Peguei as armas do policial com mãos trêmulas, sentindo o peso não só do metal frio, mas também da responsabilidade que agora carregava. Rezei baixinho, desejando que ele encontrasse paz. Ele tinha uma pistola com apenas 10 balas e duas granadas. Percebi que o cinto de granadas tinha espaços vazios, provavelmente usadas para tentar atrasar o monstro. Vesti um colete que encontrei dentro da delegacia, ajustando-o sobre minha camisa social. Estava preparado, ou ao menos, tanto quanto poderia estar.
Segui pela rua onde o monstro havia desaparecido com a filha do policial. Mesmo sabendo que ele só devorava mulheres, não havia garantia de que não me atacaria se eu estivesse em seu caminho. O medo pesava sobre cada passo que eu dava, como uma sombra constante.
Após algum tempo, localizei a criatura. Ela estava em frente a um posto de gasolina, farejando o ar como se tentasse localizar sua presa. Contornei a rua em silêncio, mantendo-me fora do campo de visão da criatura. Foi quando a vi: a filha do policial, escondida dentro do posto, olhando nervosamente pela janela. Usava a farda, o boné da polícia, mas estava sem colete. Pude ver seu rosto tenso através do vidro.
Aproximei-me devagar, sem fazer barulho, e bati levemente na janela. Ela se assustou, virando a pistola na minha direção. Levantei as mãos em sinal de rendição, apontando para a frente do posto, onde o monstro estava, e fiz um gesto para que ela ficasse em silêncio. Relutante, ela abriu a janela devagar, ainda com a arma apontada para mim.
— Quem é você? — perguntou com desconfiança, o olhar duro.
— Sou Zack. Vim ajudar você. — Minha voz era baixa, tentando não chamar atenção.
— Me ajudar? A que custo? Nem te conheço. — Ela engatilhou a arma, seus olhos fixos em mim.
— Calma! Eu vim a pedido do seu pai. Ele me pediu para te ajudar... em troca, ele me deixou pegar as armas dele. Juro por tudo. — Falei rápido, suando frio, o coração acelerado.
Ela mordeu o lábio, as sobrancelhas se franzindo.
— Meu pai... — Sua voz vacilou, os olhos começando a encher de lágrimas.
— Meus pêsames... Ele... lutou até o fim. — Eu disse suavemente, tentando transmitir alguma paz.
— Entendi... — Ela murmurou, a voz trêmula, os olhos evitando os meus.
Vi o desespero nela. Seu corpo tremia, e ela estava à beira de desabar, mas lutava contra isso. Não consegui me segurar. Abaixei sua arma gentilmente, segurando suas mãos trêmulas. Olhei nos olhos dela, falando com firmeza.
— Sei que parece que seu mundo está desmoronando. Você quer gritar, chorar... Eu entendo bem essa dor. — Minhas palavras saíram pesadas, carregadas de lembranças que me traziam profunda saudade.
— O que você sabe? Você não tem ideia do que eu passei! — Ela exclamou, a voz baixa, mas carregada de mágoa. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.
— Eu sei... Eu já estive nesse mesmo vazio. — Minha voz era melancólica, meus olhos cheios de uma tristeza profunda que ela parecia reconhecer.
Ela ficou em silêncio, sem saber como responder, percebendo que eu falava a verdade.
— E está tudo bem chorar. — Continuei, suavizando o tom. — Pode não ser muito, mas se precisar, eu te empresto meu ombro... assim que sairmos daqui, tá bom? — Disse isso enquanto limpava uma lágrima do rosto dela com cuidado, minhas mãos ainda segurando as dela com firmeza, esboçando um sorriso singelo.
Ela assentiu, tentando segurar o choro, o rosto levemente corado pela situação.
Depois de um momento, ela respirou fundo e se recompôs, limpando as lágrimas com as costas da mão.
— Não tenho mais balas... — Ela disse, a voz mais controlada. — Qual é o plano, Zack?
— Bem, o plano é simples. Vou distrair o monstro. — Fiz uma pausa, vendo a surpresa no rosto dela. — Vou me vestir de mulher. Por sorte, passei por uma loja de fantasias e peguei uma peruca e algumas roupas. Enquanto eu o distraio, você foge para o norte o mais rápido que puder. Eu vou te encontrar depois.
Ela me olhou como se eu tivesse enlouquecido.
— O quê? Mas assim você corre perig- — Ela começou a protestar.
— Shhh! — Coloquei a mão suavemente sobre sua boca, silenciando-a. — Quer que ele nos ouça? Não se preocupe, tenho um plano de fuga. Prometo que vou te alcançar depois. Confie em mim.
Ela hesitou por um momento, mas então assentiu, ainda relutante.
— Ótimo. O plano começa assim que eu atirar no monstro. — Disse isso enquanto pulava a janela, já indo me trocar.
A verdade? Eu menti sobre o plano de fuga. Mas precisava convencê-la a sair dali. Depois de me trocar, saí do posto e a vi se preparando para correr.
— Ah! Quase esqueci... Qual é o seu nome? — Perguntei, já disfarçado com as roupas femininas.
— Sophia. — Ela respondeu, olhando para mim com uma mistura de surpresa e confusão.
— Tudo bem, Sophia. Nos vemos em breve. — Estendi a mão para ela, que a apertou firmemente.
— Não se atrasa, hein, princesa? — Ela disse com um pequeno sorriso, zombando da minha aparência.
Ri baixinho, acenando com a cabeça, e me aproximei da parede do posto, espiando o monstro mais uma vez. A criatura estava distraída, farejando o ar. Respirei fundo e, com as mãos trêmulas, levantei a arma, apontando para a cabeça dele.
— Seja o que Deus quiser... — Murmurei para mim mesmo antes de apertar o gatilho.
Atirei.
O som do disparo ecoou, cortando o ar pesado, e o monstro virou-se na minha direção com uma lentidão grotesca, os olhos mortos, famintos. Sua pele rachada deformada, entre grunhidos, ele balbuciou com uma voz distorcida, arrastada:
— AaaCHei... CoOoMiDa...
Ele começou a andar, cada passo balançando seu corpo desajeitado. Cada movimento era um baque contra o chão, como se a terra tremesse sob seu peso. A criatura esbarrava nos carros, arrastando placas, derrubando o que estivesse em seu caminho. De repente, colidiu com a primeira bomba de gasolina, e uma ideia louca surgiu na minha mente: "se eu acertar ali..."
Tentei disparar na bomba, mas minhas mãos estavam trêmulas. Nunca havia manuseado uma arma antes. O primeiro tiro passou longe, ricocheteando no metal, e o pânico começou a subir. O monstro derrubou a segunda bomba, cada vez mais perto de mim, e eu sabia que não tinha muito tempo. Com o coração acelerado, respirei fundo e disparei mais uma vez.
*Bang*.
Dessa vez, acertei. Uma explosão de fogo envolveu o monstro, as chamas subindo como uma fera faminta. Ele começou a se debater, a pele grotesca queimando e se deformando ainda mais, soltando grunhidos de dor que reverberavam como trovões:
— Ahhh! QuENtE! QuENTe! — Ele se agitava, tentando em vão apagar as chamas que o consumiam.
Aproveitei a distração e corri o máximo que pude, meu corpo pulsando com adrenalina. Passei em frente a outra bomba de gasolina, olhando para trás, verificando onde estava Sophia. Ela ainda não tinha se distanciado o suficiente.
"Droga", pensei. O monstro parecia diferente agora. Ele estava furioso. Não mais apenas uma besta faminta, mas uma força de destruição. E então, inesperadamente, ele começou a correr, as chamas envolvendo seu corpo deformado como uma aura infernal, direto em minha direção.
— O quê?! — gritei, o pânico tomando conta de mim.
Ele se movia rápido demais, sua forma distorcida atravessando o caos ao redor. No último segundo, consegui me jogar para o lado, mas não saí ileso. Suas garras roçaram minha coluna, cortando com precisão fria. Senti a dor rasgar minhas costas, e então o monstro bateu contra a bomba atrás de mim. O impacto fez com que ele perfurasse o tanque, e o fogo ao seu redor ficou ainda mais intenso, o metal da bomba derretendo sob o calor.
Sabia que tinha uma oportunidade única. A criatura estava presa, suas garras enganchadas na bomba, tentando se libertar. Com uma mão trêmula e ensanguentada, retirei o pino da granada e, sem pensar muito, joguei aos pés do monstro.
— Toma um presentinho... — murmurei antes de correr.
O posto explodiu em fogo e ruínas. O impacto da explosão me lançou pelos ares, e eu senti o vidro da loja próxima se quebrar enquanto eu atravessava a vitrine. Caí no chão coberto de cacos, o corpo dolorido e cheio de cortes. A fumaça e o cheiro de queimado invadiram meus pulmões enquanto tentava me levantar, minha visão turva. As costas ardiam — parte da minha roupa estava em chamas, e eu bati contra elas para apagar o fogo.
Os gritos do monstro, distantes agora, indicavam que ele havia sido gravemente ferido. Precisava aproveitar isso. Me arrastando, coberto de sangue e sujeira, corri o mais rápido que pude em direção ao norte, onde sabia que Sophia deveria estar.
Depois de cerca de quinze minutos, minha força começava a se esgotar. O sangue escorria pelo meu corpo, as feridas pulsando. Foi então que a vi, sentada no ponto de ônibus, com os ombros caídos e o olhar vazio, como se o mundo ao seu redor tivesse desmoronado.
Me aproximei, ofegante, forçando um sorriso apesar da dor.
— O que foi? Tá aí pensando na morte da bezerra? — Perguntei com um tom sarcástico, minha voz fraca e trêmula.
Sophia se virou rapidamente, surpresa ao me ver naquele estado.
— Zack?! Você... — Seus olhos se arregalaram, aterrorizados ao ver meu corpo coberto de sangue.
— Viu só? Eu disse que te alcançava... — Sorri, mas meu corpo não aguentou. Tudo ao meu redor girou, e eu caí no chão com um baque surdo, o sangue manchando a calçada.
— ZACK!! — Ela gritou, sua voz ecoando na minha mente enquanto tudo ficava escuro.
Acordei algum tempo depois, deitado numa cama, todo enfaixado. A dor era constante, mas suportável. Ao meu lado, Sophia dormia, a cabeça repousada na cama, como se estivesse exausta. Pela primeira vez, pude vê-la com mais clareza. O boné e a farda escondiam o belo cabelo dourado que agora caía solto, reluzindo como ouro à luz fraca da lua, junto a sua aparência adormecida como um anjo. Havia uma força silenciosa nela, uma resiliência que me fazia admirar a garota que, mesmo em meio ao caos, havia encontrado forças para me salvar.
Minha mão deslizou suavemente pelos fios dourados de Sophia, acariciando-os sem pensar. Seus cabelos eram surpreendentemente macios. Ela se remexeu suavemente, despertando com os olhos entreabertos, ainda sonolenta, mas rapidamente alerta.
— Como você está se sentindo, Zack? — A voz dela era suave, mas carregada de preocupação, seus olhos azuis vivos como o oceano,piscavam lentamente.
Eu sorri, ainda com a mão repousando em sua cabeça. — Estou bem melhor, graças a você.
Ela baixou os olhos, mexendo timidamente em uma mecha de cabelo, claramente envergonhada pela atenção. — Eu... não fiz muito. Você foi quem se arriscou mais...
— Se você não tivesse cuidado de mim, eu não estaria aqui. — Tirei a mão rapidamente, sentindo o peso da intimidade inesperada, tentando disfarçar minha própria vergonha. — Aliás, por quanto tempo eu dormi?
Sophia ainda estava corada, os olhos desviados. — Por umas dez horas. — Ela murmurou.
— Dez horas?! — Me surpreendi, tentando me levantar da cama. — Não acredito que dormi tanto tempo!
— Ei! — Sophia se apressou, estendendo as mãos. — Deita! Você está todo machucado! — Seu rosto ficou mais vermelho quando percebeu algo.
— Hã? O que foi? Eu estou bem... — A frase morreu nos meus lábios quando percebi que estava apenas de cueca. *Droga*.
Envergonhado, praticamente corri para o banheiro. A ideia de ter ficado exposto daquele jeito na frente dela me deixou completamente sem jeito. Depois de um banho rápido, me vesti com as roupas que ela havia deixado ao lado da cama e, tentando parecer o mais natural possível, avisei que ela podia entrar.
Sentamos lado a lado, o silêncio constrangedor crescendo entre nós. Nenhum de nós parecia saber o que dizer até que, de repente, Sophia murmurou, sem coragem de me encarar:
— Você tem um corpo bem... definido. E bonito. — Sua voz estava vacilante, enquanto olhava para o chão. — Notei isso quando cuidava de você...
Senti meu rosto esquentar. — Va-valeu... — Eu pigarreei, olhando para o outro lado. — E você... seu cabelo é... lindo. O vestido te cai muito bem. — Meu rosto ardia de vergonha.
— Obrigada... — Ela respondeu, ainda olhando para o lado, as palavras soando quase tímidas.
O silêncio caiu novamente, pesado e constrangedor.
— Sophia... — comecei, tentando parecer casual. — O que você acha de irmos para a varanda? Ver o céu? — Falei de forma desajeitada, desesperado para quebrar o gelo.
Ela sorriu, embora estivesse tão desconfortável quanto eu. — Boa ideia... vamos...
Na varanda, o clima estava mais leve. Conversamos sobre coisas triviais no início, nos conhecendo melhor. Aos poucos, começamos a compartilhar histórias mais profundas. Contei a ela sobre Ema, o peso que ainda carregava por perdê-la. Sophia ouviu com atenção, e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela se desculpou pelo que havia dito no posto, mas eu a tranquilizei, dizendo que tudo estava bem. Ela então começou a falar sobre sua família, e a dor em sua voz era palpável. Seus pais... o que ela perdeu... sua força agora parecia ter rachaduras, e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.
Sem pensar, cumpri a promessa que havia feito. Ofereci meu ombro, e ela se inclinou, chorando baixinho. Minha mão repousou em sua cabeça, acariciando seus cabelos com delicadeza, como se o simples toque pudesse aliviar sua dor.
Ela chorou por um longo tempo, até que, exausta, adormeceu contra meu ombro. Ficamos assim por um tempo, sentados no chão da varanda. Quando percebi que ela havia apagado, cuidadosamente a levantei em meus braços e a levei para a cama. Enquanto me afastava para sair, senti um puxão leve na minha camisa. Olhei para baixo e vi sua mão segurando firmemente o tecido, mesmo inconsciente. Suspirei, sentando ao lado dela até que sua mão relaxasse e me deixasse ir.
Na manhã seguinte, acordei com o cheiro delicioso de ovos e bacon. Sophia, já vestida, tinha preparado o café da manhã. Eu sorri ao vê-la se esforçando, mesmo depois de tudo. Ela estava visivelmente ainda um pouco sonolenta, e, quando nossos olhares se cruzaram, percebi que sua alça do vestido estava caindo, quase revelando demais. Me virei rapidamente, mas não antes de notar seu rosto ficar vermelho de vergonha.
— O-obrigado pelo café... — gaguejei, me apressando para sair do quarto.
Passei pelo corredor, tentando afastar a imagem da minha mente, mas a lembrança insistia em voltar. Com um riso nervoso, sussurrei para mim mesmo:
— Duas balançadas e a lâmina do caos estava prestes a pegar fogo...
Os dias que se seguiram foram tranquilos, embora intensos. Fomos aprendendo mais um sobre o outro. Sophia era teimosa, e nossas discussões, embora frequentes, nunca passavam do limite. A confiança cresceu naturalmente entre nós, e com o tempo, o afeto também. Saíamos juntos para buscar suprimentos, sempre armados e atentos ao perigo. Por dois meses, vivemos assim, sem interrupções.
Até o dia em que acordei com o som de tiros e gritos.
Desesperado, procurei por Sophia na casa. Quando a encontrei, meu coração quase parou. Ela estava caída no chão da sala, sangrando muito, a mão segurando o abdômen com dificuldade. Corri até ela, o medo tomando conta de mim.
Antes que eu pudesse fazer algo, senti o impacto brutal de um taco de ferro na minha cabeça. A visão ficou turva, e caí ao lado dela. Tentei me mover, mas outro golpe me apagou.
Quando voltei a mim, estava amarrado, as mãos presas atrás do corpo, a boca tapada. Foi então que vi a cena que me encheu de ódio puro: os arruaceiros que haviam invadido nossa casa estavam abusando de Sophia.
Ela chorava, sangrando, me olhando com desespero. As palavras saíam fracas de seus lábios:
— N-não... por favor, não...
Um dos homens, segurando seus cabelos, forçou sua cabeça a me olhar.
— Olha só, o espectador acordou... — ele disse com um sorriso cruel, erguendo o rosto de Sophia na direção dos meus olhos.
O ódio dentro de mim explodiu com uma intensidade avassaladora, queimando como fogo descontrolado. O mundo ao meu redor desapareceu; só restava a fúria, a dor que ardia em minhas entranhas, me consumindo por inteiro. Soltei um grito visceral, um som primitivo que ecoou, e, como se possuído por uma força que nem eu sabia possuir, rompi as cordas que me prendiam. O homem sobre Sophia sequer teve tempo de reagir quando me lancei sobre ele. Meus punhos caíram contra seu rosto, um golpe atrás do outro, até que sua face se tornasse irreconhecível, uma máscara de carne e sangue.
Os outros observavam, paralisados pelo horror, mas bastou um olhar meu — cheio de ódio cru, de promessa de vingança — para que o inferno começasse, massacrei quem estava naquele cômodo. Meu ódio ainda não estava satisfeito. Peguei a faca ensanguentada que usaram para machucá-la; o frio do metal agora era uma extensão do desejo sombrio que me dominava, uma sede insaciável de justiça à minha própria maneira.
O restante do bando ouviu o caos e veio correndo. Escondi-me atrás da porta, a respiração curta, o corpo pulsando de adrenalina e raiva. Quando o primeiro homem entrou, não teve sequer a chance de ver o perigo: cravei a lâmina em sua garganta, e ele caiu, o sangue se espalhando pelo chão. O segundo avançou com um taco, mas esquivei e, com um golpe preciso, enterrei a faca em seu peito. Ele arfou uma última vez antes do silêncio eterno.
Saí da casa, onde os restantes me aguardavam. Sentia o sangue escorrendo da minha testa e misturando-se ao suor, um fluxo quente que queimava minha pele, me tornando ainda mais decidido.
— Venham! Todos de uma vez! — gritei, minha voz um trovão carregado de ódio. — Eu vou matar cada um de vocês! Cada um! — Minha expressão estava tomada pela fúria, o sangue manchando minha visão, pingando pelo rosto, e meus olhos brilhavam com uma loucura incontrolável.
Eles hesitaram, mas o medo deu lugar à sede de sangue, e avançaram. E eu lutei como um animal encurralado, cada golpe meu era uma sentença, cada movimento carregava minha alma encharcada de raiva. Arranquei olhos, esmaguei ossos, dilacerei sem hesitar. O som de ossos estalando e carne rasgando preenchia o ar; a brutalidade do momento era selvagem, cruel. Não sentia nada além do desejo de ver cada um deles tombar ao meu redor.
Um por um, eles caíram. O chão se tornou uma cena de horror, um cenário de vingança e morte. E, quando o último deles finalmente tombou, o sangue cobrindo o solo como um manto macabro, minha fúria começou a ceder, dando lugar ao vazio, um abismo frio e paralisante.
Cambaleei de volta para a casa, meus pés pesados, o corpo coberto de sangue e feridas. Tudo dentro de mim estava cansado, e o peso do que havia acontecido finalmente me atingiu. Ajoelhei-me ao lado de Sophia, seu corpo pequeno e frágil nos meus braços. Ela estava machucada, sua respiração fraca e irregular. Mas estava viva, ainda ali, entre o mundo dos vivos e o além.
— Sophia... me perdoa... — minha voz era um fio, um sussurro carregado de dor. As lágrimas vieram, descontroladas, e cada uma carregava o peso da culpa. — Eu... falhei... não consegui te proteger...
Ela abriu os olhos com dificuldade, um sorriso tênue, como uma pequena chama insistindo em brilhar. — Zack... você... fez tanto por mim... — Sua mão trêmula encontrou meu rosto, os dedos frios acariciando minha bochecha. — Você... me protegeu... olha pra você... tão machucado...
— Mas eu... — tentei protestar, a voz embargada pela emoção, mas ela apenas balançou a cabeça com um sorriso frágil.
— Você... é a pessoa mais gentil... e forte que eu conheço... — sussurrou, a ternura em seu olhar aquecendo meu coração destroçado. — Você... fica tão lindo... quando sorri... pode prometer... uma coisa?
Apertei sua mão com força, os olhos marejados, incapaz de controlar as lágrimas. — Sim, qualquer coisa... qualquer coisa, Sophia...
— Promete... que vai viver? Que vai sobreviver... até o fim? — Sua voz era um fio, quase um sopro, mas sua mão se ergueu para secar uma lágrima que descia pelo meu rosto.
Tentei sorrir, mas o peso daquela promessa me despedaçava. — Eu... eu prometo, Sophia...
Ela sorriu, um sorriso doce, triste, que iluminou o ambiente, como um raio de sol. — Fico... tão feliz... só mais uma coisa... — Seus dedos tocaram minha nuca, e ela me puxou para mais perto. — Vem... vem mais perto, Zack...
Aproximei-me, e, num último ato de ternura, ela me beijou, suave e delicada como uma pétala. Naquele instante, o mundo parou, e tudo ao nosso redor desapareceu.
— Eu te amo, Zack... — sussurrou, enquanto uma última lágrima escorria por sua face pálida, e seus olhos se fecharam, sua respiração se desvanecendo entre meus braços.
— Sophia... — minha voz se quebrou, e o desespero tomou conta. — Eu... também te amo... — As palavras saíram entre soluços, e tudo o que eu podia fazer era segurá-la, sentindo o calor de seu corpo lentamente se esvair.
Ela morreu ali, com um sorriso sereno, nos meus braços. E, mais uma vez, meu mundo desmoronou. Aquele vazio insuportável me consumiu, e o peso da perda esmagou cada parte de mim.
Depois disso, algo dentro de mim se partiu. O ódio e a amargura tomaram conta da minha alma, envenenando cada esperança que ainda restava. Sophia era a última luz que eu conhecia, e agora, na escuridão absoluta, nada mais fazia sentido.
A partir daquele dia, começou minha jornada. Não mais como o homem que lutava para viver, mas como o homem que desejava morrer... mas não podia.
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(Arte conceitual, Sophia)
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Imperfeito
Tá tiração tá matando todo mundo
2024-03-16
1
Lisa Mazzarim
ok, todo mundo que ele gosta acaba morrendo
2023-07-03
1
Estrela Cadente
chorei..... simmmm
2023-05-02
1