Luna Fugitiva
A chuvinha fina e constante molhava tudo e todos, deixando o dia cinzento e frio. Luz se viu tendo que se afastar do local onde se abrigava nos últimos meses. Uma cabana de papelão, no centro do jardim central, reservado a preservação de plantas exóticas e onde ela resolveu se abrigar. Entrava escondida e se aprofundava na floresta, se abrigando sob a frondosa árvore centenária. Mas a chuva que caía sem parar a obrigou a deixar seu local seguro e se aventurar pelos prédios da cidade.
Foi para a área onde se situavam as maiores empresas, com seus prédios altos e espelhados, marquises grandes, onde, em certos locais, a chuva não chegava. Parou em uma das pontas, que fazia lateral a entrada do estacionamento subterrâneo. Seu corpo franzino, trajava roupas largas e masculinas. O casaco com o capuz cobrindo seus cabelos e impedindo que se visse seu rosto feminino, completava a figura andrógeno. O tênis velho, sujo e rasgado, mostrava a pobreza, mas ela não ligava, era livre.
Um automóvel diplomata preto, com vidros totalmente escuros, parou na entrada do prédio, passando por baixo da marquise e quando a porta abriu, um par de pernas femininas e elegantemente calçada com saltos agulha, saiu e pousou no chão com elegância. A mão com unhas bem feitas, pousou sobre a porta, quando ela se pôs de pé. Seu traje clássico de saias tubo preta e blusa branca, destacava sua silhueta feminina.
Ela segurou a mão estendida e se afastou do veículo, parando logo a seguir e olhando em direção ao ser que exalava o odor que incomodava suas narinas.
— O que é aquilo? — perguntou.
— Parece um mendigo fugindo da chuva, senhora.
— Isso eu sei, mas o que faz ali, tirando a elegância da minha fachada?
O segurança olhou para a mulher sem expressar uma emoção sequer, achava a mulher do patrão, uma esnobe sem noção, que era melhor não contrariar, para não haver escândalos. Falou em seu comunicador auricular e outro segurança veio acompanhá-la, enquanto se dirigia até o "problema".
A mulher entrou ao perceber que o problema seria resolvido e se dirigiu ao andar da presidência, para encontrar seu resistente noivo, que já lhe dava nos nervos.
Osnir se aproximou da pessoa encolhida na parede, se abrigando da chuva e perguntou:
— Não tem para onde ir?
A figura acenou negativo com a cabeça. Osnir observou-a de cima a baixo e falou no comunicador:
— Preciso de traje completo masculinos tamanho P. Calçado 36? — perguntou ao que a pessoa estranha confirmou.
Terminou de falar e convidou-a a seguir com ele, no que não foi atendido, então ele usou de sua força e pegando-a pelo braço, arrastou-a pela entrada do estacionamento, para não passar pela recepção e entrou no elevador de serviço. Assim que a porta se fechou, ele explicou:
— Não vou lhe fazer mal, a senhora não quer lhe ver mais ali, mas sei que precisa de abrigo, senti seu cheiro e vou te levar ao dormitório dos seguranças. Lá, poderá tomar banho e se trocar, comer e depois descansar. Está bem assim.
Luz não levantou a cabeça, mas concordou, embora achasse que estava bom demais para ser verdade. Também sentiu o cheiro do homem e embora estivesse se escondendo desses tipos, estava bem longe do lugar em que deveria estar. Fugira de ser obrigada a viver com um homem ao qual não suportava,mas que a comprou de seu pai, um andarilho que não aguentava mais uma fêmea atrasando ele.
Luz perdeu a mãe há muitos anos, graças a seu pai, que nunca lhes deu um lar fixo e correto e sua mãe ficou doente e faleceu, deixando a filha a cargo do pai. Ela fugiu depois de escutar a conversa do pai com aquele ser asqueroso. Nunca correu tanto na vida e depois de muito correr sem destino, chegou a uma cidade, onde pediu esmolas nas ruas e conseguiu o suficiente para pegar um ônibus para uma cidade distante.
O ônibus não estava lotado e as pessoas se afastavam dela por causa do mau cheiro. Ela podia ter tomado banho na rodoviária, mas preferiu ficar fedida, para disfarçar seu cheiro. Demorou a encontrar um lugar distante e seguro, bem diferente das florestas por onde andou com seu pai e até aquele momento, não havia encontrado ninguém de sua espécie, mas não sentiu medo.
Desceram do elevador e Osnir sentiu o cheiro da pessoa, impregnado em sua roupa, mas não falou nada, trocaria de roupa depois. Seguiram até o vestiário dos seguranças e ele indicou o banheiro para o outro tomar banho. Lhe estendeu uma toalha, que pegou no armário e estava em um saco lacrado da lavanderia.
— Ai dentro tem sabonete, escova de dentes nova e creme dental. Pode usar o shampoo também. Quando terminar, as roupas novas estarão aqui.
Terminou de falar e depois que ela entrou no banheiro, trancando a porta, foi até a copa e pegando alguns ingredientes na geladeira, fez um sanduíche e levou para o quarto, com uma caixa de suco. Outro segurança chegou com duas sacolas de roupas e deixou com ele no quarto.
Assim que ouviu o chuveiro silenciar, deu um toque na porta, avisando:
— Aqui está a roupa, vou sair, fique a vontade, mais tarde eu volto para ver como está. Não fuja, tem seguranças por todo lado.
Luz escutou o aviso e não gostou de estar sendo vigiada. Abriu a porta só o necessário para pegar as bolsas no chão e puxar para dentro. O banheiro não era grande, mas era confortável. Tinha até um espelho de corpo inteiro e ela podia observar e ver como as pessoas a viam. Estava muito magra pela pouca alimentação que tinha. Seus cabelos pretos, estavam crescidos até abaixo do ombro, cheio de pontas, sem um corte específico e por isso pareciam sempre despenteados, não que penteasse, mas ficavam sempre do mesmo jeito.
Seu pai não ligava para mantê-la vestida bem ou com os cabelos direito, cortava com a navalha, quando começavam a dar trabalho. Seus seios pequenos ajudavam a disfarçar seu corpo feminino e apesar da vida selvagem que levava, não tinha marcas pelo corpo. Pegou as roupas nas sacolas e eram realmente masculinas. Vestiu a cueca, rindo e quando ficou pronta, percebeu que a blusa de malha, marcava seus seios e ela não tinha sutiã.
A sorte é que havia um casaco de capuz que ela vestiu por cima, disfarçando melhor, seu corpo feminino.
Osnir estava indo se trocar, quando ouviu o chamado do patrão e teve que subir imediatamente. Entrou na sala e o homem que estava de pé atrás da mesa, concentrado a observar uns papéis, parou. Era alto, forte e seu terno elegante não ocultava a definição de seus músculos. Puxou profundamente o ar e levantando a cabeça, de olhos fechados, falou, sem dúvida alguma:
— Minha!
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Atualizado até capítulo 58
Comments
juliana Sereno
Começando a ler agora e gostando /Tongue/
2024-11-08
2
Maria Helena Macedo e Silva
📖👀
2024-10-25
1
Suelen Andrade
que top amei o segurança ter ficado com o cheiro dela e o patrão percebeu o cheiro top
2024-10-22
1