Éden - Capítulo 17: Uca

 A Ave Divina. Um ser imponente, de beleza exótica, que imediatamente prendeu a atenção dos três aventureiros. O choque nos rostos de Samuel, Zack e Renan era palpável enquanto a ave, despreocupada, bicava calmamente os núcleos espalhados no altar.

Samuel, com os olhos brilhando de fascínio, mal conseguiu conter sua admiração:

— Como… é lindo! — murmurou, dando passos hesitantes na direção da criatura.

Sarah percebeu o movimento e rapidamente o advertiu:

— Não se aproxime, Samuel! A Ave Divina não gosta de ser incomodada enquanto se alimenta.

Antes que pudesse ignorar o aviso, Zack o segurou firmemente pelos ombros, impedindo-o de prosseguir. Samuel se debateu, mas Zack manteve o controle. Renan, por outro lado, parecia mais perplexo do que impressionado. Com uma sobrancelha arqueada, resmungou:

— Então essa é a famosa Ave Divina? Um galo? — A decepção transbordava em sua voz.

De fato, a ave tinha a aparência de um galo, mas não era um galo comum. Suas penas negras tinham bordas douradas, que brilhavam como o amanhecer. As pontas das penas exibiam um vermelho intenso, lembrando chamas vivas. Seu rabo, majestoso, era formado por longas plumas completamente escarlates. Os olhos amarelos, atravessados por pupilas vermelhas, pareciam brilhar com uma sabedoria ancestral. A crista, moldada como labaredas, completava o espetáculo. E havia algo mais: sua altura descomunal, cerca de 1,20 metro, tornava-o imponente.

Sarah virou-se para Renan, a expressão séria.

— Cuidado com o que diz. A Ave Divina é extremamente temperamental e territorial.

Zack, ainda segurando Samuel que continuava a se debater, lançou uma pergunta para Sarah:

— E como, exatamente, pretendemos conseguir a bênção dele?

Sarah respirou fundo antes de responder:

— Para serem abençoados, vocês precisam derrotá-lo em uma luta.

Os olhos de Renan brilharam de curiosidade. Ele se aproximou, perguntando com um tom de desconfiança:

— E como você sabe que ele vai abençoar alguém se for derrotado?

A resposta veio curta e enigmática:

— É um segredo.

Zack, sempre analítico, ponderou em voz alta:

— Deve ser algum tipo de habilidade especial… ou o galo fala.

Enquanto dizia isso, deu um leve cascudo em Samuel, que finalmente parou de resistir, caindo de joelhos no chão. Sarah, impressionada pela dedução de Zack, comentou com um sorriso de admiração:

— Além de forte, você é inteligente.

Renan, que observava a cena, não conseguiu esconder o descontentamento ao notar o tratamento diferenciado. Sua expressão era a perfeita definição de "poker face". Zack, por sua vez, manteve-se focado.

— Então é uma habilidade especial, estou certo? — perguntou diretamente para Sarah.

Ela assentiu com um leve sorriso, aproveitando a oportunidade para se explicar:

— Sim, eu tenho a habilidade de me comunicar e sentir o que os animais sentem. É por isso que o povo do vilarejo me chama de sacerdotisa.

Zack cruzou os braços, mantendo a compostura.

— Impressionante. Ter uma habilidade dessas pode ser muito útil.

O elogio fez Sarah sorrir amplamente, mas Renan, indignado, não resistiu:

— Mas, senhorita Sarah, você não disse que isso era segredo?

Antes que pudesse continuar, o olhar glacial de Sarah o fez engolir o restante das palavras. Gaguejando, ele tentou corrigir-se:

— Eu... eu devo ter entendido errado.

Zack foi direto:

— Eu não vou lutar com o galo. Não preciso da bênção dele.

Renan rapidamente concordou:

— Eu também não. Lutar com um galo gigante é simplesmente ridículo.

De repente, Samuel se levantou do chão com um salto, a empolgação estampada em seu rosto.

— Eu luto com ele! Mas não quero a bênção. Sarah, diga a ele que, se eu vencer, em vez da bênção, quero levá-lo comigo!

Sarah arqueou uma sobrancelha, mas aceitou o pedido. Aproximou-se da ave e iniciou uma breve comunicação. O galo a observava com seus olhos flamejantes, e, para a surpresa de todos, caminhou até ficar cara a cara com Samuel.

Com um movimento firme, ele ergueu o pescoço e soltou um poderoso:

— Cóo cóo!

Samuel olhou para Sarah, confuso. Ela traduziu, séria:

— Ele disse: "Acha que consegue me vencer?"

Samuel abriu um sorriso desafiador.

— Parece que você é um galo muito orgulhoso. Isso só me dá mais vontade de levá-lo comigo.

A resposta do galo foi imediata:

— Cóo.

Sarah suspirou e completou a tradução, um tanto relutante:

— Ele disse: "Moleque ousado."

A tensão entre o rapaz e a ave cresceu como uma chama prestes a consumir tudo à sua volta. O combate estava prestes a começar, e a promessa de um embate memorável pairava no ar.

Samuel respirou fundo, entregando suas espadas a Zack. Ele não queria ferir o adversário – um galo extraordinariamente poderoso. Ambos tomaram seus lugares na grande área do santuário, olhos fixos um no outro. O silêncio que se seguiu parecia congelar o tempo. Apenas o som do vento cortava o ar. Uma pena surgiu, dançando ao sabor da brisa, antes de cair lentamente ao chão.

Assim que a pena tocou o solo, o galo avançou como um relâmpago, suas asas disparando penas flamejantes. Samuel reagiu num instante, movendo-se para o lado com a agilidade de um felino, desviando do ataque incandescente. O galo saltou com um vigor explosivo, patas em chamas apontadas como garras mortais. Samuel ergueu o braço, envolto em chamas azuis, para bloquear. O impacto foi devastador, produzindo uma explosão violenta que fez o chão vibrar. Fagulhas e calor preencheram o ar enquanto os dois guerreiros se encaravam em meio à fumaça, antes de recuarem estrategicamente.

Num piscar de olhos, o galo desapareceu. Samuel mal teve tempo de reagir antes de sentir o calor das penas flamejantes disparadas atrás de si. Ele saltou, impulsionando-se no ar, e desceu com um soco carregado de chamas azuis que atingiu o chão como um meteoro. O estrondo sacudiu o campo, espalhando detritos. Samuel avançou em seguida, o punho ainda envolto pelas chamas intensas. Contudo, o galo bateu suas asas com precisão, extinguindo o fogo do ataque de Samuel. Ele parou, surpreso, e recuou, seus olhos avaliando a habilidade inesperada do oponente.

De repente, o galo disparou com velocidade inacreditável, o bico em chamas transformando-o numa flecha viva. À medida que avançava, as chamas cresciam, assumindo a forma imponente de uma fênix dourada. Samuel, pego desprevenido, ergueu os braços para proteger-se, envolvendo-os em uma barreira de fogo azul. O impacto foi cataclísmico. O choque produziu uma explosão que sacudiu a terra e derreteu o solo ao redor. Quando a poeira baixou, Samuel estava ferido, os braços sangrando, mas seus lábios esboçavam um sorriso desafiador.

— Agora eu não saio daqui até levá-lo comigo... — ele declarou, com um brilho feroz no olhar. — Técnica Original: Armadura Infernal!

As chamas ao redor de Samuel explodiram numa fúria renovada. Seu corpo foi envolvido por um fogo azul intenso com bordas vermelhas que pulsavam como sangue vivo. Seu cabelo assumiu um tom azul ardente, com mechas vermelhas faiscando como lava. O calor ao seu redor era tão extremo que o ar ondulava e o chão começava a derreter sob seus pés. Fumaça subia ao seu redor como o prenúncio de uma erupção.

O galo, agora ciente do perigo, recuou, observando atentamente. Bateu as asas com força, tentando apagar as chamas de Samuel, mas elas permaneceram firmes, queimando com uma intensidade quase sobrenatural. O galo soltou um grito estridente, e seu corpo começou a brilhar. Suas penas tornaram-se douradas com pontas brancas, e um calor opressivo emanou dele, evaporando tudo o que se aproximava. O campo de batalha foi tomado por uma aura quase divina.

Então, sem aviso, os dois avançaram. Samuel e o galo se chocaram no meio do campo, trocando golpes ferozes. Chutes, socos, penas flamejantes e patas incandescentes colidiam numa dança violenta e brutal. Cada impacto liberava ondas de calor que faziam o ar vibrar e rachavam o solo ao redor. Os dois lutavam com igual intensidade, seus movimentos rápidos como raios.

Finalmente, os dois pararam, cada um preparando seu golpe final. Samuel reuniu toda sua energia, concentrando as chamas em um único soco devastador. O galo fez o mesmo, sua figura brilhando como um sol em miniatura. Eles avançaram ao mesmo tempo, e o choque dos ataques resultou numa explosão colossal. Uma cratera profunda surgiu no chão, o calor derretendo o solo ao redor.

Quando a poeira finalmente assentou, Samuel estava de pé, ofegante, sua mão estendida num soco parado a centímetros do galo, que havia caído de joelhos, derrotado.

— ...Ahhh... ahh... A partir de agora, o seu nome é Uca... — disse Samuel, com um sorriso cansado, sua voz marcada pela exaustão. Seu corpo estava coberto de queimaduras leves, mas ele permanecia firme.

— Cóoo... — respondeu o galo, com um tom que parecia aceitar a derrota e reconhecer o respeito de seu oponente.

Zack, que havia assistido à luta, cruzando os braços.

— Eu sabia que ele era forte, mas não imaginava que chegava a esse nível... — comentou, surpreso.

— Kyuuu! — concordou Emi, empoleirada na cabeça de Zack, enquanto seus olhos brilhavam com entusiasmo.

...----------------...

Samuel retornava ao vilarejo com Uca equilibrado sobre sua cabeça. Apesar do tamanho, o pássaro parecia dominar o próprio peso, movendo-se como uma pluma. A visão era tão inusitada quanto impressionante. Sarah, preocupada com os ferimentos de Samuel, os convidou para sua casa, oferecendo descanso e cuidados. No caminho da casa de Sarah, caminhando pelo vilarejo, os habitantes pararam para observá-los. Murmúrios de admiração se espalharam rapidamente quando uma senhora, com um tom solene e vibrante:

— A Ave Divina escolheu o seu apóstolo!

Os olhares de espanto logo se transformaram em euforia. Em poucos minutos, já começavam os preparativos para uma festa que aconteceria à noite.

Sarah então, propôs:

— Vocês precisam descansar, após andarem tanto por aí. Venham comigo para minha casa.

Samuel ainda sentindo os efeitos da batalha, concordou.

Ao chegarem à casa de Sarah, Samuel e seus companheiros foram tomados de surpresa. A construção era imponente, quase um contraste com as demais casas do vilarejo. O hall principal era amplo e decorado com um cuidado artesanal impecável, evidenciando a influência dos moradores. Os pais de Sarah os receberam com sorrisos gentis, embora seus olhos revelassem a mesma surpresa ao verem Uca empoleirado com tanta confiança sobre Samuel.

O pai de Sarah, um médico com habilidades de cura, era um homem de cabelos negros salpicados de fios grisalhos, já mostrando os sinais da experiência em seus 45 anos. Apesar da idade, mantinha um vigor impressionante, estendeu a mão para cumprimentá-los.

— Sou Julian, um médico. Vamos tratar esses machucados. — Sua voz era firme, mas gentil.

A mãe, por sua vez, era uma mulher elegante, dona de habilidades artesanais extraordinárias. Com os seus cabelos loiros mesclados por mechas castanhas, transparecia uma maturidade graciosa, os cumprimentou, energética:

— Olá, belos rapazes! Eu sou a mãe dela, Eloy. — Sua voz melódica e calorosa — Vocês devem estar exaustos. Vou providenciar roupas limpas e terminar de preparar o almoço— Sorriu com um brilho acolhedor no olhar

Eles também se apresentaram para os pais dela. Sem demora, o pai de Sarah levou Samuel para tratar de seus ferimentos, enquanto a mãe oferecia roupas típicas do vilarejo para o grupo, sugerindo que tomassem banho antes do almoço, que estava quase pronto.

Pouco depois, reuniram-se à mesa. O aroma do banquete invadia a sala, e a atmosfera era de acolhimento, até que a mãe de Sarah quebrou o gelo com uma provocação:

— Vocês ficaram lindos nessa roupa. Então, filha... qual desses homens bonitos chamou a sua atenção?

Sarah quase engasgou, o seu rosto ficando instantaneamente vermelho.

— M-mãe! Que tipo de pergunta é essa?! Eu não estou de olho em ninguém! — respondeu ela,gaguejando, mas toda vez que os seus olhos teimavam em encontrar Zack, ela desviava o olhar rapidamente, como se fosse pega em flagrante.

A mãe, percebendo a reação da filha, apenas sorriu de canto.

— Hmmm... Entendi.

A provocação não parou por aí, com perguntas sutis que faziam Sarah se encolher mais a cada instante. Mas, ao direcionar sua atenção a Zack, a conversa tomou outro rumo.

— Você é Zack, certo? — perguntou ela, apontando com uma leve curiosidade.

Zack, que terminava calmamente de comer, ergueu os olhos e respondeu educadamente:

— Sim, senhora.

— Que rapaz educado... — ela inclinou a cabeça, intrigada. — Me diga, o que você acha atraente em uma mulher?

O silêncio caiu como uma pedra. O rosto de Sarah estava completamente coberto pelas mãos, quase desaparecendo de vergonha. Zack, por outro lado, congelou. Sua expressão endureceu, e um tom melancólico tomou conta de seus olhos. Sua voz saiu calma, mas carregada de um peso palpável.

— Eu realmente preciso responder essa pergunta, senhora? — disse ele, com uma voz firme, cortante.

A mãe de Sarah percebeu o erro imediatamente, e balançou a cabeça, constrangida.

— Não, claro que não, querido. Me perdoe.

A leveza do almoço dissipou-se, dando lugar a um clima incômodo. Após o término da refeição, o vilarejo começou a se preparar para a festa da noite, e o grupo foi separado por algumas horas.

Quando o evento começou, Samuel foi vestido com roupas cerimoniais exóticas, decoradas com símbolos da tradição local. Levado pelos aldeões, foi erguido no ar e jogado para cima enquanto todos gritavam em uníssono:

— Viva ao apóstolo!

Samuel, que tentava manter a compostura, perdeu a paciência ao sentir um toque invasivo.

— Quem foi o corno que tocou na minha bunda?! — rugiu ele, enquanto era arremessado para cima novamente, com o rosto vermelho de irritação.

Os aldeões apenas gargalharam e continuaram comemorando, enquanto Renan aproveitava a festa à sua maneira: comendo sem parar e tentando, sem sucesso, flertar com as mulheres locais. Zack alvo da atenção feminina, por outro lado, buscava a solidão. Ele escalou o telhado da casa de Sarah e ali se deitou, com Emi dormindo tranquilamente em seu colo.

Foi nesse momento que Sarah apareceu, subindo para se juntar a ele.

— Por que não aproveita o banquete? — perguntou, sentando-se ao seu lado, com a voz baixa.

— Não sou muito fã de festas — respondeu Zack, sem desviar os olhos do céu estrelado.

Por um tempo, nenhum dos dois disse nada, até que Sarah, com a voz baixa, comentou:

— Me desculpe pela pergunta da minha mãe.

Zack suspirou, fechando os olhos por um momento.

— Está tudo bem. Eu que devo desculpas por estragar o clima do almoço. Sua família é... boa. — sem desviar os olhos das estrelas.

Sarah o observou, sentindo uma leveza inexplicável na presença dele. Após alguns minutos de silêncio, Zack falou:

— O que me atrai em uma mulher... era isso que a sua mãe queria saber, certo?

— Sim... — respondeu Sarah, curiosa, mas hesitante.

Ele fechou os olhos, como se revivesse algo precioso, mas doloroso, e respondeu com a voz calma.

— O que me atrai em uma mulher é sua força doce. Uma personalidade gentil que não cede. Uma mulher que tenha um coração bondoso e justo, que seja a minha companheira nos melhores e piores momentos. Não me importo como ela seja fisicamente... Se for alguém com quem eu possa rir e chorar, isso já basta. — Ele sorriu genuinamente, como se revivesse uma memória distante.

Sarah, encantada com aquela expressão rara, sentiu o coração disparar. Algo dentro dela havia mudado, ela percebeu que estava irremediavelmente atraída por ele. Criando coragem, ela falou:

— Zack... Eu sei que vocês vão partir em breve. Posso ir com vocês? — perguntou ela, brincando com os próprios dedos em um gesto nervoso.

Zack a fitou, surpreso.

— Tem certeza? Vai ser perigoso.

— Tenho. Eu posso ser útil! Você viu como sou habilidosa. Posso ajudar. Minha habilidade de comunicação será útil para o grupo. Prometo que não serei um fardo! — Disse, com determinação.

Zack hesitou por um momento. Havia algo em Sarah que o lembrava de alguém. Finalmente, ele assentiu sorrindo levemente de canto.

— Se está tão certa disso, não vou impedir.

Eles ficaram em silêncio, contemplando as estrelas juntos. Mais tarde, voltaram à festa, onde Emi, acordada e faminta, acompanhou Zack em busca de comida.

Naquela noite, Sarah se juntou ao grupo, mas mal sabiam eles que uma tragédia se aproximava daquela região...

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Comments

Alin3

Alin3

ta incrivel essa história, o galo é mucho loco kkkkkkkkkk

2023-02-25

1

Alin3

Alin3

o Zack ja nem cria mais espectativas coitado kkkkkk é uma desgraça atras da outra com o cara

2023-02-25

1

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