Planos maquiavélicos de dominação dos homens

Eu não falei mais nada. O que podia dizer, certo? Entretanto, toda hora uma voz na minha cabeça chamada popularmente de consciência, gritava no meu ouvido:" Enlouqueceu? Vai embora daí. É o Morro! Ele é o chefe do Morro." Não vou mentir que pensava na possibilidade de fugir, mas lembrava o que me esperava em casa e desistia. No fim, eu não tinha realmente algo lá fora. Eu precisavam me refazer. Em menos de 24 horas que estava aqui, me senti mais viva que os últimos anos. Por mais louco e absurdo que seja, eu não sentia metade do medo constante que sentia em casa, mesmo estando no morro. Eu sempre estive alerta para não agir errado, nem falar nada que Félix que gostava. Eu pisava em ovos dentro da minha própria casa. Era essa a minha vida. Que absurdo. Eu me senti mais livre aqui do que jamais fui ao lado de Félix. Talvez não seja uma troca ruim afinal. O que tenho a perder?

— Chegamos, princesa. Parece que sua tia fez mesmo sua comida favorita. Pode desculpar ela? — Thanatos disse parecendo animado.

— Estão sua comida preferida é espaguete com almôndegas? — perguntei surpresa. Não esperava algo tão complexo. No geral, crianças como Beatriz costumam preferir confia simples, sem muita textura ou sabor. Eles são um pouco mais sensíveis em seu paladar.

— Sim, mas tem que ser uma receita X. Se mudar qualquer coisa na receita, Beatriz percebe e não come. — Thanatos explicou. O que explica minha surpresa. A receita não deve ser tão temperada.

— Entendi. Então esse é o espaguete especial da Beatriz. Estou ansiosa para saber do sabor. — Disse para menina que não me olhava, mas parou de mastigar para ouvir, era o suficiente.

Como esperava, o jantar não tinha lá muito sabor, não era ruim, apenas ele não parecia ter diferencial ou grandes temperos. Bem, nada mesa de jantar não se falou muito, Beatriz comia com cuidado. Não respondi a ninguém, no máximo balançava a cabeça concordando com algo que seu pai dizia. Assim que terminou de comer, colocou o talher com cuidado ao lado do prato e desceu da cadeira. Ficou em pé ao lado do pai. Que não tinha terminado de comer ainda, mas pegou a menina no colo e saiu. Ele deve está acostumado ao padrão da menina.

— O que rolou? Pensei que meu irmão te jogaria pela janela por ter ido ao quarto de Beatriz. Ele quer proteger ela das pessoas, sabe? Não que eu desconfie de você. Acho que meu irmão também não, mas quando envolve minha sobrinha, todo cuidado é pouco. Nós dois aprendemos da pior forma possível que as pessoas não se importam quem vão machucar no processo para se conseguir o que quer. Outro motivo, para todo esse cuidado é o fato de Beatriz odiar mudança. Para ela conhecer alguém é algo super desconfortável. Então, não fiquei triste ou chateada por meu irmão. Ele é um pai bem preocupado. É um pouco complicado lidar com Beatriz — Jade explicou.

— Quem faz esse macarrão? — Perguntei. Eu sei. Parecia que estava ignorando tudo que Jade falava, mas não era isso. Eu entendia a preocupação deles. A menina pode ser usada contra o pai. Era a fraqueza de Thanatos. Eu assisti muitos filmes sobre isso. Não deve ser diferente. O ser humano é desprezível demais quando não tem qualquer empatia, apenas egoísmo.

— Thelma. Ela trabalhou um tempo aqui em casa. Beatriz tem bastante problema com comida, sabe? Coisas com muito sabor ou textura ela não come. E simplesmente, não come nada que for da cor verde. Até hoje não sei como Thelma conseguiu fazer Beatriz comer isso. Na verdade, quase todos os dias o jantar dela é a mesma coisa. Não sei como ela não cansa. Tento oferecer ou apresentar algo novo, mas Beatriz é absurdamente contra. — Jade confessou novamente parecendo triste.

— E tá tudo bem, desde que consigam equilibrar a alimentação dela para que tenha todos os nutrientes que ela necessita, sabe? Beatriz gosta de rotina. Mudanças para ela são estressantes. Deve se ter toda uma estratégia para inserir algo novo na sua rotina. — Expliquei.

— Então você descobriu o que Beatriz tem? Tão rápido? Ela tá doente? É grave? — Jade perguntou agitada.

— Eu também quero saber o exatamente cada detalhe. E como podemos resolver. — Thanatos falou escorado na porta.

— Eu tenho uma amiga que ela é psicóloga, a é especialista em crianças. Sempre falava muito sobre isso com ela. Vou ligar para ela. Será mais confortável se fizer o teste em casa. Beatriz ficará ainda mais estressada em um ambiente novo. — Sugeri. Normalmente, era algo que se detectava na escola. Fazendo com que as crianças já fossem enviadas com relatórios. No caso de Beatriz, eu não sei exatamente como será a melhor forma de lidar com isso.

— Veja quando ela pode. Eu mesmo vou buscar ela. — Thanatos falou.

— Certo. Aliás, pode me dizer como ficou minha vida? — Perguntei lembrando da minha mala.

— Agora eu tenho 55% da empresa dos seus pais. Félix assinou o pedido de separação. Eu já dei entrada. Não sei se você tinha ideia, mas ao se separar dele, um parte do que ele adquiriu quando estavam casados é sua. Pelo que notei, ele comprou as ações da empresa do seus pais após o casamento de vocês. Sendo assim, ele terá que te pagar parte do valor delas. Além disso, ele tem alguns imóveis que conseguiu depois. Tudo será contabilizado pela justiça e você vai receber sua parte quando terminar o processo. — Thanatos explicou. Eu nem tinha pensando nisso. Será que por isso, Félix nunca deixou que eu me separasse dele? Tinha medo que eu ficasse com parte do que ele havia conseguido?

— E minha mãe? O tratamento dela? — Perguntei fazendo a lista mental do que estava falando e era mantido pelo Félix.

— Eu não pagava o tratamento da sua mãe. Seu pai estava desesperado tentando contato com você, mas aparentemente, Félix mudou vocês de lugar e o número de vocês. Seus pais não conseguiam te avisar que estavam com problemas. Comprei uma parte das ações do seu pai, ele precisava para pagar o que estava devendo. Fez diversos empréstimos para continuar o tratamento da sua mãe. Ele me pediu para entregar essa carta para você. — Thanatos me entregou um papel.

— Quer dizer que passei por tudo aquilo, Félix não ajudou em absolutamente nada e ainda lucrou com a compra das ações da minha família? — Eu estava irritada. Pensei que sofrendo, aceitando tudo, tinha sido para um bem maior, mas eu estava sendo enganada, mas eu fui mesmo burra, como eu pude acreditar que alguém sem qualquer respeito por mim, iria honrar com sua palavra? Fui uma idiota.

— Exatamente. Ele se uniu com os outros acionistas e tiraram seu pai da direção da empresa. Agora quem está comandando tudo é ele. Bem, pelo menos era, agora eu tenho maior parte das ações. E você terá uma boa parte em poucos dias. Não haverá força suficiente para que ele volte ao poder. Derrubaremos ele e colocamos seu pai de volta na direção. O que acha? — Thanatos perguntou.

— Você não vai querer ficar com a direção? Tem todo poder para isso. — Perguntei confusa.

— Já tenho um morro todinho para administrar. O dinheiro que vai render esse investimento é o suficiente. Eu sempre quis investir o que tinha em algo para o futuro de Beatriz. Não quero que ela esteja envolvida com nada ilegal. Vamos dizer que de certa forma, foi investimento para Beatriz futuramente. — Thanatos explicou. Não parecia ser mentira, mas também pensei que Félix não estava me enganando.

— Eu posso visitar meus pais? Ou falar com eles? — Talvez esse tenha sido meu erro a última vez. Eu não tinha mais contato com meus pais. Não duvido que tenha sido pensado.

— Pode, mas não vai sozinha. Alguém vai te deixar e buscar. E coloquei seu telefone na penteadeira. Pode ligar para eles sempre que puder. Não tenho essa frescura. Desde que você não tente fugir do morro. Por mim, está tudo bem. — Thanatos me deixava confusa. Se eu era livre ou não. Se eu não posso fugir, estou presa não?

— Depois você me explica o que Beatriz tem. Vou dormir. Preciso acordar cedo para deixar Beatriz na escola. — Jade disse levantando.

— Não, eu levo Beatriz a partir de hoje e você tem o dever de pegar. Durante o dia agora você trabalha. Na recepção da clínica, junto com Sarah. Entendeu? — Thanatos explicou. Surpreendendo totalmente Jade.

— Eu não lembro de ter aceito nenhum emprego. — Jade respondeu irritada.

— E eu lá me importo? Quem manda aqui sou eu. Você vai trabalhar. Cansado de você de vida mole por aí. Vou subir. Aliás, depois me avisa com quem dormirei essa noite, Sarah. Você tem uma hora para decidir. — Thanatos falou antes de sair.

— O que ele quis dizer? — Jade perguntou confusa.

— Seu irmão quer que eu escolha com quem ele vai dormir hoje a noite. Comigo ou Laíse. — Eu respondi irritada. Quem ele acha que era para me pressionar assim.

— Você não vai deixar meu irmão dormir com aquela mulherzinha, né? Depois ela vai encher a boca para dizer que ele sempre vai está na cama dela e nunca na sua. Acorda, Sarah. Diferente do Félix, você pode usar o meu irmão ao seu favor. Coloque ele na palma da sua mão. Você consegue fazer isso. E eu vou te ajudar no que for preciso. Já te usaram demais, está na hora de você ter controle da sua vida. — Jade aconselhou sussurrando.

— E porque você faria algo assim? Contra o seu irmão? Deveria preferir que eu esteja na mão dele, não? — Era o que se esperava de uma irmã.

— Se ele não se importa com minha opinião, porque eu devo me importar com a dele. É melhor me unir com você, sei que tem a capacidade humana de ouvir os outros, do que com aquele cavalo que chamo de irmão. Dizem que as mulheres tem que se unir mais, né? Talvez estejam certo. Esse morro é dominado por homens, está na hora das mulheres dominarem os homens. — Jade parecia uma vilã com plano maquiavélicos de dominação do mundo.

— Eu não sei. Tenho que pensar direitinho. Não consigo nem absorver todas as informações do que aconteceu hoje. Podemos ver isso depois? — Eu realmente não conseguia pensar sobre a ideia. Parecia lógica, mas perigosa. Como ela esperava que eu dominasse o dono do morro?

— Sim, senhora. De qualquer forma, começa hoje, rebolando no colo do meu irmão. Assim você já começa a colocar ele na sua mão. — Jade disse antes de subir.

— Ela acha que é fácil assim? — Não sei como é para as outras pessoas, mas eu que só tive o Félix na minha vida, me parece complicado apenas dormir com alguém assim do nada. De qualquer forma, vou subir e ler a carta do meu pai. Depois penso onde vou dormir.

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