A alguns anos, numa noite em que o silêncio absoluto reinava na vasta propriedade, uma mansão grandiosa se erguia, imponente, no meio de um terreno extenso. Ali, apenas os mais privilegiados podiam residir. Aquele lugar, contudo, não era apenas um lar; era uma fortaleza de disciplina e preparo, onde o campo de tiro e a sala de treinamento ocupavam posições centrais. O vento leve balançava as folhas das árvores, mas dentro da casa, o som cortante dos disparos era a única coisa que preenchia o ambiente.
BANG! BANG! BANG!
Três tiros consecutivos rasgaram o ar, atingindo o centro de alvos distintos, sem errar o ponto exato.
Uma figura surgiu ao fundo, passos calmos, mas firmes, enquanto observava a garota no campo. "Você melhora a cada dia... exatamente como esperado da minha garotinha", a voz suave, mas carregada de orgulho.
A mulher que se aproximava era a própria imagem do comando. Alta, esbelta, com um uniforme militar impecável, Rozana possuía uma presença inabalável. Seus longos cabelos castanhos escuros caíam em ondas leves, e os olhos castanhos nítidos brilhavam com o reflexo das luzes do campo de tiro.
—Mamãe! — Rayka gritou, girando e correndo até sua mãe, o sorriso largo, cheio de alegria.
— Calma, Rayka — Rozana suspirou, embora o sorriso carinhoso não deixasse seus lábios.
— Acabei de voltar. Mamãe está exausta depois da missão. — Ela pegou a filha no colo, apertando-a com carinho, enquanto afagava seus cabelos com ternura.
Rozana era mais que uma mãe. Era uma mentora, uma guia para Rayka. Criara a filha e o irmão mais novo sozinha desde a morte do marido, vítima de um acidente de carro trágico. Apesar da dor, nunca deixou que faltasse algo para suas crianças. Como comandante de um batalhão, sua vida era cheia de responsabilidades, mas jamais permitiu que o fardo do trabalho a afastasse de seu papel mais precioso: o de mãe. Ensinou Rayka a manusear armas, a lutar, a se defender. A menina cresceu sob seus ensinamentos, absorvendo a disciplina e força que sua mãe lhe passava, enquanto frequentava as melhores escolas, destacando-se em tudo que fazia. Mas, por trás de toda essa fortaleza, havia amor e carinho que só uma mãe como Rozana poderia proporcionar.
Rayka era admirada por todos: sua beleza e físico chamavam a atenção por onde passava, e, na escola, os meninos sempre tentavam se aproximar, mas eram repelidos por sua personalidade direta, quase fria. Seu irmão, brincalhão, sempre a provocava, chamando-a de "bruta", "ogra", "gorila", o que quase sempre resultava em uma briga, com ele apanhando e rindo ao mesmo tempo.
A vida parecia seguir de maneira estável, até aquela noite em que tudo mudou.
Era tarde, e Rayka estava no campo de tiro, como de costume, treinando sozinha. O céu estava incomum, uma dança de luzes coloridas que ela nunca havia visto antes. Fascinada, permaneceu observando o fenômeno, uma sensação estranha formigando em sua pele. Mesmo depois de voltar para casa, a imagem das luzes ficou gravada em sua mente enquanto adormecia, como se algo estivesse por vir.
Na manhã seguinte, Rayka acordou abruptamente com o som de tiros e um estrondo que sacudiu a casa. Ainda grogue, saltou da cama, o coração acelerado. O que estava acontecendo? Ela desceu correndo, cada passo mais pesado que o anterior, enquanto a adrenalina tomava conta.
Ao chegar ao térreo, o que viu congelou seu sangue.
No centro da sala, sua mãe, Rozana, estava envolvida em um combate frenético com algo indescritível. Uma criatura bizarra, monstruosa, uma aberração que não deveria existir no mundo real. A pele da coisa era disforme, brilhante e nojenta, e suas garras longas cortavam o ar enquanto avançava sobre Rozana, que, com precisão, disparava incessantemente. Mas as balas não pareciam surtir efeito.
Rayka mal conseguia respirar. Foi quando seus olhos se voltaram para o canto da sala, e ela viu... o corpo do irmão. Morto. A cabeça esmagada contra a parede, o sangue escorrendo lentamente pela superfície fria. Ela tapou a boca, sufocando o grito de horror que subia por sua garganta, enquanto lágrimas silenciosas desciam por seu rosto. Seu irmão... estava morto.
— Filha! — a voz de Rozana ecoou, trazendo Rayka de volta à realidade. — O que você está fazendo aí parada?! Fuja! Eu vou segurar essa coisa!
— Mas, mãe... — Rayka balbuciou, as palavras travando. — E a senhora?
— Eu te alcanço depois! Vai agora! — gritou Rozana, os olhos brilhando de desespero e dor. Ela disparou mais quatro tiros no monstro, recuando. O medo por Rayka era evidente em cada movimento de sua mãe, que, mesmo ferida pela perda, não demonstrava fraqueza.
Rayka hesitou. O coração batendo tão forte que parecia que iria explodir. Ela queria ajudar, ficar e lutar ao lado da mãe, mas o pavor congelava suas pernas. O monstro então virou os olhos famintos para ela, e com um grunhido grotesco, começou a avançar, salivando.
Rozana, num impulso desesperado, correu e saltou, agarrando-se à cabeça da criatura, disparando direto nos olhos. — VAI! AGORA! — Sua voz era um grito rasgado, carregado de urgência e dor.
O grito de sua mãe ecoava pela cabeça de Rayka enquanto ela corria, o coração disparado e o pavor dominando cada músculo de seu corpo. As lágrimas já embaçavam sua visão, mas ela não conseguia parar, mesmo que seu instinto implorasse para voltar, para lutar ao lado da mulher que sempre a protegera. O som dos tiros e dos grunhidos da criatura ficava mais distante a cada passo, mas ainda assim ressoava em seu peito como um martelo cruel.
Dentro da casa, Rozana mal teve tempo de ver a filha desaparecer pela porta antes de sentir o impacto devastador. O monstro, em um movimento descontrolado, a arremessou contra a parede com força suficiente para rachar o concreto. O ar foi expulso de seus pulmões num gemido dolorido, e ela caiu de joelhos, ofegante, ao lado do corpo inerte de seu filho. Seus olhos, inchados de lágrimas, encontraram o que restará do rosto sem vida do menino, e a dor queimou mais forte que qualquer ferida física.
— Me desculpa, meu amor... — murmurou, a voz quase inaudível. Seus lábios tremeram ao roçar o rosto frio e sangrento do filho. Ela mordeu o lábio com tanta força que sentiu o gosto metálico de sangue invadir sua boca.
Sabendo que não tinha tempo para mais despedidas, Rozana se levantou com dificuldade. Sua mente de estrategista avaliava rapidamente as opções. Cada segundo contado, cada decisão uma linha tênue entre a vida e a morte. Ela mancou até a cozinha, seus movimentos rápidos e decididos, apesar do corpo exausto e dolorido. Com um gesto ágil, ligou o gás do fogão. O cheiro característico se espalhou rapidamente pelo ar.
O monstro se virou para ela, um dos olhos já parcialmente regenerado, fixando-a com um ódio primitivo. Ele avançou com velocidade, garras afiadas rasgando o chão de mármore enquanto desferia um golpe mortal. Rozana, mesmo ferida, ainda possuía reflexos aguçados. Ela rolou para o lado no último segundo, sentindo o chão estremecer ao ser perfurado pelas garras da criatura.
Ela se levantou, mancando, mas com a determinação de uma guerreira que não cederia. Com um último impulso de força, saltou uma vez mais, mirando o olho regenerado do monstro. O disparo foi certeiro, mas a criatura, em seu frenesi de dor, a atingiu antes que ela pudesse se esquivar. Rozana foi lançada violentamente contra a mesa de ferro da cozinha. O impacto foi brutal, seu corpo colidindo com um estalo que ecoou pela sala. Sua perna dobrou-se de forma errada, a dor intensa anunciando o que ela já sabia: estava quebrada.
Tentando respirar entre os espasmos de dor, Rozana soube que não poderia mais lutar fisicamente. Mas havia uma última carta a jogar. Deitada no chão frio da cozinha, cada movimento seu era uma batalha contra a dor. Ela estendeu a mão trêmula até o bolso do uniforme, onde sua granada de emergência repousava. Os olhos fixaram-se no monstro, que ainda se debatia, furioso, mas cego e desorientado. Com um gesto calmo, quase ritualístico, ela tirou o pino.
Os olhos de Rozana, cheios de lágrimas, brilharam ao pensar na filha. Rayka. Sua menina. Um sorriso suave surgiu em seus lábios rachados, e ela sussurrou, sabendo que suas palavras nunca seriam ouvidas, mas sentindo que precisavam ser ditas.
— Perdoa sua mãe, filha... — sua voz era um fio quebradiço de emoção. — Eu queria tanto ver você crescer... conhecer seu namorado, estar no seu casamento, segurar meus netos... Viajar com você... Mas eu sei que você vai crescer forte. Você já é forte.
As lágrimas escorriam enquanto seu sorriso se mantinha, uma mistura agridoce de amor e despedida. Então, com um último olhar firme, ela lançou a granada.
BOOM!
A explosão sacudiu a terra. Rayka, ainda correndo, foi arrebatada pelo som, o peito apertado como se a realidade houvesse desmoronado sobre ela. Instintivamente, ela se virou para o que restava da casa. Seus olhos, arregalados e desesperados, fixaram-se nas chamas que subiam em meio aos destroços.
— N-não… mãe… — a voz de Rayka saiu trêmula, um sussurro devastado enquanto seus joelhos cediam, chocando-se contra o chão. — V-você disse que me alcançava...
Ela mal podia respirar, seu peito se comprimindo numa dor profunda, insuportável. O desespero tomou conta de cada fibra do seu ser. Rayka caiu de joelhos, a boca tremendo enquanto tentava segurar o grito que insistia em escapar de sua garganta. As lágrimas jorravam de seus olhos, molhando o chão abaixo de si.
Ela ficou ali, imóvel, as mãos agarrando a terra enquanto soluçava até não restar mais força. As lágrimas secaram eventualmente, mas o vazio que se instalou dentro dela parecia infinito.
Sem direção, sem mãe, sem irmão, Rayka se ergueu do chão como se carregasse o peso do mundo nas costas. Seus passos a levaram para longe, para a cidade. Cada movimento parecia mecânico, mas algo dentro dela já havia mudado. Aquela não era mais a Rayka que conhecia a segurança e o amor.
Foi nas ruas da cidade que ela cruzou com Samuel pela primeira vez, um estranho vagando em meio ao caos. Mas naquele instante, os encontros futuros ainda eram apenas sombras distantes. Tudo o que restava para Rayka naquele momento era o desejo de sobreviver, e a lembrança de sua família.
Ela não teria outra escolha a não ser, ser forte. Mais forte do que jamais fora antes.
[Voltando ao presente...]
Rayka estava de pé, imóvel, o olhar preso à figura que havia caído do teto. Seu coração apertava, como se cada batida fosse um soco no peito. À sua frente, a mulher que um dia foi sua mãe, Rozana, estava irreconhecível. Parte monstro, parte máquina. Seu corpo, antes tão forte e humano, agora era uma fusão grotesca de carne e metal. As pernas, deformadas, cobertas por armaduras metálicas e protuberâncias monstruosas, a pele mal discernível entre as placas de metal e tecido distorcido. A única parte intacta era o rosto de Rozana, ainda humano, mas marcado por queimaduras, como uma lembrança cruel do passado. Os olhos, no entanto, estavam vazios, sem vida, como se a alma dela tivesse sido arrancada.
— O que eles fizeram com você...? — sussurrou Rayka, sua voz trêmula, quebrada pela dor. — Mãe...
Não houve resposta. Rozana, aquela que antes a ensinara tudo, que havia sido sua mentora e protetora, parecia não mais existir dentro daquele corpo. O silêncio era devastador, a ausência de qualquer vestígio da mulher que Rayka conhecia era mais dolorosa do que qualquer ferida.
De repente, Rozana se moveu. O som mecânico de articulações metálicas rosnou no ar, e, em um movimento rápido, ela avançou. A faca de combate que carregava em sua mão brilhava com uma intenção mortal. Rayka mal teve tempo de reagir. Num reflexo, sacou sua própria faca e defendeu o golpe. O choque das lâminas ecoou pelo espaço, uma lembrança amarga dos treinos que costumavam compartilhar.
Cada golpe trocado trazia memórias. Rayka, com o rosto marcado por uma tristeza que ela não podia esconder, lutava contra as lembranças de sua mãe — uma mulher forte, determinada, que a treinava com precisão e disciplina. Agora, essas mesmas habilidades eram usadas contra ela, numa luta pela sobrevivência.
Rozana girou o corpo com uma fluidez que misturava o humano e o mecânico, desferindo um chute poderoso. Rayka se abaixou no último instante, girando o corpo no chão e passando uma rasteira. Mas Rozana não era mais limitada pelas leis da física que Rayka conhecia. Ela deu uma cambalhota para trás, pousando com agilidade, e avançou novamente com a faca estendida, o brilho metálico refletindo no olhar vazio.
As lâminas colidiam a uma velocidade insana. Faíscas saltavam a cada encontro, cada golpe mais feroz e rápido que o anterior. Rayka tentava controlar sua respiração, mas a dor emocional a sufocava. Sua mãe, aquela que a havia ensinado tudo sobre combate, agora lutava contra ela com uma força que parecia inumana. Rozana saltou para trás, dando um mortal perfeito no ar, antes de sacar sua metralhadora. O som da arma carregando fez Rayka entrar em alerta.
Num piscar de olhos, Rozana disparou. O ambiente foi preenchido pelo som ensurdecedor das balas cortando o ar. Rayka ativou seu Resplendor Dourado, a aura dourada envolvendo seu corpo enquanto ela se movia com agilidade sobrenatural, desviando dos projéteis em alta velocidade. Saltou por cima de Rozana, girando no ar e sacando sua própria metralhadora. As duas começaram a disparar, os tiros se encontrando no ar, colidindo como faíscas em um confronto épico.
Cada movimento era preciso, cada bala calculada. Elas corriam e saltavam uma em direção à outra, uma dança mortal onde a mínima falha significava o fim. As balas passavam raspando pelos corpos, e algumas colidiam no meio do trajeto, criando pequenas explosões de impacto. Rayka e Rozana estavam repletas de arranhões e cortes, marcas de uma batalha onde não havia margem para erro.
Rozana, com um olhar inexpressivo, começou a emitir uma aura azul densa, fazendo o ar ao redor dela vibrar. A energia parecia pulsar com um poder incompreensível. Os olhos de Rozana brilharam com um azul intenso, e, num instante, ela desapareceu. Rayka mal teve tempo de perceber o que acontecera quando Rozana surgiu atrás dela, desferindo um golpe com a faca envolta naquela aura poderosa.
Rayka intensificou sua energia, raios dourados percorrendo seu corpo enquanto ela se abaixava no último segundo. O corte passou por cima dela, criando uma rajada de vento tão forte que derrubou objetos ao redor. Aproveitando o movimento, Rayka plantou as mãos no chão e desferiu um chute para cima, concentrando toda a energia elétrica em seu corpo. O pé foi em direção à cabeça de Rozana com uma força devastadora. Mas Rozana, com reflexos aprimorados, inclinou a cabeça para o lado, o ataque passando a milímetros de seu rosto, soltando um trovão ensurdecedor quando atingiu o ar.
Rozana reagiu imediatamente, desferindo um chute baixo. Rayka, apoiada nos braços, usou sua força para se jogar para trás. O chute de Rozana atingiu o chão com tanta força que o solo afundou, criando rachaduras que se espalharam pela sala.
As duas ficaram em pé, se estudando. Respirações ofegantes preenchiam o espaço. O ar parecia eletrizado, uma tensão mortal pairando entre as duas.
Ambas recarregaram suas armas num piscar de olhos e avançaram uma contra a outra, descarregando seus pentes. As balas se cruzavam no ar, algumas colidindo, outras raspando nos corpos. Quando se aproximaram, as armas ficaram sem munição. Sem hesitar, sacaram suas facas ao mesmo tempo, e o impacto das lâminas gerou um estrondo acompanhado de raios de energia que iluminou o ambiente. O choque da colisão fez Rayka ser repelida, sentindo a pressão dos músculos de sua mãe, agora aumentados pela modificação monstruosa.
Rozana avançou, desferindo um chute devastador. Rayka usou a metralhadora para se proteger, mas o impacto foi tão forte que ela foi arremessada contra a parede. O choque foi brutal, o corpo de Rayka colidindo com força, e seus ossos protestaram com o impacto. Do outro lado da sala, Samuel e Renan assistiam, apreensivos.
Quando eles deram um passo para ajudar, Rayka se ergueu, o corpo trêmulo, mas a determinação queimando em seus olhos.
— Não se intrometam — disse com uma firmeza gelada, sua voz cortante. — Essa luta é minha.
Samuel e Renan pararam, o olhar deles cheio de preocupação, mas Rayka não lhes deu outra opção.
Rayka respirou fundo, sentindo o peso da dor emocional se dissipar, substituído por uma resolução sombria. Ela olhou para sua mãe mais uma vez, os olhos fixos naquela expressão vazia, e compreendeu que a mulher que conhecia não estava mais ali. Havia apenas uma sombra, uma casca deformada pelo horror.
— Vou acabar com o seu sofrimento... — murmurou para si mesma, seu coração apertando uma última vez antes de aceitar o inevitável.
Rayka, ainda ofegante, começou a cessar a energia dourada que envolvia seu corpo. Seus olhos brilharam em um vermelho vibrante, e, lentamente, seus cabelos tomaram a mesma tonalidade ardente. Raios vermelhos começaram a crepitar ao seu redor, distorcendo o ar como um calor insuportável. O ambiente ao redor dela se tornou turvo, a pressão de sua presença deformando a realidade próxima. A tensão no ar era palpável, e todos que assistiam à cena não conseguiam conter o espanto.
Ela ergueu o olhar para sua mãe, agora uma sombra distorcida do que um dia fora, e com uma calma assustadora, declarou:
— Técnica Original: Armadura Tempestuosa da Rainha Valquíria.
A voz de Rayka era serena, quase resignada, como se o poder que agora a envolvia fosse o último passo de uma dolorosa jornada. Esta era uma técnica secreta, que ela desenvolveu sozinha, resultado do duro treinamento de aperfeiçoamento da sua habilidade destrutiva. Agora, os raios vermelhos não se condensavam em um objeto, mas em seu próprio corpo, amplificando sua força, defesa e velocidade de maneira esmagadora. Era uma evolução do Resplendor Dourado, mas infinitamente mais poderosa. Aqueles que assistiam a cena ficaram boquiabertos, incapazes de compreender a extensão daquele poder.
Rozana, mesmo com os traços de humanidade ausentes, reconhecia o perigo. Ela avançou com a faca, desferindo um golpe brutal, mas a lâmina começou a se distorcer à medida que se aproximava de Rayka. Os raios vermelhos ao redor dela criavam uma barreira invisível, torcendo o ar, e qualquer ataque se tornava inútil antes mesmo de alcançar seu alvo. Sem desistir, Rozana canalizou toda sua aura, desferindo um golpe com as mãos, poderoso o suficiente para levantar uma nuvem de poeira ao redor delas.
O ataque colidiu com Rayka, mas ela o segurou com uma única mão, sem esforço aparente. Seus olhos, antes cheios de raiva, agora refletiam uma tristeza profunda.
— Me perdoa, mãe... — disse Rayka, com a voz baixa, quase como um lamento.
Ela fechou o punho e, num movimento rápido e preciso, desferiu um soco no peito de Rozana. O impacto foi devastador. Seu punho atravessou o corpo de sua mãe, e a criatura que restava de Rozana caiu de joelhos, os olhos apagados e o corpo sem forças nos braços de Rayka.
O silêncio era pesado. A poeira começava a assentar, e o mundo parecia segurar a respiração. Com delicadeza, Rayka cessou a técnica. O brilho vermelho desapareceu, e seus cabelos voltaram à cor original. Ela segurava o corpo inerte de sua mãe com cuidado, como se estivesse temendo que o menor movimento pudesse quebrá-la por completo. Quando tudo parecia perdido, sentiu um toque suave em sua bochecha.
Rayka abriu os olhos, arregalados de surpresa. Rozana, ainda viva, sorriu fracamente. Seus olhos, por um breve momento, eram os mesmos que Rayka lembrava: cheios de amor.
— Como você cresceu, minha filha... — disse Rozana, sua voz fraca, quase um sussurro.
Rayka, com lágrimas escorrendo, segurou a mão de sua mãe, agora repousando suavemente em seu rosto.
— Mãe... — A voz de Rayka tremeu, o peso da situação finalmente rompendo a fortaleza que ela tentava manter.
— Você cresceu... — continuou Rozana, lutando contra a fraqueza que tomava conta de seu corpo. — Virou uma mulher linda e forte...
As lágrimas de Rayka escorriam livremente, molhando a mão de sua mãe enquanto ela apertava com carinho.
— Não... eu ainda não sou como você... — Rayka disse, mordendo os lábios enquanto o desespero a invadia. — Senti tanto a sua falta, Rayka...
Rozana, com um sorriso dolorosamente fraco, limpou as lágrimas da filha com os dedos trêmulos.
— Não chore, minha garotinha. Eu estou tão orgulhosa de você... por ter criado uma filha tão corajosa e responsável...
Rayka tentou segurar o choro, sua respiração entrecortada enquanto os soluços a dominavam.
— Mãe... — Rayka sussurrou, sua voz fraca, mas carregada de emoção.
Rozana, com os olhos já pesados e a voz cada vez mais distante, tentou dizer algo importante:
— Filha... escute... você pre... — Mas a frase foi interrompida.
Antes que pudesse terminar, o corpo de Rozana explodiu. O sangue espirrou por toda parte, cobrindo Rayka de vermelho. Seu olhar, antes tomado pelo carinho, agora era puro horror. Ela ficou ali, paralisada, os olhos arregalados e ainda cheios de lágrimas, enquanto o sangue de sua mãe pingava em seu rosto, como uma chuva cruel e final.
— Mãe...? — A voz de Rayka era apenas um sussurro quebrado, com lágrimas ainda descendo o seu rosto
O som frio do alto-falante no teto interrompeu o momento, e a voz de TK ecoou, carregada de sarcasmo e crueldade.
— Ah, foi uma boa luta... e me desculpe por estragar a cena de novela, mas estamos com pressa, sabe? Vamos começar logo o terceiro teste — disse ele, com um cinismo que fazia o sangue de Rayka ferver.
Mas Rayka não reagiu de imediato. Ela ficou ali, imóvel, ainda ajoelhada no chão, absorvendo a tragédia que acabara de acontecer diante de seus olhos. Seu corpo começou a tremer, e, lentamente, algo mudou. Uma aura escura e pesada começou a se espalhar ao seu redor, crescendo em intensidade. A energia que emanava dela era fria, sombria, e cheia de algo que ninguém ali jamais sentira tão intensamente.
O ar ao redor de Rayka se tornou sufocante, denso, o ar faiscando, como se o próprio ambiente estivesse se curvando ao peso da sua raiva. Os outros que estavam presentes recuaram instintivamente, sentindo um calafrio profundo. A aura de Rayka era perigosa, incontrolável, e qualquer um que ousasse se aproximar seria destruído.
Ela se ergueu lentamente, os punhos cerrados, os olhos ainda cheios de lágrimas, mas agora brilhando com um desejo puro e mortal.
O ódio que crescia dentro dela era como um veneno, alimentando-se da dor, da perda, e da fúria. E agora, só restava uma coisa em sua mente: vingança.
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(Arte Conceitual, Rozana)
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Alin3
pra q isso 😭
foi foda mas pra q esse final 😭😭😭
2023-02-20
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