro e seguiu para o interior da floresta. Chegou a uma cabana bem conhecida por ela, pois a pessoa que vivia ali, foi discriminada por todos e se isolou, mas era aquela que ensinou tudo que sabia sobre ervas e a encorajou a nunca ter medo ou ceder ao que parece mais forte.

               Era chamada de bruxa, pois os humanos não entendiam seus poderes. Ela conseguia prever os acontecimentos e ler as pessoas, tinha uma percepção especial e conhecia muito sobre plantas e animais. Chegou a se formar em botânica e trabalhar em um laboratório, mas seus dons e temperamento, que era contrário aos maus tratos aos animais, a fizeram pessoa non grata e foi demitida.

              Bella a recebeu na porta  sorrindo, pressentia que viria e ficou esperando. Luz chegou e as duas se abraçaram.

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