Capítulo 19. Visitas

Luz continuou triste, mas dormiu e parou de pensar em tudo aquilo. 

Lucius foi para a sala e ficou contemplando pela janela, a floresta ao longe. Analisou seus sentimentos e suas ações nos últimos tempos. Não estava se comportando como a pessoa fria e centrada que era, mas seu descontrole era patente e não era só por ciúmes, algo estava tirando-o do sério e não sabia o que era.

Saiu e foi até a clínica tirar umas dúvidas. Chegou e o doutor lhe sorriu, dando ps parabéns.

— Obrigado, doutor. Vim fazer uns exames e tirar umas dúvidas.

— Pois não, Alfa, o que o está preocupando?

— Estou tendo acessos de raiva e descontrole e não costumo ser assim. Não sei se o senhor soube sobre o laboratório que foi encontrado perto daqui.

— Sim, eu soube, coisa terrível e tão perto.

— Mais perto do que imagina. Meu sócio na empresa, era quem financiava o negócio. E soube pelo delegado, que uma das cientistas, fazia experimentos com ervas e hormônios em cobaias livres. Estou com medo de ter sido infectado com alguma coisa.

— Entendo seu receio, pela proximidade com o Alfa Ivan, eles podem ter colocado algo em seu organismo sem o senhor perceber. Venha comigo ao laboratório, vou retirar uma amostra de sangue e analisar.

Enquanto o médico examinava o sangue em um aparelho, ele olhava tudo em volta e quando a máquina apitou, fornecendo o resultado, o médico franziu a testa.

— Você tem taxas altas de neuroestimulantes na corrente sanguínea. Está tomando algum medicamento ou esteroides, qualquer coisa de uso continuo?

— Não, nunca precisei disso. 

— Alguém próximo a você, te toca com constância. 

Lucius pensou e só recordava de duas pessoas que o tocavam de forma insistente e não adiantava dizer para não fazerem.

— Sônia e Célia, viviam pondo a mão entre meu pescoço e a nuca, como se fossem me puxar para um beijo, mas sempre me esquivei.

— Sente-se aqui — lhe indicou a banqueta — , deixe-me ver a região.

O doutor olhou a região de pele tocada pelas duas mulheres e encontrou o que procurava.

— Aqui está, é um adesivo que libera toxinas gradualmente. Normalmente é usado como anticoncepcional, mas nesse caso, devem ter outros químicos.

— Dá para tirar doutor? 

— Esse está absorvido, mas parece novo, será necessário uma pequena cirurgia de extração.

— Faça, tire isso de mim, agora. Minha fêmea não pode mais sofrer ou acabarei perdendo-a. 

— Ok. Vou aplicar um anestésico, mesmo assim, vai doer.

A cirurgia foi bem invasiva, o médico retirou um disco profundo da pele e tampou a ferida.

— O bom é que seu sangue lupino logo recuperará o tecido. Mas levará algumas horas até seu organismo expurgar o excesso do que foi posto nele.

— Menos mal, doutor. Agora quero que me diga há quanto tempo minha fêmea está prenha?

— Creio que uns quatro dias, não dá para precisar com exatidão, por ser muito recente. O organismo dela começou a dar sinais agora.

— Então não poderia ser de ontem?

— Claro que não, nesse caso, só seu companheiro perceberia, pela alteração do aroma, já que é único. — disse o doutor, sorrindo e fazendo o alfa sorrir.

— Obrigada, doutor. O senhor foi dois em um e me ajudou bastante. Já vou.

— Só mais uma coisa, Alfa. Aquela fêmea é muito preciosa, já sofreu muito, vi pelas marcas em seu corpo e está prenha de dois, cuide muito bem dela.

— Cuidarei, doutor. — disse o Alfa, agora com um sorriso largo, no rosto.

Foi para casa e ao entrar,levou um susto, ali estavam as fêmeas da Alcateia, junto com Cleide.

— Aconteceu alguma coisa?

— Elas vieram se desculpar com a Luna, Alfa. — informou Cleide.

— Vocês terão que esperar. Acabamos de descobrir que ela está prenha e quase perdeu os filhotes. Precisa ficar de repouso.

— Filhotes, Alfa? — perguntou Cleide com um sorriso.largo.

— Sim, o doutor disse que são dois.

— Parabéns, Alfa. — disseram as fêmeas.

— Nós queremos te contar, Alfa, que toda aquela acusação que fizemos contra a Luna, era falsa. Ela, na verdade, foi muito mais digna do que nós. Não se negou a cuidar das crianças e ainda as trato muito, ensinando o que precisavam saber para se proteger na floresta.

— Sei disso, vi como as crianças gostam dela e querem continuar aprendendo. Mas vocês terão de esperar ela ficar bem.

A porta da casa estava aberta e Lucius de costas para ela, quando sentiu um arrepio e ouviu uma voz potente, que conhecia bem:

— Aqui é a casa da tal mãe Joana, para estar tão cheia de fêmeas?

Lucius foi se virando devagar, tentando controlar a raiva, mas as toxinas ainda estavam presentes em seu organismo e deixou seu lobo vir a tona, se transformando em um imenso lobisomem. Avançou sobre Jason, sem dar tempo a ele de se transformar também. Suas duas mãos cheias de garras, agarraram o pescoço do Alfa e o empurraram para fora.

Jason não era fraco e revidou, mesmo em sua forma humana. Sua massa muscular é grande e forte, graças a muitos exercícios e as toxinas que recebeu durante anos. Lucius era maior, principalmente em sua forma intermediária e os dois iniciaram uma luta terrível. Jason deixou saírem suas garras e presas e arranhou os braços de Lucius, para que o soltasse, mas não adiantou. Então, com muito esforço, deu uma cabeçada no focinho do lobisomem.

Lucius o soltou,mas não se afastou, avançou direto para o pescoço, tentando fincar suas presas nele e Jason fez o mesmo, até ouvirem um grito:

— Parem com isso, seus idiotas!

Ela Luz, da sacada do segundo andar, debruçada na mureta. Lucius parou imediatamente, empurrando o outro Alfa, que também parou, ao ver o alvo de seu desejo.

— EU VIM BUSCÁ-LA, MEU AMOR!

Pow! Levou um murro no meio da cara.

— Ela é MINHA! Está prenha dos meus filhotes e se você continuar aqui, mato você e fico com sua Alcateia. — Bradou Lucius, voltando à  forma humana e soltando toda sua dominância.

Jason rosnou, pronto para iniciarem outra luta, mas Luz interviu novamente.

— Vá embora, Jason, por favor. Eu não sou sua companheira e estou prenha do meu verdadeiro companheiro. — pediu ela sem alterar o tom da voz.

— Como tem certeza que são seus?

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