Éden - Capítulo 5: Missão

[Em um reino distante, onde o horizonte se mesclava com as nuvens...]

Neste lugar majestoso, emoldurado por montanhas que tocavam o céu, vivia uma garota. Não qualquer garota, mas uma princesa: gentil e corajosa, com um coração generoso, porém prisioneira de seu sangue e do legado de sua família. Desde pequena, sonhava em ser livre, em se desvencilhar dos grilhões que a sua linhagem lhe impusera. Desejava alguém que a compreendesse, que visse além das suas escamas brilhantes, dos chifres imponentes, e das asas que carregavam o peso de gerações.

Porém, como sempre, seu destino estava sendo traçado sem ao menos consultá-la.

No interior de um imponente castelo, suas paredes brancas como marfim e detalhes dourados que cintilavam à luz do sol poente, dois indivíduos caminhavam pelos extensos corredores. Um deles, o mordomo, com feições quase humanas, exceto pelas asas negras e chifres que se destacavam em sua cabeça, a observava de perto. A cada passo, suas escamas refletiam a luz, enquanto ele tentava, em vão, convencer sua senhora.

— Princesa, a senhorita não pode fugir do seu destino — insistiu, mantendo a postura rígida, ainda que sua voz denunciasse o cansaço de quem já repetira essas palavras inúmeras vezes.

A jovem princesa, à frente, ergueu-se em toda sua altivez. Alta, esguia, seus cabelos brancos caíam em cascatas luminosas sobre suas costas. Ela era bela, com asas e chifres tão perfeitos quanto a própria natureza os criara, mas seus olhos, de um azul gélido, ardiam com a chama da insatisfação.

— Não vou me casar com alguém que mal conheço, não com alguém que só me vê como uma peça de poder — respondeu, firme, o eco de sua voz preenchendo o corredor vazio.

O mordomo hesitou por um instante, buscando as palavras certas. — Ele é o mais forte de sua raça, alteza... — murmurou, como se aquilo, de alguma forma, aplacasse sua revolta.

A princesa parou abruptamente e se virou para ele, seus olhos brilhando de determinação. — O mais forte? E o que isso importa, se não há amor? Eu não quero ser admirada por minha linhagem ou pela minha força. Quero ser vista por quem eu sou.

O mordomo baixou a cabeça, consciente da sua impotência diante daquela verdade.

— Perdoe-me, sua alteza — disse com humildade.

Determinada, a princesa seguiu em direção à sala do trono, onde seu pai, o rei, esperava. Ao abrir as portas imponentes, foi recebida pela figura imponente de seu pai, um homem que, apesar da aparência jovem, carregava séculos de sabedoria e poder. Seus longos cabelos brancos brilhavam à luz das tochas, e seus olhos laranja vibravam com a autoridade de quem governa uma nação inteira.

— Pai, quero anular esse noivado — disse ela, suas palavras cortando o ar como lâminas.

O rei ergueu os olhos, observando-a com uma expressão calma, quase paternal. — Minha filha, o pretendente não te agrada? Ele é forte, digno de nossa linhagem.

A princesa cruzou os braços, tentando controlar a frustração que ameaçava transbordar. — Não é sobre agrado. Não quero ser forçada a me casar com alguém apenas por sua força. Sou mais do que minha linhagem!

O rei suspirou profundamente, sua postura relaxando por um breve momento. — Nossa linhagem é a mais poderosa de todo o continente. Manter essa força é vital para o equilíbrio da nossa hierarquia. Encontrar um parceiro adequado é difícil. — Sua voz agora era autoritária, repleta de convicção.

— Eu não me importo! — a princesa insistiu, sua voz elevada, mas firme.

— O contrato de noivado já foi selado com meu sangue, filha. Não há volta — respondeu o rei, um toque de tristeza em sua voz, como se ele próprio lamentasse o destino que havia imposto à filha.

A princesa arregalou os olhos, incapaz de acreditar no que ouvia. Sentia-se traída de uma forma que jamais imaginou. — Você não tinha o direito de fazer isso comigo! — gritou, antes de sair da sala em passos apressados, seu coração pesado de fúria e desespero.

De volta ao seu quarto, o desespero tomou conta dela. Em um surto de raiva, começou a derrubar os objetos ao seu redor. Vasos, livros, almofadas, tudo caía ao chão em meio à sua ira, até que, exausta, ela se jogou na cama. As lágrimas rolavam silenciosas pelo seu rosto, enquanto a noite caía lentamente, pintando o céu com tons de luto.

Horas mais tarde, quando a dor finalmente cedeu espaço à tristeza, a princesa se levantou e foi até a imensa varanda de seu quarto. O vento frio da noite tocava seu rosto como um consolo silencioso. Ao erguer os olhos para o céu estrelado, sentiu o peso da sua própria existência.

— Eu daria tudo para estar em outro lugar... Longe daqui. Eu só quero ser livre — sussurrou, quase como um pedido ao universo.

Mal terminou de proferir aquelas palavras e algo impossível aconteceu. O céu à sua frente começou a mudar. As estrelas, antes brilhantes, tornaram-se vermelhas, como rubis incandescentes. As constelações dançavam e o céu, agora mais escuro, parecia chamar por ela, uma promessa de liberdade oculta nas sombras.

Ela ficou maravilhada, seu coração disparado com a visão surreal diante de si. Antes que pudesse entender o que aquilo significava, uma voz suave se fez ouvir da porta:

— Alteza, trouxe seu jantar — disse uma empregada, batendo levemente na porta.

Silêncio.

— Alteza? Com licença... — A empregada abriu a porta devagar, adentrando o quarto.

Mas a princesa havia desaparecido, como se o céu a tivesse levado para um lugar distante, onde, talvez, sua liberdade finalmente a esperasse.

[De volta ao esconderijo, no amanhecer...]

Zack despertou lentamente, seus sentidos ainda confusos do sono pesado. O quarto estava silencioso, mas algo parecia diferente. Ao virar o rosto, notou que o ovo, que até a noite passada estava inteiro, havia rachado. Um arrepio de excitação percorreu sua espinha, e seus olhos varreram o cômodo à procura do que tinha emergido dali. Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, algo peludo e macio pulou em seu peito, derrubando-o de volta no colchão.

Ele afastou a criatura com a mão, segurando-a no ar. Seus olhos se arregalaram ao perceber que era uma pequena raposa, com orelhas exageradamente grandes, um rabo fofo como algodão, e uma pelagem branca como a neve. Os olhos, duas gemas azul-escuras, o observavam com curiosidade inocente.

— Não era isso que eu esperava que saísse de um ovo... — murmurou Zack, colocando o pequeno ser no chão. Ainda surpreso, perguntou a si mesmo se aquela criatura conseguia entender o que ele dizia. — Será que entende a fala humana?

A raposinha inclinou a cabeça para o lado, suas orelhas balançando suavemente.

Zack cruzou os braços e, com uma tentativa meio séria, disse: — A partir de agora, você tem que me obedecer, entendeu?

— Kyuuu~ — A pequena criatura soltou um som fofinho, inclinando a cabeça novamente. Apesar da resposta ambígua, parecia que havia compreendido.

Zack sorriu de canto, intrigado. — Certo, parece que você é mais inteligente do que parece. Suba no meu ombro, tenho que ir acordar o pessoal.

Com agilidade surpreendente, a raposinha pulou e se acomodou no ombro de Zack. Seu pequeno corpo era leve, e o pelo fofo balançava a cada passo.

Zack caminhou pelos corredores do esconderijo, o som das botas ecoando suavemente no piso. Ao chegar na porta de Samuel, deu duas batidas rápidas.

— Samuel, hora de acordar! — chamou, sem entrar no quarto. Um resmungo sonolento veio do outro lado da porta, mas ele não esperou.

Seguiu até o quarto de Rayka. Ao bater na porta e não obter resposta, resolveu abrir. Lá estava ela, afundada nos lençóis, ainda mergulhada num sono profundo. Observou-a por um momento, ponderando se devia acordá-la, mas decidiu deixá-la descansar. Havia algo frágil em seu rosto, como se o sono fosse sua única defesa contra a exaustão que a consumia.

Voltando ao corredor, Zack dirigiu-se para a sala principal, onde encontrou Roxyne, vestida de maneira casual, servindo café na mesa já posta. Ela levantou os olhos ao ouvir seus passos, e sua atenção rapidamente se voltou para a criatura no ombro dele.

— O que é isso aí no seu ombro? — perguntou, enquanto se sentava à mesa, arqueando uma sobrancelha.

Zack sorriu de leve, sentando-se em frente a ela. — Sabe o ovo que eu tinha ontem? Bem, saiu isso daqui de lá.

— Kyuuu~ — respondeu a raposinha, saltando do ombro de Zack e indo em direção a Roxyne, atraída pelo cheiro doce do café.

— Que coisa mais fofinha! — exclamou Roxyne, encantada com o pequeno ser. Ela acariciou a raposinha, que fechou os olhos e inclinou a cabeça, se deliciando com o carinho. — Já deu um nome pra ela?

Zack balançou a cabeça, servindo-se de uma xícara de café. — Ainda não pensei em um bom nome.

Nesse momento, Samuel entrou na sala, seus cabelos bagunçados e o rosto sonolento. Ele bocejou ruidosamente antes de se sentar à mesa. — Bom dia... — murmurou, enquanto se servia de café. Seus olhos caíram sobre a raposinha no colo de Roxyne. — Desde quando temos um mascote?

Roxyne riu e respondeu, enquanto acariciava a pequena criatura: — Desde hoje. Estamos justamente discutindo como vamos chamá-la.

Samuel franziu a testa, pensativo, enquanto observava a raposinha. — Que tal Yumi?

A raposinha, no entanto, deu um pequeno "Kyu" de reprovação, balançando a cabeça.

Roxyne tentou outra opção, um sorriso brincando em seus lábios. — E que tal Luna?

Mais uma vez, a raposinha balançou a cabeça, emitindo um som descontente.

A dupla continuou a sugerir nomes, mas nenhum parecia agradar a pequena criatura. Zack, que observava a cena com uma expressão divertida, murmurou casualmente: — Emi...

A reação foi imediata. A raposinha soltou um longo "Kyuuuu!" de aprovação, pulando do colo de Roxyne para os braços de Zack, se esfregando em seu peito com evidente alegria.

Roxyne sorriu, satisfeita. — Parece que encontramos o nome perfeito.

O ambiente, por um momento, ficou mais leve. Mas o momento de descontração foi interrompido por Samuel, que, ao se levantar para pegar mais café, franziu a testa.

— Espera aí... Cadê a Rayka? — perguntou, notando a ausência dela.

Zack deu de ombros. — Ela ainda está dormindo. Tentei acordá-la, mas ela parecia exausta. Acho que é melhor deixá-la descansar.

Roxyne, que até então estava silenciosa, cruzou as pernas e olhou para Zack com um ar mais sério. — É bom que ela descanse. Precisamos conversar sobre a condição da Rayka.

A reunião se iniciou, e a expressão de todos na sala mudou quando Roxyne começou a explicar a gravidade da situação. Rayka havia sobrecarregado seu corpo ao usar uma técnica destrutiva que exigia mais energia do que ela possuía. Para compensar, seu corpo havia drenado parte de sua força vital, um risco que, se repetido, poderia ser fatal.

— O descanso vai ajudar, mas não será suficiente para restaurar a força vital que ela perdeu — explicou Roxyne. — Precisamos de um medicamento especial. Infelizmente, os ingredientes só podem ser encontrados na Região Escura, uma área cheia de monstros mutantes e outras ameaças desconhecidas.

O ar na sala ficou pesado, a leveza da manhã se desvanecendo com a sombra de uma nova missão que prometia ser tão perigosa quanto necessária. Zack trocou um olhar com Samuel e Roxyne, sabendo que, por mais arriscado que fosse, aquela jornada à Região Escura seria inevitável. Eles precisariam ser rápidos e precisos, a vida de Rayka dependia disso.

Após a reunião, o clima no esconderijo tornou-se tenso e focado. A Região Escura não era um lugar que se visitava levianamente, e Roxy sabia que não podiam se dar ao luxo de falhar. Além de buscar o remédio vital para Rayka, o local poderia abrigar um dos esconderijos da organização sombria que eles perseguiam. Dois objetivos que se entrelaçavam em uma missão perigosa, exigindo não apenas força, mas também estratégia e precisão.

Zack e Samuel logo se dedicaram aos preparativos para a missão. A semana que antecedeu a partida foi intensa, marcada por um árduo treinamento. Zack assumiu o papel de mentor para Samuel, orientando-o sobre os erros de suas técnicas e, mais importante, ajudando-o a dominar o fluxo de sua energia. Cada movimento era analisado, ajustado, polido. Não era apenas sobre aprimorar a força, mas refinar o controle, construir uma base sólida.

No terceiro dia de treinamento, Rayka finalmente acordou. Sua presença trouxe um novo dinamismo ao grupo. Apesar de ainda fraca, sua determinação era palpável. Samuel, fiel ao seu estilo provocador, visitava-a diariamente, sempre após os treinos. Entre discussões constantes e trocas de farpas, ele levava comida, uma forma silenciosa de cuidado. Mesmo que nunca admitissem, havia uma ligação invisível entre eles, um laço que se fortalecia, apesar das diferenças.

No último dia de treinamento, sob o sol poente, Zack observava Samuel realizar os movimentos finais de sua técnica. A precisão que antes lhe faltava agora estava presente, o corpo de Samuel parecia fluido, em harmonia com sua espada. Foi nesse momento que Zack, curioso, decidiu perguntar:

— Quem te ensinou a usar a espada? — Sua voz era calma, mas atenta aos detalhes da postura de Samuel.

Samuel, ainda focado, parou por um momento antes de responder, sacudindo a espada com uma leve melancolia no olhar. — Foi o velho... meu mestre.

Zack percebeu a sombra de tristeza que cruzou o rosto do companheiro. — Ele parecia ser um mestre poderoso. Qual o nome do estilo?

Samuel, com os olhos fixos no chão, murmurou: — Arte da Espada Celestial.

O silêncio entre eles durou alguns instantes, mas para Zack, aquele breve lapso de tempo falou mais do que mil palavras. Ele não precisou perguntar. O mestre de Samuel havia morrido. E, naquele momento, não havia muito a ser dito. Zack aproximou-se, sua presença silenciosa, mas reconfortante, e deu um leve toque no ombro de Samuel.

— Tenho certeza de que ele estaria orgulhoso de você. Em apenas uma semana, você se superou. Seu talento é algo que ninguém pode negar — disse Zack, oferecendo um encorajamento discreto, mas genuíno.

Samuel apertou a espada, seus olhos brilhando com uma emoção que tentava esconder. — Valeu, Zack... — sussurrou, sua voz carregada de gratidão.

No dia seguinte, ambos estavam prontos para partir. A tensão no ar era palpável. Roxyne, com seu olhar sempre atento, aproximou-se de Zack momentos antes da partida.

— Garoto — começou ela, estendendo uma pedra brilhante que irradiava uma energia única. — Leve isso com você. Se algo muito perigoso acontecer e você não for capaz de lidar, quebre esta pedra. Eu irei até onde vocês estiverem imediatamente.

Zack pegou a pedra com cuidado, sentindo o poder que emanava dela. — Entendido, mestra — respondeu, guardando-a no bolso de seu casaco.

Pouco depois, Rayka apareceu no corredor, sua figura visivelmente debilitada, escorando-se na parede. Samuel foi rapidamente até ela, a preocupação evidente em seu olhar.

— Rayka, o que você está fazendo aqui? Precisa descansar — disse ele, segurando o braço dela para que pudesse se apoiar melhor.

Rayka tremia, mas sua determinação era inquebrável. Seus dedos apertaram a mão de Samuel com força. — Samuel... toma cuidado, tá? — Sua voz estava fraca, mas a preocupação por ele era clara.

Samuel tentou disfarçar a seriedade da situação com um sorriso, típico dele. — Com quem você pensa que está falando? Vou num pé e volto no outro, pode ficar tranquila — disse, tentando tranquilizá-la.

Ainda assim, Rayka não parecia totalmente convencida. Seus olhos se voltaram para Zack. — Zack... pode ficar de olho nele por mim?

Zack, com sua característica seriedade, respondeu de maneira seca, mas com uma ponta de humor: — Não prometo nada, mas vou tentar.

Samuel revirou os olhos, incapaz de conter o sorriso diante da troca. O clima, mesmo que por um breve momento, tornou-se mais leve, mas todos sabiam que a missão que os esperava seria tudo menos simples.

{Na Região Escura...}

Os ventos uivavam como criaturas selvagens, carregando com eles o cheiro de podridão e destruição. A paisagem era desoladora, uma terra onde o sol não ousava se demorar. Era como se o próprio solo tivesse sido corrompido pelas energias que ali se acumulavam. Monstros mutantes vagavam pela região, e nas sombras, seres desconhecidos aguardavam, prontos para atacar qualquer intruso que ousasse cruzar seus caminhos.

Em um laboratório isolado, bem no coração da escuridão, uma figura se movia freneticamente entre frascos e instrumentos estranhos. Seus olhos estavam arregalados, o sorriso maníaco iluminado pela luz fraca de lâmpadas oscilantes.

— HAHAHAHAHA! — O riso ressoava pelas paredes de metal enferrujado. — Eis aqui minha maior criação! A arma biológica definitiva!

No centro da sala, uma cápsula gigantesca vibrava, e de dentro dela, algo despertava. Um par de olhos vermelhos brilhava na escuridão, acompanhados por um som gutural que fazia o chão tremer.

— Aah... — suspirou uma voz vinda de dentro da cápsula, um suspiro que carregava um poder penetrante e sombrio.

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(Arte Conceitual, Princesa Dragão)

(Arte Conceitual, Rei Dragão)

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Comments

Káh Araújo

Káh Araújo

volta pro porão, tem MTA história ainda pra escrever, q me deixar na melhor parte

2023-02-14

1

Quarto Gamer

Quarto Gamer

macio e peludo me quebrou 😂😂

2023-02-14

1

Alin3

Alin3

essa história ta mt boa

2023-02-14

1

Ver todos

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